Para competir com China, EUA terão de fortalecer alianças hoje enfraquecidas; leia artigo


Biden deixou claro que a política externa americana deixou para trás a era do 11 de setembro e se concentra definitivamente naquele que é o verdadeiro desafio do país neste século 21

Por Carlos Gustavo Poggio
Atualização:

O principal tema do primeiro discurso de Joe Biden na Assembleia Geral da ONU como presidente dos Estados Unidos não foi mencionado diretamente: a China. Apesar de não citar em nenhum momento o país pelo nome, Biden deixou claro que a política externa americana deixou para trás a era do 11 de setembro e se concentra definitivamente naquele que é o verdadeiro desafio do país neste século 21.

A competição geopolítica com a China estava presente em grande parte do discurso do presidente americano, da questão dos direitos humanos às mudanças climáticas e o fortalecimento de alianças tradicionais.

Em particular, na parte final do discurso,Biden buscou fazer um contraste entre democracias e autocracias. O presidente chegou a afirmar que não deseja uma nova Guerra Fria, mas apenas após dizer que os Estados Unidos estariam preparados para competir de forma “vigorosa”.

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A referência explícita à “competição vigorosa” é importante, pois ilustra claramente as diferenças entre os contextos de 2001 e 2021. Em 2001 os Estados Unidos ocupavam uma posição bastante singular nas relações internacionais, com uma disparidade de poder inédita na história do sistema moderno de Estados.

O país colhia os frutos de uma década de vitória na Guerra Fria, com um grau superioridade econômica, militar, e cultural que levou o ministro das Relações Exteriores da França à época a classificar os Estados Unidos como uma “hiperpotência”. Nesse contexto de unipolaridade, o país não vislumbrava competidores.

O presidente americano Joe Biden discursa na Assembleia Geral da ONU, em Nova York Foto: Eduardo Munoz/Pool via AFP
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Os atentados de 11 de setembro de 2001 deram aos Estados Unidos uma ameaça difusa na forma do terrorismo transacional. Dada sua posição de superioridade, muitos formuladores de políticas imaginaram que tais ameaças poderiam ser combatidas pelo vasto poderio militar norte-americano.

Duas décadas, trilhões de dólares e milhares de tropas perdidas depois, o cenário é bastante distinto. Distraídos nas ocupações de Iraque e Afeganistão, sucessivas administrações na Casa Branca não deram a devida atenção à rápida ascensão chinesa no sistema internacional, um acontecimento geopolítico muito mais relevante.

Em seu discurso, Biden admitiu sem rodeios uma dolorosa e cara lição que os Estados Unidos aprenderam: “poder militar não pode resolver tudo”. Assim, Biden aproveitou o discurso na ONU para reforçar a lógica por trás da retirada do Afeganistão: encerrar as guerras de 2001 para recalibrar a política externa dos Estados Unidos tendo em vista os desafios de 2021, focando recursos em regiões consideradas mais estratégicas, como o Indo-Pacífico.

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Meios para competir com os chineses

Se Biden falou sobre os fins, também expôs os meios para perseguir esse objetivo. Uma parte importante do discurso foi dedicada à importância de se fortalecer as alianças tradicionais dos Estados Unidos. Um exemplo concreto dessa política de reorientação para a região do Indo-Pacífico com apoio de aliados foi o recente acordo que a administração Biden fechou com o Reino Unido e a Austrália para compartilhamento de tecnologia de submarinos nucleares para frota australiana, em um contexto de aumento de tensões diplomáticas entre Austrália e China.

O fato de Biden não ter mencionado esse acordo em seu discurso é indicativo de algumas dificuldades que os Estados Unidos estão enfrentando com seus aliados, que não se sentiram adequadamente consultados durante a confusa retirada do Afeganistão.

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O acordo dos Estados Unidos com Austrália e Reino Unido irritou profundamente os franceses, que estavam em conversas avançadas com os australianos para fornecimento de submarinos convencionais. O ministro das Relações Exteriores da França chamou o acordo de “uma facada nas costas” e Paris chegou a chamar de volta seu embaixador em Washington, um gesto inédito na histórica relação entre os dois países. Assim, o discurso de Biden na ONU dá indicativos sobre a sua visão de mundo. Realizá-la será uma tarefa completamente diferente.

