THE NEW YORK TIMES - É difícil dizer qual das respostas de políticos republicanos ao último ataque a tiros em massa foi mais repreensível. O sempre confiante e terrível senador Ted Cruz atraiu considerável atenção ao insistir que a resposta é colocar guardas armados nas escolas, não importa que o sistema escolar de Uvalde tenha sua própria força policial e os policiais estivessem no local logo após a chegada do atirador.
E o supermercado em Buffalo, que foi o local de um ataque a tiros em massa apenas 10 dias antes, também tinha um segurança armado, que foi morto porque sua arma não era páreo para a armadura do atirador.
Mas se você me perguntar, qual a pior e mais assustadora resposta, diria que veio de Dan Patrick, o vice-governador do Texas. O que precisamos fazer, declarou Patrick, é “endurecer ainda mais esses alvos para que ninguém possa entrar, nunca, exceto talvez por uma entrada”.
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Essa restrição teria consequências interessantes em caso de incêndio. Mas de qualquer forma, pense na linguagem de Patrick: em uma nação que supostamente está em paz, devemos tratar as escolas como “alvos” que precisam ser “endurecidos”. O que isso faria com a educação pública, que por muitas gerações tem sido uma das experiências definidoras de crescer na América? Não se preocupe, diz a Sociedade Federalista: as famílias podem manter seus filhos seguros recorrendo à educação em casa.
Na verdade, se você tomar as propostas de Cruz, Patrick e outros literalmente, elas equivalem a um apelo para transformar a terra dos livres em um gigantesco campo armado. Existem cerca de 130.000 escolas para crianças até 12 anos nos Estados Unidos; há cerca de 40.000 supermercados; há muitos outros locais que podem oferecer presas para assassinos em massa.
Portanto, proteger todos esses espaços públicos ao estilo republicano exigiria a criação de uma força de defesa doméstica que seria pelo menos tão grande quanto o Corpo de Fuzileiros Navais, fortemente armada e efetivamente militar – fortemente armada porque enfrentaria agressores com armas semiautomáticas e coletes à prova de balas.
Por que tal força seria necessária? Ataques a tiros em massa são muito raros fora dos Estados Unidos. Por que eles são tão comuns aqui? Segundo a direita americana, isso nada tem a ver como o fato de sermos uma nação onde um perturbado jovem de 18 anos pode facilmente comprar armas e coletes à prova de balas de nível militar. Não, diz Patrick, é porque “somos uma sociedade bruta”.
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Eu sei que é um esforço inútil dizer isso, mas imagine a reação se um político liberal proeminente declarasse que a razão pela qual os Estados Unidos têm um problema social grave que não existe em outros lugares é que os americanos são pessoas ruins. As críticas seriam intermináveis. Mas quando um republicano diz isso, nem uma marolinha.
E devo dizer, para registrar, que pessoalmente não acredito que os americanos, como indivíduos, sejam piores do que qualquer outra pessoa. Se tem uma coisa que sempre me impressionou ao voltar de viagens ao exterior é que os americanos são (ou eram) em média excepcionalmente agradáveis e fáceis de interagir. O que nos distingue é ser tão fácil para as pessoas não gentis se armarem até os dentes.
OK, todos percebem que nada dito pelos republicanos sobre como responder a ataques a tiros em massa se traduzirá em propostas políticas reais. Eles mal estão tentando fazer sentido. Em vez disso, estão apenas fazendo barulho para abafar a discussão racional até que a última atrocidade desapareça do ciclo de notícias. A verdade é que os conservadores consideram os ataques a tiros em massa e a taxa geral surpreendentemente alta de mortes por armas de fogo nos Estados Unidos, como um preço aceitável para defender sua ideologia.
Mas o que é essa ideologia? Eu argumentaria que, embora falar sobre a excepcionalidade da cultura de armas dos EUA não seja exatamente errado, é muito estreito. O que estamos realmente vendo aqui é um amplo ataque à própria ideia de dever cívico – à ideia de que as pessoas devem seguir certas regras, aceitar restrições em seu comportamento, para proteger a vida de seus concidadãos.
Em outras palavras, devemos pensar na oposição veemente às regulamentações de armas como um fenômeno intimamente ligado à oposição raivosa (e altamente partidária) à obrigatoriedade do uso de máscara e vacinação diante de uma pandemia mortal, a oposição veemente a regras ambientais como a proibição de fosfatos em detergente e muito mais.
De onde vem esse ódio à ideia de dever cívico? Sem dúvida, parte disso, como quase tudo na política dos EUA, está relacionado à raça.
Mas uma coisa que esse comportamento não reflete é a nossa tradição nacional. Quando você ouvir falar de educação em casa, lembre-se de que os Estados Unidos basicamente inventaram a educação pública universal. A proteção ambiental costumava ser uma questão apartidária: a Lei do Ar Limpo de 1970 foi aprovada no Senado sem um único voto contra. E deixando de lado a mitologia de Hollywood, a maioria das cidades do Velho Oeste tinha limites rígidos para o porte de armas de fogo do que o atual Texas do governador Greg Abbott.
Como sugeri, não entendo completamente de onde vem essa aversão às regras básicas de uma sociedade civilizada. O que está claro, no entanto, é que as mesmas pessoas que mais gritam sobre “liberdade” estão fazendo o possível para transformar os EUA em um pesadelo distópico do tipo “Jogos Vorazes”, com postos de controle em todos os lugares, pairando sobre homens armados.