ROMA - O papa Francisco se referiu à Nicarágua como uma ditadura grosseira e disse que o presidente Daniel Ortega é um desequilibrado. As declarações foram divulgadas nesta sexta-feira, 10, em uma entrevista ao site argentino Infobae, três dias depois de o governo do país centro-americano fechar duas universidades ligadas à Igreja Católica.
“Com muito respeito, não me resta outra alternativa do que pensar em um desiquilíbrio da pessoa que dirige (a Nicarágua)”, disse Francisco, se referindo a Ortega, no poder desde 2007 e reeleito sucessivamente em votações questionadas pela oposição e observadores.
Na entrevista, o papa argentino fez referência ao bispo católico Rolando Álvarez, condenado em fevereiro a 26 anos de prisão por, entre outras acusações, minar a integridade nacional. “Ali temos um bispo na prisão, um homem muito sério, muito capaz. Ele queria dar seu testemunho e não aceitou o exílio”, disse.
O bispo de Matagalpa, de 56 anos, estava detido desde agosto por conspiração e se recusou a ser deportado para os Estados Unidos com outros 222 opositores que foram liberados e expulsos do país acusados de serem traidores da pátria.
“É algo que está fora do que estamos vivendo, é como se estivesse trazendo de volta a ditadura comunista de 1917 ou a ditadura hitlerista de 1935. Pai abençoado.”
A Nicarágua enfrenta uma onda de reprovações da comunidade internacional pela guinada autoritária de Ortega, que governa com sua mulher, a vice-presidente Rosario Murillo.
Centenas de opositores foram detidos no contexto da repressão que se seguiu aos massivos protestos contra o governo de 2018.
Desde então, Manágua também entrou em conflito com o mundo eclesiástico e os líderes da Igreja que criticaram suas políticas. Há quase um ano, a ditadura de Ortega expulsou, por exemplo, o núncio apostólico Waldemar Stanislaw Sommertag.
Na terça-feira, o Ministério do Interior cancelou o status legal da Universidade Juan Pablo II - da Conferência Episcopal da Nicarágua - e da Universidade Autônoma Cristã da Nicarágua (UCAN) alegando “violação” de leis.
Nesse mesmo dia, o Diário Oficial também anunciou a dissolução das instituições de caridade católicas Caritas Nicaragua e Caritas Diocesana de Jinotega./AFP