Padaria ucraniana alimenta civis e soldados nas linhas de frente


A padaria industrial de Kostiantinivka, uma das duas de grande produção em operação em Donetsk, ajustou suas horas de funcionamento de acordo com o ritmo da guerra

Por Inna Varenytsia

KOSTIANTINIVKA, ASSOCIATED PRESS — Aparentemente abandonado durante o dia, este danificado prédio industrial no leste da Ucrânia ganha vida à noite, quando o cheiro de pão fresquinho exala de suas janelas quebradas. Trata-se de uma das duas padarias que produzem em grande escala ainda em operação na parte sob controle dos ucranianos da região de Donetsk, que está majoritariamente ocupada pela Rússia. As outras tiveram de fechar porque foram danificadas pelos combates ou porque seu fornecimento de eletricidade e gás foi cortado.

A padaria industrial de Kostiantinivka ajustou suas horas de funcionamento de acordo com o ritmo da guerra. Empregados da fábrica chegam ao trabalho às 19h para começar a sovar a massa. No fim da madrugada, motoristas aparecem para buscar os pães frescos e entregá-los em cidades e vilarejos nos quais os mercados de alimentos abrem durante a manhã, quando, na maioria dos dias, há uma trégua nos bombardeios russos.

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“Fazemos mais pães à noite para podermos distribuí-los aos mercados de manhã”, afirmou o diretor da padaria, Oleksandr Milov.

Svitlana Labutcheva, corta rótulos à mão para embalar pães em uma padaria em Kostiantinivka, região de Donetsk, leste da Ucrânia Foto: David Goldman/AP

A fábrica produz cerca de sete toneladas de pão diariamente, aproximadamente 17,5 mil unidades. Metade da produção é destinada para o Exército ucraniano.

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Olha Zhovtonozhik, de 30 anos, pegava as massas redondas da esteira e rapidamente as colocava dentro das formas. Ela leva o trabalho muito a sério. “Os soldados das Forças Armadas ucranianas são nossos heróis agora, mas nosso trabalho também é importante para a vida do país em tempos de guerra”, afirmou Zhovtonozhik.

Outra funcionária, Olena Nahorna, de 48 anos, concordou. “Não temos medo. Fazemos pão porque nosso povo, nosso Exército, nossos defensores precisam de pão”, afirmou Nahorna sorrindo, enquanto colocava massa no forno. Outra fábrica em Druzhkivka ainda está em operação, produzindo pãezinhos, bisnagas e biscoitos.

Padaria na Ucrânia alimenta civis e soldados durante a guerra

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Mas as padarias de Kostiantinivka e Druzhkivka não produzem pão suficiente para as estimadas 300 mil pessoas que permanecem na parte controlada pela Ucrânia em Donetsk. No sul da região, intermediários trazem pão das regiões vizinhas de Dnipropetrovsk e Zaporizhzia, e alguns supermercados mantêm padarias pequenas.

A padaria de Kostiantinivka permaneceu aberta apesar de muitos desafios. Em abril, a fábrica perdeu o fornecimento de gás natural, mas os fornos foram reconfigurados para funcionar a carvão — um sistema que não era usado nessa unidade desde a 2.ª Guerra. O boiler a carvão é operado por três homens.

“É um trabalho tão colossal; os caras trabalham 12 horas por dia”, afirmou Milov. Milov testou seis tipos de carvão antes de descobrir o melhor, com alta emissão de calor. Uma vantagem do sistema a carvão é que a fábrica não precisará de um sistema adicional para aquecer o ambiente no inverno, quando não haverá calefação central nos imóveis da região por causa da escassez de gás.

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A fábrica enfrentou seu problema seguinte em junho, quando a Rússia ocupou a cidade de Liman, no norte da região, onde se localizava a moenda que fornecia farinha à padaria de Kostiantinivka. Milov teve de comprar farinha de um fornecedor na região de Zaporizhzia, a 150 quilômetros de Kostiantinivka.

