Os republicanos venceram todas as eleições na Carolina do Norte desde 2008. Kamala pode mudar isso?


No pleito deste ano, mudanças demográficas que tendem a favorecer os democratas e uma disputa acirrada ao governo do Estado com um polêmico candidato republicano podem fazer a diferença para Kamala Harris

Por Daniel Gateno

ENVIADO ESPECIAL A CHARLOTTE, CAROLINA DO NORTE - Nas ruas da cidade de Charlotte, um dos locais mais badalados do sul dos Estados Unidos, o ambiente é de transformação, com novos prédios, empregos e um grande contingente de pessoas emergindo de forma rápida. Ao sair da cidade, a topografia muda e o Estado da Carolina do Norte vai ficando mais suburbano e rural. Nas eleições presidenciais deste ano, Kamala Harris quer se aproveitar deste clima de transição para conseguir uma vitória democrata no Estado, que não acontece desde 2008.

A Carolina do Norte é um dos chamados swing states, Estados-pêndulo em português, definição dada aos Estados que não têm um comportamento eleitoral definido, podendo variar entre uma vitória democrata ou republicana, dependendo da eleição. Mas em 11 das últimas 13 eleições o Partido Republicano foi o vencedor. Em 2020, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, esteve perto, perdendo para o ex-presidente Donald Trump por um pouco mais de 1% dos votos.

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No pleito deste ano, mudanças demográficas que tendem a favorecer os democratas e uma disputa acirrada ao governo do Estado com um polêmico candidato republicano podem fazer a diferença para Kamala.

“Os democratas precisam mobilizar sua base, especialmente afro-americanos na Carolina do Norte e eleitores abaixo de 45 anos”, destaca Michael Bitzer, professor de ciências políticas do Catawba College, em Salisbury, Carolina do Norte. O especialista aponta que o Partido Republicano conseguiu uma vantagem nos últimos pleitos nacionais porque seus eleitores votaram em números maiores do que os democratas.

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A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um comício em North Hampton, New Hampshire  Foto: Steven Senne/AP

Mudança demográfica

O entusiasmo democrata ocorre por conta de uma mudança de afro-americanos e eleitores brancos com diploma superior para o Estado. Segundo estatísticas do governo estadual, 99 mil americanos se mudaram anualmente para a Carolina do Norte de outros Estados desde 2020. Em termos de população, a Carolina do Norte é o terceiro Estado americano que mais cresceu.

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O aumento se tornou mais visível nas grandes cidades da Carolina do Norte, como Charlotte e Raleigh, capital do Estado. De acordo um estudo da Universidade da Carolina do Norte, as zonas metropolitanas destas duas cidades estão entre as 10 que mais crescem nos EUA. Outras cidades do sul do país como Atlanta, na Geórgia, e San Antonio, Austin, Dallas e Houston, no Texas, também estão na lista.

A Carolina do Norte atrai americanos com diploma superior por abrigar o chamado Triângulo da Pesquisa, um dos polos empresariais que mais cresce nos Estados Unidos, com uma grande quantidade de companhias de tecnologia e farmacêuticas. A região tem este nome por conta de três universidades que ficam a poucos minutos de distância entre si: a Universidade de Duke, a Universidade Estadual da Carolina do Norte e a Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill.

O então presidente americano Barack Obama participa de um debate contra o senador republicano Mitt Romney, em Boca Raton, Flórida  Foto: Saul Loeb/AFP
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O padrão migratório é muito promissor para os democratas, avalia Marc Farinella, diretor estadual da campanha de Barack Obama em 2008 na Carolina do Norte, em entrevista ao Estadão. Obama foi o último democrata a vencer uma eleição presidencial no Estado.

“A Carolina do Norte está atraindo americanos de outras partes do país que votam mais nos democratas do que os sulistas originais. O chamado Triângulo da Pesquisa é importante porque traz eleitores de classe média com diploma superior que, em sua maioria, tem repulsa a Donald Trump”, aponta Farinella.

Segundo o mesmo estudo da Universidade da Carolina do Norte, Estados como Nova York, Califórnia e Virgínia, tradicionalmente democratas, estão entre os cinco Estados americanos que mais perderam habitantes para a Carolina do Norte.

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Afro-americanos

O sul dos Estados Unidos também está cada vez mais diverso racialmente. A Carolina do Norte era um dos Estados que aplicava as leis discriminatórias de Jim Crow, que determinavam a segregação racial no sul dos EUA, e vigoraram de 1877 e 1964.

Entre 1910 e 1970, seis milhões de afro-americanos se mudaram do sul dos EUA para escapar destas leis em um movimento chamado de “A Grande Migração”. Mas principalmente a partir dos anos 1990, ocorreu um retorno de afro-americanos para o sul que tem o nome de “Nova Grande Migração”, por conta de um ambiente favorável aos negócios e boa infraestrutura.

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“O novo sul é mais diverso racialmente, politicamente e em relação a gênero e idade”, aponta Aimy Steele, empresária e diretora do North Carolina Project, organização especializada em rastrear e registrar novos votantes afro-americanos e de outras minorias no Estado.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, conversa com apoiadores em North Hampton, New Hampshire  Foto: Steven Senne/AP

“Os afro-americanos precisam voltar para o sul para viverem nos lugares que seus ancestrais saíram, estas pessoas precisam ser empoderadas. Não é sobre ser republicano ou democrata”, destaca Steele.

Segundo o Censo americano, cerca de 21,1% da população da Carolina do Norte é composta de afro-americanos. Para uma vitória de Kamala no Estado, os democratas precisarão que cerca de 20% do total de votantes democratas em novembro sejam afro-americanos, segundo Bitzer, do Catawba College. “Desde a primeira eleição de Obama, em 2008, a participação eleitoral de afro-americanos tem sido menor e precisa aumentar para a possibilidade de uma vitória democrata”.

O que deu certo em 2008?

A vitória de Obama encerrou uma seca democrata na Carolina do Norte em eleições presidenciais que perdurava desde 1976, quando Jimmy Carter venceu no Estado. Segundo Farinella, que coordenou a campanha de Obama na Carolina do Norte em 2008, o então candidato democrata tinha mais recursos financeiros, voluntários e entusiasmo do que o seu oponente, o senador republicano John McCain.

“McCain passou muito tempo da campanha presidencial esperando que a Carolina do Norte fosse votar como os Estados do sul geralmente votam: no Partido Republicano, mas isso não aconteceu”, aponta Farinella.

O diretor da campanha de 2008 destaca que Obama tinha uma grande estrutura organizacional no Estado e os afro-americanos foram decisivos para a vitória. “Existia um grande entusiasmo com a oportunidade de eleger o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos”.

A crise econômica mundial durante o governo do antecessor de Obama, o ex-presidente republicano George W. Bush, também favoreceu o desejo de mudança dos eleitores.

Quatro anos depois, Obama foi reeleito, mas perdeu na Carolina do Norte para o senador republicano Mitt Romney. “A realidade nunca é tão emocionante quanto seus sonhos e esperanças, então foi mais difícil realizar uma operação para estimular o voto democrata na Carolina do Norte em 2012″.

Em 2016, Trump venceu a ex-secretária de Estado Hillary Clinton de forma confortável. Nas últimas eleições, o ex-presidente também venceu na Carolina do Norte, mas com uma margem de pouco mais de 1%.

