‘Parente’ de Colombo, falso dono de hotel: quem é o brasileiro que morou 5 anos quase de graça em NY


Mickey Barreto se beneficiou de uma lei de 1969 para permanecer 5 anos em um histórico hotel da cidade de Nova York

Por Redação
Atualização:

O brasileiro Mickey Barreto ficou surpreso quando policiais armados tocaram a campainha do apartamento de seu namorado, Matthew Hannan, em Nova York no dia 13 de fevereiro com o intuito de prendê-lo.

Em entrevista à emissora americana NBC News, o brasileiro de 48 anos apontou que afirmou ao seu namorado que acreditava que os policiais que estavam na porta poderiam fazer parte de uma brincadeira de Hannan por conta do Dia dos Namorados. “Achei que era uma brincadeira até ver as policiais mulheres”, diz Barreto.

O brasileiro foi preso e autuado mais tarde naquela manhã em um tribunal de Manhattan por 24 acusações — incluindo 14 acusações de fraude — no que os promotores disseram ser um esquema criminoso para reivindicar a propriedade do New Yorker Hotel, um emblemático hotel art déco de 4 estrelas na Oitava Avenida.

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Mickey Barreto nasceu no Brasil e foi para os Estados Unidos na década de 1990 para cursar faculdade Foto: John Taggart/The New York Times

Histórico

Mickey Barreto é natural de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul e se mudou para os Estados Unidos nos anos 90. Em entrevista ao The New York Times, um parente de Barreto afirmou que ele se destacou na escola no Brasil, nunca se envolveu em problemas e era considerado particularmente talentoso — a criança mais inteligente da família.

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O brasileiro disse que sofre ataques de pânico e convulsões, mas insistiu que nunca havia sido diagnosticado com uma doença mental.

Ele morou em Los Angeles até 2018, quando se mudou para Nova York após seu namorado comentar sobre uma brecha na legislação de Nova York que permite que ocupantes de quartos individuais em prédios construídos antes de 1969 tenham a possibilidade de alugar o espaço por seis meses. Barreto deu entrada no New Yorker Hotel, pagou US$ 200,57 (R$ 1002,98) por uma diária e alegou que poderia ser inquilino do hotel por conta disso.

O brasileiro tem grande interesse por genealogia e afirma, sem ter provas, que é primo de primeiro grau do filho mais velho de Cristóvão Colombo. Barreto também diz ser líder de uma tribo indígena que fundou no Brasil. Durante o processo, ele começou a invocar o nome do explorador — “Meu nome de família é ‘Muniz Barreto Colombo’”, escreveu ele em uma audiência em 2021.

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De acordo com Barreto, ele nunca contratou um advogado para representá-lo em seus casos civis, apenas na esfera criminal.

Em junho de 2018, Mickey Barreto fez o check-in no New Yorker Hotel, um emblemático hotel art deco de 4 estrelas na oitava avenida Foto: John Taggart/The New York Times

Entenda o caso

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O brasileiro se instalou em um quarto do New Yorker Hotel em junho de 2018. Ele havia pago apenas uma diária, mas no dia seguinte a sua chegada Barreto entregou uma carta endereçada ao gerente afirmando que ele queria um contrato de aluguel de seis meses.

O funcionário que estava na recepção ligou para o gerente e, após uma breve troca de mensagens, Barreto foi informado de que não existia contrato de aluguel no hotel e que, sem reservar outra noite, ele teria que desocupar o quarto até o meio-dia. Os sócios não retiraram seus pertences. Então os funcionários do hotel o fizeram — e Barreto dirigiu-se ao Tribunal de Habitação da Cidade de Nova York, em Lower Manhattan, e processou o hotel.

Barreto conseguiu permanecer no hotel por conta de uma lei aprovada em 1969 que criou um sistema de regulamentação de aluguéis em toda a cidade. Alguns hotéis também estavam sujeitos a lei, especificamente os hotéis construídos antes de 1969, cujos quartos podiam ser alugados por menos de US$ 88 (R$ 440) por semana em maio de 1968.

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De acordo com a lei, um hóspede de hotel poderia se tornar um residente permanente solicitando um aluguel com desconto. E qualquer hóspede que se tornasse residente também deveria ter acesso aos mesmos serviços de um hóspede noturno, incluindo serviço de quarto, limpeza e uso de instalações, como a academia.

O quarto se torna, essencialmente, um apartamento subsidiado por aluguel dentro de um hotel. Apesar da suposição plausível de que o empreendimento havia sido orquestrado desde o início, Barreto alegou que a ideia só tomou forma quando a pesquisa on-line dele e de Hannan se deparou com a 27ª linha de uma planilha de 295 páginas intitulada “Lista de edifícios de Manhattan que contêm unidades estabilizadas”.

Em uma audiência em 10 de julho, na ausência de qualquer representante do hotel para se opor ao processo, o juiz, Jack Stoller, decidiu a favor de Barreto. O juiz Stoller não apenas concordou com seus argumentos; ele até citou a mesma jurisprudência que Barreto e ordenou que o hotel “devolvesse ao requerente a posse das instalações em questão imediatamente, fornecendo-lhe uma chave”.

