O papa Francisco afirmou neste domingo, 21, estar preocupado com as crescentes tensões entre a Igreja Católica da Nicarágua e o governo de Daniel Ortega, que prendeu nesta semana o bispo de Matapalga e crítico do presidente, Rolando Álvarez. Ele disse acompanhar de perto a situação e pediu um “diálogo aberto e sincero” entre as partes para resolver o conflito.
Após a oração semanal na Praça de São Pedro, o papa disse que acompanha a situação “com preocupação e dor”, mas não mencionou especificamente a prisão de Rolando Álvarez. “Tenho convicção e esperança de que, por meio de um diálogo aberto e sincero, ainda possam ser encontradas as bases para uma convivência respeitosa e pacífica”, declarou aos peregrinos.
Álvarez foi preso na sexta-feira, 19, e transferido para a residência de sua família em Manágua, onde permanece privado de liberdade, no mais recente episódio do confronto entre o governo e a Igreja Católica. A Polícia especificou que tomou a decisão de transferi-lo porque ele persistiu em atividades “desestabilizadoras e provocativas”.
O bispo, de 55 anos, estava sitiado na cúria de Matagalpa pela polícia desde o dia 4 como parte de uma investigação por “organizar grupos violentos” e incitar “ódio” para “desestabilizar o Estado da Nicarágua”. Ele denunciou o fechamento pelas autoridades de cinco emissoras católicas e exigiu que o governo de Daniel Ortega respeite a “liberdade” religiosa.
No dia 14, a Igreja Católica da Nicarágua denunciou a prisão de outro sacerdote, o padre Oscar Benavidez, após a celebração de uma missa. Benavidez era pároco da igreja Espírito Santo em Mulukukú, cidade rural da Região Autônoma da Costa Caribe Norte, mas pertencia originalmente à diocese de Matagalpa.
Outras denúncias de sacerdotes da zona rural de Matagalpa, feitas no mesmo fim de semana da prisão de Benavidez, alegam que a polícia impediu de assistir a atos religiosos. O padre Aníbal Manzanares, do município de Terrabona, disse a jornalistas que foi proibido no dia 12 de “realizar procissões e atividades fora da igreja”, enquanto o padre Fernando Calero, do município de Rancho Grande, foi impedido de viajar no domingo para assistir uma missa. Segundo Calero, a polícia parou seu veículo e tomou a documentação necessária para que ele e um grupo seguissem a viagem.
A tensão entre o governo Ortega e a Igreja Católica começou em 2018. quando vários templos abriram suas portas para abrigar manifestantes feridos durante os protestos contra o presidente, duramente reprimidos.
Daniel Ortega classificou como “terroristas” os bispos nicaraguenses que atuaram como mediadores de um diálogo nacional que buscava uma solução pacífica para a crise que o país vive desde abril daquele ano. A situação se agravou após as polêmicas eleições de novembro passado, nas quais Ortega foi reeleito para um quinto mandato, quarto deles consecutivo e segundo junto com sua esposa, Rosario Murillo, como vice-presidente, com seus principais candidatos na prisão. /AFP