Pentágono envia armas dos EUA armazenadas em Israel para a Ucrânia


Autoridades israelenses inicialmente expressaram preocupação de que a medida pudesse prejudicar suas relações com a Rússia

Por Redação

WASHINGTON - O Departamento de Justiça dos Estados Unidos vai enviar um vasto, mas pouco conhecido, estoque de munição americana em Israel para ajudar a atender à extrema necessidade da Ucrânia de projéteis de artilharia na guerra com a Rússia, disseram autoridades americanas e israelenses.

O estoque fornece armas e munições para o Pentágono usar em conflitos no Oriente Médio. Os Estados Unidos também permitiram que Israel tivesse acesso aos suprimentos em emergências.

O conflito na Ucrânia tornou-se uma guerra de atrito impulsionada pela artilharia, com cada lado lançando milhares de projéteis todos os dias. A Ucrânia está ficando sem munição para seu armamento da era soviética e passou a usar artilharia e munições doadas pelos Estados Unidos e outros aliados ocidentais.

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Membros do exército ucraniano nas linhas de batalha próximas de Kherson, em 27 de outubro de 2022. Militares do país devem receber novas remessas de armas dos EUA diretamente de Israel Foto: Ivor Prickett/NYT

A artilharia constitui a espinha dorsal do poder de fogo de combate terrestre tanto para a Ucrânia quanto para a Rússia, e o resultado da guerra pode depender de qual lado ficará sem munição primeiro, dizem analistas militares.

Com os estoques nos Estados Unidos esgotados e os fabricantes de armas americanos ainda incapazes de acompanhar o ritmo das operações no campo de batalha da Ucrânia, o Pentágono recorreu a dois suprimentos alternativos de projéteis para preencher a lacuna: um na Coréia do Sul e outro em Israel, que ainda ão havia sido usado na guerra da Ucrânia.

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O envio de centenas de milhares de projéteis de artilharia dos dois estoques para ajudar a sustentar o esforço de guerra da Ucrânia encontra entraves nos limites da base industrial americana e as sensibilidades diplomáticas de dois aliados vitais dos EUA que se comprometeram publicamente a não enviar ajuda militar letal à Ucrânia.

Israel sempre se recusou a fornecer armas à Ucrânia por medo de prejudicar as relações próximas com Moscou e inicialmente expressou preocupação em parecer cúmplice em armar a Ucrânia se o Pentágono retirasse suas munições do estoque. Cerca de metade das 300.000 munições destinadas à Ucrânia já foram enviadas para a Europa e serão entregues pela Polônia, disseram autoridades israelenses e americanas.

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Enquanto autoridades militares e de defesa de dezenas de nações, incluindo países da Otan, se preparam para se reunir na Base Aérea de Ramstein, na Alemanha, na sexta-feira, para discutir o envio de mais tanques e outras armas à Ucrânia, as autoridades americanas têm se esforçado nos bastidores para reunir projéteis suficientes para manter Kyev suficientemente abastecida este ano, inclusive em uma ofensiva prevista para a primavera.

“Com a linha de frente agora praticamente estacionada, a artilharia se tornou a arma de combate mais importante”, disse Mark Cancian, ex-estrategista de armas da Casa Branca, em um novo estudo para o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, onde ele é um conselheiro sênior.

Outra análise publicada no mês passado pelo Instituto de Pesquisa de Política Externa disse que se a Ucrânia continuasse a receber um suprimento constante de munição, especialmente para artilharia, bem como peças sobressalentes, teria uma boa chance de recuperar mais território que a Rússia havia tomado.

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Imagem de 2019 mostra tanque de batalha Marder, do Exército da Alemanha, durante treinamento em Munster. Berlim e Washington coordenam um "novo passo qualitativo" nas entregas de armas à Ucrânia Foto: PATRIK STOLLARZ / AFP - 20/05/2019

“A questão é se essas vantagens serão suficientes para as forças ucranianas retomarem o território das tropas russas entrincheiradas”, escreveram Rob Lee e Michael Kofman, importantes analistas militares.

