Para Entender: Sri Lanka, uma longa história de violência


País abriga mosaico étnico e religioso e sofreu por mais de 30 anos com conflito dos separatistas tâmeis; em 2018, conflitos chegaram também ao alto escalão do governo

Por Mujib Mashal
Atualização:

COLOMBO - Depois de uma guerra civil que se arrastou por quase 30 anos, o Sri Lanka desfrutou de uma década de relativa calma, rompida neste domingo, 21, quando uma série de explosões coordenadas matou mais de 200 pessoas.

Eis alguns antecedentes que ajudam a compreender estes últimos acontecimentos na pequena ilha conhecida por sua espetacular beleza natural que atraiu mais de dois milhões de turistas em 2018.

Budistas acendem incenso e rezam em templo na capital do Sri Lanka, Colombo Foto: Adam Dean/The New York Times
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População e grupos étnicos

O país se tornou independente do governo britânico em 1948 como o Domínio do Ceilão e passou a se chamar República do Sri Lanka em 1972.

Grande parte da sua história foi marcada por tensões sectárias. E mais recentemente o país foi atingido também pelas rivalidades regionais entre China e Índia.

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Cerca de 22 milhões de pessoas vivem no Sri Lanka, em comunidades tão diversas quanto miscigenadas. Mais de 70% da população é budista. Grupos religiosos menores abrangem hindus, com mais de 12% dos habitantes, muçulmanos, com menos de 10%, e católicos, com 7%. Pelo menos três igrejas foram alvo dos ataques à bomba no domingo.

Apesar de sua ampla maioria, os nacionalistas cingaleses budistas começaram a avivar temores de que grupos minoritários, particularmente muçulmanos, estariam aumentando sua influência e seu número. O fervor nacionalista provocou confrontos violentos.

Ruínas de casa destruída por grupos budistas durante ataques a muçulmanos em 2018 Foto: Adam Dean/The New York Times
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Tigres Tâmeis

Uma longa história de privação de direitos dos grupos minoritários tâmil, em sua grande maioria hindus, por parte dos budistas cingaleses, levou a uma guerra civil na década de 1980.

Os Tigres Tâmeis, grupo insurgente armado que se identifica como secular, lançou ataques incluindo o uso de atentados suicidas como tática de insurgência. Em resposta, o Exército de Sri Lança realizou campanhas brutais contra eles, concentradas principalmente no seu reduto a nordeste do país.

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A guerra civil chegou ao fim em 2009 após uma operação em grande escala do Exército que derrotou o grupo e matou seu líder.

Não se sabe exatamente o número de vítimas, mas segundo as Nações Unidas mais de 40 mil civis foram mortos somente na etapa final dessa guerra.

Depois da guerra, as cicatrizes persistem. Muito do ressentimento com relação ao preconceito sistemático que levou à guerra civil continua presente no país.

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As famílias tâmeis continuam à procura de milhares de pessoas que desapareceram durante a guerra e reivindicam terras ainda na posse do Exército. Os serviços de saúde tentam sanar o trauma devastador deixado por décadas de violência.

Com a ascensão do nacionalismo budista cingalês, as divisões sectárias cresceram e o país tem vivido novas ondas de violência. 

O aumento da intolerância é atribuído em parte ao triunfo pós-guerra de alguns políticos cingaleses que integram a maioria do governo. No ano passado, as autoridades declararam estado de emergência no distrito de Kandy, no centro do país, depois que bandos budistas atacaram empresas e residências pertencentes a muçulmanos.

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Embates no governo

Mahinda Rajapaksa (C), ex-presidente do Sri Lanka; sua indicação para premiê causou dois meses de tensões no país Foto: Adam Dean/The New York Times

O Sri Lanka também tem enfrentado tensões políticas dentro do próprio governo. Uma tentativa de derrubar o primeiro-ministro no ano passado resultou numa crise constitucional prolongada que ameaçou descambar para a violência. Por um breve período o país teve dois premiês ao mesmo tempo.

O presidente Maithripala Sirisena demitiu o primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe em outubro. Foi indicado para o seu lugar o ex-presidente e homem forte Mahinda Rajapaksa.

Quando ficou claro que Rajapaksa não tinha obtido os votos necessários dos congressistas para ser empossado como primeiro-ministro, Sirisena dissolveu o Parlamento.

A crise que durou dois meses paralisou o país. Confrontos nas ruas se alternaram, com milhares de seguidores de cada campo se manifestando, e o no Parlamento, onde os legisladores trocaram socos e tapas, chegando a atirar pó de pimenta um no outro.