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De volta ao seu quarto, dias depois da decisão, os sócios leram a decisão do juiz Stoller várias vezes. Nela, não havia nenhuma ordem para que o hotel fornecesse um contrato de aluguel, nenhum limite para a estadia deles, nenhuma sugestão de que o aluguel era devido.

Mas uma palavra foi mencionada o tempo todo: posse. Barreto recebeu a “sentença final de posse”. Barreto disse que ligou para o tribunal para pedir a alguém que explicasse o que isso significava exatamente.

“O senhor tem a posse”, disse Barreto — enfatizando de forma aguda e lenta cada sílaba da última palavra — que lhe foi dito. “O senhor não é um locatário. Você tem a posse de um imóvel”. Com a ordem do juiz em mãos, Barreto e Hannan visitaram os escritórios do departamento em Lower Manhattan. Barreto disse que perguntou a um funcionário sobre a possibilidade de colocar o quarto 2565 em seu nome — como um novo proprietário faria — mas foi informado de que isso seria impossível porque o hotel, ao contrário dos apartamentos, não estava dividido nos registros da cidade por quartos.

A propriedade tinha uma entidade no arquivo, o próprio hotel, identificado nos registros da cidade como Bloco 758, Lote 37. Assim, citando a ordem do juiz, Barreto preencheu a papelada declarando sua propriedade. “Se eu tiver o direito de registrar tudo”, Barreto lembra-se de ter pensado, “então registrarei tudo”.

Barreto então tentou cobrar diversas entidades como proprietário do prédio, incluindo exigir aluguel de hóspedes do hotel e pedir as contas do hotel ao banco, segundo a NBC News.

“Conforme alegado, Mickey Barreto reivindicou repetida e fraudulentamente a propriedade de um dos marcos mais emblemáticos da cidade, o New Yorker Hotel”, afirmou o promotor distrital de Manhattan, Alvin Bragg.

No ano passado, a Igreja da Unificação, proprietária do imóvel, teve sucesso no tribunal em uma ação contra Barreto. Um juiz decidiu a favor do hotel, citando a recusa de Barreto em pagar ou assinar um contrato de aluguel. Ele foi despejado em julho.

A localização central do hotel em Manhattan ainda atrai muitos hóspedes Foto: John Taggart/The New York Times

Coreia do Norte

O brasileiro se aprofundou nas origens da Igreja da Unificação na Península Coreana. Ele começou a acreditar que os líderes da igreja estavam enviando sua renda, inclusive do hotel, para a Coreia do Norte, violando as sanções impostas pelos Estados Unidos. O líder da Igreja da Unificação. Sun Myung Moon, nasceu onde hoje é a Coreia do Norte, mas antes da separação com a Coreia do Sul.

O brasileiro afirma que sua intenção não era cometer fraude e que ele não acredita que fez nada de errado. “Eu nunca ganhei um centavo disso”. Ele aponta que sua disputa legal faz parte de seu ativismo para negar lucros à Igreja da Unificação.

Em uma entrevista, Barreto disse que suas preocupações com as finanças da organização religiosa se tornaram o principal motivo para permanecer no hotel. Ele chamou isso de seu dever patriótico como cidadão americano, comparando seus esforços a alguém que conseguiu deter um dos sequestradores antes dos ataques de 11 de setembro.

“Sinto muito por ter interrompido sua tentativa de financiar armas de destruição em massa”, disse Barreto. “É Mickey Barreto contra a Coreia do Norte”.

O brasileiro Mickey Barreto ficou surpreso quando policiais armados tocaram a campainha do apartamento de seu namorado, Matthew Hannan, em Nova York no dia 13 de fevereiro com o intuito de prendê-lo.

Em entrevista à emissora americana NBC News, o brasileiro de 48 anos apontou que afirmou ao seu namorado que acreditava que os policiais que estavam na porta poderiam fazer parte de uma brincadeira de Hannan por conta do Dia dos Namorados. “Achei que era uma brincadeira até ver as policiais mulheres”, diz Barreto.

O brasileiro foi preso e autuado mais tarde naquela manhã em um tribunal de Manhattan por 24 acusações — incluindo 14 acusações de fraude — no que os promotores disseram ser um esquema criminoso para reivindicar a propriedade do New Yorker Hotel, um emblemático hotel art déco de 4 estrelas na Oitava Avenida.

Mickey Barreto nasceu no Brasil e foi para os Estados Unidos na década de 1990 para cursar faculdade Foto: John Taggart/The New York Times

Histórico

Mickey Barreto é natural de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul e se mudou para os Estados Unidos nos anos 90. Em entrevista ao The New York Times, um parente de Barreto afirmou que ele se destacou na escola no Brasil, nunca se envolveu em problemas e era considerado particularmente talentoso — a criança mais inteligente da família.

O brasileiro disse que sofre ataques de pânico e convulsões, mas insistiu que nunca havia sido diagnosticado com uma doença mental.

Ele morou em Los Angeles até 2018, quando se mudou para Nova York após seu namorado comentar sobre uma brecha na legislação de Nova York que permite que ocupantes de quartos individuais em prédios construídos antes de 1969 tenham a possibilidade de alugar o espaço por seis meses. Barreto deu entrada no New Yorker Hotel, pagou US$ 200,57 (R$ 1002,98) por uma diária e alegou que poderia ser inquilino do hotel por conta disso.