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, acena após participar de um compromisso de campanha em Nova York, Estados Unidos  Foto: Alex Brandon/AP

Eleição para o governo

Além da eleição nacional, o pleito para o governo da Carolina do Norte também será decidido em novembro. O polêmico candidato republicano Mark Robinson, lieutenant governor (vice-governador) do Estado, disputa a eleição contra o democrata Josh Stein, procurador-geral da Carolina do Norte.

No pleito para o governo do Estado, os democratas se saem melhor do que a nível nacional, vencendo 7 das últimas 8 eleições. O atual governador da Carolina do Norte é Roy Cooper, que chegou a ser cotado para ser candidato a vice na chapa de Kamala Harris.

Robinson é um dos republicanos mais alinhados com Trump e busca ser o primeiro afro-americano a ser eleito governador do Estado. Os democratas esperam que a sua retórica inflamada possa contribuir com um voto em Stein e Kamala. O procurador-geral da Carolina do Norte está liderando todas as pesquisas.

O vice-governador da Carolina do Norte e candidato republicano ao governo, Mark Robinson, participa de um comício em Asheville, Carolina do Norte  Foto: Doug Mills/NYT

Em uma série de publicações na rede social Facebook, Robinson negou a existência do Holocausto, chamou integrantes da comunidade LGBT de “sujos”, pediu a prisão de mulheres transexuais que usassem o banheiro feminino, disse que queria voltar ao tempo em que “mulheres não votavam” e que a “sociedade deve ser liderada por homens”.

No dia 19 de setembro, uma reportagem da CNN americana noticiou que Robinson fez uma série de comentários perturbadores em um site pornografia ao longo dos últimos dez anos. Em um deles, Robinson se apelida de “negro nazista” e expressou apoio a volta da escravidão.

Alisson Powers, líder do Partido Republicano no condado de Union, região suburbana perto de Charlotte, aponta que Robinson é um grande orador e é “mal interpretado” pela mídia americana. A política acredita que a legenda pode ganhar ambas as eleições em novembro, mas precisa de uma votação massiva nas áreas rurais e suburbanas para que isso se concretize.

“Ninguém gosta das políticas dos democratas, Joe Biden prejudicou as famílias americanas porque está muito caro ir aos supermercado, as suas políticas pró-meio ambiente também são muito ruins”, aponta Powers, em entrevista ao Estadão.

Allison Powers é a líder do Partido Republicano no condado de Union, na Carolina do Norte. Trump venceu na região em 2020 com 61% dos votos Foto: Daniel Gateno/Estadão

O condado de Union era uma zona rural próxima de Charlotte, mas foi se tornando cada vez mais suburbano com o crescimento da cidade. Novas casas com um estilo similar estavam sendo construídas lado a lado, junto de novos estabelecimentos. Trump venceu no condado com 61% dos votos em 2020.

Powers sempre foi republicana, mas se engajou politicamente quando Trump entrou nas primárias republicanas de 2016. “Eu sempre apoiei Trump, ele sempre esteve certo sobre a sua política de colocar a América em primeiro lugar. A imigração ilegal está prejudicando o nosso país e muitas empresas estão demitindo americanos para contratar imigrantes, isso está errado”.

A cidade de Weddington fica no condado de Union, região suburbana perto de Charlotte, Carolina do Norte Foto: Daniel Gateno/Estadão

Entusiasmo

Apesar de os democratas terem mais votos nas áreas urbanas dos Estados Unidos, na Carolina do Norte é preciso avançar também nas zonas rurais do Estado para ter chance de ganhar. Dos 100 condados do Estado, 80 são considerados rurais.

“Por muito tempo as pessoas pensaram que apenas as áreas metropolitanas podem impactar eleições para o lado democrata, mas em um Estado como a Carolina do Norte é preciso olhar para as comunidades rurais”, aponta Cynthia Wallace, diretora do New Rural Project, iniciativa que busca registrar novos votantes de minorias nas áreas rurais da Carolina do Norte.

Desde que o presidente americano Joe Biden saiu da corrida presidencial, 12 mil pessoas na Carolina do Norte se registraram como voluntárias na campanha de Kamala. A equipe da democrata abriu mais de 20 escritórios ao redor do Estado, muitos em áreas fora das zonas urbanas e suburbanas.

Com Biden na chapa democrata as pesquisas indicavam uma grande vantagem de Trump, mas com Kamala, algumas sondagens chegaram a colocar o Partido Democrata na liderança. Segundo uma pesquisa do New York Times em parceria com a Siena College divulgada no dia 23 de setembro, Trump aparece na liderança, mas com uma margem estreita de 49%, contra 47% de Kamala.

ENVIADO ESPECIAL A CHARLOTTE, CAROLINA DO NORTE - Nas ruas da cidade de Charlotte, um dos locais mais badalados do sul dos Estados Unidos, o ambiente é de transformação, com novos prédios, empregos e um grande contingente de pessoas emergindo de forma rápida. Ao sair da cidade, a topografia muda e o Estado da Carolina do Norte vai ficando mais suburbano e rural. Nas eleições presidenciais deste ano, Kamala Harris quer se aproveitar deste clima de transição para conseguir uma vitória democrata no Estado, que não acontece desde 2008.

A Carolina do Norte é um dos chamados swing states, Estados-pêndulo em português, definição dada aos Estados que não têm um comportamento eleitoral definido, podendo variar entre uma vitória democrata ou republicana, dependendo da eleição. Mas em 11 das últimas 13 eleições o Partido Republicano foi o vencedor. Em 2020, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, esteve perto, perdendo para o ex-presidente Donald Trump por um pouco mais de 1% dos votos.

No pleito deste ano, mudanças demográficas que tendem a favorecer os democratas e uma disputa acirrada ao governo do Estado com um polêmico candidato republicano podem fazer a diferença para Kamala.

“Os democratas precisam mobilizar sua base, especialmente afro-americanos na Carolina do Norte e eleitores abaixo de 45 anos”, destaca Michael Bitzer, professor de ciências políticas do Catawba College, em Salisbury, Carolina do Norte. O especialista aponta que o Partido Republicano conseguiu uma vantagem nos últimos pleitos nacionais porque seus eleitores votaram em números maiores do que os democratas.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um comício em North Hampton, New Hampshire  Foto: Steven Senne/AP

Mudança demográfica

O entusiasmo democrata ocorre por conta de uma mudança de afro-americanos e eleitores brancos com diploma superior para o Estado. Segundo estatísticas do governo estadual, 99 mil americanos se mudaram anualmente para a Carolina do Norte de outros Estados desde 2020. Em termos de população, a Carolina do Norte é o terceiro Estado americano que mais cresceu.

O aumento se tornou mais visível nas grandes cidades da Carolina do Norte, como Charlotte e Raleigh, capital do Estado. De acordo um estudo da Universidade da Carolina do Norte, as zonas metropolitanas destas duas cidades estão entre as 10 que mais crescem nos EUA. Outras cidades do sul do país como Atlanta, na Geórgia, e San Antonio, Austin, Dallas e Houston, no Texas, também estão na lista.

