Opinião|Para Israel, a vingança contra o Irã deveria ser um prato que se come frio


Israel trava guerra não concluída contra o Hamas em Gaza, e um ataque israelense direto contra o Irã poderia abrir uma segunda guerra na região

Por Bret Stephens
Atualização:

Após vários dias em que o líder-supremo Ali Khamenei prometeu repetidamente que “o malévolo regime sionista” seria punido por seu ataque de 1.º de abril contra o complexo da Embaixada do Irã em Damasco, que matou sete conselheiros militares iranianos, incluindo três altos comandantes, a República Islâmica atacou. Mais de 300 drones e mísseis foram lançados do território iraniano contra Israel no sábado. Quase todos foram interceptados, principalmente por defesas israelenses ou americanas, e o ataque matou, segundo noticiou-se, apenas uma pessoa em Israel, uma menina de uma comunidade beduína ferida por estilhaços.

Será que vai acabar por aí?

Não é segredo que Israel e Irã travam uma guerra nas sombras há décadas. O ataque do fim de semana é notável por duas razões: foi direto e ineficaz. Os comandantes militares iranianos sem dúvida sabiam que a maioria de seus lentos drones, cerca de 170 no total, seria derrubada antes de atingir seus alvos. Os drones eram uma distração. Esses comandantes provavelmente ficaram mais surpresos que seus 30 mísseis de cruzeiro e 120 mísseis balísticos também infligiram um dano mínimo.

continua após a publicidade
Imagem mostra céu de Jerusalém após ataques de mísseis e drones do Irã contra Israel, na madrugada deste domingo, 14. Trata-se da primeira vez que o Irã ataca Israel diretamente Foto: Ronen Zvulun/Reuters

Isso deveria ensinar uma lição clara para os líderes iranianos: eles não têm capacidade tecnológica suficiente para combater o Estado judaico, especialmente quando os Estados Unidos o ajuda. Se Israel responder com ataques diretos ao Irã — talvez contra instalações de processamento de petróleo, usinas nucleares ou infraestruturas militares — Israel dificilmente errará seus alvos.

Conforme escrevo este artigo, o gabinete israelense debate esta questão. Em termos de autodefesa, Israel tem todo direito moral e legal de responder à altura — e mais um pouco. Não é suficiente para Israel demonstrar sua capacidade de defesa, como durante o fim de semana. Israel tem também que restabelecer sua capacidade de dissuasão. Ou seja, precisa mostrar para os líderes do Irã que o preço de tirar das sombras sua guerra contra Israel será insuportavelmente alto e portanto não deverá voltar a ser pago.

continua após a publicidade

Mas, assim como direito, prudência também é algo a se considerar. Israel trava uma guerra não concluída contra o Hamas em Gaza, e um ataque israelense direto contra o Irã poderia abrir uma segunda guerra em escala total contra o Hezbollah no Líbano, ou talvez contra o próprio Irã. A maioria dos israelenses compreende que essa guerra em particular terá de ser travada cedo ou tarde — talvez antes do fim do verão (Hemisfério Norte) — e que esse conflito será muito mais duro para eles do que a guerra em Gaza tem sido até aqui.

Uma guerra contra o Hezbollah, porém, exigirá duas coisas: a plena concentração da capacidade de combate de Israel e o apoio contínuo dos EUA.

continua após a publicidade

O ataque do Irã e a louvável participação do governo Biden na defesa de Israel representam uma oportunidade para Binyamin Netanyahu consertar relações desgastadas com Washington e outros governos ocidentais mostrando comedimento. Entre outras coisas, isso pode ajudar a mobilizar a Câmara dos Deputados dos EUA a finalmente votar o pacote de assistência militar para Ucrânia e Israel que o Senado americano aprovou em fevereiro — o que também daria tempo para Israel destruir o que resta das forças militares do Hamas em Gaza.

Um ataque israelense neste momento não teria o elemento-surpresa como vantagem adicional. Israel não é superior ao Irã apenas em tecnologia, tem também agências de inteligência melhores — conforme demonstrado pelos assassinatos de importantes cientistas nucleares e altos comandantes iranianos, assim como pelo espetacular roubo de dossiês nucleares secretos de Teerã em 2018. A natureza clandestina dessa guerra colaborou para manter o governo iraniano paranoico, vulnerável e conjecturando. É assim que um país sábio quer que seu inimigo fique.