Armar os militares ucranianos com munição de artilharia suficiente faz parte de um esforço maior liderado pelos americanos para aumentar seu poder de combate geral, fornecendo também armas de longo alcance mais precisas, tanques ocidentais e veículos blindados de combate e treinamento de uso dessas armas combinadas.

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Até agora, os Estados Unidos enviaram ou prometeram enviar à Ucrânia pouco mais de um milhão de projéteis de 155 milímetros. Uma parte considerável disso - embora menos da metade - veio dos estoques em Israel e na Coréia do Sul, disse uma autoridade sênior dos EUA, falando sob condição de anonimato para discutir questões operacionais.

Outros países ocidentais, incluindo Alemanha, Canadá, Estônia e Itália, enviaram projéteis de 155 milímetros para a Ucrânia.

O exército ucraniano usa cerca de 90.000 cartuchos de artilharia por mês, cerca de duas vezes a taxa que estão sendo fabricados pelos Estados Unidos e países europeus juntos, disseram autoridades americanas e ocidentais. O restante deve vir de outras fontes, incluindo estoques existentes ou vendas comerciais.

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Cautela com os estoques americanos

Kofman disse em uma entrevista que, sem ajustes na forma como os militares ucranianos lutam, futuras ofensivas ucranianas podem exigir significativamente mais munição de artilharia para avançar contra as defesas russas entrincheiradas.

“Os EUA estão compensando a diferença com seus estoques, mas essa é uma solução insustentável”, disse Kofman, diretor de estudos russos do CNA, um instituto de pesquisa em Arlington, na Virgínia.

Funcionários do Pentágono dizem que devem garantir que, mesmo quando armarem a Ucrânia, os estoques americanos não caiam para níveis perigosamente baixos. De acordo com dois altos funcionários israelenses, os Estados Unidos prometeram a Israel que reabastecerão o que for necessário dos armazéns em seu território e enviariam munição imediatamente em caso de emergência grave.

“Estamos confiantes de que continuaremos a apoiar a Ucrânia pelo tempo que for necessário”, disse o general Patrick Ryder, porta-voz do Pentágono, a repórteres na semana passada. “E estamos confiantes de que seremos capazes de continuar a manter os níveis de prontidão que são vitais para defender nossa nação.”

O general Ryder disse ao The New York Times em um comunicado na terça-feira que o Pentágono “não discutirá a localização ou as unidades que fornecem o equipamento ou material”, citando razões de segurança operacional.

Quando, no ano passado, o Pentágono levantou pela primeira vez a ideia de retirar as munições do estoque, as autoridades israelenses expressaram preocupação com a reação de Moscou.

Embargo às vendas

Israel impôs um embargo quase total à venda de armas para a Ucrânia, temendo que a Rússia possa retaliar usando suas forças na Síria para limitar os ataques aéreos israelenses direcionados às forças iranianas e do Hezbollah.

O relacionamento de Israel com a Rússia está sob escrutínio desde a invasão russa da Ucrânia em fevereiro passado, e as autoridades ucranianas criticaram o governo de Israel por oferecer a seu país apenas apoio limitado e se curvar à pressão russa.

À medida que a guerra se arrastava, o Pentágono e os israelenses chegaram a um acordo para mover cerca de 300.000 projéteis de 155 milímetros, disseram autoridades israelenses e americanas.

O desejo americano de mover as munições foi oficialmente apresentado em uma conversa telefônica criptografada entre o secretário de defesa dos EUA, Lloyd J. Austin III, e Benny Gantz, o ministro da defesa israelense na época, de acordo com um oficial israelense que foi informado sobre os detalhes da conversa.