Os custos adicionais de transporte aumentaram o preço do pão, assim como o índice de inflação, que está em cerca de 20% na Ucrânia.

Um caminhão de entrega de pão desvia de barricadas de terra ao longo de uma estrada rural enquanto se dirige para aldeias perto da linha de frente em Kostiantinivka, região de Donetsk Foto: David Goldman/AP
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“Os salários das pessoas diminuíram, e as pessoas estão comprando apenas produtos mais baratos neste momento”, afirmou Milov. Os padeiros de sua fábrica tiveram até de mudar a receita do pão para manter o preço acessível o quanto seja possível.

Outra preocupação é uma falta de grãos. Em 2021, a colheita na Ucrânia ultrapassou 100 milhões de toneladas de grãos. A próxima safra, de acordo com estimativas preliminares do Ministério de Política Agrícola, totalizará de 65 a 67 milhões de toneladas. Já que a Rússia atacou não apenas campos de cultivo, mas também silos de armazenamento, alguns fazendeiros estão exportando grãos para armazenagem no exterior.

A padaria de Kostiantinivka conta com 20 motoristas que fazem entregas diariamente não apenas em cidades, mas também em vilarejos semiesvaziados nas linhas de frente.

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Um deles, o aposentado Vasil Moiseienko, chega em seu carro para trabalhar às 6h e o carrega com pães ainda quentinhos. Ele mostrou uma rachadura em seu para-brisas aberta por um estilhaço semanas atrás durante uma entrega de pães. “Quem mais se arriscaria? Eu sou velho, então posso dirigir”, afirmou Moiseienko.

Um morador espera no fundo para comprar pão enquanto os lojistas recebem sua entrega diária de Serhii Holoborodko, à esquerda, em Scherbinivka, região de Donetsk Foto: David Goldman/AP

O motorista dirige por estradas esburacadas até o vilarejo de Diliivka, a 15 quilômetros do front. Ele descarrega rapidamente o pão e logo parte para outra cidade na linha de frente.

Cerca de 100 pessoas vivem em Diliivka, mas o vilarejo parece completamente vazio. A cada 10 ou 15 minutos ruídos de artilharia são ouvidos. A vendedora do mercado local escreve no grupo de mensagens do vilarejo no aplicativo Viber que o pão chegou. E em 15 minutos o estabelecimento enche de gente.

Liubov Litvinova, de 76 anos, comprou várias bisnagas. Ela afirmou que seca alguns pães para fazer farinha de rosca, que guarda na despensa. Uma das bisnagas ela congela para preservar por mais tempo. “Vivemos com medo. E se eles não entregarem o pão, o que faremos?”, afirmou Litvinova.

KOSTIANTINIVKA, ASSOCIATED PRESS — Aparentemente abandonado durante o dia, este danificado prédio industrial no leste da Ucrânia ganha vida à noite, quando o cheiro de pão fresquinho exala de suas janelas quebradas. Trata-se de uma das duas padarias que produzem em grande escala ainda em operação na parte sob controle dos ucranianos da região de Donetsk, que está majoritariamente ocupada pela Rússia. As outras tiveram de fechar porque foram danificadas pelos combates ou porque seu fornecimento de eletricidade e gás foi cortado.

A padaria industrial de Kostiantinivka ajustou suas horas de funcionamento de acordo com o ritmo da guerra. Empregados da fábrica chegam ao trabalho às 19h para começar a sovar a massa. No fim da madrugada, motoristas aparecem para buscar os pães frescos e entregá-los em cidades e vilarejos nos quais os mercados de alimentos abrem durante a manhã, quando, na maioria dos dias, há uma trégua nos bombardeios russos.

“Fazemos mais pães à noite para podermos distribuí-los aos mercados de manhã”, afirmou o diretor da padaria, Oleksandr Milov.

