A Europa está enfrentando um aumento nas infecções por coronavírus a níveis não vistos há meses, alarmando as autoridades de saúde e gerando temores de que o continente possa ser engolfado por uma nova onda da pandemia neste inverno do Hemisfério Norte. Para tentar conter o avanço da covid-19, países europeus onde a onda é mais forte estão tomando medidas restritivas e forçando a população a tomar novas doses da vacina.
A Alemanha registrou na sexta-feira 37.120 novas infecções, o maior aumento diário desde o início da pandemia. A incidência da infecção agora é de 169 casos por 100.000 pessoas ao longo de sete dias - um nível não visto desde o pico da terceira onda de coronavírus na primavera, quando quase ninguém havia sido vacinado. O número de pacientes de covid sendo tratados em unidades de terapia intensiva alemãs é o maior desde maio.
Temor é que o aumento de casos coloque os sistemas de saúde do continente novamente sob pressão, depois de meses em que o vírus, se não totalmente derrotado, parecia estar indo embora.
O aumento nos casos de covid-19 é particularmente pronunciado na Europa Central e Oriental, onde os níveis de vacinação são mais baixos do que no oeste do continente. A Eslováquia, onde apenas 46% da população está totalmente imunizada, registrou 6.713 novos casos na quinta-feira - o maior número de infecções diárias desde o início da pandemia.
Na Polônia, onde 53% das pessoas estão totalmente vacinadas, o número de novos casos aumentou quase 50% na sexta-feira, tendo já quadruplicado nas três semanas anteriores. As internações hospitalares também aumentaram acentuadamente, tendo triplicado nas últimas três semanas na Polônia e mais do que dobrado na Eslováquia.
A Romênia, onde apenas um terço da população é vacinada, teve o maior número de mortes per capita no mundo nos últimos sete dias. A Bulgária, o país menos vacinado da UE, atingiu um novo recorde de mortes diárias de covid-19 esta semana.
Explicando o aumento acentuado, os especialistas disseram que o início do clima mais frio levou as pessoas a passar cada vez mais tempo em ambientes fechados, onde o vírus pode se espalhar mais facilmente. Eles também citaram a hesitação de muitos em tomar a vacina e a diminuição da imunidade entre aqueles que haviam sido inoculados.
Estudos mostram que o risco de infecção quase dobra cinco meses após uma segunda injeção. A nova subvariante Delta do coronavirus, que parece ser cerca de 10% mais transmissível, também pode estar desempenhando um papel importante, junto com a fadiga com o uso de máscara em locais públicos. Estudos mostraram que o uso de máscara reduz a transmissão viral.
Antoine Flahault, do instituto de saúde global da Universidade de Genebra, observou o aumento "devastador" de novos casos na Europa Central e Oriental nas últimas semanas e as taxas de mortalidade "alarmantes". “Do leste, esta onda pandêmica está agora se espalhando para a Europa Ocidental”, disse ele.
Ele também destacou que, embora as novas infecções estivessem aumentando em países como Holanda, Áustria e Bélgica, todos tinham taxas de mortalidade e internação hospitalares relativamente baixas, por enquanto.
Fergus Sweeney, chefe da divisão de estudos clínicos da Agência Europeia de Medicamentos, disse que era "muito preocupante" que os indicadores-chave do continente - casos, internações hospitalares e mortes - estivessem todos aumentando à medida que o inverno se aproximava.
Ele exortou todos os europeus a serem vacinados ou a completarem seu esquema de vacinação. “Nem todos estamos protegidos até que todos estejam protegidos a esse respeito”, disse ele ao jornal britânico Financial Times.
Tentativa de controle
A Alemanha foi um dos primeiros países a tentar controlar esta nova onda. Os ministros regionais da saúde do país determinaram que cada pessoa na Alemanha deveria receber uma dose de reforço da vacina contra a covid-19 para controlar a quarta onda da pandemia. Jens Spahn, o ministro federal da saúde, também pediu doses de reforço para todos.