O brasileiro tem grande interesse por genealogia e afirma, sem ter provas, que é primo de primeiro grau do filho mais velho de Cristóvão Colombo. Barreto também diz ser líder de uma tribo indígena que fundou no Brasil. Durante o processo, ele começou a invocar o nome do explorador — “Meu nome de família é ‘Muniz Barreto Colombo’”, escreveu ele em uma audiência em 2021.

De acordo com Barreto, ele nunca contratou um advogado para representá-lo em seus casos civis, apenas na esfera criminal.

Em junho de 2018, Mickey Barreto fez o check-in no New Yorker Hotel, um emblemático hotel art deco de 4 estrelas na oitava avenida Foto: John Taggart/The New York Times

Entenda o caso

O brasileiro se instalou em um quarto do New Yorker Hotel em junho de 2018. Ele havia pago apenas uma diária, mas no dia seguinte a sua chegada Barreto entregou uma carta endereçada ao gerente afirmando que ele queria um contrato de aluguel de seis meses.

O funcionário que estava na recepção ligou para o gerente e, após uma breve troca de mensagens, Barreto foi informado de que não existia contrato de aluguel no hotel e que, sem reservar outra noite, ele teria que desocupar o quarto até o meio-dia. Os sócios não retiraram seus pertences. Então os funcionários do hotel o fizeram — e Barreto dirigiu-se ao Tribunal de Habitação da Cidade de Nova York, em Lower Manhattan, e processou o hotel.

Barreto conseguiu permanecer no hotel por conta de uma lei aprovada em 1969 que criou um sistema de regulamentação de aluguéis em toda a cidade. Alguns hotéis também estavam sujeitos a lei, especificamente os hotéis construídos antes de 1969, cujos quartos podiam ser alugados por menos de US$ 88 (R$ 440) por semana em maio de 1968.

De acordo com a lei, um hóspede de hotel poderia se tornar um residente permanente solicitando um aluguel com desconto. E qualquer hóspede que se tornasse residente também deveria ter acesso aos mesmos serviços de um hóspede noturno, incluindo serviço de quarto, limpeza e uso de instalações, como a academia.

O quarto se torna, essencialmente, um apartamento subsidiado por aluguel dentro de um hotel. Apesar da suposição plausível de que o empreendimento havia sido orquestrado desde o início, Barreto alegou que a ideia só tomou forma quando a pesquisa on-line dele e de Hannan se deparou com a 27ª linha de uma planilha de 295 páginas intitulada “Lista de edifícios de Manhattan que contêm unidades estabilizadas”.

Em uma audiência em 10 de julho, na ausência de qualquer representante do hotel para se opor ao processo, o juiz, Jack Stoller, decidiu a favor de Barreto. O juiz Stoller não apenas concordou com seus argumentos; ele até citou a mesma jurisprudência que Barreto e ordenou que o hotel “devolvesse ao requerente a posse das instalações em questão imediatamente, fornecendo-lhe uma chave”.

De volta ao seu quarto, dias depois da decisão, os sócios leram a decisão do juiz Stoller várias vezes. Nela, não havia nenhuma ordem para que o hotel fornecesse um contrato de aluguel, nenhum limite para a estadia deles, nenhuma sugestão de que o aluguel era devido.

Mas uma palavra foi mencionada o tempo todo: posse. Barreto recebeu a “sentença final de posse”. Barreto disse que ligou para o tribunal para pedir a alguém que explicasse o que isso significava exatamente.

“O senhor tem a posse”, disse Barreto — enfatizando de forma aguda e lenta cada sílaba da última palavra — que lhe foi dito. “O senhor não é um locatário. Você tem a posse de um imóvel”. Com a ordem do juiz em mãos, Barreto e Hannan visitaram os escritórios do departamento em Lower Manhattan. Barreto disse que perguntou a um funcionário sobre a possibilidade de colocar o quarto 2565 em seu nome — como um novo proprietário faria — mas foi informado de que isso seria impossível porque o hotel, ao contrário dos apartamentos, não estava dividido nos registros da cidade por quartos.

A propriedade tinha uma entidade no arquivo, o próprio hotel, identificado nos registros da cidade como Bloco 758, Lote 37. Assim, citando a ordem do juiz, Barreto preencheu a papelada declarando sua propriedade. “Se eu tiver o direito de registrar tudo”, Barreto lembra-se de ter pensado, “então registrarei tudo”.

Barreto então tentou cobrar diversas entidades como proprietário do prédio, incluindo exigir aluguel de hóspedes do hotel e pedir as contas do hotel ao banco, segundo a NBC News.

“Conforme alegado, Mickey Barreto reivindicou repetida e fraudulentamente a propriedade de um dos marcos mais emblemáticos da cidade, o New Yorker Hotel”, afirmou o promotor distrital de Manhattan, Alvin Bragg.

No ano passado, a Igreja da Unificação, proprietária do imóvel, teve sucesso no tribunal em uma ação contra Barreto. Um juiz decidiu a favor do hotel, citando a recusa de Barreto em pagar ou assinar um contrato de aluguel. Ele foi despejado em julho.

