WASHINGTON — O Pentágono anunciou na noite da terça-feira que criou um novo painel para investigar relatos de "fenômenos aéreos sem identificação" em regiões sensíveis, trabalho que será supervisionado por forças militares e agências de inteligência.
O grupo liderará um esforço para “detectar, identificar e caracterizar objetos” em espaço aéreo restrito, assim como mitigar qualquer ameaça a voos militares.
O anúncio ocorreu em seguida à publicação de um relatório, em junho, que fracassou em fornecer explicações para 143 avistamentos de fenômenos estranhos por pilotos militares e outras pessoas ocorridos ao longo das duas últimas décadas.
O relatório frustrou alguns membros da comunidade de inteligência que acreditavam que mais análises e pesquisas deveriam ter sido realizadas para tentar categorizar e explicar os fenômenos. Publicar um relatório afirmando que os avistamentos não tinham explicação estimulou mais teorias de que os vídeos ou fotos podem ser de visitantes vindos do espaço sideral, uma teoria que poucos no governo americano levam a sério.
Kathleen Hicks, a subsecretária de Defesa, afirmou que o novo painel se chamará Grupo Identificação de Objetos Aéreos e Sincronização Administrativa. O painel será supervisionado por um conselho executivo composto pelo subsecretário de Defesa para inteligência, pelo diretor de Estado-Maior e por funcionários graduados do Escritório do Diretor de Inteligência Nacional.
O grupo terá como foco espaço aéreos de uso especial, que incluem áreas de operações militares, de exercícios de tiro e lugares de uso estrito para assuntos segurança nacional, entre outros. Em um memorando, Hicks afirmou que fenômenos aéreos não identificados em áreas de uso especial representam um problema potencial de segurança para pilotos militares e aumentam “potenciais preocupações de segurança nacional”.
Em junho, o Escritório do Diretor de Inteligência Nacional publicou um relatório que analisava fenômenos aéreos não identificados avistados desde 2004, notando que 143 continuavam sem explicação. Entre eles, 21 relatos, envolvendo 18 episódios, possivelmente demonstraram capacidades tecnológicas desconhecidas para os Estados Unidos, tais como objetos em movimento sem meios de propulsão observáveis ou rápidas acelerações, que, acredita-se, estariam além das capacidades de Rússia, China ou outros países.
Autoridades do governo afirmaram privadamente que não havia evidências de uso de tecnologias avançadas russas ou chinesas, muito menos de alienígenas viajantes espaciais, nas informações coletadas. Mas as autoridades reconheceram que o fracasso do governo em produzir explicações poderia alimentar variadas teorias, algumas mais conspiratórias que outras.
Enquanto os avistamentos sem explicação ocorreram em sua maioria em torno de instalações ou operações militares, o relatório afirmou que isso pode ser resultado de um enviesamento nos dados ou do uso de sensores avançados.
Algumas pessoas acreditam que qualquer fenômeno que exiba tecnologia além das capacidades dos EUA requer um estudo profundo. Céticos acreditam que a maioria desses avistamentos, ou todos eles, imagens gravadas por câmeras de aviões militares de combate, podem ser explicados como ilusões de ótica ou fenômenos naturais.
Este mês, Avril Haines, a diretora de inteligência nacional, afirmou que o governo precisa melhorar a coleta de informações a respeito de fenômenos sem explicação. Haines afirmou que o foco principal continua sendo constatar se os fenômenos eram aeronaves de algum país rival espionando os EUA, mas deixou aberta a possibilidade das explicações intergaláticas.
“Os principais assuntos com que o Congresso e outras instituições têm se preocupado são basicamente segurança de voo e contrainteligência”, afirmou ela. “Mas é claro que sempre surge a questão a respeito disso ser algo além, que simplesmente não entendemos, e poder ter origem extraterrestre.”
A referência extraterrestre de Haines não se referiu necessariamente a alienígenas espaciais, mas a explicações mais prosaicas, como meteoros e erupções solares capazes de prejudicar a segurança dos voos.
Por anos, o oficial de inteligência militar Luis Elizondo coordenou um discreto painel no Pentágono chamado Programa de Identificação Avançada de Ameaças Aeroespaciais. O Pentágono afirmou que o programa foi encerrado em 2012, mas apoiadores da iniciativa afirmaram que seu trabalho continuou. Em 2020, o Pentágono anunciou que tinham um novo painel, a Força-Tarefa para Fenômenos Aéreos Não Identificados.
O memorando emitido por Hicks afirmou que a força-tarefa se converteria imediatamente no novo painel de sincronização. O conselho de supervisão escolherá um diretor executivo para o novo grupo e emitirá recomendações, que serão submetidas à aprovação de Hicks, afirmou ela.
O novo diretor terá o poder de padronizar o registro dos incidentes envolvendo fenômenos aéreos não identificados, pedir para supervisionar a análise dos dados de avistamentos sem explicação e identificar falhas nas capacidades de detecção. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL