Palestinos na Cisjordânia esperam mobilização de jovens por intifada


Decisão de Donald Trump reconhecendo Jerusalém como capital de Israel é considerada por seguidores do grupo radical islâmico Hamas, que governa a Faixa de Gaza, o estopim para um novo levante contra o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu

Por Andrei Netto, Ramallah e Cisjordânia
Atualização:

RAMALLAH / CISJORDÂNIA - A Segunda Intifada, levante palestino contra Israel, se encaminhava para o final, em 2005, quando Amer Jamal foi atingido no braço esquerdo por um disparo do Exército israelense. A bala atravessou seu corpo e saiu pelas costas. Após mais de uma década, o ex-guerrilheiro de 34 anos trabalha para que os jovens aceitem o chamado para uma terceira intifada (palavra árabe para revolta).

‘Dia de fúria’ contra Trump une países islâmicos; ao menos 4 palestinos morrem em Gaza

O novo levante seria em protesto contra a administração de Donald Trump. “Jerusalém não é a capital de Israel. É a capital da Palestina. Você verá: a intifada vai acontecer de novo”, espera Amer, casado e pai de cinco filhos pequenos, um deles batizado em homenagem ao ex-ditador iraquiano Saddam Hussein. Ele acredita que a mobilização de sexta-feira, que não foi das maiores, não serve de parâmetro.

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Palestinos protestam neste sábado contra decisão de Donald Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel Foto: REUTERS/ Ammar Awad

“Tudo ainda está calmo porque sexta foi dia de orações, e houve pouca mobilização. Mas o movimento vai crescer. Trump é estúpido, e Mahmoud Abbas (presidente da Autoridade Palestina) também. Está na hora de lutar contra eles.”

Amer é morador de Kalandia, um antigo campo de refugiados criado pela Jordânia em 1949, hoje transformado em uma espécie de enclave entre o muro construído por Israel às margens de Jerusalém Oriental e Ramallah, uma das mais importantes cidades da Cisjordânia. Em Kalandia vivem cerca de 25 mil pessoas, a maior parte descendentes de palestinos que deixaram cidades como Jerusalém, Jaffa - a parte sul e antiga de Tel-Aviv - Lod, Lydda e Ramleh durante o êxodo de 1948. Desde então a região é um dos focos de contestação prontos a se inflamar contra Israel sempre que a tensão aumenta.

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Cenário: Mudar embaixada foi decisão política, não diplomática

Enquanto entre palestinos há a expectativa sobre se o levante de fato acontecerá, entre judeus que vivem em Jerusalém ou visitam seus lugares sagrados, a perspectiva é oposta. Para a maior parte dos ortodoxos ouvidos pelo Estado, o levante pode até acontecer, mas não terá vida longa em razão da força do Exército israelense, nem será capaz de reverter o forte sinal político enviado pelos EUA.

Essa é, por exemplo, a opinião do nova-iorquino Shalam Gansburg, para quem a decisão de Trump “é óbvia e natural”. “Jerusalém sempre foi uma cidade judia”, argumentou o ortodoxo, que abriu exceção para conceder uma entrevista durante o shabbat, dia sagrado do judaísmo. “Se houver uma intifada, não teremos nada a ver com isso. Não há nenhum movimento espontâneo de protestos, mas uma atitude organizada pelo Hamas. Deus zelará por nós”, afirmou. Convicto do acerto do presidente Trump, o americano, de 48 anos, não teme as consequências políticas e sociais da decisão. “Mesmo que haja uma explosão de violência a cada vez que uma verdade for dita, ela não deixará de ser uma verdade.”

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Jerusalém e a Cisjordânia ocupada voltaram a ser palco, nesta sexta-feira, de distúrbios entre as forças de segurança israelenses e palestinos que convocaram manifestações para expressar sua ira depois que os Estados Unidos reconheceram a Cidade Santa como a capital israelense.

Em Kalandia - região ocupada por Israel desde 1967 - e outros povoados e cidades da região, as histórias de choques com soldados israelenses passam de pai para filhos e alimentam o rancor entre palestinos em uma região marcada pela divisão acentuada pelo muro construído por Israel. Nesses locais, uma faísca - como uma crise política, por exemplo - pode detonar o barril de pólvora de insatisfação.

É isso que espera Ismail Haniyeh, chefe do grupo radical islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007. Na quinta-feira, o líder do movimento exortou árabes e muçulmanos a se levantarem em protesto.

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+ Gilles Lapouge: Questão de Jerusalém aproxima opostos

Entre jovens como Ahmed Jahara, estudante de 22 anos, esse apelo surtiu efeitos. Na sexta-feira, ele foi às ruas na periferia de Ramallah para lançar pedras contra soldados israelenses. Para ele, a decisão de Trump de transferir a embaixada americana a Jerusalém é um episódio político que demonstra que o processo de paz entre Israel e Palestina está morto. “O que Trump fez não é um problema só para os palestinos. Essa guerra agora não se limitará a Ramallah ou a Jerusalém. Será algo mundial, de todo o Islã”, deseja o jovem. “Vamos tomar essa terra de volta, não importa quantas mortes nos custe.”

Para o americano Chaim Lefkowitz, de 21 anos, o risco de uma explosão de violência em Israel, na Palestina e em outras regiões do mundo muçulmano deveria ter pesado na decisão de Trump. “Não foi uma boa ideia porque a única repercussão do anúncio é política”, entende o estudante de um Yeshiva, centro de estudos do judaísmo. Para Lefkowitz, o risco de uma intifada é concreto. “Pode ser verdade que Jerusalém seja a capital de Israel, e eu acho que é, mas o anúncio pode causar violência e já deixou os árabes irados. Não acredito que essa decisão possa ajudar o processo de paz.” 

RAMALLAH / CISJORDÂNIA - A Segunda Intifada, levante palestino contra Israel, se encaminhava para o final, em 2005, quando Amer Jamal foi atingido no braço esquerdo por um disparo do Exército israelense. A bala atravessou seu corpo e saiu pelas costas. Após mais de uma década, o ex-guerrilheiro de 34 anos trabalha para que os jovens aceitem o chamado para uma terceira intifada (palavra árabe para revolta).

‘Dia de fúria’ contra Trump une países islâmicos; ao menos 4 palestinos morrem em Gaza

O novo levante seria em protesto contra a administração de Donald Trump. “Jerusalém não é a capital de Israel. É a capital da Palestina. Você verá: a intifada vai acontecer de novo”, espera Amer, casado e pai de cinco filhos pequenos, um deles batizado em homenagem ao ex-ditador iraquiano Saddam Hussein. Ele acredita que a mobilização de sexta-feira, que não foi das maiores, não serve de parâmetro.

Palestinos protestam neste sábado contra decisão de Donald Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel Foto: REUTERS/ Ammar Awad

“Tudo ainda está calmo porque sexta foi dia de orações, e houve pouca mobilização. Mas o movimento vai crescer. Trump é estúpido, e Mahmoud Abbas (presidente da Autoridade Palestina) também. Está na hora de lutar contra eles.”

Amer é morador de Kalandia, um antigo campo de refugiados criado pela Jordânia em 1949, hoje transformado em uma espécie de enclave entre o muro construído por Israel às margens de Jerusalém Oriental e Ramallah, uma das mais importantes cidades da Cisjordânia. Em Kalandia vivem cerca de 25 mil pessoas, a maior parte descendentes de palestinos que deixaram cidades como Jerusalém, Jaffa - a parte sul e antiga de Tel-Aviv - Lod, Lydda e Ramleh durante o êxodo de 1948. Desde então a região é um dos focos de contestação prontos a se inflamar contra Israel sempre que a tensão aumenta.

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Enquanto entre palestinos há a expectativa sobre se o levante de fato acontecerá, entre judeus que vivem em Jerusalém ou visitam seus lugares sagrados, a perspectiva é oposta. Para a maior parte dos ortodoxos ouvidos pelo Estado, o levante pode até acontecer, mas não terá vida longa em razão da força do Exército israelense, nem será capaz de reverter o forte sinal político enviado pelos EUA.

Essa é, por exemplo, a opinião do nova-iorquino Shalam Gansburg, para quem a decisão de Trump “é óbvia e natural”. “Jerusalém sempre foi uma cidade judia”, argumentou o ortodoxo, que abriu exceção para conceder uma entrevista durante o shabbat, dia sagrado do judaísmo. “Se houver uma intifada, não teremos nada a ver com isso. Não há nenhum movimento espontâneo de protestos, mas uma atitude organizada pelo Hamas. Deus zelará por nós”, afirmou. Convicto do acerto do presidente Trump, o americano, de 48 anos, não teme as consequências políticas e sociais da decisão. “Mesmo que haja uma explosão de violência a cada vez que uma verdade for dita, ela não deixará de ser uma verdade.”

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Jerusalém e a Cisjordânia ocupada voltaram a ser palco, nesta sexta-feira, de distúrbios entre as forças de segurança israelenses e palestinos que convocaram manifestações para expressar sua ira depois que os Estados Unidos reconheceram a Cidade Santa como a capital israelense.

Em Kalandia - região ocupada por Israel desde 1967 - e outros povoados e cidades da região, as histórias de choques com soldados israelenses passam de pai para filhos e alimentam o rancor entre palestinos em uma região marcada pela divisão acentuada pelo muro construído por Israel. Nesses locais, uma faísca - como uma crise política, por exemplo - pode detonar o barril de pólvora de insatisfação.

É isso que espera Ismail Haniyeh, chefe do grupo radical islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007. Na quinta-feira, o líder do movimento exortou árabes e muçulmanos a se levantarem em protesto.

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Entre jovens como Ahmed Jahara, estudante de 22 anos, esse apelo surtiu efeitos. Na sexta-feira, ele foi às ruas na periferia de Ramallah para lançar pedras contra soldados israelenses. Para ele, a decisão de Trump de transferir a embaixada americana a Jerusalém é um episódio político que demonstra que o processo de paz entre Israel e Palestina está morto. “O que Trump fez não é um problema só para os palestinos. Essa guerra agora não se limitará a Ramallah ou a Jerusalém. Será algo mundial, de todo o Islã”, deseja o jovem. “Vamos tomar essa terra de volta, não importa quantas mortes nos custe.”

Para o americano Chaim Lefkowitz, de 21 anos, o risco de uma explosão de violência em Israel, na Palestina e em outras regiões do mundo muçulmano deveria ter pesado na decisão de Trump. “Não foi uma boa ideia porque a única repercussão do anúncio é política”, entende o estudante de um Yeshiva, centro de estudos do judaísmo. Para Lefkowitz, o risco de uma intifada é concreto. “Pode ser verdade que Jerusalém seja a capital de Israel, e eu acho que é, mas o anúncio pode causar violência e já deixou os árabes irados. Não acredito que essa decisão possa ajudar o processo de paz.” 

RAMALLAH / CISJORDÂNIA - A Segunda Intifada, levante palestino contra Israel, se encaminhava para o final, em 2005, quando Amer Jamal foi atingido no braço esquerdo por um disparo do Exército israelense. A bala atravessou seu corpo e saiu pelas costas. Após mais de uma década, o ex-guerrilheiro de 34 anos trabalha para que os jovens aceitem o chamado para uma terceira intifada (palavra árabe para revolta).

‘Dia de fúria’ contra Trump une países islâmicos; ao menos 4 palestinos morrem em Gaza

O novo levante seria em protesto contra a administração de Donald Trump. “Jerusalém não é a capital de Israel. É a capital da Palestina. Você verá: a intifada vai acontecer de novo”, espera Amer, casado e pai de cinco filhos pequenos, um deles batizado em homenagem ao ex-ditador iraquiano Saddam Hussein. Ele acredita que a mobilização de sexta-feira, que não foi das maiores, não serve de parâmetro.

Palestinos protestam neste sábado contra decisão de Donald Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel Foto: REUTERS/ Ammar Awad

“Tudo ainda está calmo porque sexta foi dia de orações, e houve pouca mobilização. Mas o movimento vai crescer. Trump é estúpido, e Mahmoud Abbas (presidente da Autoridade Palestina) também. Está na hora de lutar contra eles.”

Amer é morador de Kalandia, um antigo campo de refugiados criado pela Jordânia em 1949, hoje transformado em uma espécie de enclave entre o muro construído por Israel às margens de Jerusalém Oriental e Ramallah, uma das mais importantes cidades da Cisjordânia. Em Kalandia vivem cerca de 25 mil pessoas, a maior parte descendentes de palestinos que deixaram cidades como Jerusalém, Jaffa - a parte sul e antiga de Tel-Aviv - Lod, Lydda e Ramleh durante o êxodo de 1948. Desde então a região é um dos focos de contestação prontos a se inflamar contra Israel sempre que a tensão aumenta.