A localização central do hotel em Manhattan ainda atrai muitos hóspedes Foto: John Taggart/The New York Times

Coreia do Norte

O brasileiro se aprofundou nas origens da Igreja da Unificação na Península Coreana. Ele começou a acreditar que os líderes da igreja estavam enviando sua renda, inclusive do hotel, para a Coreia do Norte, violando as sanções impostas pelos Estados Unidos. O líder da Igreja da Unificação. Sun Myung Moon, nasceu onde hoje é a Coreia do Norte, mas antes da separação com a Coreia do Sul.

O brasileiro afirma que sua intenção não era cometer fraude e que ele não acredita que fez nada de errado. “Eu nunca ganhei um centavo disso”. Ele aponta que sua disputa legal faz parte de seu ativismo para negar lucros à Igreja da Unificação.

Em uma entrevista, Barreto disse que suas preocupações com as finanças da organização religiosa se tornaram o principal motivo para permanecer no hotel. Ele chamou isso de seu dever patriótico como cidadão americano, comparando seus esforços a alguém que conseguiu deter um dos sequestradores antes dos ataques de 11 de setembro.

“Sinto muito por ter interrompido sua tentativa de financiar armas de destruição em massa”, disse Barreto. “É Mickey Barreto contra a Coreia do Norte”.

O brasileiro Mickey Barreto ficou surpreso quando policiais armados tocaram a campainha do apartamento de seu namorado, Matthew Hannan, em Nova York no dia 13 de fevereiro com o intuito de prendê-lo.

Em entrevista à emissora americana NBC News, o brasileiro de 48 anos apontou que afirmou ao seu namorado que acreditava que os policiais que estavam na porta poderiam fazer parte de uma brincadeira de Hannan por conta do Dia dos Namorados. “Achei que era uma brincadeira até ver as policiais mulheres”, diz Barreto.

O brasileiro foi preso e autuado mais tarde naquela manhã em um tribunal de Manhattan por 24 acusações — incluindo 14 acusações de fraude — no que os promotores disseram ser um esquema criminoso para reivindicar a propriedade do New Yorker Hotel, um emblemático hotel art déco de 4 estrelas na Oitava Avenida.

Mickey Barreto nasceu no Brasil e foi para os Estados Unidos na década de 1990 para cursar faculdade Foto: John Taggart/The New York Times

Histórico

Mickey Barreto é natural de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul e se mudou para os Estados Unidos nos anos 90. Em entrevista ao The New York Times, um parente de Barreto afirmou que ele se destacou na escola no Brasil, nunca se envolveu em problemas e era considerado particularmente talentoso — a criança mais inteligente da família.

O brasileiro disse que sofre ataques de pânico e convulsões, mas insistiu que nunca havia sido diagnosticado com uma doença mental.

Ele morou em Los Angeles até 2018, quando se mudou para Nova York após seu namorado comentar sobre uma brecha na legislação de Nova York que permite que ocupantes de quartos individuais em prédios construídos antes de 1969 tenham a possibilidade de alugar o espaço por seis meses. Barreto deu entrada no New Yorker Hotel, pagou US$ 200,57 (R$ 1002,98) por uma diária e alegou que poderia ser inquilino do hotel por conta disso.

O brasileiro tem grande interesse por genealogia e afirma, sem ter provas, que é primo de primeiro grau do filho mais velho de Cristóvão Colombo. Barreto também diz ser líder de uma tribo indígena que fundou no Brasil. Durante o processo, ele começou a invocar o nome do explorador — “Meu nome de família é ‘Muniz Barreto Colombo’”, escreveu ele em uma audiência em 2021.

De acordo com Barreto, ele nunca contratou um advogado para representá-lo em seus casos civis, apenas na esfera criminal.

Em junho de 2018, Mickey Barreto fez o check-in no New Yorker Hotel, um emblemático hotel art deco de 4 estrelas na oitava avenida Foto: John Taggart/The New York Times

Entenda o caso

O brasileiro se instalou em um quarto do New Yorker Hotel em junho de 2018. Ele havia pago apenas uma diária, mas no dia seguinte a sua chegada Barreto entregou uma carta endereçada ao gerente afirmando que ele queria um contrato de aluguel de seis meses.

O funcionário que estava na recepção ligou para o gerente e, após uma breve troca de mensagens, Barreto foi informado de que não existia contrato de aluguel no hotel e que, sem reservar outra noite, ele teria que desocupar o quarto até o meio-dia. Os sócios não retiraram seus pertences. Então os funcionários do hotel o fizeram — e Barreto dirigiu-se ao Tribunal de Habitação da Cidade de Nova York, em Lower Manhattan, e processou o hotel.

Barreto conseguiu permanecer no hotel por conta de uma lei aprovada em 1969 que criou um sistema de regulamentação de aluguéis em toda a cidade. Alguns hotéis também estavam sujeitos a lei, especificamente os hotéis construídos antes de 1969, cujos quartos podiam ser alugados por menos de US$ 88 (R$ 440) por semana em maio de 1968.

De acordo com a lei, um hóspede de hotel poderia se tornar um residente permanente solicitando um aluguel com desconto. E qualquer hóspede que se tornasse residente também deveria ter acesso aos mesmos serviços de um hóspede noturno, incluindo serviço de quarto, limpeza e uso de instalações, como a academia.

