Palestinos foram alvo de spyware de firma israelense, dizem especialistas


Grupos de direitos palestinos teriam sido alvo do spyware Pegasus, da empresa de tecnologia NSO; especialistas não identificaram quem utilizou programa contra os alvos

Por Patrick Kingsley e Ronen Bergman
Atualização:

JERUSALÉM - Especialistas internacionais em hackers disseram nesta segunda-feira, 8, que representantes de grupos de diretos palestinos recentemente proibidos por Israel foram alvos do spyware Pegasus, feito pela empresa de tecnologia israelense NSO Group, levantando questões sobre o envolvimento do governo israelense no hackeamento.

As descobertas foram apresentadas em uma análise pela Front Line Defenders, um grupo de direitos humanos com sede em Dublin; pelo Citizen Lab, um laboratório de observação do ciberespaço afiliado à Universidade de Toronto; e pela Anistia Internacional.

A NSO, que recentemente entrou na lista negra dos Estados Unidos, é criticada há anos por vender seu programa de spyware Pegasus a clientes, incluindo governos autoritários, que usaram o programa para hackear telefones de advogados, dissidentes, jornalistas, ativistas e políticos em dezenas dos países. Se as novas alegações forem verdadeiras, o caso seria mais uma ocorrência do software sendo usado contra defensores de direitos e o primeiro caso conhecido de utilização dentro de Israel.

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Logo em parede de filial da empresa israelense NSO Group, perto da cidade de Sapir, no sul de Israel. Foto: AP Photo/Sebastian Scheiner

O gabinete do primeiro-ministro israelense e o Ministério da Defesa de Israel negaram que o spyware tenha sido usado para hackear os telefones dos palestinos.

O Pegasus permite que seus usuários invadam remota e secretamente em um telefone, monitorem sua localização e extraiam conteúdo, incluindo mensagens criptografadas, vídeos, fotografias e contatos. Os alvos do programa no passado incluem pessoas próximas a Jamal Khashoggi, o jornalista e dissidente saudita assassinado por agentes do governo em 2018; jornalistas investigativos na Hungria; e advogados no México.

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Adam Shapiro, porta-voz da Front Line Defenders, disse que a investigação não provou ou identificou definitivamente quem usou o Pegasus neste caso.

"Mas isso levanta muitas questões quanto ao papel não apenas do NSO, mas também de Israel", disse ele. "Existem tantas opções que poderiam ser plausíveis aqui - e as ações anteriores do governo israelense levantam questões reais sobre o que está acontecendo e sérias dúvidas sobre qualquer negação que o governo faça".

Uma porta-voz da NSO disse que a empresa não identificaria quem usou o software e que não sabia contra quem o programa foi usado.

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"Devido a considerações contratuais e de segurança nacional, não podemos confirmar ou negar a identidade de nossos clientes governamentais", disse ela. A empresa não teve conhecimento dos detalhes das pessoas monitoradas por seus clientes, acrescentou.

As últimas acusações, relatadas em primeira mão pela Associated Press, marcam a convergência do que antes eram duas questões diplomáticas distintas para Israel: a proibição, no mês passado, de seis grupos de direitos palestinos que acusou de serem frentes de um grupo militante banido, que atraiu amplamente críticas internacionais; e seu apoio de longa data a NSO, que opera sob licenças emitidas pelo Estado.

De acordo com a política do governo israelense, o Pegasus não pode ser usado por um governo estrangeiro contra números de telefone israelenses, como aqueles pertencentes aos palestinos. Uma agência governamental israelense, entretanto, teria autoridade para usar o software contra um número israelense.

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Essa política, juntamente com as acusações na nova análise, levantou questões sobre se o governo israelense havia usado o spyware contra os defensores dos direitos palestinos.

A análise disse que a Pegasus havia sido usado em telefones de quatro funcionários dos grupos, com base em evidências do spyware detectado nos registros telefônicos dos palestinos. Os palestinos suspeitaram que seus telefones foram hackeados pouco antes de suas organizações serem proibidas no mês passado e pediram ajuda ao Front Line Defenders, que trabalhou com o Citizen Lab para rastrear seus telefones.

Um raro encontro de solidariedade na Cisjordânia em outubro entre líderes de organizações israelenses de direitos humanos e representantes de seis grupos de direitos humanos palestinos proibidos por Israel. Foto: Majdi Mohammed / Associated Press
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O governo Biden impôs sanções à NSO na semana passada, acrescentando-a a uma lista de empresas estrangeiras proibidas de comprar produtos americanos.