A Carolina do Norte atrai americanos com diploma superior por abrigar o chamado Triângulo da Pesquisa, um dos polos empresariais que mais cresce nos Estados Unidos, com uma grande quantidade de companhias de tecnologia e farmacêuticas. A região tem este nome por conta de três universidades que ficam a poucos minutos de distância entre si: a Universidade de Duke, a Universidade Estadual da Carolina do Norte e a Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill.

O então presidente americano Barack Obama participa de um debate contra o senador republicano Mitt Romney, em Boca Raton, Flórida  Foto: Saul Loeb/AFP

O padrão migratório é muito promissor para os democratas, avalia Marc Farinella, diretor estadual da campanha de Barack Obama em 2008 na Carolina do Norte, em entrevista ao Estadão. Obama foi o último democrata a vencer uma eleição presidencial no Estado.

“A Carolina do Norte está atraindo americanos de outras partes do país que votam mais nos democratas do que os sulistas originais. O chamado Triângulo da Pesquisa é importante porque traz eleitores de classe média com diploma superior que, em sua maioria, tem repulsa a Donald Trump”, aponta Farinella.

Segundo o mesmo estudo da Universidade da Carolina do Norte, Estados como Nova York, Califórnia e Virgínia, tradicionalmente democratas, estão entre os cinco Estados americanos que mais perderam habitantes para a Carolina do Norte.

Afro-americanos

O sul dos Estados Unidos também está cada vez mais diverso racialmente. A Carolina do Norte era um dos Estados que aplicava as leis discriminatórias de Jim Crow, que determinavam a segregação racial no sul dos EUA, e vigoraram de 1877 e 1964.

Entre 1910 e 1970, seis milhões de afro-americanos se mudaram do sul dos EUA para escapar destas leis em um movimento chamado de “A Grande Migração”. Mas principalmente a partir dos anos 1990, ocorreu um retorno de afro-americanos para o sul que tem o nome de “Nova Grande Migração”, por conta de um ambiente favorável aos negócios e boa infraestrutura.

“O novo sul é mais diverso racialmente, politicamente e em relação a gênero e idade”, aponta Aimy Steele, empresária e diretora do North Carolina Project, organização especializada em rastrear e registrar novos votantes afro-americanos e de outras minorias no Estado.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, conversa com apoiadores em North Hampton, New Hampshire  Foto: Steven Senne/AP

“Os afro-americanos precisam voltar para o sul para viverem nos lugares que seus ancestrais saíram, estas pessoas precisam ser empoderadas. Não é sobre ser republicano ou democrata”, destaca Steele.

Segundo o Censo americano, cerca de 21,1% da população da Carolina do Norte é composta de afro-americanos. Para uma vitória de Kamala no Estado, os democratas precisarão que cerca de 20% do total de votantes democratas em novembro sejam afro-americanos, segundo Bitzer, do Catawba College. “Desde a primeira eleição de Obama, em 2008, a participação eleitoral de afro-americanos tem sido menor e precisa aumentar para a possibilidade de uma vitória democrata”.

O que deu certo em 2008?

A vitória de Obama encerrou uma seca democrata na Carolina do Norte em eleições presidenciais que perdurava desde 1976, quando Jimmy Carter venceu no Estado. Segundo Farinella, que coordenou a campanha de Obama na Carolina do Norte em 2008, o então candidato democrata tinha mais recursos financeiros, voluntários e entusiasmo do que o seu oponente, o senador republicano John McCain.

“McCain passou muito tempo da campanha presidencial esperando que a Carolina do Norte fosse votar como os Estados do sul geralmente votam: no Partido Republicano, mas isso não aconteceu”, aponta Farinella.

O diretor da campanha de 2008 destaca que Obama tinha uma grande estrutura organizacional no Estado e os afro-americanos foram decisivos para a vitória. “Existia um grande entusiasmo com a oportunidade de eleger o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos”.

A crise econômica mundial durante o governo do antecessor de Obama, o ex-presidente republicano George W. Bush, também favoreceu o desejo de mudança dos eleitores.

Quatro anos depois, Obama foi reeleito, mas perdeu na Carolina do Norte para o senador republicano Mitt Romney. “A realidade nunca é tão emocionante quanto seus sonhos e esperanças, então foi mais difícil realizar uma operação para estimular o voto democrata na Carolina do Norte em 2012″.

Em 2016, Trump venceu a ex-secretária de Estado Hillary Clinton de forma confortável. Nas últimas eleições, o ex-presidente também venceu na Carolina do Norte, mas com uma margem de pouco mais de 1%.

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, acena após participar de um compromisso de campanha em Nova York, Estados Unidos  Foto: Alex Brandon/AP

Eleição para o governo

Além da eleição nacional, o pleito para o governo da Carolina do Norte também será decidido em novembro. O polêmico candidato republicano Mark Robinson, lieutenant governor (vice-governador) do Estado, disputa a eleição contra o democrata Josh Stein, procurador-geral da Carolina do Norte.

No pleito para o governo do Estado, os democratas se saem melhor do que a nível nacional, vencendo 7 das últimas 8 eleições. O atual governador da Carolina do Norte é Roy Cooper, que chegou a ser cotado para ser candidato a vice na chapa de Kamala Harris.

Robinson é um dos republicanos mais alinhados com Trump e busca ser o primeiro afro-americano a ser eleito governador do Estado. Os democratas esperam que a sua retórica inflamada possa contribuir com um voto em Stein e Kamala. O procurador-geral da Carolina do Norte está liderando todas as pesquisas.

O vice-governador da Carolina do Norte e candidato republicano ao governo, Mark Robinson, participa de um comício em Asheville, Carolina do Norte  Foto: Doug Mills/NYT

Em uma série de publicações na rede social Facebook, Robinson negou a existência do Holocausto, chamou integrantes da comunidade LGBT de “sujos”, pediu a prisão de mulheres transexuais que usassem o banheiro feminino, disse que queria voltar ao tempo em que “mulheres não votavam” e que a “sociedade deve ser liderada por homens”.

No dia 19 de setembro, uma reportagem da CNN americana noticiou que Robinson fez uma série de comentários perturbadores em um site pornografia ao longo dos últimos dez anos. Em um deles, Robinson se apelida de “negro nazista” e expressou apoio a volta da escravidão.

Alisson Powers, líder do Partido Republicano no condado de Union, região suburbana perto de Charlotte, aponta que Robinson é um grande orador e é “mal interpretado” pela mídia americana. A política acredita que a legenda pode ganhar ambas as eleições em novembro, mas precisa de uma votação massiva nas áreas rurais e suburbanas para que isso se concretize.

“Ninguém gosta das políticas dos democratas, Joe Biden prejudicou as famílias americanas porque está muito caro ir aos supermercado, as suas políticas pró-meio ambiente também são muito ruins”, aponta Powers, em entrevista ao Estadão.

Allison Powers é a líder do Partido Republicano no condado de Union, na Carolina do Norte. Trump venceu na região em 2020 com 61% dos votos Foto: Daniel Gateno/Estadão

O condado de Union era uma zona rural próxima de Charlotte, mas foi se tornando cada vez mais suburbano com o crescimento da cidade. Novas casas com um estilo similar estavam sendo construídas lado a lado, junto de novos estabelecimentos. Trump venceu no condado com 61% dos votos em 2020.