*É professor do curso de relações internacionais da FAAP

O principal tema do primeiro discurso de Joe Biden na Assembleia Geral da ONU como presidente dos Estados Unidos não foi mencionado diretamente: a China. Apesar de não citar em nenhum momento o país pelo nome, Biden deixou claro que a política externa americana deixou para trás a era do 11 de setembro e se concentra definitivamente naquele que é o verdadeiro desafio do país neste século 21.

A competição geopolítica com a China estava presente em grande parte do discurso do presidente americano, da questão dos direitos humanos às mudanças climáticas e o fortalecimento de alianças tradicionais.

Em particular, na parte final do discurso,Biden buscou fazer um contraste entre democracias e autocracias. O presidente chegou a afirmar que não deseja uma nova Guerra Fria, mas apenas após dizer que os Estados Unidos estariam preparados para competir de forma “vigorosa”.

A referência explícita à “competição vigorosa” é importante, pois ilustra claramente as diferenças entre os contextos de 2001 e 2021. Em 2001 os Estados Unidos ocupavam uma posição bastante singular nas relações internacionais, com uma disparidade de poder inédita na história do sistema moderno de Estados.

O país colhia os frutos de uma década de vitória na Guerra Fria, com um grau superioridade econômica, militar, e cultural que levou o ministro das Relações Exteriores da França à época a classificar os Estados Unidos como uma “hiperpotência”. Nesse contexto de unipolaridade, o país não vislumbrava competidores.

O presidente americano Joe Biden discursa na Assembleia Geral da ONU, em Nova York Foto: Eduardo Munoz/Pool via AFP

Os atentados de 11 de setembro de 2001 deram aos Estados Unidos uma ameaça difusa na forma do terrorismo transacional. Dada sua posição de superioridade, muitos formuladores de políticas imaginaram que tais ameaças poderiam ser combatidas pelo vasto poderio militar norte-americano.

Duas décadas, trilhões de dólares e milhares de tropas perdidas depois, o cenário é bastante distinto. Distraídos nas ocupações de Iraque e Afeganistão, sucessivas administrações na Casa Branca não deram a devida atenção à rápida ascensão chinesa no sistema internacional, um acontecimento geopolítico muito mais relevante.

Em seu discurso, Biden admitiu sem rodeios uma dolorosa e cara lição que os Estados Unidos aprenderam: “poder militar não pode resolver tudo”. Assim, Biden aproveitou o discurso na ONU para reforçar a lógica por trás da retirada do Afeganistão: encerrar as guerras de 2001 para recalibrar a política externa dos Estados Unidos tendo em vista os desafios de 2021, focando recursos em regiões consideradas mais estratégicas, como o Indo-Pacífico.

Meios para competir com os chineses

Se Biden falou sobre os fins, também expôs os meios para perseguir esse objetivo. Uma parte importante do discurso foi dedicada à importância de se fortalecer as alianças tradicionais dos Estados Unidos. Um exemplo concreto dessa política de reorientação para a região do Indo-Pacífico com apoio de aliados foi o recente acordo que a administração Biden fechou com o Reino Unido e a Austrália para compartilhamento de tecnologia de submarinos nucleares para frota australiana, em um contexto de aumento de tensões diplomáticas entre Austrália e China.

O fato de Biden não ter mencionado esse acordo em seu discurso é indicativo de algumas dificuldades que os Estados Unidos estão enfrentando com seus aliados, que não se sentiram adequadamente consultados durante a confusa retirada do Afeganistão.

O acordo dos Estados Unidos com Austrália e Reino Unido irritou profundamente os franceses, que estavam em conversas avançadas com os australianos para fornecimento de submarinos convencionais. O ministro das Relações Exteriores da França chamou o acordo de “uma facada nas costas” e Paris chegou a chamar de volta seu embaixador em Washington, um gesto inédito na histórica relação entre os dois países. Assim, o discurso de Biden na ONU dá indicativos sobre a sua visão de mundo. Realizá-la será uma tarefa completamente diferente.