O quarto se torna, essencialmente, um apartamento subsidiado por aluguel dentro de um hotel. Apesar da suposição plausível de que o empreendimento havia sido orquestrado desde o início, Barreto alegou que a ideia só tomou forma quando a pesquisa on-line dele e de Hannan se deparou com a 27ª linha de uma planilha de 295 páginas intitulada “Lista de edifícios de Manhattan que contêm unidades estabilizadas”.

Em uma audiência em 10 de julho, na ausência de qualquer representante do hotel para se opor ao processo, o juiz, Jack Stoller, decidiu a favor de Barreto. O juiz Stoller não apenas concordou com seus argumentos; ele até citou a mesma jurisprudência que Barreto e ordenou que o hotel “devolvesse ao requerente a posse das instalações em questão imediatamente, fornecendo-lhe uma chave”.

De volta ao seu quarto, dias depois da decisão, os sócios leram a decisão do juiz Stoller várias vezes. Nela, não havia nenhuma ordem para que o hotel fornecesse um contrato de aluguel, nenhum limite para a estadia deles, nenhuma sugestão de que o aluguel era devido.

Mas uma palavra foi mencionada o tempo todo: posse. Barreto recebeu a “sentença final de posse”. Barreto disse que ligou para o tribunal para pedir a alguém que explicasse o que isso significava exatamente.

“O senhor tem a posse”, disse Barreto — enfatizando de forma aguda e lenta cada sílaba da última palavra — que lhe foi dito. “O senhor não é um locatário. Você tem a posse de um imóvel”. Com a ordem do juiz em mãos, Barreto e Hannan visitaram os escritórios do departamento em Lower Manhattan. Barreto disse que perguntou a um funcionário sobre a possibilidade de colocar o quarto 2565 em seu nome — como um novo proprietário faria — mas foi informado de que isso seria impossível porque o hotel, ao contrário dos apartamentos, não estava dividido nos registros da cidade por quartos.

A propriedade tinha uma entidade no arquivo, o próprio hotel, identificado nos registros da cidade como Bloco 758, Lote 37. Assim, citando a ordem do juiz, Barreto preencheu a papelada declarando sua propriedade. “Se eu tiver o direito de registrar tudo”, Barreto lembra-se de ter pensado, “então registrarei tudo”.

Barreto então tentou cobrar diversas entidades como proprietário do prédio, incluindo exigir aluguel de hóspedes do hotel e pedir as contas do hotel ao banco, segundo a NBC News.

“Conforme alegado, Mickey Barreto reivindicou repetida e fraudulentamente a propriedade de um dos marcos mais emblemáticos da cidade, o New Yorker Hotel”, afirmou o promotor distrital de Manhattan, Alvin Bragg.

No ano passado, a Igreja da Unificação, proprietária do imóvel, teve sucesso no tribunal em uma ação contra Barreto. Um juiz decidiu a favor do hotel, citando a recusa de Barreto em pagar ou assinar um contrato de aluguel. Ele foi despejado em julho.

A localização central do hotel em Manhattan ainda atrai muitos hóspedes Foto: John Taggart/The New York Times

Coreia do Norte

O brasileiro se aprofundou nas origens da Igreja da Unificação na Península Coreana. Ele começou a acreditar que os líderes da igreja estavam enviando sua renda, inclusive do hotel, para a Coreia do Norte, violando as sanções impostas pelos Estados Unidos. O líder da Igreja da Unificação. Sun Myung Moon, nasceu onde hoje é a Coreia do Norte, mas antes da separação com a Coreia do Sul.

O brasileiro afirma que sua intenção não era cometer fraude e que ele não acredita que fez nada de errado. “Eu nunca ganhei um centavo disso”. Ele aponta que sua disputa legal faz parte de seu ativismo para negar lucros à Igreja da Unificação.

Em uma entrevista, Barreto disse que suas preocupações com as finanças da organização religiosa se tornaram o principal motivo para permanecer no hotel. Ele chamou isso de seu dever patriótico como cidadão americano, comparando seus esforços a alguém que conseguiu deter um dos sequestradores antes dos ataques de 11 de setembro.

“Sinto muito por ter interrompido sua tentativa de financiar armas de destruição em massa”, disse Barreto. “É Mickey Barreto contra a Coreia do Norte”.

O brasileiro Mickey Barreto ficou surpreso quando policiais armados tocaram a campainha do apartamento de seu namorado, Matthew Hannan, em Nova York no dia 13 de fevereiro com o intuito de prendê-lo.

Em entrevista à emissora americana NBC News, o brasileiro de 48 anos apontou que afirmou ao seu namorado que acreditava que os policiais que estavam na porta poderiam fazer parte de uma brincadeira de Hannan por conta do Dia dos Namorados. “Achei que era uma brincadeira até ver as policiais mulheres”, diz Barreto.

O brasileiro foi preso e autuado mais tarde naquela manhã em um tribunal de Manhattan por 24 acusações — incluindo 14 acusações de fraude — no que os promotores disseram ser um esquema criminoso para reivindicar a propriedade do New Yorker Hotel, um emblemático hotel art déco de 4 estrelas na Oitava Avenida.

