O ex-secretário de Defesa dos EUA, William Cohen, disse hoje acreditar que os ataques americanos ao Afeganistão devem se intensificar nos próximos dias. "Não sabemos quanto tempo esta guerra irá durar, mas estamos tentando concluir esta fase, na qual ou o Taleban entrega Bin Laden ou terá sua própria destruição", afirmou, durante entrevista coletiva, após a concluir seu discurso no evento ?Riscos e Oportunidades: Os Novos Desafios da Economia Global e a Alca?, promovido pelo Fórum das Américas, com apoio da Agência Estado e do jornal O Estado de S. Paulo. Cohen, que exerceu o cargo no governo Bill Clinton, lamentou as baixas de civis afegãos que vêm ocorrendo desde o início da ofensiva no último dia 7. "A exemplo do que ocorreu em conflitos anteriores como em Kosovo e a Guerra do Golfo, o governo dos EUA tem feito de tudo para minimizar as mortes de civis. Mas para continuar com a ofensiva, são inevitáveis algumas baixas. De qualquer maneira, faremos de tudo para não prejudicar coalizões com outros países", declarou. Para Cohen, os ataques do dia 11 de setembro nada têm a ver com os conflitos entre israelenses e palestinos, como havia afirmado o terrorista Osama bin Laden, que acusou os EUA de apoiarem Israel. "Bin Laden não está preocupado com o povo palestino e nem com o acordo de paz. O que ele quer mesmo é ver Israel destruído e Sadam Hussein de volta ao comando", disse. Bioterrorismo O ex-secretário reconheceu que houve negligência por parte dos EUA em relação à ameaça terrorista. Ele disse que em 1998 já havia alertado sobre o perigo de ataques por armas químicas ou biológicas, inclusive sobre o antraz. "Na época, me acusaram de estar querendo gastar mais dinheiro com segurança e estar querendo assustar a população, quando na verdade eu só queria alertar que o terrorismo estava para chegar. Agora vamos ter que lidar com isso de maneira aberta, sem pânico ou histeria". Para ele, o terrorismo, tanto químico quanto biológico, é hoje uma ameaça real para todos os países, inclusive para o Brasil. Cohen, que atualmente é presidente do Cohen Group, que presta consultoria para países latino-americanos, e um dos diretores da Brasilinvest, disse ainda que o apoio que os EUA vêm recebendo de diversos países poderá estruturar novas alianças comerciais. "Tudo mudou depois do ataque e o mundo percebeu que o terrorismo não tem fronteiras. Isso agora é preocupação de todos os países. Quem antes do dia 11 de setembro poderia imaginar os EUA reunidos com a Rússia ou China para discutir interesses comuns?", indagou. Alca e OMC Ele ressaltou mais uma vez que as mudanças ocorridas após os ataques poderão também favorecer as discussões sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), facilitando a aprovação ainda este mês da TPA ou fast track, que daria liberdade ao presidente George W. Bush para negociar acordos comerciais. Na opinião de Cohen, o momento é propício também para a realização da reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), marcada para ocorrer de 9 a 13 de novembro, no Catar. Para ele, o encontro não deve ser adiado, independentemente de continuar sendo realizado no Oriente Médio ou ser transferido para outro país, ao contrário do que propôs hoje o professor da Universidade de Columbia, Albert Fishlow, que também participou do Fórum. Cohen, que visita pela terceira vez o Brasil, seguirá amanhã para Brasília, onde deve se encontrar com o presidente Fernando Henrique Cardoso e também discursar no Congresso Nacional. Leia o especial