*É professor do curso de relações internacionais da FAAP

O principal tema do primeiro discurso de Joe Biden na Assembleia Geral da ONU como presidente dos Estados Unidos não foi mencionado diretamente: a China. Apesar de não citar em nenhum momento o país pelo nome, Biden deixou claro que a política externa americana deixou para trás a era do 11 de setembro e se concentra definitivamente naquele que é o verdadeiro desafio do país neste século 21.

A competição geopolítica com a China estava presente em grande parte do discurso do presidente americano, da questão dos direitos humanos às mudanças climáticas e o fortalecimento de alianças tradicionais.

Em particular, na parte final do discurso,Biden buscou fazer um contraste entre democracias e autocracias. O presidente chegou a afirmar que não deseja uma nova Guerra Fria, mas apenas após dizer que os Estados Unidos estariam preparados para competir de forma “vigorosa”.

A referência explícita à “competição vigorosa” é importante, pois ilustra claramente as diferenças entre os contextos de 2001 e 2021. Em 2001 os Estados Unidos ocupavam uma posição bastante singular nas relações internacionais, com uma disparidade de poder inédita na história do sistema moderno de Estados.

O país colhia os frutos de uma década de vitória na Guerra Fria, com um grau superioridade econômica, militar, e cultural que levou o ministro das Relações Exteriores da França à época a classificar os Estados Unidos como uma “hiperpotência”. Nesse contexto de unipolaridade, o país não vislumbrava competidores.

O presidente americano Joe Biden discursa na Assembleia Geral da ONU, em Nova York Foto: Eduardo Munoz/Pool via AFP

Os atentados de 11 de setembro de 2001 deram aos Estados Unidos uma ameaça difusa na forma do terrorismo transacional. Dada sua posição de superioridade, muitos formuladores de políticas imaginaram que tais ameaças poderiam ser combatidas pelo vasto poderio militar norte-americano.

Duas décadas, trilhões de dólares e milhares de tropas perdidas depois, o cenário é bastante distinto. Distraídos nas ocupações de Iraque e Afeganistão, sucessivas administrações na Casa Branca não deram a devida atenção à rápida ascensão chinesa no sistema internacional, um acontecimento geopolítico muito mais relevante.

Em seu discurso, Biden admitiu sem rodeios uma dolorosa e cara lição que os Estados Unidos aprenderam: “poder militar não pode resolver tudo”. Assim, Biden aproveitou o discurso na ONU para reforçar a lógica por trás da retirada do Afeganistão: encerrar as guerras de 2001 para recalibrar a política externa dos Estados Unidos tendo em vista os desafios de 2021, focando recursos em regiões consideradas mais estratégicas, como o Indo-Pacífico.

Meios para competir com os chineses

Se Biden falou sobre os fins, também expôs os meios para perseguir esse objetivo. Uma parte importante do discurso foi dedicada à importância de se fortalecer as alianças tradicionais dos Estados Unidos. Um exemplo concreto dessa política de reorientação para a região do Indo-Pacífico com apoio de aliados foi o recente acordo que a administração Biden fechou com o Reino Unido e a Austrália para compartilhamento de tecnologia de submarinos nucleares para frota australiana, em um contexto de aumento de tensões diplomáticas entre Austrália e China.

O fato de Biden não ter mencionado esse acordo em seu discurso é indicativo de algumas dificuldades que os Estados Unidos estão enfrentando com seus aliados, que não se sentiram adequadamente consultados durante a confusa retirada do Afeganistão.

O acordo dos Estados Unidos com Austrália e Reino Unido irritou profundamente os franceses, que estavam em conversas avançadas com os australianos para fornecimento de submarinos convencionais. O ministro das Relações Exteriores da França chamou o acordo de “uma facada nas costas” e Paris chegou a chamar de volta seu embaixador em Washington, um gesto inédito na histórica relação entre os dois países. Assim, o discurso de Biden na ONU dá indicativos sobre a sua visão de mundo. Realizá-la será uma tarefa completamente diferente.