Mickey Barreto nasceu no Brasil e foi para os Estados Unidos na década de 1990 para cursar faculdade Foto: John Taggart/The New York Times

Histórico

Mickey Barreto é natural de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul e se mudou para os Estados Unidos nos anos 90. Em entrevista ao The New York Times, um parente de Barreto afirmou que ele se destacou na escola no Brasil, nunca se envolveu em problemas e era considerado particularmente talentoso — a criança mais inteligente da família.

O brasileiro disse que sofre ataques de pânico e convulsões, mas insistiu que nunca havia sido diagnosticado com uma doença mental.

Ele morou em Los Angeles até 2018, quando se mudou para Nova York após seu namorado comentar sobre uma brecha na legislação de Nova York que permite que ocupantes de quartos individuais em prédios construídos antes de 1969 tenham a possibilidade de alugar o espaço por seis meses. Barreto deu entrada no New Yorker Hotel, pagou US$ 200,57 (R$ 1002,98) por uma diária e alegou que poderia ser inquilino do hotel por conta disso.

O brasileiro tem grande interesse por genealogia e afirma, sem ter provas, que é primo de primeiro grau do filho mais velho de Cristóvão Colombo. Barreto também diz ser líder de uma tribo indígena que fundou no Brasil. Durante o processo, ele começou a invocar o nome do explorador — “Meu nome de família é ‘Muniz Barreto Colombo’”, escreveu ele em uma audiência em 2021.

De acordo com Barreto, ele nunca contratou um advogado para representá-lo em seus casos civis, apenas na esfera criminal.

Em junho de 2018, Mickey Barreto fez o check-in no New Yorker Hotel, um emblemático hotel art deco de 4 estrelas na oitava avenida Foto: John Taggart/The New York Times

Entenda o caso

O brasileiro se instalou em um quarto do New Yorker Hotel em junho de 2018. Ele havia pago apenas uma diária, mas no dia seguinte a sua chegada Barreto entregou uma carta endereçada ao gerente afirmando que ele queria um contrato de aluguel de seis meses.

O funcionário que estava na recepção ligou para o gerente e, após uma breve troca de mensagens, Barreto foi informado de que não existia contrato de aluguel no hotel e que, sem reservar outra noite, ele teria que desocupar o quarto até o meio-dia. Os sócios não retiraram seus pertences. Então os funcionários do hotel o fizeram — e Barreto dirigiu-se ao Tribunal de Habitação da Cidade de Nova York, em Lower Manhattan, e processou o hotel.

Barreto conseguiu permanecer no hotel por conta de uma lei aprovada em 1969 que criou um sistema de regulamentação de aluguéis em toda a cidade. Alguns hotéis também estavam sujeitos a lei, especificamente os hotéis construídos antes de 1969, cujos quartos podiam ser alugados por menos de US$ 88 (R$ 440) por semana em maio de 1968.

De acordo com a lei, um hóspede de hotel poderia se tornar um residente permanente solicitando um aluguel com desconto. E qualquer hóspede que se tornasse residente também deveria ter acesso aos mesmos serviços de um hóspede noturno, incluindo serviço de quarto, limpeza e uso de instalações, como a academia.

O quarto se torna, essencialmente, um apartamento subsidiado por aluguel dentro de um hotel. Apesar da suposição plausível de que o empreendimento havia sido orquestrado desde o início, Barreto alegou que a ideia só tomou forma quando a pesquisa on-line dele e de Hannan se deparou com a 27ª linha de uma planilha de 295 páginas intitulada “Lista de edifícios de Manhattan que contêm unidades estabilizadas”.

Em uma audiência em 10 de julho, na ausência de qualquer representante do hotel para se opor ao processo, o juiz, Jack Stoller, decidiu a favor de Barreto. O juiz Stoller não apenas concordou com seus argumentos; ele até citou a mesma jurisprudência que Barreto e ordenou que o hotel “devolvesse ao requerente a posse das instalações em questão imediatamente, fornecendo-lhe uma chave”.

De volta ao seu quarto, dias depois da decisão, os sócios leram a decisão do juiz Stoller várias vezes. Nela, não havia nenhuma ordem para que o hotel fornecesse um contrato de aluguel, nenhum limite para a estadia deles, nenhuma sugestão de que o aluguel era devido.

Mas uma palavra foi mencionada o tempo todo: posse. Barreto recebeu a “sentença final de posse”. Barreto disse que ligou para o tribunal para pedir a alguém que explicasse o que isso significava exatamente.

“O senhor tem a posse”, disse Barreto — enfatizando de forma aguda e lenta cada sílaba da última palavra — que lhe foi dito. “O senhor não é um locatário. Você tem a posse de um imóvel”. Com a ordem do juiz em mãos, Barreto e Hannan visitaram os escritórios do departamento em Lower Manhattan. Barreto disse que perguntou a um funcionário sobre a possibilidade de colocar o quarto 2565 em seu nome — como um novo proprietário faria — mas foi informado de que isso seria impossível porque o hotel, ao contrário dos apartamentos, não estava dividido nos registros da cidade por quartos.

A propriedade tinha uma entidade no arquivo, o próprio hotel, identificado nos registros da cidade como Bloco 758, Lote 37. Assim, citando a ordem do juiz, Barreto preencheu a papelada declarando sua propriedade. “Se eu tiver o direito de registrar tudo”, Barreto lembra-se de ter pensado, “então registrarei tudo”.