Rajapaksa finalmente recuou e Wickremesinghe permaneceu no cargo. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

COLOMBO - Depois de uma guerra civil que se arrastou por quase 30 anos, o Sri Lanka desfrutou de uma década de relativa calma, rompida neste domingo, 21, quando uma série de explosões coordenadas matou mais de 200 pessoas.

Eis alguns antecedentes que ajudam a compreender estes últimos acontecimentos na pequena ilha conhecida por sua espetacular beleza natural que atraiu mais de dois milhões de turistas em 2018.

Budistas acendem incenso e rezam em templo na capital do Sri Lanka, Colombo Foto: Adam Dean/The New York Times

População e grupos étnicos

O país se tornou independente do governo britânico em 1948 como o Domínio do Ceilão e passou a se chamar República do Sri Lanka em 1972.

Grande parte da sua história foi marcada por tensões sectárias. E mais recentemente o país foi atingido também pelas rivalidades regionais entre China e Índia.

Cerca de 22 milhões de pessoas vivem no Sri Lanka, em comunidades tão diversas quanto miscigenadas. Mais de 70% da população é budista. Grupos religiosos menores abrangem hindus, com mais de 12% dos habitantes, muçulmanos, com menos de 10%, e católicos, com 7%. Pelo menos três igrejas foram alvo dos ataques à bomba no domingo.

Apesar de sua ampla maioria, os nacionalistas cingaleses budistas começaram a avivar temores de que grupos minoritários, particularmente muçulmanos, estariam aumentando sua influência e seu número. O fervor nacionalista provocou confrontos violentos.

Ruínas de casa destruída por grupos budistas durante ataques a muçulmanos em 2018 Foto: Adam Dean/The New York Times

Tigres Tâmeis

Uma longa história de privação de direitos dos grupos minoritários tâmil, em sua grande maioria hindus, por parte dos budistas cingaleses, levou a uma guerra civil na década de 1980.

Os Tigres Tâmeis, grupo insurgente armado que se identifica como secular, lançou ataques incluindo o uso de atentados suicidas como tática de insurgência. Em resposta, o Exército de Sri Lança realizou campanhas brutais contra eles, concentradas principalmente no seu reduto a nordeste do país.

A guerra civil chegou ao fim em 2009 após uma operação em grande escala do Exército que derrotou o grupo e matou seu líder.

Não se sabe exatamente o número de vítimas, mas segundo as Nações Unidas mais de 40 mil civis foram mortos somente na etapa final dessa guerra.

Depois da guerra, as cicatrizes persistem. Muito do ressentimento com relação ao preconceito sistemático que levou à guerra civil continua presente no país.

As famílias tâmeis continuam à procura de milhares de pessoas que desapareceram durante a guerra e reivindicam terras ainda na posse do Exército. Os serviços de saúde tentam sanar o trauma devastador deixado por décadas de violência.

Com a ascensão do nacionalismo budista cingalês, as divisões sectárias cresceram e o país tem vivido novas ondas de violência. 

O aumento da intolerância é atribuído em parte ao triunfo pós-guerra de alguns políticos cingaleses que integram a maioria do governo. No ano passado, as autoridades declararam estado de emergência no distrito de Kandy, no centro do país, depois que bandos budistas atacaram empresas e residências pertencentes a muçulmanos.

Embates no governo

Mahinda Rajapaksa (C), ex-presidente do Sri Lanka; sua indicação para premiê causou dois meses de tensões no país Foto: Adam Dean/The New York Times

O Sri Lanka também tem enfrentado tensões políticas dentro do próprio governo. Uma tentativa de derrubar o primeiro-ministro no ano passado resultou numa crise constitucional prolongada que ameaçou descambar para a violência. Por um breve período o país teve dois premiês ao mesmo tempo.

O presidente Maithripala Sirisena demitiu o primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe em outubro. Foi indicado para o seu lugar o ex-presidente e homem forte Mahinda Rajapaksa.

Quando ficou claro que Rajapaksa não tinha obtido os votos necessários dos congressistas para ser empossado como primeiro-ministro, Sirisena dissolveu o Parlamento.

A crise que durou dois meses paralisou o país. Confrontos nas ruas se alternaram, com milhares de seguidores de cada campo se manifestando, e o no Parlamento, onde os legisladores trocaram socos e tapas, chegando a atirar pó de pimenta um no outro.