Isso não significa que Israel deveria simplesmente não responder. Israel encontrará oportunidades de alvejar seu inimigo onde mais dói — no momento de sua escolha. E o Irã, evidentemente, também — mas Teerã agiria assim de qualquer maneira. Instalações diplomáticas de Israel sempre foram vulneráveis a ataques iranianos, assim como civis judeus. Nós fomos lembrados disso novamente na quinta-feira, quando um tribunal da Argentina finalmente responsabilizou o Irã pelo ataque de 1994 contra um centro cultural judaico em Buenos Aires que matou 85 pessoas e feriu centenas.

continua após a publicidade

Não significa tampouco que Israel não mereça o apoio total do presidente Joe Biden se escolher retaliar. O aiatolá Khamenei certamente teve em conta a fricção entre Israel e o Ocidente por causa de Gaza ao ordenar o ataque. A claridade entre Israel e EUA com frequência incentiva estrepolias de inimigos comuns aos dois países. Biden tem razões políticas para evitar outra guerra regional em escala total em um ano de eleição. Mas a melhor maneira de evitar esse conflito é mostrar aos iranianos que eles são incapazes de separar Israel e EUA iniciando uma guerra.

As decisões críticas dos últimos 50 anos que levaram o Oriente Médio ao ponto em que a região se encontra hoje têm uma origem em comum: a Revolução Islâmica de 1979 no Irã, que levou ao poder um despotismo teocrático dedicado a semear fanatismo, castigar seu próprio povo, destruir Israel e prejudicar a região inteira em nome de objetivos ideológicos. O ataque de mísseis do sábado é o exemplo mais recente de um registro longo e nefasto. Mas, conforme decidem como reagir, os israelenses serviriam melhor ao seu interesse recordando-se daquele útil ditado segundo o qual a vingança é um prato que se come frio. /TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Após vários dias em que o líder-supremo Ali Khamenei prometeu repetidamente que “o malévolo regime sionista” seria punido por seu ataque de 1.º de abril contra o complexo da Embaixada do Irã em Damasco, que matou sete conselheiros militares iranianos, incluindo três altos comandantes, a República Islâmica atacou. Mais de 300 drones e mísseis foram lançados do território iraniano contra Israel no sábado. Quase todos foram interceptados, principalmente por defesas israelenses ou americanas, e o ataque matou, segundo noticiou-se, apenas uma pessoa em Israel, uma menina de uma comunidade beduína ferida por estilhaços.

Será que vai acabar por aí?

Não é segredo que Israel e Irã travam uma guerra nas sombras há décadas. O ataque do fim de semana é notável por duas razões: foi direto e ineficaz. Os comandantes militares iranianos sem dúvida sabiam que a maioria de seus lentos drones, cerca de 170 no total, seria derrubada antes de atingir seus alvos. Os drones eram uma distração. Esses comandantes provavelmente ficaram mais surpresos que seus 30 mísseis de cruzeiro e 120 mísseis balísticos também infligiram um dano mínimo.

Imagem mostra céu de Jerusalém após ataques de mísseis e drones do Irã contra Israel, na madrugada deste domingo, 14. Trata-se da primeira vez que o Irã ataca Israel diretamente Foto: Ronen Zvulun/Reuters

Isso deveria ensinar uma lição clara para os líderes iranianos: eles não têm capacidade tecnológica suficiente para combater o Estado judaico, especialmente quando os Estados Unidos o ajuda. Se Israel responder com ataques diretos ao Irã — talvez contra instalações de processamento de petróleo, usinas nucleares ou infraestruturas militares — Israel dificilmente errará seus alvos.

Conforme escrevo este artigo, o gabinete israelense debate esta questão. Em termos de autodefesa, Israel tem todo direito moral e legal de responder à altura — e mais um pouco. Não é suficiente para Israel demonstrar sua capacidade de defesa, como durante o fim de semana. Israel tem também que restabelecer sua capacidade de dissuasão. Ou seja, precisa mostrar para os líderes do Irã que o preço de tirar das sombras sua guerra contra Israel será insuportavelmente alto e portanto não deverá voltar a ser pago.

Mas, assim como direito, prudência também é algo a se considerar. Israel trava uma guerra não concluída contra o Hamas em Gaza, e um ataque israelense direto contra o Irã poderia abrir uma segunda guerra em escala total contra o Hezbollah no Líbano, ou talvez contra o próprio Irã. A maioria dos israelenses compreende que essa guerra em particular terá de ser travada cedo ou tarde — talvez antes do fim do verão (Hemisfério Norte) — e que esse conflito será muito mais duro para eles do que a guerra em Gaza tem sido até aqui.