Barreto então tentou cobrar diversas entidades como proprietário do prédio, incluindo exigir aluguel de hóspedes do hotel e pedir as contas do hotel ao banco, segundo a NBC News.

“Conforme alegado, Mickey Barreto reivindicou repetida e fraudulentamente a propriedade de um dos marcos mais emblemáticos da cidade, o New Yorker Hotel”, afirmou o promotor distrital de Manhattan, Alvin Bragg.

No ano passado, a Igreja da Unificação, proprietária do imóvel, teve sucesso no tribunal em uma ação contra Barreto. Um juiz decidiu a favor do hotel, citando a recusa de Barreto em pagar ou assinar um contrato de aluguel. Ele foi despejado em julho.

A localização central do hotel em Manhattan ainda atrai muitos hóspedes Foto: John Taggart/The New York Times

Coreia do Norte

O brasileiro se aprofundou nas origens da Igreja da Unificação na Península Coreana. Ele começou a acreditar que os líderes da igreja estavam enviando sua renda, inclusive do hotel, para a Coreia do Norte, violando as sanções impostas pelos Estados Unidos. O líder da Igreja da Unificação. Sun Myung Moon, nasceu onde hoje é a Coreia do Norte, mas antes da separação com a Coreia do Sul.

O brasileiro afirma que sua intenção não era cometer fraude e que ele não acredita que fez nada de errado. “Eu nunca ganhei um centavo disso”. Ele aponta que sua disputa legal faz parte de seu ativismo para negar lucros à Igreja da Unificação.

Em uma entrevista, Barreto disse que suas preocupações com as finanças da organização religiosa se tornaram o principal motivo para permanecer no hotel. Ele chamou isso de seu dever patriótico como cidadão americano, comparando seus esforços a alguém que conseguiu deter um dos sequestradores antes dos ataques de 11 de setembro.

“Sinto muito por ter interrompido sua tentativa de financiar armas de destruição em massa”, disse Barreto. “É Mickey Barreto contra a Coreia do Norte”.

O brasileiro Mickey Barreto ficou surpreso quando policiais armados tocaram a campainha do apartamento de seu namorado, Matthew Hannan, em Nova York no dia 13 de fevereiro com o intuito de prendê-lo.

Em entrevista à emissora americana NBC News, o brasileiro de 48 anos apontou que afirmou ao seu namorado que acreditava que os policiais que estavam na porta poderiam fazer parte de uma brincadeira de Hannan por conta do Dia dos Namorados. “Achei que era uma brincadeira até ver as policiais mulheres”, diz Barreto.

O brasileiro foi preso e autuado mais tarde naquela manhã em um tribunal de Manhattan por 24 acusações — incluindo 14 acusações de fraude — no que os promotores disseram ser um esquema criminoso para reivindicar a propriedade do New Yorker Hotel, um emblemático hotel art déco de 4 estrelas na Oitava Avenida.

Mickey Barreto nasceu no Brasil e foi para os Estados Unidos na década de 1990 para cursar faculdade Foto: John Taggart/The New York Times

Histórico

Mickey Barreto é natural de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul e se mudou para os Estados Unidos nos anos 90. Em entrevista ao The New York Times, um parente de Barreto afirmou que ele se destacou na escola no Brasil, nunca se envolveu em problemas e era considerado particularmente talentoso — a criança mais inteligente da família.

O brasileiro disse que sofre ataques de pânico e convulsões, mas insistiu que nunca havia sido diagnosticado com uma doença mental.

Ele morou em Los Angeles até 2018, quando se mudou para Nova York após seu namorado comentar sobre uma brecha na legislação de Nova York que permite que ocupantes de quartos individuais em prédios construídos antes de 1969 tenham a possibilidade de alugar o espaço por seis meses. Barreto deu entrada no New Yorker Hotel, pagou US$ 200,57 (R$ 1002,98) por uma diária e alegou que poderia ser inquilino do hotel por conta disso.

O brasileiro tem grande interesse por genealogia e afirma, sem ter provas, que é primo de primeiro grau do filho mais velho de Cristóvão Colombo. Barreto também diz ser líder de uma tribo indígena que fundou no Brasil. Durante o processo, ele começou a invocar o nome do explorador — “Meu nome de família é ‘Muniz Barreto Colombo’”, escreveu ele em uma audiência em 2021.

De acordo com Barreto, ele nunca contratou um advogado para representá-lo em seus casos civis, apenas na esfera criminal.

Em junho de 2018, Mickey Barreto fez o check-in no New Yorker Hotel, um emblemático hotel art deco de 4 estrelas na oitava avenida Foto: John Taggart/The New York Times

Entenda o caso

O brasileiro se instalou em um quarto do New Yorker Hotel em junho de 2018. Ele havia pago apenas uma diária, mas no dia seguinte a sua chegada Barreto entregou uma carta endereçada ao gerente afirmando que ele queria um contrato de aluguel de seis meses.