Powers sempre foi republicana, mas se engajou politicamente quando Trump entrou nas primárias republicanas de 2016. “Eu sempre apoiei Trump, ele sempre esteve certo sobre a sua política de colocar a América em primeiro lugar. A imigração ilegal está prejudicando o nosso país e muitas empresas estão demitindo americanos para contratar imigrantes, isso está errado”.

A cidade de Weddington fica no condado de Union, região suburbana perto de Charlotte, Carolina do Norte Foto: Daniel Gateno/Estadão

Entusiasmo

Apesar de os democratas terem mais votos nas áreas urbanas dos Estados Unidos, na Carolina do Norte é preciso avançar também nas zonas rurais do Estado para ter chance de ganhar. Dos 100 condados do Estado, 80 são considerados rurais.

“Por muito tempo as pessoas pensaram que apenas as áreas metropolitanas podem impactar eleições para o lado democrata, mas em um Estado como a Carolina do Norte é preciso olhar para as comunidades rurais”, aponta Cynthia Wallace, diretora do New Rural Project, iniciativa que busca registrar novos votantes de minorias nas áreas rurais da Carolina do Norte.

Desde que o presidente americano Joe Biden saiu da corrida presidencial, 12 mil pessoas na Carolina do Norte se registraram como voluntárias na campanha de Kamala. A equipe da democrata abriu mais de 20 escritórios ao redor do Estado, muitos em áreas fora das zonas urbanas e suburbanas.

Com Biden na chapa democrata as pesquisas indicavam uma grande vantagem de Trump, mas com Kamala, algumas sondagens chegaram a colocar o Partido Democrata na liderança. Segundo uma pesquisa do New York Times em parceria com a Siena College divulgada no dia 23 de setembro, Trump aparece na liderança, mas com uma margem estreita de 49%, contra 47% de Kamala.

ENVIADO ESPECIAL A CHARLOTTE, CAROLINA DO NORTE - Nas ruas da cidade de Charlotte, um dos locais mais badalados do sul dos Estados Unidos, o ambiente é de transformação, com novos prédios, empregos e um grande contingente de pessoas emergindo de forma rápida. Ao sair da cidade, a topografia muda e o Estado da Carolina do Norte vai ficando mais suburbano e rural. Nas eleições presidenciais deste ano, Kamala Harris quer se aproveitar deste clima de transição para conseguir uma vitória democrata no Estado, que não acontece desde 2008.

A Carolina do Norte é um dos chamados swing states, Estados-pêndulo em português, definição dada aos Estados que não têm um comportamento eleitoral definido, podendo variar entre uma vitória democrata ou republicana, dependendo da eleição. Mas em 11 das últimas 13 eleições o Partido Republicano foi o vencedor. Em 2020, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, esteve perto, perdendo para o ex-presidente Donald Trump por um pouco mais de 1% dos votos.

No pleito deste ano, mudanças demográficas que tendem a favorecer os democratas e uma disputa acirrada ao governo do Estado com um polêmico candidato republicano podem fazer a diferença para Kamala.

“Os democratas precisam mobilizar sua base, especialmente afro-americanos na Carolina do Norte e eleitores abaixo de 45 anos”, destaca Michael Bitzer, professor de ciências políticas do Catawba College, em Salisbury, Carolina do Norte. O especialista aponta que o Partido Republicano conseguiu uma vantagem nos últimos pleitos nacionais porque seus eleitores votaram em números maiores do que os democratas.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um comício em North Hampton, New Hampshire  Foto: Steven Senne/AP

Mudança demográfica

O entusiasmo democrata ocorre por conta de uma mudança de afro-americanos e eleitores brancos com diploma superior para o Estado. Segundo estatísticas do governo estadual, 99 mil americanos se mudaram anualmente para a Carolina do Norte de outros Estados desde 2020. Em termos de população, a Carolina do Norte é o terceiro Estado americano que mais cresceu.

O aumento se tornou mais visível nas grandes cidades da Carolina do Norte, como Charlotte e Raleigh, capital do Estado. De acordo um estudo da Universidade da Carolina do Norte, as zonas metropolitanas destas duas cidades estão entre as 10 que mais crescem nos EUA. Outras cidades do sul do país como Atlanta, na Geórgia, e San Antonio, Austin, Dallas e Houston, no Texas, também estão na lista.

A Carolina do Norte atrai americanos com diploma superior por abrigar o chamado Triângulo da Pesquisa, um dos polos empresariais que mais cresce nos Estados Unidos, com uma grande quantidade de companhias de tecnologia e farmacêuticas. A região tem este nome por conta de três universidades que ficam a poucos minutos de distância entre si: a Universidade de Duke, a Universidade Estadual da Carolina do Norte e a Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill.

O então presidente americano Barack Obama participa de um debate contra o senador republicano Mitt Romney, em Boca Raton, Flórida  Foto: Saul Loeb/AFP

O padrão migratório é muito promissor para os democratas, avalia Marc Farinella, diretor estadual da campanha de Barack Obama em 2008 na Carolina do Norte, em entrevista ao Estadão. Obama foi o último democrata a vencer uma eleição presidencial no Estado.

“A Carolina do Norte está atraindo americanos de outras partes do país que votam mais nos democratas do que os sulistas originais. O chamado Triângulo da Pesquisa é importante porque traz eleitores de classe média com diploma superior que, em sua maioria, tem repulsa a Donald Trump”, aponta Farinella.

Segundo o mesmo estudo da Universidade da Carolina do Norte, Estados como Nova York, Califórnia e Virgínia, tradicionalmente democratas, estão entre os cinco Estados americanos que mais perderam habitantes para a Carolina do Norte.

Afro-americanos

O sul dos Estados Unidos também está cada vez mais diverso racialmente. A Carolina do Norte era um dos Estados que aplicava as leis discriminatórias de Jim Crow, que determinavam a segregação racial no sul dos EUA, e vigoraram de 1877 e 1964.

Entre 1910 e 1970, seis milhões de afro-americanos se mudaram do sul dos EUA para escapar destas leis em um movimento chamado de “A Grande Migração”. Mas principalmente a partir dos anos 1990, ocorreu um retorno de afro-americanos para o sul que tem o nome de “Nova Grande Migração”, por conta de um ambiente favorável aos negócios e boa infraestrutura.

“O novo sul é mais diverso racialmente, politicamente e em relação a gênero e idade”, aponta Aimy Steele, empresária e diretora do North Carolina Project, organização especializada em rastrear e registrar novos votantes afro-americanos e de outras minorias no Estado.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, conversa com apoiadores em North Hampton, New Hampshire  Foto: Steven Senne/AP

“Os afro-americanos precisam voltar para o sul para viverem nos lugares que seus ancestrais saíram, estas pessoas precisam ser empoderadas. Não é sobre ser republicano ou democrata”, destaca Steele.

Segundo o Censo americano, cerca de 21,1% da população da Carolina do Norte é composta de afro-americanos. Para uma vitória de Kamala no Estado, os democratas precisarão que cerca de 20% do total de votantes democratas em novembro sejam afro-americanos, segundo Bitzer, do Catawba College. “Desde a primeira eleição de Obama, em 2008, a participação eleitoral de afro-americanos tem sido menor e precisa aumentar para a possibilidade de uma vitória democrata”.

O que deu certo em 2008?