Gantz levou a questão ao gabinete israelense. Os funcionários pediram para ouvir a opinião do establishment de Defesa, cujos representantes recomendaram aceitar o plano para evitar tensões com os Estados Unidos, em parte porque a munição era propriedade americana. Yair Lapid, então primeiro-ministro, aprovou o pedido ao final da discussão.

As autoridades israelenses disseram que Israel não havia mudado sua política de não fornecer armas letais à Ucrânia e, ao contrário, estava concordando com a decisão americana de usar sua própria munição como bem entendesse.

“Com base em uma solicitação dos EUA, certos equipamentos foram transferidos para o estoque do Departamento de Defesa dos EUA” em Israel, disse um porta-voz das Forças de Defesa de Israel em um comunicado.

O estoque de equipamento militar americano e munições em Israel tem suas origens na Guerra Árabe-Israelense de 1973, que viu os Estados Unidos transportando armas para reabastecer as forças israelenses.

Após a guerra, os Estados Unidos estabeleceram armazéns em Israel para que pudessem contar com eles caso fossem novamente pegos em uma crise. Um memorando estratégico assinado pelos dois países na década de 1980 abriu caminho para o “pré-posicionamento” de ativos do Pentágono em Israel, segundo dois ex-funcionários dos EUA e um ex-oficial militar israelense com conhecimento direto do acordo.

Tanques e veículos blindados americanos foram inicialmente transferidos para o deserto do sul de Israel com o entendimento de que seriam usados pelas forças dos EUA na região, se necessário, disseram as autoridades, que falaram sob condição de anonimato para discutir deliberações internas delicadas.

Nos anos 2000, o programa foi expandido para incluir munições para o Exército, Marinha e Força Aérea dos EUA – todas armazenadas em locais separados acessíveis apenas a militares americanos, de acordo com um ex-inspetor de armas dos EUA.

Na época, o estoque, oficialmente chamado de WRSA-I, ou War Reserve Stocks for Allies-Israel, era supervisionado pelo Comando Europeu dos EUA. Mas agora é administrado pelo Comando Central dos EUA, após uma reformulação de sua área de responsabilidade em setembro de 2021.

Israel foi autorizado a retirar munições americanas do estoque durante sua guerra com o Hezbollah no verão de 2006 e novamente durante as operações contra o Hamas na Faixa de Gaza em 2014, de acordo com um relatório do Serviço de Pesquisa do Congresso divulgado em fevereiro de 2022.

O Pentágono também abordou a Coreia do Sul no ano passado sobre a transferência de munições do estoque dos EUA para a Ucrânia. Os sul-coreanos estavam mais dispostos do que os israelenses a trabalhar com os Estados Unidos no uso dos estoques, disse um alto funcionário dos EUA. Mas eles também se opuseram ao envio de projéteis de artilharia diretamente para a Ucrânia, embora por razões diferentes, disse o oficial. O governo sul-coreano não queria balas de artilharia marcadas como R.O.K. (República da Coreia) aparecendo na Ucrânia em violação das regras de exportação de armas sul-coreanas.

Chegou-se a um acordo. Os projéteis de artilharia do estoque coreano seriam enviados para reabastecer os estoques americanos em outros lugares.

Os Estados Unidos também concordaram em comprar 100.000 novos projéteis de artilharia da Coreia do Sul.

Autoridades dos EUA dizem que o acesso aos estoques no exterior ajudará os ucranianos até que os fabricantes de munição americanos possam aumentar sua produção.

Outros fatores podem aliviar a pressão por mais projéteis. O fogo de artilharia da Rússia diminuiu drasticamente nas últimas semanas, disseram autoridades do Pentágono, possivelmente refletindo o racionamento de munições por causa dos poucos suprimentos.

Funcionários da Casa Branca disseram em novembro que a Coreia do Norte estava enviando projéteis de artilharia para a Rússia, outro sinal de provável escassez de munições, disseram autoridades dos EUA.