O funcionário que estava na recepção ligou para o gerente e, após uma breve troca de mensagens, Barreto foi informado de que não existia contrato de aluguel no hotel e que, sem reservar outra noite, ele teria que desocupar o quarto até o meio-dia. Os sócios não retiraram seus pertences. Então os funcionários do hotel o fizeram — e Barreto dirigiu-se ao Tribunal de Habitação da Cidade de Nova York, em Lower Manhattan, e processou o hotel.

Barreto conseguiu permanecer no hotel por conta de uma lei aprovada em 1969 que criou um sistema de regulamentação de aluguéis em toda a cidade. Alguns hotéis também estavam sujeitos a lei, especificamente os hotéis construídos antes de 1969, cujos quartos podiam ser alugados por menos de US$ 88 (R$ 440) por semana em maio de 1968.

De acordo com a lei, um hóspede de hotel poderia se tornar um residente permanente solicitando um aluguel com desconto. E qualquer hóspede que se tornasse residente também deveria ter acesso aos mesmos serviços de um hóspede noturno, incluindo serviço de quarto, limpeza e uso de instalações, como a academia.

O quarto se torna, essencialmente, um apartamento subsidiado por aluguel dentro de um hotel. Apesar da suposição plausível de que o empreendimento havia sido orquestrado desde o início, Barreto alegou que a ideia só tomou forma quando a pesquisa on-line dele e de Hannan se deparou com a 27ª linha de uma planilha de 295 páginas intitulada “Lista de edifícios de Manhattan que contêm unidades estabilizadas”.

Em uma audiência em 10 de julho, na ausência de qualquer representante do hotel para se opor ao processo, o juiz, Jack Stoller, decidiu a favor de Barreto. O juiz Stoller não apenas concordou com seus argumentos; ele até citou a mesma jurisprudência que Barreto e ordenou que o hotel “devolvesse ao requerente a posse das instalações em questão imediatamente, fornecendo-lhe uma chave”.

De volta ao seu quarto, dias depois da decisão, os sócios leram a decisão do juiz Stoller várias vezes. Nela, não havia nenhuma ordem para que o hotel fornecesse um contrato de aluguel, nenhum limite para a estadia deles, nenhuma sugestão de que o aluguel era devido.

Mas uma palavra foi mencionada o tempo todo: posse. Barreto recebeu a “sentença final de posse”. Barreto disse que ligou para o tribunal para pedir a alguém que explicasse o que isso significava exatamente.

“O senhor tem a posse”, disse Barreto — enfatizando de forma aguda e lenta cada sílaba da última palavra — que lhe foi dito. “O senhor não é um locatário. Você tem a posse de um imóvel”. Com a ordem do juiz em mãos, Barreto e Hannan visitaram os escritórios do departamento em Lower Manhattan. Barreto disse que perguntou a um funcionário sobre a possibilidade de colocar o quarto 2565 em seu nome — como um novo proprietário faria — mas foi informado de que isso seria impossível porque o hotel, ao contrário dos apartamentos, não estava dividido nos registros da cidade por quartos.

A propriedade tinha uma entidade no arquivo, o próprio hotel, identificado nos registros da cidade como Bloco 758, Lote 37. Assim, citando a ordem do juiz, Barreto preencheu a papelada declarando sua propriedade. “Se eu tiver o direito de registrar tudo”, Barreto lembra-se de ter pensado, “então registrarei tudo”.

Barreto então tentou cobrar diversas entidades como proprietário do prédio, incluindo exigir aluguel de hóspedes do hotel e pedir as contas do hotel ao banco, segundo a NBC News.

“Conforme alegado, Mickey Barreto reivindicou repetida e fraudulentamente a propriedade de um dos marcos mais emblemáticos da cidade, o New Yorker Hotel”, afirmou o promotor distrital de Manhattan, Alvin Bragg.

No ano passado, a Igreja da Unificação, proprietária do imóvel, teve sucesso no tribunal em uma ação contra Barreto. Um juiz decidiu a favor do hotel, citando a recusa de Barreto em pagar ou assinar um contrato de aluguel. Ele foi despejado em julho.

A localização central do hotel em Manhattan ainda atrai muitos hóspedes Foto: John Taggart/The New York Times

Coreia do Norte

O brasileiro se aprofundou nas origens da Igreja da Unificação na Península Coreana. Ele começou a acreditar que os líderes da igreja estavam enviando sua renda, inclusive do hotel, para a Coreia do Norte, violando as sanções impostas pelos Estados Unidos. O líder da Igreja da Unificação. Sun Myung Moon, nasceu onde hoje é a Coreia do Norte, mas antes da separação com a Coreia do Sul.

O brasileiro afirma que sua intenção não era cometer fraude e que ele não acredita que fez nada de errado. “Eu nunca ganhei um centavo disso”. Ele aponta que sua disputa legal faz parte de seu ativismo para negar lucros à Igreja da Unificação.

Em uma entrevista, Barreto disse que suas preocupações com as finanças da organização religiosa se tornaram o principal motivo para permanecer no hotel. Ele chamou isso de seu dever patriótico como cidadão americano, comparando seus esforços a alguém que conseguiu deter um dos sequestradores antes dos ataques de 11 de setembro.

“Sinto muito por ter interrompido sua tentativa de financiar armas de destruição em massa”, disse Barreto. “É Mickey Barreto contra a Coreia do Norte”.

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