A vitória de Obama encerrou uma seca democrata na Carolina do Norte em eleições presidenciais que perdurava desde 1976, quando Jimmy Carter venceu no Estado. Segundo Farinella, que coordenou a campanha de Obama na Carolina do Norte em 2008, o então candidato democrata tinha mais recursos financeiros, voluntários e entusiasmo do que o seu oponente, o senador republicano John McCain.

“McCain passou muito tempo da campanha presidencial esperando que a Carolina do Norte fosse votar como os Estados do sul geralmente votam: no Partido Republicano, mas isso não aconteceu”, aponta Farinella.

O diretor da campanha de 2008 destaca que Obama tinha uma grande estrutura organizacional no Estado e os afro-americanos foram decisivos para a vitória. “Existia um grande entusiasmo com a oportunidade de eleger o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos”.

A crise econômica mundial durante o governo do antecessor de Obama, o ex-presidente republicano George W. Bush, também favoreceu o desejo de mudança dos eleitores.

Quatro anos depois, Obama foi reeleito, mas perdeu na Carolina do Norte para o senador republicano Mitt Romney. “A realidade nunca é tão emocionante quanto seus sonhos e esperanças, então foi mais difícil realizar uma operação para estimular o voto democrata na Carolina do Norte em 2012″.

Em 2016, Trump venceu a ex-secretária de Estado Hillary Clinton de forma confortável. Nas últimas eleições, o ex-presidente também venceu na Carolina do Norte, mas com uma margem de pouco mais de 1%.

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, acena após participar de um compromisso de campanha em Nova York, Estados Unidos  Foto: Alex Brandon/AP

Eleição para o governo

Além da eleição nacional, o pleito para o governo da Carolina do Norte também será decidido em novembro. O polêmico candidato republicano Mark Robinson, lieutenant governor (vice-governador) do Estado, disputa a eleição contra o democrata Josh Stein, procurador-geral da Carolina do Norte.

No pleito para o governo do Estado, os democratas se saem melhor do que a nível nacional, vencendo 7 das últimas 8 eleições. O atual governador da Carolina do Norte é Roy Cooper, que chegou a ser cotado para ser candidato a vice na chapa de Kamala Harris.

Robinson é um dos republicanos mais alinhados com Trump e busca ser o primeiro afro-americano a ser eleito governador do Estado. Os democratas esperam que a sua retórica inflamada possa contribuir com um voto em Stein e Kamala. O procurador-geral da Carolina do Norte está liderando todas as pesquisas.

O vice-governador da Carolina do Norte e candidato republicano ao governo, Mark Robinson, participa de um comício em Asheville, Carolina do Norte  Foto: Doug Mills/NYT

Em uma série de publicações na rede social Facebook, Robinson negou a existência do Holocausto, chamou integrantes da comunidade LGBT de “sujos”, pediu a prisão de mulheres transexuais que usassem o banheiro feminino, disse que queria voltar ao tempo em que “mulheres não votavam” e que a “sociedade deve ser liderada por homens”.

No dia 19 de setembro, uma reportagem da CNN americana noticiou que Robinson fez uma série de comentários perturbadores em um site pornografia ao longo dos últimos dez anos. Em um deles, Robinson se apelida de “negro nazista” e expressou apoio a volta da escravidão.

Alisson Powers, líder do Partido Republicano no condado de Union, região suburbana perto de Charlotte, aponta que Robinson é um grande orador e é “mal interpretado” pela mídia americana. A política acredita que a legenda pode ganhar ambas as eleições em novembro, mas precisa de uma votação massiva nas áreas rurais e suburbanas para que isso se concretize.

“Ninguém gosta das políticas dos democratas, Joe Biden prejudicou as famílias americanas porque está muito caro ir aos supermercado, as suas políticas pró-meio ambiente também são muito ruins”, aponta Powers, em entrevista ao Estadão.

Allison Powers é a líder do Partido Republicano no condado de Union, na Carolina do Norte. Trump venceu na região em 2020 com 61% dos votos Foto: Daniel Gateno/Estadão

O condado de Union era uma zona rural próxima de Charlotte, mas foi se tornando cada vez mais suburbano com o crescimento da cidade. Novas casas com um estilo similar estavam sendo construídas lado a lado, junto de novos estabelecimentos. Trump venceu no condado com 61% dos votos em 2020.

Powers sempre foi republicana, mas se engajou politicamente quando Trump entrou nas primárias republicanas de 2016. “Eu sempre apoiei Trump, ele sempre esteve certo sobre a sua política de colocar a América em primeiro lugar. A imigração ilegal está prejudicando o nosso país e muitas empresas estão demitindo americanos para contratar imigrantes, isso está errado”.

A cidade de Weddington fica no condado de Union, região suburbana perto de Charlotte, Carolina do Norte Foto: Daniel Gateno/Estadão

Entusiasmo

Apesar de os democratas terem mais votos nas áreas urbanas dos Estados Unidos, na Carolina do Norte é preciso avançar também nas zonas rurais do Estado para ter chance de ganhar. Dos 100 condados do Estado, 80 são considerados rurais.

“Por muito tempo as pessoas pensaram que apenas as áreas metropolitanas podem impactar eleições para o lado democrata, mas em um Estado como a Carolina do Norte é preciso olhar para as comunidades rurais”, aponta Cynthia Wallace, diretora do New Rural Project, iniciativa que busca registrar novos votantes de minorias nas áreas rurais da Carolina do Norte.

Desde que o presidente americano Joe Biden saiu da corrida presidencial, 12 mil pessoas na Carolina do Norte se registraram como voluntárias na campanha de Kamala. A equipe da democrata abriu mais de 20 escritórios ao redor do Estado, muitos em áreas fora das zonas urbanas e suburbanas.

Com Biden na chapa democrata as pesquisas indicavam uma grande vantagem de Trump, mas com Kamala, algumas sondagens chegaram a colocar o Partido Democrata na liderança. Segundo uma pesquisa do New York Times em parceria com a Siena College divulgada no dia 23 de setembro, Trump aparece na liderança, mas com uma margem estreita de 49%, contra 47% de Kamala.

ENVIADO ESPECIAL A CHARLOTTE, CAROLINA DO NORTE - Nas ruas da cidade de Charlotte, um dos locais mais badalados do sul dos Estados Unidos, o ambiente é de transformação, com novos prédios, empregos e um grande contingente de pessoas emergindo de forma rápida. Ao sair da cidade, a topografia muda e o Estado da Carolina do Norte vai ficando mais suburbano e rural. Nas eleições presidenciais deste ano, Kamala Harris quer se aproveitar deste clima de transição para conseguir uma vitória democrata no Estado, que não acontece desde 2008.

A Carolina do Norte é um dos chamados swing states, Estados-pêndulo em português, definição dada aos Estados que não têm um comportamento eleitoral definido, podendo variar entre uma vitória democrata ou republicana, dependendo da eleição. Mas em 11 das últimas 13 eleições o Partido Republicano foi o vencedor. Em 2020, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, esteve perto, perdendo para o ex-presidente Donald Trump por um pouco mais de 1% dos votos.

No pleito deste ano, mudanças demográficas que tendem a favorecer os democratas e uma disputa acirrada ao governo do Estado com um polêmico candidato republicano podem fazer a diferença para Kamala.

