O ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), o economista Mario Draghi, aceitou nesta quarta-feira, 3, o desafio de formar um governo de "unidade" na Itália.
Se ele conseguir obter a confiança do Parlamento, vai liderar o 67º Executivo italiano após o fim da 2ª Guerra.
Os governos na Itália tendem a durar pouco mais de um ano, em média. Estes são os pontos-chave para compreender a crise política italiana:
Instabilidade crônica
Apesar da adoção em 2017 de um sistema de votação misto para as duas casas, a crise atual é resultado da instabilidade crônica dos governos italianos, porque, muitas vezes, já podem contar com a confiança do Parlamento com os votos de uma minoria ou porque a coalizão líder se rompe, um jogo político a que os italianos estão acostumados.
Desde a proclamação da República Italiana em 1946, a Itália teve 29 presidentes do Conselho de Governo, ou seja, primeiros-ministros, e 66 governos.
Giuseppe Conte, uma personalidade independente próxima ao Movimento 5 Estrelas (M5E), primeiro governou uma coalizão do M5E e da Liga de Matteo Salvini,de extrema-direita, entre junho de 2018 e setembro de 2019.
Ele então formou um segundo governo com o M5E e o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, junto com outras pequenas formações.
Fundos da UE
Conte teve de renunciar porque perdeu o apoio fundamental do pequeno partido do ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, que criticou o programa de reconstrução da Itália após a pandemia com base nos 222 bilhões de euros (aproximadamente R$ 1,4 trilhão ) que a União Europeia concedeu à Itália no plano adotado em meados de 2020 pelos líderes europeus diante da emergência.
Para Renzi, Conte "esbanjou dinheiro público" com um plano de restituição de impostos e indenizações, em vez de investir e realizar reformas estruturais.
Draghi reconheceu nesta quarta-feira que estes "recursos extraordinários" da UE representam uma grande oportunidade para a Itália e especialmente para as gerações "mais jovens".
"Super Mario"
"Super Mario", como Draghi é frequentemente apelidado, é um homem discreto de 73 anos, apreciado por ter salvo a zona do euro em 2012 em meio à crise da dívida e por não pertencer a nenhuma corrente política.
Em oito anos sob o comando de Draghi, o Banco Central Europeu tomou medidas inimagináveis e até decidiu injetar liquidez por meio de compras maciças de ativos no mercado e empréstimos gigantescos a bancos para salvar a zona do euro.
E agora?
O primeiro desafio para Draghi é conseguir a maioria no parlamento, onde reina a desconfiança em relação a um líder "técnico", explicou o cientista político Wolfgango Piccoli, do gabinete de Teneo.
Draghi, cujo método de trabalho é "rápido e decisivo", resumiu nesta quarta-feira alguns dos desafios que deverá enfrentar diante das três emergências no país: saúde, econômica e social.
"Vencer a pandemia, dar continuidade à campanha de vacinação (...) e reativar o país", disse.
A Itália, com mais de 89 mil mortes desde o início da pandemia, registrou uma das piores quedas do PIB na zona do euro em 2020: -8,9%. /AFP