Rajapaksa finalmente recuou e Wickremesinghe permaneceu no cargo. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

COLOMBO - Depois de uma guerra civil que se arrastou por quase 30 anos, o Sri Lanka desfrutou de uma década de relativa calma, rompida neste domingo, 21, quando uma série de explosões coordenadas matou mais de 200 pessoas.

Eis alguns antecedentes que ajudam a compreender estes últimos acontecimentos na pequena ilha conhecida por sua espetacular beleza natural que atraiu mais de dois milhões de turistas em 2018.

Budistas acendem incenso e rezam em templo na capital do Sri Lanka, Colombo Foto: Adam Dean/The New York Times

População e grupos étnicos

O país se tornou independente do governo britânico em 1948 como o Domínio do Ceilão e passou a se chamar República do Sri Lanka em 1972.

Grande parte da sua história foi marcada por tensões sectárias. E mais recentemente o país foi atingido também pelas rivalidades regionais entre China e Índia.

Cerca de 22 milhões de pessoas vivem no Sri Lanka, em comunidades tão diversas quanto miscigenadas. Mais de 70% da população é budista. Grupos religiosos menores abrangem hindus, com mais de 12% dos habitantes, muçulmanos, com menos de 10%, e católicos, com 7%. Pelo menos três igrejas foram alvo dos ataques à bomba no domingo.

Apesar de sua ampla maioria, os nacionalistas cingaleses budistas começaram a avivar temores de que grupos minoritários, particularmente muçulmanos, estariam aumentando sua influência e seu número. O fervor nacionalista provocou confrontos violentos.

Ruínas de casa destruída por grupos budistas durante ataques a muçulmanos em 2018 Foto: Adam Dean/The New York Times

Tigres Tâmeis

Uma longa história de privação de direitos dos grupos minoritários tâmil, em sua grande maioria hindus, por parte dos budistas cingaleses, levou a uma guerra civil na década de 1980.

Os Tigres Tâmeis, grupo insurgente armado que se identifica como secular, lançou ataques incluindo o uso de atentados suicidas como tática de insurgência. Em resposta, o Exército de Sri Lança realizou campanhas brutais contra eles, concentradas principalmente no seu reduto a nordeste do país.

A guerra civil chegou ao fim em 2009 após uma operação em grande escala do Exército que derrotou o grupo e matou seu líder.

Não se sabe exatamente o número de vítimas, mas segundo as Nações Unidas mais de 40 mil civis foram mortos somente na etapa final dessa guerra.

Depois da guerra, as cicatrizes persistem. Muito do ressentimento com relação ao preconceito sistemático que levou à guerra civil continua presente no país.

As famílias tâmeis continuam à procura de milhares de pessoas que desapareceram durante a guerra e reivindicam terras ainda na posse do Exército. Os serviços de saúde tentam sanar o trauma devastador deixado por décadas de violência.

Com a ascensão do nacionalismo budista cingalês, as divisões sectárias cresceram e o país tem vivido novas ondas de violência. 

O aumento da intolerância é atribuído em parte ao triunfo pós-guerra de alguns políticos cingaleses que integram a maioria do governo. No ano passado, as autoridades declararam estado de emergência no distrito de Kandy, no centro do país, depois que bandos budistas atacaram empresas e residências pertencentes a muçulmanos.

Embates no governo

Mahinda Rajapaksa (C), ex-presidente do Sri Lanka; sua indicação para premiê causou dois meses de tensões no país Foto: Adam Dean/The New York Times

O Sri Lanka também tem enfrentado tensões políticas dentro do próprio governo. Uma tentativa de derrubar o primeiro-ministro no ano passado resultou numa crise constitucional prolongada que ameaçou descambar para a violência. Por um breve período o país teve dois premiês ao mesmo tempo.

O presidente Maithripala Sirisena demitiu o primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe em outubro. Foi indicado para o seu lugar o ex-presidente e homem forte Mahinda Rajapaksa.

Quando ficou claro que Rajapaksa não tinha obtido os votos necessários dos congressistas para ser empossado como primeiro-ministro, Sirisena dissolveu o Parlamento.

A crise que durou dois meses paralisou o país. Confrontos nas ruas se alternaram, com milhares de seguidores de cada campo se manifestando, e o no Parlamento, onde os legisladores trocaram socos e tapas, chegando a atirar pó de pimenta um no outro.

Rajapaksa finalmente recuou e Wickremesinghe permaneceu no cargo. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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