Uma guerra contra o Hezbollah, porém, exigirá duas coisas: a plena concentração da capacidade de combate de Israel e o apoio contínuo dos EUA.

O ataque do Irã e a louvável participação do governo Biden na defesa de Israel representam uma oportunidade para Binyamin Netanyahu consertar relações desgastadas com Washington e outros governos ocidentais mostrando comedimento. Entre outras coisas, isso pode ajudar a mobilizar a Câmara dos Deputados dos EUA a finalmente votar o pacote de assistência militar para Ucrânia e Israel que o Senado americano aprovou em fevereiro — o que também daria tempo para Israel destruir o que resta das forças militares do Hamas em Gaza.

Um ataque israelense neste momento não teria o elemento-surpresa como vantagem adicional. Israel não é superior ao Irã apenas em tecnologia, tem também agências de inteligência melhores — conforme demonstrado pelos assassinatos de importantes cientistas nucleares e altos comandantes iranianos, assim como pelo espetacular roubo de dossiês nucleares secretos de Teerã em 2018. A natureza clandestina dessa guerra colaborou para manter o governo iraniano paranoico, vulnerável e conjecturando. É assim que um país sábio quer que seu inimigo fique.

Isso não significa que Israel deveria simplesmente não responder. Israel encontrará oportunidades de alvejar seu inimigo onde mais dói — no momento de sua escolha. E o Irã, evidentemente, também — mas Teerã agiria assim de qualquer maneira. Instalações diplomáticas de Israel sempre foram vulneráveis a ataques iranianos, assim como civis judeus. Nós fomos lembrados disso novamente na quinta-feira, quando um tribunal da Argentina finalmente responsabilizou o Irã pelo ataque de 1994 contra um centro cultural judaico em Buenos Aires que matou 85 pessoas e feriu centenas.

Não significa tampouco que Israel não mereça o apoio total do presidente Joe Biden se escolher retaliar. O aiatolá Khamenei certamente teve em conta a fricção entre Israel e o Ocidente por causa de Gaza ao ordenar o ataque. A claridade entre Israel e EUA com frequência incentiva estrepolias de inimigos comuns aos dois países. Biden tem razões políticas para evitar outra guerra regional em escala total em um ano de eleição. Mas a melhor maneira de evitar esse conflito é mostrar aos iranianos que eles são incapazes de separar Israel e EUA iniciando uma guerra.

As decisões críticas dos últimos 50 anos que levaram o Oriente Médio ao ponto em que a região se encontra hoje têm uma origem em comum: a Revolução Islâmica de 1979 no Irã, que levou ao poder um despotismo teocrático dedicado a semear fanatismo, castigar seu próprio povo, destruir Israel e prejudicar a região inteira em nome de objetivos ideológicos. O ataque de mísseis do sábado é o exemplo mais recente de um registro longo e nefasto. Mas, conforme decidem como reagir, os israelenses serviriam melhor ao seu interesse recordando-se daquele útil ditado segundo o qual a vingança é um prato que se come frio. /TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Após vários dias em que o líder-supremo Ali Khamenei prometeu repetidamente que “o malévolo regime sionista” seria punido por seu ataque de 1.º de abril contra o complexo da Embaixada do Irã em Damasco, que matou sete conselheiros militares iranianos, incluindo três altos comandantes, a República Islâmica atacou. Mais de 300 drones e mísseis foram lançados do território iraniano contra Israel no sábado. Quase todos foram interceptados, principalmente por defesas israelenses ou americanas, e o ataque matou, segundo noticiou-se, apenas uma pessoa em Israel, uma menina de uma comunidade beduína ferida por estilhaços.

Será que vai acabar por aí?

Não é segredo que Israel e Irã travam uma guerra nas sombras há décadas. O ataque do fim de semana é notável por duas razões: foi direto e ineficaz. Os comandantes militares iranianos sem dúvida sabiam que a maioria de seus lentos drones, cerca de 170 no total, seria derrubada antes de atingir seus alvos. Os drones eram uma distração. Esses comandantes provavelmente ficaram mais surpresos que seus 30 mísseis de cruzeiro e 120 mísseis balísticos também infligiram um dano mínimo.

Imagem mostra céu de Jerusalém após ataques de mísseis e drones do Irã contra Israel, na madrugada deste domingo, 14. Trata-se da primeira vez que o Irã ataca Israel diretamente Foto: Ronen Zvulun/Reuters

Isso deveria ensinar uma lição clara para os líderes iranianos: eles não têm capacidade tecnológica suficiente para combater o Estado judaico, especialmente quando os Estados Unidos o ajuda. Se Israel responder com ataques diretos ao Irã — talvez contra instalações de processamento de petróleo, usinas nucleares ou infraestruturas militares — Israel dificilmente errará seus alvos.