*É professor do curso de relações internacionais da FAAP

O principal tema do primeiro discurso de Joe Biden na Assembleia Geral da ONU como presidente dos Estados Unidos não foi mencionado diretamente: a China. Apesar de não citar em nenhum momento o país pelo nome, Biden deixou claro que a política externa americana deixou para trás a era do 11 de setembro e se concentra definitivamente naquele que é o verdadeiro desafio do país neste século 21.

A competição geopolítica com a China estava presente em grande parte do discurso do presidente americano, da questão dos direitos humanos às mudanças climáticas e o fortalecimento de alianças tradicionais.

Em particular, na parte final do discurso,Biden buscou fazer um contraste entre democracias e autocracias. O presidente chegou a afirmar que não deseja uma nova Guerra Fria, mas apenas após dizer que os Estados Unidos estariam preparados para competir de forma “vigorosa”.

A referência explícita à “competição vigorosa” é importante, pois ilustra claramente as diferenças entre os contextos de 2001 e 2021. Em 2001 os Estados Unidos ocupavam uma posição bastante singular nas relações internacionais, com uma disparidade de poder inédita na história do sistema moderno de Estados.

O país colhia os frutos de uma década de vitória na Guerra Fria, com um grau superioridade econômica, militar, e cultural que levou o ministro das Relações Exteriores da França à época a classificar os Estados Unidos como uma “hiperpotência”. Nesse contexto de unipolaridade, o país não vislumbrava competidores.

O presidente americano Joe Biden discursa na Assembleia Geral da ONU, em Nova York Foto: Eduardo Munoz/Pool via AFP

Os atentados de 11 de setembro de 2001 deram aos Estados Unidos uma ameaça difusa na forma do terrorismo transacional. Dada sua posição de superioridade, muitos formuladores de políticas imaginaram que tais ameaças poderiam ser combatidas pelo vasto poderio militar norte-americano.

Duas décadas, trilhões de dólares e milhares de tropas perdidas depois, o cenário é bastante distinto. Distraídos nas ocupações de Iraque e Afeganistão, sucessivas administrações na Casa Branca não deram a devida atenção à rápida ascensão chinesa no sistema internacional, um acontecimento geopolítico muito mais relevante.

Em seu discurso, Biden admitiu sem rodeios uma dolorosa e cara lição que os Estados Unidos aprenderam: “poder militar não pode resolver tudo”. Assim, Biden aproveitou o discurso na ONU para reforçar a lógica por trás da retirada do Afeganistão: encerrar as guerras de 2001 para recalibrar a política externa dos Estados Unidos tendo em vista os desafios de 2021, focando recursos em regiões consideradas mais estratégicas, como o Indo-Pacífico.

Meios para competir com os chineses

Se Biden falou sobre os fins, também expôs os meios para perseguir esse objetivo. Uma parte importante do discurso foi dedicada à importância de se fortalecer as alianças tradicionais dos Estados Unidos. Um exemplo concreto dessa política de reorientação para a região do Indo-Pacífico com apoio de aliados foi o recente acordo que a administração Biden fechou com o Reino Unido e a Austrália para compartilhamento de tecnologia de submarinos nucleares para frota australiana, em um contexto de aumento de tensões diplomáticas entre Austrália e China.

O fato de Biden não ter mencionado esse acordo em seu discurso é indicativo de algumas dificuldades que os Estados Unidos estão enfrentando com seus aliados, que não se sentiram adequadamente consultados durante a confusa retirada do Afeganistão.

O acordo dos Estados Unidos com Austrália e Reino Unido irritou profundamente os franceses, que estavam em conversas avançadas com os australianos para fornecimento de submarinos convencionais. O ministro das Relações Exteriores da França chamou o acordo de “uma facada nas costas” e Paris chegou a chamar de volta seu embaixador em Washington, um gesto inédito na histórica relação entre os dois países. Assim, o discurso de Biden na ONU dá indicativos sobre a sua visão de mundo. Realizá-la será uma tarefa completamente diferente.