A sugestão de que o software da NSO foi usado para atingir palestinos adiciona uma nova dimensão à decisão de Israel em proibir os seis grupos. No mês passado, o governo israelense afirmou que as organizações eram frentes que arrecadavam fundos para um grupo militante banido, a Frente Popular pela Libertação da Palestina, considerada organização terrorista pelos Estados Unidos, União Europeia e outros países.

Os grupos, que estão sob investigação israelense desde o início deste ano, negaram coletivamente as acusações israelenses.

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Citando evidências secretas que não foram divulgadas publicamente, o Ministério da Defesa de Israel disse que os grupos receberam doações de países e instituições europeias que deveriam ser usadas para atividades humanitárias e relacionadas a direitos - e em vez disso canalizaram esse dinheiro para a Frente Popular. As autoridades disseram que a designação das seis organizações foi baseada em inteligência adicional extensa, incluindo informações confidenciais que foram apresentadas a vários serviços de inteligência e agências de aplicação da lei na Europa e nos Estados Unidos.

O Shin Bet, serviço de segurança interna de Israel, recusou-se a responder a perguntas sobre o conteúdo dessas informações adicionais e classificadas, ou se elas foram obtidas com o spyware da NSO.

"Informações sólidas e inequívocas foram apresentadas, ligando as atividades das organizações à Frente Popular pela Libertação da Palestina", disse um porta-voz do Shin Bet.

Um documento do Shin Bet de maio resumindo parte dessa investigação, obtido e verificado pelo The New York Times, não forneceu evidências conclusivas de uma conspiração entre os grupos e a Frente Popular. No entanto, um oficial israelense disse que este resumo não detalha as principais evidências contra os seis grupos.

A Frente Popular ganhou destaque na década de 1960, quando seus membros sequestraram vários aviões de passageiros, e passou a reivindicar a responsabilidade pelos ataques durante um levante palestino na década de 2000, incluindo o assassinato de Rehavam Zeevi, um ministro do gabinete israelense.

Israel disse que os membros da Frente Popular controlavam as finanças dos seis grupos considerados ilegais.

Os seis grupos nomeados foram: Addameer; Al Haq; Bisan; Defesa para Crianças Internacional-Palestina; União dos Comitês das Mulheres Palestinas; e a União das Comissões de Trabalho Agropecuário.

Os grupos dizem que estão sendo marcados para silenciar o trabalho legítimo de organizações palestinas para destacar as violações de direitos por parte das autoridades israelenses e palestinas.

Os seis grupos estão envolvidos de várias maneiras na documentação de abusos cometidos por Israel; pela Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia; e pelo Hamas, que governa Gaza. Eles também representam prisioneiros palestinos em prisões israelenses e promovem os direitos de crianças, mulheres e agricultores.

Alguns dos grupos forneceram evidências para promotores do Tribunal Penal Internacional que estão investigando políticos e militares israelenses, incluindo o atual ministro da Defesa, Benny Gantz, por possíveis crimes de guerra. Frequentemente, eles compartilham material e testemunhos com importantes grupos internacionais de direitos, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, e são frequentemente citados na mídia internacional, inclusive no The New York Times.

O ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz. Foto: Bloomberg photo by Kobi Wolf

O documento resumindo partes da investigação do Shin Bet nos grupos palestinos foi originalmente fornecido pela agência de inteligência aos doadores europeus dos grupos e oficiais americanos em uma tentativa de persuadir estes últimos da legitimidade de sua investigação. Uma versão dele vazou pela primeira vez na semana passada para uma agência de notícias israelense, +972, e um parceiro americano, The Intercept.

Mas, em vez de detalhar evidências específicas contra os seis grupos, o documento se concentra em alegações contra uma sétima organização, o Comitê de Trabalho em Saúde. Ele contém principalmente alegações, obtidas sob interrogatório israelense, de dois ex-contadores dessa sétima organização que foram demitidos de seus cargos em 2019.

Os dois contadores alegaram que as seis organizações eram controladas por membros da Frente Popular, mas admitiram, em certos momentos, que algumas dessas alegações eram baseadas em conjecturas.

Os governos irlandês e holandês disseram que Israel ainda não forneceu evidências confiáveis das ligações entre os seis grupos e o terrorismo.

Mas um oficial israelense disse que o objetivo do dossiê vazado era persuadir europeus e americanos da culpa do Comitê de Trabalho de Saúde, não dos seis outros grupos, e que evidências mais conclusivas e secretas sobre as seis organizações foram fornecidas a funcionários americanos nas últimas semanas.

"Rejeitamos a alegação de que o material apresentado a várias entidades americanas é circunstancial e insatisfatório", disse uma porta-voz do Shin Bet.

JERUSALÉM - Especialistas internacionais em hackers disseram nesta segunda-feira, 8, que representantes de grupos de diretos palestinos recentemente proibidos por Israel foram alvos do spyware Pegasus, feito pela empresa de tecnologia israelense NSO Group, levantando questões sobre o envolvimento do governo israelense no hackeamento.

As descobertas foram apresentadas em uma análise pela Front Line Defenders, um grupo de direitos humanos com sede em Dublin; pelo Citizen Lab, um laboratório de observação do ciberespaço afiliado à Universidade de Toronto; e pela Anistia Internacional.

A NSO, que recentemente entrou na lista negra dos Estados Unidos, é criticada há anos por vender seu programa de spyware Pegasus a clientes, incluindo governos autoritários, que usaram o programa para hackear telefones de advogados, dissidentes, jornalistas, ativistas e políticos em dezenas dos países. Se as novas alegações forem verdadeiras, o caso seria mais uma ocorrência do software sendo usado contra defensores de direitos e o primeiro caso conhecido de utilização dentro de Israel.

Logo em parede de filial da empresa israelense NSO Group, perto da cidade de Sapir, no sul de Israel. Foto: AP Photo/Sebastian Scheiner

O gabinete do primeiro-ministro israelense e o Ministério da Defesa de Israel negaram que o spyware tenha sido usado para hackear os telefones dos palestinos.

O Pegasus permite que seus usuários invadam remota e secretamente em um telefone, monitorem sua localização e extraiam conteúdo, incluindo mensagens criptografadas, vídeos, fotografias e contatos. Os alvos do programa no passado incluem pessoas próximas a Jamal Khashoggi, o jornalista e dissidente saudita assassinado por agentes do governo em 2018; jornalistas investigativos na Hungria; e advogados no México.

Adam Shapiro, porta-voz da Front Line Defenders, disse que a investigação não provou ou identificou definitivamente quem usou o Pegasus neste caso.

"Mas isso levanta muitas questões quanto ao papel não apenas do NSO, mas também de Israel", disse ele. "Existem tantas opções que poderiam ser plausíveis aqui - e as ações anteriores do governo israelense levantam questões reais sobre o que está acontecendo e sérias dúvidas sobre qualquer negação que o governo faça".

Uma porta-voz da NSO disse que a empresa não identificaria quem usou o software e que não sabia contra quem o programa foi usado.

"Devido a considerações contratuais e de segurança nacional, não podemos confirmar ou negar a identidade de nossos clientes governamentais", disse ela. A empresa não teve conhecimento dos detalhes das pessoas monitoradas por seus clientes, acrescentou.

As últimas acusações, relatadas em primeira mão pela Associated Press, marcam a convergência do que antes eram duas questões diplomáticas distintas para Israel: a proibição, no mês passado, de seis grupos de direitos palestinos que acusou de serem frentes de um grupo militante banido, que atraiu amplamente críticas internacionais; e seu apoio de longa data a NSO, que opera sob licenças emitidas pelo Estado.

De acordo com a política do governo israelense, o Pegasus não pode ser usado por um governo estrangeiro contra números de telefone israelenses, como aqueles pertencentes aos palestinos. Uma agência governamental israelense, entretanto, teria autoridade para usar o software contra um número israelense.

Essa política, juntamente com as acusações na nova análise, levantou questões sobre se o governo israelense havia usado o spyware contra os defensores dos direitos palestinos.

A análise disse que a Pegasus havia sido usado em telefones de quatro funcionários dos grupos, com base em evidências do spyware detectado nos registros telefônicos dos palestinos. Os palestinos suspeitaram que seus telefones foram hackeados pouco antes de suas organizações serem proibidas no mês passado e pediram ajuda ao Front Line Defenders, que trabalhou com o Citizen Lab para rastrear seus telefones.

Um raro encontro de solidariedade na Cisjordânia em outubro entre líderes de organizações israelenses de direitos humanos e representantes de seis grupos de direitos humanos palestinos proibidos por Israel. Foto: Majdi Mohammed / Associated Press

O governo Biden impôs sanções à NSO na semana passada, acrescentando-a a uma lista de empresas estrangeiras proibidas de comprar produtos americanos.

A sugestão de que o software da NSO foi usado para atingir palestinos adiciona uma nova dimensão à decisão de Israel em proibir os seis grupos. No mês passado, o governo israelense afirmou que as organizações eram frentes que arrecadavam fundos para um grupo militante banido, a Frente Popular pela Libertação da Palestina, considerada organização terrorista pelos Estados Unidos, União Europeia e outros países.

Os grupos, que estão sob investigação israelense desde o início deste ano, negaram coletivamente as acusações israelenses.

Citando evidências secretas que não foram divulgadas publicamente, o Ministério da Defesa de Israel disse que os grupos receberam doações de países e instituições europeias que deveriam ser usadas para atividades humanitárias e relacionadas a direitos - e em vez disso canalizaram esse dinheiro para a Frente Popular. As autoridades disseram que a designação das seis organizações foi baseada em inteligência adicional extensa, incluindo informações confidenciais que foram apresentadas a vários serviços de inteligência e agências de aplicação da lei na Europa e nos Estados Unidos.

O Shin Bet, serviço de segurança interna de Israel, recusou-se a responder a perguntas sobre o conteúdo dessas informações adicionais e classificadas, ou se elas foram obtidas com o spyware da NSO.

"Informações sólidas e inequívocas foram apresentadas, ligando as atividades das organizações à Frente Popular pela Libertação da Palestina", disse um porta-voz do Shin Bet.

Um documento do Shin Bet de maio resumindo parte dessa investigação, obtido e verificado pelo The New York Times, não forneceu evidências conclusivas de uma conspiração entre os grupos e a Frente Popular. No entanto, um oficial israelense disse que este resumo não detalha as principais evidências contra os seis grupos.

A Frente Popular ganhou destaque na década de 1960, quando seus membros sequestraram vários aviões de passageiros, e passou a reivindicar a responsabilidade pelos ataques durante um levante palestino na década de 2000, incluindo o assassinato de Rehavam Zeevi, um ministro do gabinete israelense.

Israel disse que os membros da Frente Popular controlavam as finanças dos seis grupos considerados ilegais.

Os seis grupos nomeados foram: Addameer; Al Haq; Bisan; Defesa para Crianças Internacional-Palestina; União dos Comitês das Mulheres Palestinas; e a União das Comissões de Trabalho Agropecuário.

Os grupos dizem que estão sendo marcados para silenciar o trabalho legítimo de organizações palestinas para destacar as violações de direitos por parte das autoridades israelenses e palestinas.

Os seis grupos estão envolvidos de várias maneiras na documentação de abusos cometidos por Israel; pela Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia; e pelo Hamas, que governa Gaza. Eles também representam prisioneiros palestinos em prisões israelenses e promovem os direitos de crianças, mulheres e agricultores.

Alguns dos grupos forneceram evidências para promotores do Tribunal Penal Internacional que estão investigando políticos e militares israelenses, incluindo o atual ministro da Defesa, Benny Gantz, por possíveis crimes de guerra. Frequentemente, eles compartilham material e testemunhos com importantes grupos internacionais de direitos, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, e são frequentemente citados na mídia internacional, inclusive no The New York Times.

O ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz. Foto: Bloomberg photo by Kobi Wolf

O documento resumindo partes da investigação do Shin Bet nos grupos palestinos foi originalmente fornecido pela agência de inteligência aos doadores europeus dos grupos e oficiais americanos em uma tentativa de persuadir estes últimos da legitimidade de sua investigação. Uma versão dele vazou pela primeira vez na semana passada para uma agência de notícias israelense, +972, e um parceiro americano, The Intercept.

Mas, em vez de detalhar evidências específicas contra os seis grupos, o documento se concentra em alegações contra uma sétima organização, o Comitê de Trabalho em Saúde. Ele contém principalmente alegações, obtidas sob interrogatório israelense, de dois ex-contadores dessa sétima organização que foram demitidos de seus cargos em 2019.

Os dois contadores alegaram que as seis organizações eram controladas por membros da Frente Popular, mas admitiram, em certos momentos, que algumas dessas alegações eram baseadas em conjecturas.

Os governos irlandês e holandês disseram que Israel ainda não forneceu evidências confiáveis das ligações entre os seis grupos e o terrorismo.

Mas um oficial israelense disse que o objetivo do dossiê vazado era persuadir europeus e americanos da culpa do Comitê de Trabalho de Saúde, não dos seis outros grupos, e que evidências mais conclusivas e secretas sobre as seis organizações foram fornecidas a funcionários americanos nas últimas semanas.

"Rejeitamos a alegação de que o material apresentado a várias entidades americanas é circunstancial e insatisfatório", disse uma porta-voz do Shin Bet.

JERUSALÉM - Especialistas internacionais em hackers disseram nesta segunda-feira, 8, que representantes de grupos de diretos palestinos recentemente proibidos por Israel foram alvos do spyware Pegasus, feito pela empresa de tecnologia israelense NSO Group, levantando questões sobre o envolvimento do governo israelense no hackeamento.

As descobertas foram apresentadas em uma análise pela Front Line Defenders, um grupo de direitos humanos com sede em Dublin; pelo Citizen Lab, um laboratório de observação do ciberespaço afiliado à Universidade de Toronto; e pela Anistia Internacional.

A NSO, que recentemente entrou na lista negra dos Estados Unidos, é criticada há anos por vender seu programa de spyware Pegasus a clientes, incluindo governos autoritários, que usaram o programa para hackear telefones de advogados, dissidentes, jornalistas, ativistas e políticos em dezenas dos países. Se as novas alegações forem verdadeiras, o caso seria mais uma ocorrência do software sendo usado contra defensores de direitos e o primeiro caso conhecido de utilização dentro de Israel.

Logo em parede de filial da empresa israelense NSO Group, perto da cidade de Sapir, no sul de Israel. Foto: AP Photo/Sebastian Scheiner

O gabinete do primeiro-ministro israelense e o Ministério da Defesa de Israel negaram que o spyware tenha sido usado para hackear os telefones dos palestinos.

O Pegasus permite que seus usuários invadam remota e secretamente em um telefone, monitorem sua localização e extraiam conteúdo, incluindo mensagens criptografadas, vídeos, fotografias e contatos. Os alvos do programa no passado incluem pessoas próximas a Jamal Khashoggi, o jornalista e dissidente saudita assassinado por agentes do governo em 2018; jornalistas investigativos na Hungria; e advogados no México.

Adam Shapiro, porta-voz da Front Line Defenders, disse que a investigação não provou ou identificou definitivamente quem usou o Pegasus neste caso.

"Mas isso levanta muitas questões quanto ao papel não apenas do NSO, mas também de Israel", disse ele. "Existem tantas opções que poderiam ser plausíveis aqui - e as ações anteriores do governo israelense levantam questões reais sobre o que está acontecendo e sérias dúvidas sobre qualquer negação que o governo faça".

Uma porta-voz da NSO disse que a empresa não identificaria quem usou o software e que não sabia contra quem o programa foi usado.

"Devido a considerações contratuais e de segurança nacional, não podemos confirmar ou negar a identidade de nossos clientes governamentais", disse ela. A empresa não teve conhecimento dos detalhes das pessoas monitoradas por seus clientes, acrescentou.

As últimas acusações, relatadas em primeira mão pela Associated Press, marcam a convergência do que antes eram duas questões diplomáticas distintas para Israel: a proibição, no mês passado, de seis grupos de direitos palestinos que acusou de serem frentes de um grupo militante banido, que atraiu amplamente críticas internacionais; e seu apoio de longa data a NSO, que opera sob licenças emitidas pelo Estado.

De acordo com a política do governo israelense, o Pegasus não pode ser usado por um governo estrangeiro contra números de telefone israelenses, como aqueles pertencentes aos palestinos. Uma agência governamental israelense, entretanto, teria autoridade para usar o software contra um número israelense.

Essa política, juntamente com as acusações na nova análise, levantou questões sobre se o governo israelense havia usado o spyware contra os defensores dos direitos palestinos.

A análise disse que a Pegasus havia sido usado em telefones de quatro funcionários dos grupos, com base em evidências do spyware detectado nos registros telefônicos dos palestinos. Os palestinos suspeitaram que seus telefones foram hackeados pouco antes de suas organizações serem proibidas no mês passado e pediram ajuda ao Front Line Defenders, que trabalhou com o Citizen Lab para rastrear seus telefones.

Um raro encontro de solidariedade na Cisjordânia em outubro entre líderes de organizações israelenses de direitos humanos e representantes de seis grupos de direitos humanos palestinos proibidos por Israel. Foto: Majdi Mohammed / Associated Press

O governo Biden impôs sanções à NSO na semana passada, acrescentando-a a uma lista de empresas estrangeiras proibidas de comprar produtos americanos.

A sugestão de que o software da NSO foi usado para atingir palestinos adiciona uma nova dimensão à decisão de Israel em proibir os seis grupos. No mês passado, o governo israelense afirmou que as organizações eram frentes que arrecadavam fundos para um grupo militante banido, a Frente Popular pela Libertação da Palestina, considerada organização terrorista pelos Estados Unidos, União Europeia e outros países.

Os grupos, que estão sob investigação israelense desde o início deste ano, negaram coletivamente as acusações israelenses.

Citando evidências secretas que não foram divulgadas publicamente, o Ministério da Defesa de Israel disse que os grupos receberam doações de países e instituições europeias que deveriam ser usadas para atividades humanitárias e relacionadas a direitos - e em vez disso canalizaram esse dinheiro para a Frente Popular. As autoridades disseram que a designação das seis organizações foi baseada em inteligência adicional extensa, incluindo informações confidenciais que foram apresentadas a vários serviços de inteligência e agências de aplicação da lei na Europa e nos Estados Unidos.

O Shin Bet, serviço de segurança interna de Israel, recusou-se a responder a perguntas sobre o conteúdo dessas informações adicionais e classificadas, ou se elas foram obtidas com o spyware da NSO.

"Informações sólidas e inequívocas foram apresentadas, ligando as atividades das organizações à Frente Popular pela Libertação da Palestina", disse um porta-voz do Shin Bet.

Um documento do Shin Bet de maio resumindo parte dessa investigação, obtido e verificado pelo The New York Times, não forneceu evidências conclusivas de uma conspiração entre os grupos e a Frente Popular. No entanto, um oficial israelense disse que este resumo não detalha as principais evidências contra os seis grupos.

A Frente Popular ganhou destaque na década de 1960, quando seus membros sequestraram vários aviões de passageiros, e passou a reivindicar a responsabilidade pelos ataques durante um levante palestino na década de 2000, incluindo o assassinato de Rehavam Zeevi, um ministro do gabinete israelense.

Israel disse que os membros da Frente Popular controlavam as finanças dos seis grupos considerados ilegais.

Os seis grupos nomeados foram: Addameer; Al Haq; Bisan; Defesa para Crianças Internacional-Palestina; União dos Comitês das Mulheres Palestinas; e a União das Comissões de Trabalho Agropecuário.

Os grupos dizem que estão sendo marcados para silenciar o trabalho legítimo de organizações palestinas para destacar as violações de direitos por parte das autoridades israelenses e palestinas.

Os seis grupos estão envolvidos de várias maneiras na documentação de abusos cometidos por Israel; pela Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia; e pelo Hamas, que governa Gaza. Eles também representam prisioneiros palestinos em prisões israelenses e promovem os direitos de crianças, mulheres e agricultores.

Alguns dos grupos forneceram evidências para promotores do Tribunal Penal Internacional que estão investigando políticos e militares israelenses, incluindo o atual ministro da Defesa, Benny Gantz, por possíveis crimes de guerra. Frequentemente, eles compartilham material e testemunhos com importantes grupos internacionais de direitos, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, e são frequentemente citados na mídia internacional, inclusive no The New York Times.

O ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz. Foto: Bloomberg photo by Kobi Wolf

O documento resumindo partes da investigação do Shin Bet nos grupos palestinos foi originalmente fornecido pela agência de inteligência aos doadores europeus dos grupos e oficiais americanos em uma tentativa de persuadir estes últimos da legitimidade de sua investigação. Uma versão dele vazou pela primeira vez na semana passada para uma agência de notícias israelense, +972, e um parceiro americano, The Intercept.

Mas, em vez de detalhar evidências específicas contra os seis grupos, o documento se concentra em alegações contra uma sétima organização, o Comitê de Trabalho em Saúde. Ele contém principalmente alegações, obtidas sob interrogatório israelense, de dois ex-contadores dessa sétima organização que foram demitidos de seus cargos em 2019.

Os dois contadores alegaram que as seis organizações eram controladas por membros da Frente Popular, mas admitiram, em certos momentos, que algumas dessas alegações eram baseadas em conjecturas.

Os governos irlandês e holandês disseram que Israel ainda não forneceu evidências confiáveis das ligações entre os seis grupos e o terrorismo.

Mas um oficial israelense disse que o objetivo do dossiê vazado era persuadir europeus e americanos da culpa do Comitê de Trabalho de Saúde, não dos seis outros grupos, e que evidências mais conclusivas e secretas sobre as seis organizações foram fornecidas a funcionários americanos nas últimas semanas.

"Rejeitamos a alegação de que o material apresentado a várias entidades americanas é circunstancial e insatisfatório", disse uma porta-voz do Shin Bet.

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