Conforme escrevo este artigo, o gabinete israelense debate esta questão. Em termos de autodefesa, Israel tem todo direito moral e legal de responder à altura — e mais um pouco. Não é suficiente para Israel demonstrar sua capacidade de defesa, como durante o fim de semana. Israel tem também que restabelecer sua capacidade de dissuasão. Ou seja, precisa mostrar para os líderes do Irã que o preço de tirar das sombras sua guerra contra Israel será insuportavelmente alto e portanto não deverá voltar a ser pago.

Mas, assim como direito, prudência também é algo a se considerar. Israel trava uma guerra não concluída contra o Hamas em Gaza, e um ataque israelense direto contra o Irã poderia abrir uma segunda guerra em escala total contra o Hezbollah no Líbano, ou talvez contra o próprio Irã. A maioria dos israelenses compreende que essa guerra em particular terá de ser travada cedo ou tarde — talvez antes do fim do verão (Hemisfério Norte) — e que esse conflito será muito mais duro para eles do que a guerra em Gaza tem sido até aqui.

Uma guerra contra o Hezbollah, porém, exigirá duas coisas: a plena concentração da capacidade de combate de Israel e o apoio contínuo dos EUA.

O ataque do Irã e a louvável participação do governo Biden na defesa de Israel representam uma oportunidade para Binyamin Netanyahu consertar relações desgastadas com Washington e outros governos ocidentais mostrando comedimento. Entre outras coisas, isso pode ajudar a mobilizar a Câmara dos Deputados dos EUA a finalmente votar o pacote de assistência militar para Ucrânia e Israel que o Senado americano aprovou em fevereiro — o que também daria tempo para Israel destruir o que resta das forças militares do Hamas em Gaza.

Um ataque israelense neste momento não teria o elemento-surpresa como vantagem adicional. Israel não é superior ao Irã apenas em tecnologia, tem também agências de inteligência melhores — conforme demonstrado pelos assassinatos de importantes cientistas nucleares e altos comandantes iranianos, assim como pelo espetacular roubo de dossiês nucleares secretos de Teerã em 2018. A natureza clandestina dessa guerra colaborou para manter o governo iraniano paranoico, vulnerável e conjecturando. É assim que um país sábio quer que seu inimigo fique.

Isso não significa que Israel deveria simplesmente não responder. Israel encontrará oportunidades de alvejar seu inimigo onde mais dói — no momento de sua escolha. E o Irã, evidentemente, também — mas Teerã agiria assim de qualquer maneira. Instalações diplomáticas de Israel sempre foram vulneráveis a ataques iranianos, assim como civis judeus. Nós fomos lembrados disso novamente na quinta-feira, quando um tribunal da Argentina finalmente responsabilizou o Irã pelo ataque de 1994 contra um centro cultural judaico em Buenos Aires que matou 85 pessoas e feriu centenas.

Não significa tampouco que Israel não mereça o apoio total do presidente Joe Biden se escolher retaliar. O aiatolá Khamenei certamente teve em conta a fricção entre Israel e o Ocidente por causa de Gaza ao ordenar o ataque. A claridade entre Israel e EUA com frequência incentiva estrepolias de inimigos comuns aos dois países. Biden tem razões políticas para evitar outra guerra regional em escala total em um ano de eleição. Mas a melhor maneira de evitar esse conflito é mostrar aos iranianos que eles são incapazes de separar Israel e EUA iniciando uma guerra.

As decisões críticas dos últimos 50 anos que levaram o Oriente Médio ao ponto em que a região se encontra hoje têm uma origem em comum: a Revolução Islâmica de 1979 no Irã, que levou ao poder um despotismo teocrático dedicado a semear fanatismo, castigar seu próprio povo, destruir Israel e prejudicar a região inteira em nome de objetivos ideológicos. O ataque de mísseis do sábado é o exemplo mais recente de um registro longo e nefasto. Mas, conforme decidem como reagir, os israelenses serviriam melhor ao seu interesse recordando-se daquele útil ditado segundo o qual a vingança é um prato que se come frio. /TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Opinião por Bret Stephens

É colunista de opinião do 'The New York Times', escrevendo a respeito de política externa, política doméstica e questões culturais.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.