Um homem palestino atropelou e feriu seis pessoas em um ponto de ônibus no norte de Tel Aviv nesta terça-feira, 4, no segundo dia da maior operação militar em Israel em Jenin, no norte da Cisjordânia, em duas décadas.
O homem palestino, que supostamente estava agindo sozinho, esfaqueou duas pessoas após o atropelamento, de acordo com um comunicado da polícia israelense. Em seguida, ele foi morto a tiros por um civil armado na área.
O agressor, Hussein Halaila, de um vilarejo perto de Hebron, no sul da Cisjordânia, entrou em Israel com uma autorização médica porque estava com uma doença terminal, segundo a mídia israelense.
O ataque coincidiu com uma operação em andamento em Jenin, que começou na segunda-feira, 3, e deixou pelo menos 10 palestinos mortos e cerca de 100 feridos, segundo o Ministério da Saúde palestino, e forçou milhares a fugir de suas casas.
Segundo dia da operação
A operação em Tel Aviv é a primeira resposta da resistência ao que está acontecendo em Jenin”, afirmou Khaled al-Batsh, oficial da Jihad Islâmica Palestina, um grupo militante da Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
Eitan Dangot, ex-coordenador militar israelense para assuntos civis palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, apontou que a operação militar iniciada na segunda-feira visava “cercar o campo de refugiados de Jenin como a capital do terrorismo” e era apenas uma solução parcial que não iria dissuadir suficientemente ataques futuros.
O governo de extrema direita de Israel precisaria desenvolver laços com a Autoridade Palestina, que é responsável pela cidade de Jenin desde que os Acordos de Oslo foram costurados em 1993. Contudo, a cidade é controlada por movimentos como o Hamas e a Jihad Islâmica.
“Não vejo Israel correndo para assumir a responsabilidade pelos 3 milhões de cidadãos da Cisjordânia, incluindo uma nova geração de militantes que foram abandonados pela Autoridade Palestina por quase duas décadas”, afirmou Dangot.
Em um sinal de que a operação poderia ser concluída em breve, os militares israelenses disseram que ainda restavam 10 alvos em Jenin. Membros de extrema-direita do governo pediram uma ocupação de longo prazo da cidade, que emergiu no ano passado como um foco para a militância palestina.
Saiba mais
O exército israelense disse que, durante a noite, desmantelou um “poço subterrâneo que era usado para armazenar dispositivos”. O comunicado acrescenta que os soldados destruíram “duas salas de situação operacional pertencentes a organizações terroristas na área, um lançador de granadas e confiscaram armas e equipamentos militares”.
Um oficial israelense, que falou sob condição de anonimato devido à sensibilidade da situação de segurança, disse que outros 300 combatentes armados ainda estavam em Jenin, a maioria escondidos.
De acordo com a Cruz Vermelha, cerca de 3.000 palestinos fugiram do campo durante a noite, buscando abrigo com familiares fora do campo. Os militares israelenses também suspeitaram que alguns combatentes haviam fugido durante a noite, segundo a mídia israelense.
Até agora, 2023 está a caminho de se tornar um dos anos mais mortais para os palestinos, com mais de 150 mortes.
Foguetes disparados de Jenin mudaram as regras do jogo, afirma pesquisador
Em entrevista ao Estadão, o pesquisador sênior da Universidade de Haifa, Ido Zelkovitz, afirmou que o lançamento de foguetes diretamente de Jenin com o intuito de atingir o território israelense fez com que o exército de Israel mudasse a estratégia e optasse por uma incursão militar na cidade.
“Diversos ataques foram feitos da Cisjordania no último mês contra o território israelense, o que acarretou em uma mudança de postura das forças israelenses em relação a Jenin. Para os israelenses, a tentativa de lançar foguetes da Cisjordania fez com que as regras do jogo fossem mudadas, mesmo que o foguete não tenha causado nenhum estrago para Israel”, avalia Zelkovitz.
Para o especialista, a operação é apoiada também por quase todos os partidos de oposição do parlamento israelense. “Embora Israel esteja em uma grande crise política. quando se trata de segurança, ambos os lados concordam que esta operação militar é necessária. E a oposição sabe fazer este tipo de diferenciação entre as necessidades de segurança e a crise política”, completou o pesquisador./W.Post