“Os democratas precisam mobilizar sua base, especialmente afro-americanos na Carolina do Norte e eleitores abaixo de 45 anos”, destaca Michael Bitzer, professor de ciências políticas do Catawba College, em Salisbury, Carolina do Norte. O especialista aponta que o Partido Republicano conseguiu uma vantagem nos últimos pleitos nacionais porque seus eleitores votaram em números maiores do que os democratas.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um comício em North Hampton, New Hampshire  Foto: Steven Senne/AP

Mudança demográfica

O entusiasmo democrata ocorre por conta de uma mudança de afro-americanos e eleitores brancos com diploma superior para o Estado. Segundo estatísticas do governo estadual, 99 mil americanos se mudaram anualmente para a Carolina do Norte de outros Estados desde 2020. Em termos de população, a Carolina do Norte é o terceiro Estado americano que mais cresceu.

O aumento se tornou mais visível nas grandes cidades da Carolina do Norte, como Charlotte e Raleigh, capital do Estado. De acordo um estudo da Universidade da Carolina do Norte, as zonas metropolitanas destas duas cidades estão entre as 10 que mais crescem nos EUA. Outras cidades do sul do país como Atlanta, na Geórgia, e San Antonio, Austin, Dallas e Houston, no Texas, também estão na lista.

A Carolina do Norte atrai americanos com diploma superior por abrigar o chamado Triângulo da Pesquisa, um dos polos empresariais que mais cresce nos Estados Unidos, com uma grande quantidade de companhias de tecnologia e farmacêuticas. A região tem este nome por conta de três universidades que ficam a poucos minutos de distância entre si: a Universidade de Duke, a Universidade Estadual da Carolina do Norte e a Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill.

O então presidente americano Barack Obama participa de um debate contra o senador republicano Mitt Romney, em Boca Raton, Flórida  Foto: Saul Loeb/AFP

O padrão migratório é muito promissor para os democratas, avalia Marc Farinella, diretor estadual da campanha de Barack Obama em 2008 na Carolina do Norte, em entrevista ao Estadão. Obama foi o último democrata a vencer uma eleição presidencial no Estado.

“A Carolina do Norte está atraindo americanos de outras partes do país que votam mais nos democratas do que os sulistas originais. O chamado Triângulo da Pesquisa é importante porque traz eleitores de classe média com diploma superior que, em sua maioria, tem repulsa a Donald Trump”, aponta Farinella.

Segundo o mesmo estudo da Universidade da Carolina do Norte, Estados como Nova York, Califórnia e Virgínia, tradicionalmente democratas, estão entre os cinco Estados americanos que mais perderam habitantes para a Carolina do Norte.

Afro-americanos

O sul dos Estados Unidos também está cada vez mais diverso racialmente. A Carolina do Norte era um dos Estados que aplicava as leis discriminatórias de Jim Crow, que determinavam a segregação racial no sul dos EUA, e vigoraram de 1877 e 1964.

Entre 1910 e 1970, seis milhões de afro-americanos se mudaram do sul dos EUA para escapar destas leis em um movimento chamado de “A Grande Migração”. Mas principalmente a partir dos anos 1990, ocorreu um retorno de afro-americanos para o sul que tem o nome de “Nova Grande Migração”, por conta de um ambiente favorável aos negócios e boa infraestrutura.

“O novo sul é mais diverso racialmente, politicamente e em relação a gênero e idade”, aponta Aimy Steele, empresária e diretora do North Carolina Project, organização especializada em rastrear e registrar novos votantes afro-americanos e de outras minorias no Estado.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, conversa com apoiadores em North Hampton, New Hampshire  Foto: Steven Senne/AP

“Os afro-americanos precisam voltar para o sul para viverem nos lugares que seus ancestrais saíram, estas pessoas precisam ser empoderadas. Não é sobre ser republicano ou democrata”, destaca Steele.

Segundo o Censo americano, cerca de 21,1% da população da Carolina do Norte é composta de afro-americanos. Para uma vitória de Kamala no Estado, os democratas precisarão que cerca de 20% do total de votantes democratas em novembro sejam afro-americanos, segundo Bitzer, do Catawba College. “Desde a primeira eleição de Obama, em 2008, a participação eleitoral de afro-americanos tem sido menor e precisa aumentar para a possibilidade de uma vitória democrata”.

O que deu certo em 2008?

A vitória de Obama encerrou uma seca democrata na Carolina do Norte em eleições presidenciais que perdurava desde 1976, quando Jimmy Carter venceu no Estado. Segundo Farinella, que coordenou a campanha de Obama na Carolina do Norte em 2008, o então candidato democrata tinha mais recursos financeiros, voluntários e entusiasmo do que o seu oponente, o senador republicano John McCain.

“McCain passou muito tempo da campanha presidencial esperando que a Carolina do Norte fosse votar como os Estados do sul geralmente votam: no Partido Republicano, mas isso não aconteceu”, aponta Farinella.

O diretor da campanha de 2008 destaca que Obama tinha uma grande estrutura organizacional no Estado e os afro-americanos foram decisivos para a vitória. “Existia um grande entusiasmo com a oportunidade de eleger o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos”.

A crise econômica mundial durante o governo do antecessor de Obama, o ex-presidente republicano George W. Bush, também favoreceu o desejo de mudança dos eleitores.

Quatro anos depois, Obama foi reeleito, mas perdeu na Carolina do Norte para o senador republicano Mitt Romney. “A realidade nunca é tão emocionante quanto seus sonhos e esperanças, então foi mais difícil realizar uma operação para estimular o voto democrata na Carolina do Norte em 2012″.

Em 2016, Trump venceu a ex-secretária de Estado Hillary Clinton de forma confortável. Nas últimas eleições, o ex-presidente também venceu na Carolina do Norte, mas com uma margem de pouco mais de 1%.

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, acena após participar de um compromisso de campanha em Nova York, Estados Unidos  Foto: Alex Brandon/AP

Eleição para o governo

Além da eleição nacional, o pleito para o governo da Carolina do Norte também será decidido em novembro. O polêmico candidato republicano Mark Robinson, lieutenant governor (vice-governador) do Estado, disputa a eleição contra o democrata Josh Stein, procurador-geral da Carolina do Norte.

No pleito para o governo do Estado, os democratas se saem melhor do que a nível nacional, vencendo 7 das últimas 8 eleições. O atual governador da Carolina do Norte é Roy Cooper, que chegou a ser cotado para ser candidato a vice na chapa de Kamala Harris.

Robinson é um dos republicanos mais alinhados com Trump e busca ser o primeiro afro-americano a ser eleito governador do Estado. Os democratas esperam que a sua retórica inflamada possa contribuir com um voto em Stein e Kamala. O procurador-geral da Carolina do Norte está liderando todas as pesquisas.

O vice-governador da Carolina do Norte e candidato republicano ao governo, Mark Robinson, participa de um comício em Asheville, Carolina do Norte  Foto: Doug Mills/NYT

Em uma série de publicações na rede social Facebook, Robinson negou a existência do Holocausto, chamou integrantes da comunidade LGBT de “sujos”, pediu a prisão de mulheres transexuais que usassem o banheiro feminino, disse que queria voltar ao tempo em que “mulheres não votavam” e que a “sociedade deve ser liderada por homens”.

No dia 19 de setembro, uma reportagem da CNN americana noticiou que Robinson fez uma série de comentários perturbadores em um site pornografia ao longo dos últimos dez anos. Em um deles, Robinson se apelida de “negro nazista” e expressou apoio a volta da escravidão.