*É professor do curso de relações internacionais da FAAP

O principal tema do primeiro discurso de Joe Biden na Assembleia Geral da ONU como presidente dos Estados Unidos não foi mencionado diretamente: a China. Apesar de não citar em nenhum momento o país pelo nome, Biden deixou claro que a política externa americana deixou para trás a era do 11 de setembro e se concentra definitivamente naquele que é o verdadeiro desafio do país neste século 21.

A competição geopolítica com a China estava presente em grande parte do discurso do presidente americano, da questão dos direitos humanos às mudanças climáticas e o fortalecimento de alianças tradicionais.

Em particular, na parte final do discurso,Biden buscou fazer um contraste entre democracias e autocracias. O presidente chegou a afirmar que não deseja uma nova Guerra Fria, mas apenas após dizer que os Estados Unidos estariam preparados para competir de forma “vigorosa”.

A referência explícita à “competição vigorosa” é importante, pois ilustra claramente as diferenças entre os contextos de 2001 e 2021. Em 2001 os Estados Unidos ocupavam uma posição bastante singular nas relações internacionais, com uma disparidade de poder inédita na história do sistema moderno de Estados.

O país colhia os frutos de uma década de vitória na Guerra Fria, com um grau superioridade econômica, militar, e cultural que levou o ministro das Relações Exteriores da França à época a classificar os Estados Unidos como uma “hiperpotência”. Nesse contexto de unipolaridade, o país não vislumbrava competidores.

O presidente americano Joe Biden discursa na Assembleia Geral da ONU, em Nova York Foto: Eduardo Munoz/Pool via AFP

Os atentados de 11 de setembro de 2001 deram aos Estados Unidos uma ameaça difusa na forma do terrorismo transacional. Dada sua posição de superioridade, muitos formuladores de políticas imaginaram que tais ameaças poderiam ser combatidas pelo vasto poderio militar norte-americano.

Duas décadas, trilhões de dólares e milhares de tropas perdidas depois, o cenário é bastante distinto. Distraídos nas ocupações de Iraque e Afeganistão, sucessivas administrações na Casa Branca não deram a devida atenção à rápida ascensão chinesa no sistema internacional, um acontecimento geopolítico muito mais relevante.

Em seu discurso, Biden admitiu sem rodeios uma dolorosa e cara lição que os Estados Unidos aprenderam: “poder militar não pode resolver tudo”. Assim, Biden aproveitou o discurso na ONU para reforçar a lógica por trás da retirada do Afeganistão: encerrar as guerras de 2001 para recalibrar a política externa dos Estados Unidos tendo em vista os desafios de 2021, focando recursos em regiões consideradas mais estratégicas, como o Indo-Pacífico.

Meios para competir com os chineses

Se Biden falou sobre os fins, também expôs os meios para perseguir esse objetivo. Uma parte importante do discurso foi dedicada à importância de se fortalecer as alianças tradicionais dos Estados Unidos. Um exemplo concreto dessa política de reorientação para a região do Indo-Pacífico com apoio de aliados foi o recente acordo que a administração Biden fechou com o Reino Unido e a Austrália para compartilhamento de tecnologia de submarinos nucleares para frota australiana, em um contexto de aumento de tensões diplomáticas entre Austrália e China.

O fato de Biden não ter mencionado esse acordo em seu discurso é indicativo de algumas dificuldades que os Estados Unidos estão enfrentando com seus aliados, que não se sentiram adequadamente consultados durante a confusa retirada do Afeganistão.

O acordo dos Estados Unidos com Austrália e Reino Unido irritou profundamente os franceses, que estavam em conversas avançadas com os australianos para fornecimento de submarinos convencionais. O ministro das Relações Exteriores da França chamou o acordo de “uma facada nas costas” e Paris chegou a chamar de volta seu embaixador em Washington, um gesto inédito na histórica relação entre os dois países. Assim, o discurso de Biden na ONU dá indicativos sobre a sua visão de mundo. Realizá-la será uma tarefa completamente diferente.

*É professor do curso de relações internacionais da FAAP

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