Cenário: Mudar embaixada foi decisão política, não diplomática

Enquanto entre palestinos há a expectativa sobre se o levante de fato acontecerá, entre judeus que vivem em Jerusalém ou visitam seus lugares sagrados, a perspectiva é oposta. Para a maior parte dos ortodoxos ouvidos pelo Estado, o levante pode até acontecer, mas não terá vida longa em razão da força do Exército israelense, nem será capaz de reverter o forte sinal político enviado pelos EUA.

Essa é, por exemplo, a opinião do nova-iorquino Shalam Gansburg, para quem a decisão de Trump “é óbvia e natural”. “Jerusalém sempre foi uma cidade judia”, argumentou o ortodoxo, que abriu exceção para conceder uma entrevista durante o shabbat, dia sagrado do judaísmo. “Se houver uma intifada, não teremos nada a ver com isso. Não há nenhum movimento espontâneo de protestos, mas uma atitude organizada pelo Hamas. Deus zelará por nós”, afirmou. Convicto do acerto do presidente Trump, o americano, de 48 anos, não teme as consequências políticas e sociais da decisão. “Mesmo que haja uma explosão de violência a cada vez que uma verdade for dita, ela não deixará de ser uma verdade.”

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Jerusalém e a Cisjordânia ocupada voltaram a ser palco, nesta sexta-feira, de distúrbios entre as forças de segurança israelenses e palestinos que convocaram manifestações para expressar sua ira depois que os Estados Unidos reconheceram a Cidade Santa como a capital israelense.

Em Kalandia - região ocupada por Israel desde 1967 - e outros povoados e cidades da região, as histórias de choques com soldados israelenses passam de pai para filhos e alimentam o rancor entre palestinos em uma região marcada pela divisão acentuada pelo muro construído por Israel. Nesses locais, uma faísca - como uma crise política, por exemplo - pode detonar o barril de pólvora de insatisfação.

É isso que espera Ismail Haniyeh, chefe do grupo radical islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007. Na quinta-feira, o líder do movimento exortou árabes e muçulmanos a se levantarem em protesto.

+ Gilles Lapouge: Questão de Jerusalém aproxima opostos

Entre jovens como Ahmed Jahara, estudante de 22 anos, esse apelo surtiu efeitos. Na sexta-feira, ele foi às ruas na periferia de Ramallah para lançar pedras contra soldados israelenses. Para ele, a decisão de Trump de transferir a embaixada americana a Jerusalém é um episódio político que demonstra que o processo de paz entre Israel e Palestina está morto. “O que Trump fez não é um problema só para os palestinos. Essa guerra agora não se limitará a Ramallah ou a Jerusalém. Será algo mundial, de todo o Islã”, deseja o jovem. “Vamos tomar essa terra de volta, não importa quantas mortes nos custe.”

Para o americano Chaim Lefkowitz, de 21 anos, o risco de uma explosão de violência em Israel, na Palestina e em outras regiões do mundo muçulmano deveria ter pesado na decisão de Trump. “Não foi uma boa ideia porque a única repercussão do anúncio é política”, entende o estudante de um Yeshiva, centro de estudos do judaísmo. Para Lefkowitz, o risco de uma intifada é concreto. “Pode ser verdade que Jerusalém seja a capital de Israel, e eu acho que é, mas o anúncio pode causar violência e já deixou os árabes irados. Não acredito que essa decisão possa ajudar o processo de paz.” 

RAMALLAH / CISJORDÂNIA - A Segunda Intifada, levante palestino contra Israel, se encaminhava para o final, em 2005, quando Amer Jamal foi atingido no braço esquerdo por um disparo do Exército israelense. A bala atravessou seu corpo e saiu pelas costas. Após mais de uma década, o ex-guerrilheiro de 34 anos trabalha para que os jovens aceitem o chamado para uma terceira intifada (palavra árabe para revolta).

‘Dia de fúria’ contra Trump une países islâmicos; ao menos 4 palestinos morrem em Gaza

O novo levante seria em protesto contra a administração de Donald Trump. “Jerusalém não é a capital de Israel. É a capital da Palestina. Você verá: a intifada vai acontecer de novo”, espera Amer, casado e pai de cinco filhos pequenos, um deles batizado em homenagem ao ex-ditador iraquiano Saddam Hussein. Ele acredita que a mobilização de sexta-feira, que não foi das maiores, não serve de parâmetro.