Os ministros da saúde dos 16 estados da Alemanha se reuniram para dois dias de conversas sobre como lidar com a tendência crescente. O ministro da saúde da Baviera, Klaus Holetschek, disse em uma entrevista coletiva: “Os Estados concordam que todos que receberam sua segunda injeção há seis meses ou mais devem receber um reforço apropriado”.
A Alemanha está em um limbo político após as eleições gerais em setembro. Os novos partidos da coalizão, com o objetivo de formar um governo no início de dezembro, até agora descartaram doses obrigatórias e disseram que não haverá novos bloqueios - pelo menos não para os vacinados. Mas, com apenas 67% da população totalmente vacinada e os leitos de terapia intensiva lotando rapidamente, as demandas estão crescendo por ações para enfrentar a curva ascendente.
Nos países bálticos, a Letônia reintroduziu medidas de bloqueio por pelo menos um mês, enquanto a Lituânia e a Estônia tiveram o maior número de casos per capita do mundo nas últimas semanas.
Na Grécia, as unidades de terapia intensiva estão com 84% da capacidade, ante 67% há um mês. O país aumentou as restrições em resposta ao aumento de novos casos. Todas as pessoas não vacinadas serão obrigadas a partir de sábado, a apresentar um teste negativo para entrar em espaços públicos fechados, incluindo bancos, a maioria das lojas e prédios do governo.
A Holanda disse esta semana que vai reintroduzir restrições para conter a taxa mais rápida de novas infecções desde julho, depois que novas medidas também foram introduzidas na vizinha Bélgica.
As autoridades da Croácia vão limitar as reuniões e ampliar o uso de passaportes da vacina depois que o número de pessoas infectadas bateu novos recordes novamente na sexta-feira. A Croácia relatou quase 7.000 novas infecções, segundo a Associated Press.
A partir de sábado, as reuniões não devem ultrapassar 50 pessoas e devem terminar até meia-noite, disse o ministro do Interior, Davor Bozinovic, após reunião da equipe de crise do país. Os passaportes da vacina seriam introduzidos para funcionários em todas as instituições estaduais, incluindo escolas, a partir de meados de novembro.
Os passes, que exigem prova de vacinação, um certificado mostrando que o destinatário se recuperou da covid-19, ou um teste negativo, foram apresentados anteriormente para funcionários dos sistemas de saúde e assistência social. Bozinovic disse que dependendo da situação, o uso poderia ser estendido ainda mais.
A Ucrânia está experimentando sua pior onda de coronavírus até agora e uma das mais letais da Europa. Os números diários entre a população de cerca de 40 milhões regularmente excedem 20.000 infecções e 700 mortes - muito além do grande surto anterior nesta primavera, onde os números eram de cerca de 15.000 casos e 500 mortes. A Organização Mundial da Saúde colocou a Ucrânia em terceiro lugar em mortes diárias, depois dos Estados Unidos e da Rússia, e entre os dez primeiros em casos diários.
Com uma das taxas de vacinação mais baixas da Europa, o governo planeja tornar obrigatória a vacinação. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, prometeu acelerar o ritmo das vacinações, após meses de abordagem mais lenta com foco na implementação da campanha de vacinação e na entrega de informações básicas sobre a gama de vacinas na Ucrânia, AstraZeneca, Moderna, Pfizer-BioNTech e Sinovac. “Peço a todos que desliguem suas redes sociais e liguem seus cérebros”, disse Zelensky em comentários recentes aos repórteres. “Precisamos ser vacinados. É a única solução. ”
A Inglaterra tambémestá enfrentando uma alta do número de casos. Cerca de 1,1 milhão de pessoas tiveram covid no país na semana passada, um em cada 50 habitantes do país, segundo dados oficiais. O número é o triplo de meses anteriores e o nível mais alto do ano.
A região inglesa com a maior porcentagem de pessoas com teste positivo foi o sudoeste, onde cerca de 2,9 pessoas foram infectadas pelo vírus, disse a agência de estatísticas britânica. As taxas foram mais baixas em Londres, onde cerca de 1,5% estavam infectados. Apesar do aumento, o governo britânico ainda não prevê novas restrições para um futuro próximo./ NYT, W.POST, AP e REUTERS