Um grande número de pagers que pertencem a membros da milícia xiita radical libanesa Hezbollah explodiram simultaneamente em diversas partes do Líbano nesta terça-feira, 17, segundo o ministério da Saúde do país. O ministro da pasta, Firas al Abyad, disse em uma entrevista coletiva que 12 pessoas morreram em decorrência das explosões e pelo menos 2.800 ficaram feridas, incluindo 200 em estado grave.
O Hezbollah confirmou que as explosões aconteceram e havia comunicado a morte de três pessoas, incluindo uma criança. A milícia xiita libanesa, que culpou Israel pelas explosões, disse ao The New York Times que seis das nove pessoas mortas nas explosões coordenadas de pagers eram combatentes do Hezbollah.
As explosões ocorreram principalmente em áreas onde o grupo tem uma forte presença, particularmente em um subúrbio ao sul de Beirute e na região de Beqaa, no leste do Líbano, bem como em Damasco, de acordo com autoridades de segurança libanesas e um oficial do Hezbollah, que falou à Associated Press sob condição de anonimato porque não estava autorizado a falar com a imprensa.
Os incidentes ocorreram após Israel afirmar que cogita realizar uma operação militar dentro do Líbano para fazer com que o Hezbollah pare de lançar foguetes contra o território israelense. Após um contato do The New York Times, o governo de Israel recusou comentar sobre as explosões no país vizinho.
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Os incidentes ocorreram após Israel afirmar que cogita realizar uma operação militar dentro do Líbano
Os pagers que explodiram aparentemente foram adquiridos pelo Hezbollah depois que o líder do grupo ordenou que os membros parassem de usar celulares em fevereiro, alertando que eles poderiam ser rastreados pela inteligência israelense. Um oficial do Hezbollah disse à Associated Press que os pagers eram de uma nova marca, mas se recusou a dizer há quanto tempo eles estavam em uso.
O ministério da Saúde do Líbano aconselhou que os cidadãos fiquem longe de dispositivos semelhantes até que fique claro o que causou as explosões.
A Cruz Vermelha Libanesa apontou em um comunicado que 80 ambulâncias estavam respondendo a “várias explosões” no sul e leste do Líbano, bem como na capital do país, Beirute. No subúrbio ao sul de Beirute, reduto do Hezbollah, os médicos tratavam os feridos no estacionamento de um hospital enquanto moradores doavam sangue.
Vídeos que circulam nas redes sociais mostraram o que pareciam ser pagers fortemente danificados por explosões e casos em que os dispositivos pareciam explodir em lojas enquanto eram carregados por seus donos. Um vídeo, filmado dentro de um supermercado, mostrou uma explosão enquanto as pessoas se reuniam em volta de carrinhos de frutas. Depois, um homem pode ser ouvido gritando de dor enquanto clientes assistem perplexos.
Oficial do Hezbollah culpa Israel
Um oficial do Hezbollah afirmou à Associated Press (AP) que integrantes da milícia xiita radical também ficaram feridos na Síria e que ele acreditava que Israel tinha sido o autor do ataque. Pelo menos14 pessoas ficaram feridas na Síria, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), uma organização com sede no Reino Unido.
“O inimigo (Israel) está por trás deste incidente de segurança”, disse o oficial, sem dar mais detalhes. Ele acrescentou que os pagers que os membros do Hezbollah estavam carregando tinham baterias de lítio que aparentemente explodiram. Baterias de lítio, quando superaquecidas, podem soltar fumaça, derreter e até pegar fogo.
O grupo terrorista Hamas, no poder na Faixa de Gaza, também culpou Israel, denunciando uma “agressão terrorista sionista”, que não faz distinção “entre combatentes da resistência e civis”.
A agência de notícias iraniana Fars, apontou em seu canal da rede social Telegram que Mojtaba Amani, embaixador do Irã no Líbano, ficou ferido após a explosão de um pager e está em observação no hospital.
Entre os mortos está o filho de um deputado do Hezbollah, Ali Ammar, disse à AFP uma fonte próxima ao grupo. O Hezbollah afirmou que o chefe da milícia xiita libanesa, Hassan Nasrallah, não foi ferido pelas explosões.
Tensões
As tensões envolvendo Israel e o Hezbollah estão altas desde 7 de outubro do ano passado, após o inicio da guerra entre Tel-Aviv e o grupo terrorista Hamas.
O Exército de Israel afirmou nesta terça-feira, 17, que interromper os ataques da milícia xiita radical libanesa Hezbollah no norte do país para permitir que os moradores retornem para suas casas é agora uma meta oficial de guerra. O gabinete do primeiro-ministro do país, Binyamin Netanyahu, considera a possibilidade de uma operação militar no Líbano.
Na segunda-feira, 16, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que uma “operação militar” no Líbano seria a única maneira de restaurar a calma no norte de Israel. Mais de 100 mil pessoas de ambos os lados da fronteira Israel-Líbano foram deslocadas desde outubro por conta de ataques retaliatórios entre Israel e o Hezbollah.
O enviado dos EUA para o Líbano, Amos Hochstein, que fez várias visitas ao Líbano e Israel para tentar aliviar as tensões, se encontrou com Netanyahu na segunda-feira, 16. Hochstein disse a Netanyahu que intensificar o conflito com o Hezbollah não ajudaria os israelenses que foram deslocados de suas casas no norte do país./com NYT, AP e AFP.