Palestinos protestam neste sábado contra decisão de Donald Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel Foto: REUTERS/ Ammar Awad

“Tudo ainda está calmo porque sexta foi dia de orações, e houve pouca mobilização. Mas o movimento vai crescer. Trump é estúpido, e Mahmoud Abbas (presidente da Autoridade Palestina) também. Está na hora de lutar contra eles.”

Amer é morador de Kalandia, um antigo campo de refugiados criado pela Jordânia em 1949, hoje transformado em uma espécie de enclave entre o muro construído por Israel às margens de Jerusalém Oriental e Ramallah, uma das mais importantes cidades da Cisjordânia. Em Kalandia vivem cerca de 25 mil pessoas, a maior parte descendentes de palestinos que deixaram cidades como Jerusalém, Jaffa - a parte sul e antiga de Tel-Aviv - Lod, Lydda e Ramleh durante o êxodo de 1948. Desde então a região é um dos focos de contestação prontos a se inflamar contra Israel sempre que a tensão aumenta.

Cenário: Mudar embaixada foi decisão política, não diplomática

Enquanto entre palestinos há a expectativa sobre se o levante de fato acontecerá, entre judeus que vivem em Jerusalém ou visitam seus lugares sagrados, a perspectiva é oposta. Para a maior parte dos ortodoxos ouvidos pelo Estado, o levante pode até acontecer, mas não terá vida longa em razão da força do Exército israelense, nem será capaz de reverter o forte sinal político enviado pelos EUA.

Essa é, por exemplo, a opinião do nova-iorquino Shalam Gansburg, para quem a decisão de Trump “é óbvia e natural”. “Jerusalém sempre foi uma cidade judia”, argumentou o ortodoxo, que abriu exceção para conceder uma entrevista durante o shabbat, dia sagrado do judaísmo. “Se houver uma intifada, não teremos nada a ver com isso. Não há nenhum movimento espontâneo de protestos, mas uma atitude organizada pelo Hamas. Deus zelará por nós”, afirmou. Convicto do acerto do presidente Trump, o americano, de 48 anos, não teme as consequências políticas e sociais da decisão. “Mesmo que haja uma explosão de violência a cada vez que uma verdade for dita, ela não deixará de ser uma verdade.”

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Jerusalém e a Cisjordânia ocupada voltaram a ser palco, nesta sexta-feira, de distúrbios entre as forças de segurança israelenses e palestinos que convocaram manifestações para expressar sua ira depois que os Estados Unidos reconheceram a Cidade Santa como a capital israelense.

Em Kalandia - região ocupada por Israel desde 1967 - e outros povoados e cidades da região, as histórias de choques com soldados israelenses passam de pai para filhos e alimentam o rancor entre palestinos em uma região marcada pela divisão acentuada pelo muro construído por Israel. Nesses locais, uma faísca - como uma crise política, por exemplo - pode detonar o barril de pólvora de insatisfação.

É isso que espera Ismail Haniyeh, chefe do grupo radical islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007. Na quinta-feira, o líder do movimento exortou árabes e muçulmanos a se levantarem em protesto.

+ Gilles Lapouge: Questão de Jerusalém aproxima opostos

Entre jovens como Ahmed Jahara, estudante de 22 anos, esse apelo surtiu efeitos. Na sexta-feira, ele foi às ruas na periferia de Ramallah para lançar pedras contra soldados israelenses. Para ele, a decisão de Trump de transferir a embaixada americana a Jerusalém é um episódio político que demonstra que o processo de paz entre Israel e Palestina está morto. “O que Trump fez não é um problema só para os palestinos. Essa guerra agora não se limitará a Ramallah ou a Jerusalém. Será algo mundial, de todo o Islã”, deseja o jovem. “Vamos tomar essa terra de volta, não importa quantas mortes nos custe.”

Para o americano Chaim Lefkowitz, de 21 anos, o risco de uma explosão de violência em Israel, na Palestina e em outras regiões do mundo muçulmano deveria ter pesado na decisão de Trump. “Não foi uma boa ideia porque a única repercussão do anúncio é política”, entende o estudante de um Yeshiva, centro de estudos do judaísmo. Para Lefkowitz, o risco de uma intifada é concreto. “Pode ser verdade que Jerusalém seja a capital de Israel, e eu acho que é, mas o anúncio pode causar violência e já deixou os árabes irados. Não acredito que essa decisão possa ajudar o processo de paz.” 

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