Svitlana Labutcheva, corta rótulos à mão para embalar pães em uma padaria em Kostiantinivka, região de Donetsk, leste da Ucrânia Foto: David Goldman/AP

A fábrica produz cerca de sete toneladas de pão diariamente, aproximadamente 17,5 mil unidades. Metade da produção é destinada para o Exército ucraniano.

Olha Zhovtonozhik, de 30 anos, pegava as massas redondas da esteira e rapidamente as colocava dentro das formas. Ela leva o trabalho muito a sério. “Os soldados das Forças Armadas ucranianas são nossos heróis agora, mas nosso trabalho também é importante para a vida do país em tempos de guerra”, afirmou Zhovtonozhik.

Outra funcionária, Olena Nahorna, de 48 anos, concordou. “Não temos medo. Fazemos pão porque nosso povo, nosso Exército, nossos defensores precisam de pão”, afirmou Nahorna sorrindo, enquanto colocava massa no forno. Outra fábrica em Druzhkivka ainda está em operação, produzindo pãezinhos, bisnagas e biscoitos.

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Mas as padarias de Kostiantinivka e Druzhkivka não produzem pão suficiente para as estimadas 300 mil pessoas que permanecem na parte controlada pela Ucrânia em Donetsk. No sul da região, intermediários trazem pão das regiões vizinhas de Dnipropetrovsk e Zaporizhzia, e alguns supermercados mantêm padarias pequenas.

A padaria de Kostiantinivka permaneceu aberta apesar de muitos desafios. Em abril, a fábrica perdeu o fornecimento de gás natural, mas os fornos foram reconfigurados para funcionar a carvão — um sistema que não era usado nessa unidade desde a 2.ª Guerra. O boiler a carvão é operado por três homens.

“É um trabalho tão colossal; os caras trabalham 12 horas por dia”, afirmou Milov. Milov testou seis tipos de carvão antes de descobrir o melhor, com alta emissão de calor. Uma vantagem do sistema a carvão é que a fábrica não precisará de um sistema adicional para aquecer o ambiente no inverno, quando não haverá calefação central nos imóveis da região por causa da escassez de gás.

A fábrica enfrentou seu problema seguinte em junho, quando a Rússia ocupou a cidade de Liman, no norte da região, onde se localizava a moenda que fornecia farinha à padaria de Kostiantinivka. Milov teve de comprar farinha de um fornecedor na região de Zaporizhzia, a 150 quilômetros de Kostiantinivka.

Os custos adicionais de transporte aumentaram o preço do pão, assim como o índice de inflação, que está em cerca de 20% na Ucrânia.

Um caminhão de entrega de pão desvia de barricadas de terra ao longo de uma estrada rural enquanto se dirige para aldeias perto da linha de frente em Kostiantinivka, região de Donetsk Foto: David Goldman/AP

“Os salários das pessoas diminuíram, e as pessoas estão comprando apenas produtos mais baratos neste momento”, afirmou Milov. Os padeiros de sua fábrica tiveram até de mudar a receita do pão para manter o preço acessível o quanto seja possível.

Outra preocupação é uma falta de grãos. Em 2021, a colheita na Ucrânia ultrapassou 100 milhões de toneladas de grãos. A próxima safra, de acordo com estimativas preliminares do Ministério de Política Agrícola, totalizará de 65 a 67 milhões de toneladas. Já que a Rússia atacou não apenas campos de cultivo, mas também silos de armazenamento, alguns fazendeiros estão exportando grãos para armazenagem no exterior.

A padaria de Kostiantinivka conta com 20 motoristas que fazem entregas diariamente não apenas em cidades, mas também em vilarejos semiesvaziados nas linhas de frente.

Um deles, o aposentado Vasil Moiseienko, chega em seu carro para trabalhar às 6h e o carrega com pães ainda quentinhos. Ele mostrou uma rachadura em seu para-brisas aberta por um estilhaço semanas atrás durante uma entrega de pães. “Quem mais se arriscaria? Eu sou velho, então posso dirigir”, afirmou Moiseienko.

Um morador espera no fundo para comprar pão enquanto os lojistas recebem sua entrega diária de Serhii Holoborodko, à esquerda, em Scherbinivka, região de Donetsk Foto: David Goldman/AP

O motorista dirige por estradas esburacadas até o vilarejo de Diliivka, a 15 quilômetros do front. Ele descarrega rapidamente o pão e logo parte para outra cidade na linha de frente.

Cerca de 100 pessoas vivem em Diliivka, mas o vilarejo parece completamente vazio. A cada 10 ou 15 minutos ruídos de artilharia são ouvidos. A vendedora do mercado local escreve no grupo de mensagens do vilarejo no aplicativo Viber que o pão chegou. E em 15 minutos o estabelecimento enche de gente.

Liubov Litvinova, de 76 anos, comprou várias bisnagas. Ela afirmou que seca alguns pães para fazer farinha de rosca, que guarda na despensa. Uma das bisnagas ela congela para preservar por mais tempo. “Vivemos com medo. E se eles não entregarem o pão, o que faremos?”, afirmou Litvinova.

KOSTIANTINIVKA, ASSOCIATED PRESS — Aparentemente abandonado durante o dia, este danificado prédio industrial no leste da Ucrânia ganha vida à noite, quando o cheiro de pão fresquinho exala de suas janelas quebradas. Trata-se de uma das duas padarias que produzem em grande escala ainda em operação na parte sob controle dos ucranianos da região de Donetsk, que está majoritariamente ocupada pela Rússia. As outras tiveram de fechar porque foram danificadas pelos combates ou porque seu fornecimento de eletricidade e gás foi cortado.

A padaria industrial de Kostiantinivka ajustou suas horas de funcionamento de acordo com o ritmo da guerra. Empregados da fábrica chegam ao trabalho às 19h para começar a sovar a massa. No fim da madrugada, motoristas aparecem para buscar os pães frescos e entregá-los em cidades e vilarejos nos quais os mercados de alimentos abrem durante a manhã, quando, na maioria dos dias, há uma trégua nos bombardeios russos.

“Fazemos mais pães à noite para podermos distribuí-los aos mercados de manhã”, afirmou o diretor da padaria, Oleksandr Milov.

Svitlana Labutcheva, corta rótulos à mão para embalar pães em uma padaria em Kostiantinivka, região de Donetsk, leste da Ucrânia Foto: David Goldman/AP

A fábrica produz cerca de sete toneladas de pão diariamente, aproximadamente 17,5 mil unidades. Metade da produção é destinada para o Exército ucraniano.

Olha Zhovtonozhik, de 30 anos, pegava as massas redondas da esteira e rapidamente as colocava dentro das formas. Ela leva o trabalho muito a sério. “Os soldados das Forças Armadas ucranianas são nossos heróis agora, mas nosso trabalho também é importante para a vida do país em tempos de guerra”, afirmou Zhovtonozhik.

Outra funcionária, Olena Nahorna, de 48 anos, concordou. “Não temos medo. Fazemos pão porque nosso povo, nosso Exército, nossos defensores precisam de pão”, afirmou Nahorna sorrindo, enquanto colocava massa no forno. Outra fábrica em Druzhkivka ainda está em operação, produzindo pãezinhos, bisnagas e biscoitos.

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Mas as padarias de Kostiantinivka e Druzhkivka não produzem pão suficiente para as estimadas 300 mil pessoas que permanecem na parte controlada pela Ucrânia em Donetsk. No sul da região, intermediários trazem pão das regiões vizinhas de Dnipropetrovsk e Zaporizhzia, e alguns supermercados mantêm padarias pequenas.

A padaria de Kostiantinivka permaneceu aberta apesar de muitos desafios. Em abril, a fábrica perdeu o fornecimento de gás natural, mas os fornos foram reconfigurados para funcionar a carvão — um sistema que não era usado nessa unidade desde a 2.ª Guerra. O boiler a carvão é operado por três homens.

“É um trabalho tão colossal; os caras trabalham 12 horas por dia”, afirmou Milov. Milov testou seis tipos de carvão antes de descobrir o melhor, com alta emissão de calor. Uma vantagem do sistema a carvão é que a fábrica não precisará de um sistema adicional para aquecer o ambiente no inverno, quando não haverá calefação central nos imóveis da região por causa da escassez de gás.

A fábrica enfrentou seu problema seguinte em junho, quando a Rússia ocupou a cidade de Liman, no norte da região, onde se localizava a moenda que fornecia farinha à padaria de Kostiantinivka. Milov teve de comprar farinha de um fornecedor na região de Zaporizhzia, a 150 quilômetros de Kostiantinivka.

Os custos adicionais de transporte aumentaram o preço do pão, assim como o índice de inflação, que está em cerca de 20% na Ucrânia.

Um caminhão de entrega de pão desvia de barricadas de terra ao longo de uma estrada rural enquanto se dirige para aldeias perto da linha de frente em Kostiantinivka, região de Donetsk Foto: David Goldman/AP

“Os salários das pessoas diminuíram, e as pessoas estão comprando apenas produtos mais baratos neste momento”, afirmou Milov. Os padeiros de sua fábrica tiveram até de mudar a receita do pão para manter o preço acessível o quanto seja possível.

Outra preocupação é uma falta de grãos. Em 2021, a colheita na Ucrânia ultrapassou 100 milhões de toneladas de grãos. A próxima safra, de acordo com estimativas preliminares do Ministério de Política Agrícola, totalizará de 65 a 67 milhões de toneladas. Já que a Rússia atacou não apenas campos de cultivo, mas também silos de armazenamento, alguns fazendeiros estão exportando grãos para armazenagem no exterior.

A padaria de Kostiantinivka conta com 20 motoristas que fazem entregas diariamente não apenas em cidades, mas também em vilarejos semiesvaziados nas linhas de frente.

Um deles, o aposentado Vasil Moiseienko, chega em seu carro para trabalhar às 6h e o carrega com pães ainda quentinhos. Ele mostrou uma rachadura em seu para-brisas aberta por um estilhaço semanas atrás durante uma entrega de pães. “Quem mais se arriscaria? Eu sou velho, então posso dirigir”, afirmou Moiseienko.

Um morador espera no fundo para comprar pão enquanto os lojistas recebem sua entrega diária de Serhii Holoborodko, à esquerda, em Scherbinivka, região de Donetsk Foto: David Goldman/AP

O motorista dirige por estradas esburacadas até o vilarejo de Diliivka, a 15 quilômetros do front. Ele descarrega rapidamente o pão e logo parte para outra cidade na linha de frente.

Cerca de 100 pessoas vivem em Diliivka, mas o vilarejo parece completamente vazio. A cada 10 ou 15 minutos ruídos de artilharia são ouvidos. A vendedora do mercado local escreve no grupo de mensagens do vilarejo no aplicativo Viber que o pão chegou. E em 15 minutos o estabelecimento enche de gente.

Liubov Litvinova, de 76 anos, comprou várias bisnagas. Ela afirmou que seca alguns pães para fazer farinha de rosca, que guarda na despensa. Uma das bisnagas ela congela para preservar por mais tempo. “Vivemos com medo. E se eles não entregarem o pão, o que faremos?”, afirmou Litvinova.

KOSTIANTINIVKA, ASSOCIATED PRESS — Aparentemente abandonado durante o dia, este danificado prédio industrial no leste da Ucrânia ganha vida à noite, quando o cheiro de pão fresquinho exala de suas janelas quebradas. Trata-se de uma das duas padarias que produzem em grande escala ainda em operação na parte sob controle dos ucranianos da região de Donetsk, que está majoritariamente ocupada pela Rússia. As outras tiveram de fechar porque foram danificadas pelos combates ou porque seu fornecimento de eletricidade e gás foi cortado.

A padaria industrial de Kostiantinivka ajustou suas horas de funcionamento de acordo com o ritmo da guerra. Empregados da fábrica chegam ao trabalho às 19h para começar a sovar a massa. No fim da madrugada, motoristas aparecem para buscar os pães frescos e entregá-los em cidades e vilarejos nos quais os mercados de alimentos abrem durante a manhã, quando, na maioria dos dias, há uma trégua nos bombardeios russos.

“Fazemos mais pães à noite para podermos distribuí-los aos mercados de manhã”, afirmou o diretor da padaria, Oleksandr Milov.

Svitlana Labutcheva, corta rótulos à mão para embalar pães em uma padaria em Kostiantinivka, região de Donetsk, leste da Ucrânia Foto: David Goldman/AP

A fábrica produz cerca de sete toneladas de pão diariamente, aproximadamente 17,5 mil unidades. Metade da produção é destinada para o Exército ucraniano.

Olha Zhovtonozhik, de 30 anos, pegava as massas redondas da esteira e rapidamente as colocava dentro das formas. Ela leva o trabalho muito a sério. “Os soldados das Forças Armadas ucranianas são nossos heróis agora, mas nosso trabalho também é importante para a vida do país em tempos de guerra”, afirmou Zhovtonozhik.

Outra funcionária, Olena Nahorna, de 48 anos, concordou. “Não temos medo. Fazemos pão porque nosso povo, nosso Exército, nossos defensores precisam de pão”, afirmou Nahorna sorrindo, enquanto colocava massa no forno. Outra fábrica em Druzhkivka ainda está em operação, produzindo pãezinhos, bisnagas e biscoitos.

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Mas as padarias de Kostiantinivka e Druzhkivka não produzem pão suficiente para as estimadas 300 mil pessoas que permanecem na parte controlada pela Ucrânia em Donetsk. No sul da região, intermediários trazem pão das regiões vizinhas de Dnipropetrovsk e Zaporizhzia, e alguns supermercados mantêm padarias pequenas.

A padaria de Kostiantinivka permaneceu aberta apesar de muitos desafios. Em abril, a fábrica perdeu o fornecimento de gás natural, mas os fornos foram reconfigurados para funcionar a carvão — um sistema que não era usado nessa unidade desde a 2.ª Guerra. O boiler a carvão é operado por três homens.

“É um trabalho tão colossal; os caras trabalham 12 horas por dia”, afirmou Milov. Milov testou seis tipos de carvão antes de descobrir o melhor, com alta emissão de calor. Uma vantagem do sistema a carvão é que a fábrica não precisará de um sistema adicional para aquecer o ambiente no inverno, quando não haverá calefação central nos imóveis da região por causa da escassez de gás.

A fábrica enfrentou seu problema seguinte em junho, quando a Rússia ocupou a cidade de Liman, no norte da região, onde se localizava a moenda que fornecia farinha à padaria de Kostiantinivka. Milov teve de comprar farinha de um fornecedor na região de Zaporizhzia, a 150 quilômetros de Kostiantinivka.

Os custos adicionais de transporte aumentaram o preço do pão, assim como o índice de inflação, que está em cerca de 20% na Ucrânia.

Um caminhão de entrega de pão desvia de barricadas de terra ao longo de uma estrada rural enquanto se dirige para aldeias perto da linha de frente em Kostiantinivka, região de Donetsk Foto: David Goldman/AP

“Os salários das pessoas diminuíram, e as pessoas estão comprando apenas produtos mais baratos neste momento”, afirmou Milov. Os padeiros de sua fábrica tiveram até de mudar a receita do pão para manter o preço acessível o quanto seja possível.

Outra preocupação é uma falta de grãos. Em 2021, a colheita na Ucrânia ultrapassou 100 milhões de toneladas de grãos. A próxima safra, de acordo com estimativas preliminares do Ministério de Política Agrícola, totalizará de 65 a 67 milhões de toneladas. Já que a Rússia atacou não apenas campos de cultivo, mas também silos de armazenamento, alguns fazendeiros estão exportando grãos para armazenagem no exterior.

A padaria de Kostiantinivka conta com 20 motoristas que fazem entregas diariamente não apenas em cidades, mas também em vilarejos semiesvaziados nas linhas de frente.

Um deles, o aposentado Vasil Moiseienko, chega em seu carro para trabalhar às 6h e o carrega com pães ainda quentinhos. Ele mostrou uma rachadura em seu para-brisas aberta por um estilhaço semanas atrás durante uma entrega de pães. “Quem mais se arriscaria? Eu sou velho, então posso dirigir”, afirmou Moiseienko.

Um morador espera no fundo para comprar pão enquanto os lojistas recebem sua entrega diária de Serhii Holoborodko, à esquerda, em Scherbinivka, região de Donetsk Foto: David Goldman/AP

O motorista dirige por estradas esburacadas até o vilarejo de Diliivka, a 15 quilômetros do front. Ele descarrega rapidamente o pão e logo parte para outra cidade na linha de frente.

Cerca de 100 pessoas vivem em Diliivka, mas o vilarejo parece completamente vazio. A cada 10 ou 15 minutos ruídos de artilharia são ouvidos. A vendedora do mercado local escreve no grupo de mensagens do vilarejo no aplicativo Viber que o pão chegou. E em 15 minutos o estabelecimento enche de gente.

Liubov Litvinova, de 76 anos, comprou várias bisnagas. Ela afirmou que seca alguns pães para fazer farinha de rosca, que guarda na despensa. Uma das bisnagas ela congela para preservar por mais tempo. “Vivemos com medo. E se eles não entregarem o pão, o que faremos?”, afirmou Litvinova.

KOSTIANTINIVKA, ASSOCIATED PRESS — Aparentemente abandonado durante o dia, este danificado prédio industrial no leste da Ucrânia ganha vida à noite, quando o cheiro de pão fresquinho exala de suas janelas quebradas. Trata-se de uma das duas padarias que produzem em grande escala ainda em operação na parte sob controle dos ucranianos da região de Donetsk, que está majoritariamente ocupada pela Rússia. As outras tiveram de fechar porque foram danificadas pelos combates ou porque seu fornecimento de eletricidade e gás foi cortado.

A padaria industrial de Kostiantinivka ajustou suas horas de funcionamento de acordo com o ritmo da guerra. Empregados da fábrica chegam ao trabalho às 19h para começar a sovar a massa. No fim da madrugada, motoristas aparecem para buscar os pães frescos e entregá-los em cidades e vilarejos nos quais os mercados de alimentos abrem durante a manhã, quando, na maioria dos dias, há uma trégua nos bombardeios russos.

“Fazemos mais pães à noite para podermos distribuí-los aos mercados de manhã”, afirmou o diretor da padaria, Oleksandr Milov.

Svitlana Labutcheva, corta rótulos à mão para embalar pães em uma padaria em Kostiantinivka, região de Donetsk, leste da Ucrânia Foto: David Goldman/AP

A fábrica produz cerca de sete toneladas de pão diariamente, aproximadamente 17,5 mil unidades. Metade da produção é destinada para o Exército ucraniano.

Olha Zhovtonozhik, de 30 anos, pegava as massas redondas da esteira e rapidamente as colocava dentro das formas. Ela leva o trabalho muito a sério. “Os soldados das Forças Armadas ucranianas são nossos heróis agora, mas nosso trabalho também é importante para a vida do país em tempos de guerra”, afirmou Zhovtonozhik.

Outra funcionária, Olena Nahorna, de 48 anos, concordou. “Não temos medo. Fazemos pão porque nosso povo, nosso Exército, nossos defensores precisam de pão”, afirmou Nahorna sorrindo, enquanto colocava massa no forno. Outra fábrica em Druzhkivka ainda está em operação, produzindo pãezinhos, bisnagas e biscoitos.

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Foto: David Goldman/AP
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Mas as padarias de Kostiantinivka e Druzhkivka não produzem pão suficiente para as estimadas 300 mil pessoas que permanecem na parte controlada pela Ucrânia em Donetsk. No sul da região, intermediários trazem pão das regiões vizinhas de Dnipropetrovsk e Zaporizhzia, e alguns supermercados mantêm padarias pequenas.

A padaria de Kostiantinivka permaneceu aberta apesar de muitos desafios. Em abril, a fábrica perdeu o fornecimento de gás natural, mas os fornos foram reconfigurados para funcionar a carvão — um sistema que não era usado nessa unidade desde a 2.ª Guerra. O boiler a carvão é operado por três homens.

“É um trabalho tão colossal; os caras trabalham 12 horas por dia”, afirmou Milov. Milov testou seis tipos de carvão antes de descobrir o melhor, com alta emissão de calor. Uma vantagem do sistema a carvão é que a fábrica não precisará de um sistema adicional para aquecer o ambiente no inverno, quando não haverá calefação central nos imóveis da região por causa da escassez de gás.

A fábrica enfrentou seu problema seguinte em junho, quando a Rússia ocupou a cidade de Liman, no norte da região, onde se localizava a moenda que fornecia farinha à padaria de Kostiantinivka. Milov teve de comprar farinha de um fornecedor na região de Zaporizhzia, a 150 quilômetros de Kostiantinivka.

Os custos adicionais de transporte aumentaram o preço do pão, assim como o índice de inflação, que está em cerca de 20% na Ucrânia.

Um caminhão de entrega de pão desvia de barricadas de terra ao longo de uma estrada rural enquanto se dirige para aldeias perto da linha de frente em Kostiantinivka, região de Donetsk Foto: David Goldman/AP

“Os salários das pessoas diminuíram, e as pessoas estão comprando apenas produtos mais baratos neste momento”, afirmou Milov. Os padeiros de sua fábrica tiveram até de mudar a receita do pão para manter o preço acessível o quanto seja possível.

Outra preocupação é uma falta de grãos. Em 2021, a colheita na Ucrânia ultrapassou 100 milhões de toneladas de grãos. A próxima safra, de acordo com estimativas preliminares do Ministério de Política Agrícola, totalizará de 65 a 67 milhões de toneladas. Já que a Rússia atacou não apenas campos de cultivo, mas também silos de armazenamento, alguns fazendeiros estão exportando grãos para armazenagem no exterior.

A padaria de Kostiantinivka conta com 20 motoristas que fazem entregas diariamente não apenas em cidades, mas também em vilarejos semiesvaziados nas linhas de frente.

Um deles, o aposentado Vasil Moiseienko, chega em seu carro para trabalhar às 6h e o carrega com pães ainda quentinhos. Ele mostrou uma rachadura em seu para-brisas aberta por um estilhaço semanas atrás durante uma entrega de pães. “Quem mais se arriscaria? Eu sou velho, então posso dirigir”, afirmou Moiseienko.

Um morador espera no fundo para comprar pão enquanto os lojistas recebem sua entrega diária de Serhii Holoborodko, à esquerda, em Scherbinivka, região de Donetsk Foto: David Goldman/AP

O motorista dirige por estradas esburacadas até o vilarejo de Diliivka, a 15 quilômetros do front. Ele descarrega rapidamente o pão e logo parte para outra cidade na linha de frente.

Cerca de 100 pessoas vivem em Diliivka, mas o vilarejo parece completamente vazio. A cada 10 ou 15 minutos ruídos de artilharia são ouvidos. A vendedora do mercado local escreve no grupo de mensagens do vilarejo no aplicativo Viber que o pão chegou. E em 15 minutos o estabelecimento enche de gente.

Liubov Litvinova, de 76 anos, comprou várias bisnagas. Ela afirmou que seca alguns pães para fazer farinha de rosca, que guarda na despensa. Uma das bisnagas ela congela para preservar por mais tempo. “Vivemos com medo. E se eles não entregarem o pão, o que faremos?”, afirmou Litvinova.

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