Alisson Powers, líder do Partido Republicano no condado de Union, região suburbana perto de Charlotte, aponta que Robinson é um grande orador e é “mal interpretado” pela mídia americana. A política acredita que a legenda pode ganhar ambas as eleições em novembro, mas precisa de uma votação massiva nas áreas rurais e suburbanas para que isso se concretize.

“Ninguém gosta das políticas dos democratas, Joe Biden prejudicou as famílias americanas porque está muito caro ir aos supermercado, as suas políticas pró-meio ambiente também são muito ruins”, aponta Powers, em entrevista ao Estadão.

Allison Powers é a líder do Partido Republicano no condado de Union, na Carolina do Norte. Trump venceu na região em 2020 com 61% dos votos Foto: Daniel Gateno/Estadão

O condado de Union era uma zona rural próxima de Charlotte, mas foi se tornando cada vez mais suburbano com o crescimento da cidade. Novas casas com um estilo similar estavam sendo construídas lado a lado, junto de novos estabelecimentos. Trump venceu no condado com 61% dos votos em 2020.

Powers sempre foi republicana, mas se engajou politicamente quando Trump entrou nas primárias republicanas de 2016. “Eu sempre apoiei Trump, ele sempre esteve certo sobre a sua política de colocar a América em primeiro lugar. A imigração ilegal está prejudicando o nosso país e muitas empresas estão demitindo americanos para contratar imigrantes, isso está errado”.

A cidade de Weddington fica no condado de Union, região suburbana perto de Charlotte, Carolina do Norte Foto: Daniel Gateno/Estadão

Entusiasmo

Apesar de os democratas terem mais votos nas áreas urbanas dos Estados Unidos, na Carolina do Norte é preciso avançar também nas zonas rurais do Estado para ter chance de ganhar. Dos 100 condados do Estado, 80 são considerados rurais.

“Por muito tempo as pessoas pensaram que apenas as áreas metropolitanas podem impactar eleições para o lado democrata, mas em um Estado como a Carolina do Norte é preciso olhar para as comunidades rurais”, aponta Cynthia Wallace, diretora do New Rural Project, iniciativa que busca registrar novos votantes de minorias nas áreas rurais da Carolina do Norte.

Desde que o presidente americano Joe Biden saiu da corrida presidencial, 12 mil pessoas na Carolina do Norte se registraram como voluntárias na campanha de Kamala. A equipe da democrata abriu mais de 20 escritórios ao redor do Estado, muitos em áreas fora das zonas urbanas e suburbanas.

Com Biden na chapa democrata as pesquisas indicavam uma grande vantagem de Trump, mas com Kamala, algumas sondagens chegaram a colocar o Partido Democrata na liderança. Segundo uma pesquisa do New York Times em parceria com a Siena College divulgada no dia 23 de setembro, Trump aparece na liderança, mas com uma margem estreita de 49%, contra 47% de Kamala.

ENVIADO ESPECIAL A CHARLOTTE, CAROLINA DO NORTE - Nas ruas da cidade de Charlotte, um dos locais mais badalados do sul dos Estados Unidos, o ambiente é de transformação, com novos prédios, empregos e um grande contingente de pessoas emergindo de forma rápida. Ao sair da cidade, a topografia muda e o Estado da Carolina do Norte vai ficando mais suburbano e rural. Nas eleições presidenciais deste ano, Kamala Harris quer se aproveitar deste clima de transição para conseguir uma vitória democrata no Estado, que não acontece desde 2008.

A Carolina do Norte é um dos chamados swing states, Estados-pêndulo em português, definição dada aos Estados que não têm um comportamento eleitoral definido, podendo variar entre uma vitória democrata ou republicana, dependendo da eleição. Mas em 11 das últimas 13 eleições o Partido Republicano foi o vencedor. Em 2020, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, esteve perto, perdendo para o ex-presidente Donald Trump por um pouco mais de 1% dos votos.

No pleito deste ano, mudanças demográficas que tendem a favorecer os democratas e uma disputa acirrada ao governo do Estado com um polêmico candidato republicano podem fazer a diferença para Kamala.

“Os democratas precisam mobilizar sua base, especialmente afro-americanos na Carolina do Norte e eleitores abaixo de 45 anos”, destaca Michael Bitzer, professor de ciências políticas do Catawba College, em Salisbury, Carolina do Norte. O especialista aponta que o Partido Republicano conseguiu uma vantagem nos últimos pleitos nacionais porque seus eleitores votaram em números maiores do que os democratas.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um comício em North Hampton, New Hampshire  Foto: Steven Senne/AP

Mudança demográfica

O entusiasmo democrata ocorre por conta de uma mudança de afro-americanos e eleitores brancos com diploma superior para o Estado. Segundo estatísticas do governo estadual, 99 mil americanos se mudaram anualmente para a Carolina do Norte de outros Estados desde 2020. Em termos de população, a Carolina do Norte é o terceiro Estado americano que mais cresceu.

O aumento se tornou mais visível nas grandes cidades da Carolina do Norte, como Charlotte e Raleigh, capital do Estado. De acordo um estudo da Universidade da Carolina do Norte, as zonas metropolitanas destas duas cidades estão entre as 10 que mais crescem nos EUA. Outras cidades do sul do país como Atlanta, na Geórgia, e San Antonio, Austin, Dallas e Houston, no Texas, também estão na lista.

A Carolina do Norte atrai americanos com diploma superior por abrigar o chamado Triângulo da Pesquisa, um dos polos empresariais que mais cresce nos Estados Unidos, com uma grande quantidade de companhias de tecnologia e farmacêuticas. A região tem este nome por conta de três universidades que ficam a poucos minutos de distância entre si: a Universidade de Duke, a Universidade Estadual da Carolina do Norte e a Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill.

O então presidente americano Barack Obama participa de um debate contra o senador republicano Mitt Romney, em Boca Raton, Flórida  Foto: Saul Loeb/AFP

O padrão migratório é muito promissor para os democratas, avalia Marc Farinella, diretor estadual da campanha de Barack Obama em 2008 na Carolina do Norte, em entrevista ao Estadão. Obama foi o último democrata a vencer uma eleição presidencial no Estado.

“A Carolina do Norte está atraindo americanos de outras partes do país que votam mais nos democratas do que os sulistas originais. O chamado Triângulo da Pesquisa é importante porque traz eleitores de classe média com diploma superior que, em sua maioria, tem repulsa a Donald Trump”, aponta Farinella.

Segundo o mesmo estudo da Universidade da Carolina do Norte, Estados como Nova York, Califórnia e Virgínia, tradicionalmente democratas, estão entre os cinco Estados americanos que mais perderam habitantes para a Carolina do Norte.

Afro-americanos

O sul dos Estados Unidos também está cada vez mais diverso racialmente. A Carolina do Norte era um dos Estados que aplicava as leis discriminatórias de Jim Crow, que determinavam a segregação racial no sul dos EUA, e vigoraram de 1877 e 1964.

Entre 1910 e 1970, seis milhões de afro-americanos se mudaram do sul dos EUA para escapar destas leis em um movimento chamado de “A Grande Migração”. Mas principalmente a partir dos anos 1990, ocorreu um retorno de afro-americanos para o sul que tem o nome de “Nova Grande Migração”, por conta de um ambiente favorável aos negócios e boa infraestrutura.

“O novo sul é mais diverso racialmente, politicamente e em relação a gênero e idade”, aponta Aimy Steele, empresária e diretora do North Carolina Project, organização especializada em rastrear e registrar novos votantes afro-americanos e de outras minorias no Estado.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, conversa com apoiadores em North Hampton, New Hampshire  Foto: Steven Senne/AP

“Os afro-americanos precisam voltar para o sul para viverem nos lugares que seus ancestrais saíram, estas pessoas precisam ser empoderadas. Não é sobre ser republicano ou democrata”, destaca Steele.

Segundo o Censo americano, cerca de 21,1% da população da Carolina do Norte é composta de afro-americanos. Para uma vitória de Kamala no Estado, os democratas precisarão que cerca de 20% do total de votantes democratas em novembro sejam afro-americanos, segundo Bitzer, do Catawba College. “Desde a primeira eleição de Obama, em 2008, a participação eleitoral de afro-americanos tem sido menor e precisa aumentar para a possibilidade de uma vitória democrata”.

O que deu certo em 2008?

A vitória de Obama encerrou uma seca democrata na Carolina do Norte em eleições presidenciais que perdurava desde 1976, quando Jimmy Carter venceu no Estado. Segundo Farinella, que coordenou a campanha de Obama na Carolina do Norte em 2008, o então candidato democrata tinha mais recursos financeiros, voluntários e entusiasmo do que o seu oponente, o senador republicano John McCain.

“McCain passou muito tempo da campanha presidencial esperando que a Carolina do Norte fosse votar como os Estados do sul geralmente votam: no Partido Republicano, mas isso não aconteceu”, aponta Farinella.

O diretor da campanha de 2008 destaca que Obama tinha uma grande estrutura organizacional no Estado e os afro-americanos foram decisivos para a vitória. “Existia um grande entusiasmo com a oportunidade de eleger o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos”.

A crise econômica mundial durante o governo do antecessor de Obama, o ex-presidente republicano George W. Bush, também favoreceu o desejo de mudança dos eleitores.

Quatro anos depois, Obama foi reeleito, mas perdeu na Carolina do Norte para o senador republicano Mitt Romney. “A realidade nunca é tão emocionante quanto seus sonhos e esperanças, então foi mais difícil realizar uma operação para estimular o voto democrata na Carolina do Norte em 2012″.

Em 2016, Trump venceu a ex-secretária de Estado Hillary Clinton de forma confortável. Nas últimas eleições, o ex-presidente também venceu na Carolina do Norte, mas com uma margem de pouco mais de 1%.

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, acena após participar de um compromisso de campanha em Nova York, Estados Unidos  Foto: Alex Brandon/AP

Eleição para o governo

Além da eleição nacional, o pleito para o governo da Carolina do Norte também será decidido em novembro. O polêmico candidato republicano Mark Robinson, lieutenant governor (vice-governador) do Estado, disputa a eleição contra o democrata Josh Stein, procurador-geral da Carolina do Norte.

No pleito para o governo do Estado, os democratas se saem melhor do que a nível nacional, vencendo 7 das últimas 8 eleições. O atual governador da Carolina do Norte é Roy Cooper, que chegou a ser cotado para ser candidato a vice na chapa de Kamala Harris.

Robinson é um dos republicanos mais alinhados com Trump e busca ser o primeiro afro-americano a ser eleito governador do Estado. Os democratas esperam que a sua retórica inflamada possa contribuir com um voto em Stein e Kamala. O procurador-geral da Carolina do Norte está liderando todas as pesquisas.

O vice-governador da Carolina do Norte e candidato republicano ao governo, Mark Robinson, participa de um comício em Asheville, Carolina do Norte  Foto: Doug Mills/NYT

Em uma série de publicações na rede social Facebook, Robinson negou a existência do Holocausto, chamou integrantes da comunidade LGBT de “sujos”, pediu a prisão de mulheres transexuais que usassem o banheiro feminino, disse que queria voltar ao tempo em que “mulheres não votavam” e que a “sociedade deve ser liderada por homens”.

No dia 19 de setembro, uma reportagem da CNN americana noticiou que Robinson fez uma série de comentários perturbadores em um site pornografia ao longo dos últimos dez anos. Em um deles, Robinson se apelida de “negro nazista” e expressou apoio a volta da escravidão.

Alisson Powers, líder do Partido Republicano no condado de Union, região suburbana perto de Charlotte, aponta que Robinson é um grande orador e é “mal interpretado” pela mídia americana. A política acredita que a legenda pode ganhar ambas as eleições em novembro, mas precisa de uma votação massiva nas áreas rurais e suburbanas para que isso se concretize.

“Ninguém gosta das políticas dos democratas, Joe Biden prejudicou as famílias americanas porque está muito caro ir aos supermercado, as suas políticas pró-meio ambiente também são muito ruins”, aponta Powers, em entrevista ao Estadão.

Allison Powers é a líder do Partido Republicano no condado de Union, na Carolina do Norte. Trump venceu na região em 2020 com 61% dos votos Foto: Daniel Gateno/Estadão

O condado de Union era uma zona rural próxima de Charlotte, mas foi se tornando cada vez mais suburbano com o crescimento da cidade. Novas casas com um estilo similar estavam sendo construídas lado a lado, junto de novos estabelecimentos. Trump venceu no condado com 61% dos votos em 2020.

Powers sempre foi republicana, mas se engajou politicamente quando Trump entrou nas primárias republicanas de 2016. “Eu sempre apoiei Trump, ele sempre esteve certo sobre a sua política de colocar a América em primeiro lugar. A imigração ilegal está prejudicando o nosso país e muitas empresas estão demitindo americanos para contratar imigrantes, isso está errado”.

A cidade de Weddington fica no condado de Union, região suburbana perto de Charlotte, Carolina do Norte Foto: Daniel Gateno/Estadão

Entusiasmo

Apesar de os democratas terem mais votos nas áreas urbanas dos Estados Unidos, na Carolina do Norte é preciso avançar também nas zonas rurais do Estado para ter chance de ganhar. Dos 100 condados do Estado, 80 são considerados rurais.

“Por muito tempo as pessoas pensaram que apenas as áreas metropolitanas podem impactar eleições para o lado democrata, mas em um Estado como a Carolina do Norte é preciso olhar para as comunidades rurais”, aponta Cynthia Wallace, diretora do New Rural Project, iniciativa que busca registrar novos votantes de minorias nas áreas rurais da Carolina do Norte.

Desde que o presidente americano Joe Biden saiu da corrida presidencial, 12 mil pessoas na Carolina do Norte se registraram como voluntárias na campanha de Kamala. A equipe da democrata abriu mais de 20 escritórios ao redor do Estado, muitos em áreas fora das zonas urbanas e suburbanas.

Com Biden na chapa democrata as pesquisas indicavam uma grande vantagem de Trump, mas com Kamala, algumas sondagens chegaram a colocar o Partido Democrata na liderança. Segundo uma pesquisa do New York Times em parceria com a Siena College divulgada no dia 23 de setembro, Trump aparece na liderança, mas com uma margem estreita de 49%, contra 47% de Kamala.

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