Finalmente, os Estados Unidos estão ajudando a Ucrânia a usar munição de forma mais eficiente. Os ucranianos dispararam tantas barragens de artilharia que cerca de um terço dos obuses de 155 milímetros fornecidos pelos Estados Unidos e outras nações ocidentais estão fora de serviço para reparos.

Durante o verão, durante intensos combates entre a Ucrânia e a Rússia na região oriental de Donbass, funcionários do Pentágono coletaram imagens de satélite que mostraram a devastação causada em terras agrícolas entre as trincheiras das duas forças. Os campos foram transformados em paisagens lunares, esburacados e perfurados por milhares de crateras.

Desde então, as autoridades americanas pedem aos ucranianos que usem sua artilharia de forma mais criteriosa. E a chegada da artilharia de foguetes de precisão, como a artilharia de foguetes HIMARS, permitiu que a Ucrânia atacasse com mais habilidade.

WASHINGTON - O Departamento de Justiça dos Estados Unidos vai enviar um vasto, mas pouco conhecido, estoque de munição americana em Israel para ajudar a atender à extrema necessidade da Ucrânia de projéteis de artilharia na guerra com a Rússia, disseram autoridades americanas e israelenses.

O estoque fornece armas e munições para o Pentágono usar em conflitos no Oriente Médio. Os Estados Unidos também permitiram que Israel tivesse acesso aos suprimentos em emergências.

O conflito na Ucrânia tornou-se uma guerra de atrito impulsionada pela artilharia, com cada lado lançando milhares de projéteis todos os dias. A Ucrânia está ficando sem munição para seu armamento da era soviética e passou a usar artilharia e munições doadas pelos Estados Unidos e outros aliados ocidentais.

Membros do exército ucraniano nas linhas de batalha próximas de Kherson, em 27 de outubro de 2022. Militares do país devem receber novas remessas de armas dos EUA diretamente de Israel Foto: Ivor Prickett/NYT

A artilharia constitui a espinha dorsal do poder de fogo de combate terrestre tanto para a Ucrânia quanto para a Rússia, e o resultado da guerra pode depender de qual lado ficará sem munição primeiro, dizem analistas militares.

Com os estoques nos Estados Unidos esgotados e os fabricantes de armas americanos ainda incapazes de acompanhar o ritmo das operações no campo de batalha da Ucrânia, o Pentágono recorreu a dois suprimentos alternativos de projéteis para preencher a lacuna: um na Coréia do Sul e outro em Israel, que ainda ão havia sido usado na guerra da Ucrânia.

O envio de centenas de milhares de projéteis de artilharia dos dois estoques para ajudar a sustentar o esforço de guerra da Ucrânia encontra entraves nos limites da base industrial americana e as sensibilidades diplomáticas de dois aliados vitais dos EUA que se comprometeram publicamente a não enviar ajuda militar letal à Ucrânia.

Israel sempre se recusou a fornecer armas à Ucrânia por medo de prejudicar as relações próximas com Moscou e inicialmente expressou preocupação em parecer cúmplice em armar a Ucrânia se o Pentágono retirasse suas munições do estoque. Cerca de metade das 300.000 munições destinadas à Ucrânia já foram enviadas para a Europa e serão entregues pela Polônia, disseram autoridades israelenses e americanas.

Enquanto autoridades militares e de defesa de dezenas de nações, incluindo países da Otan, se preparam para se reunir na Base Aérea de Ramstein, na Alemanha, na sexta-feira, para discutir o envio de mais tanques e outras armas à Ucrânia, as autoridades americanas têm se esforçado nos bastidores para reunir projéteis suficientes para manter Kyev suficientemente abastecida este ano, inclusive em uma ofensiva prevista para a primavera.

“Com a linha de frente agora praticamente estacionada, a artilharia se tornou a arma de combate mais importante”, disse Mark Cancian, ex-estrategista de armas da Casa Branca, em um novo estudo para o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, onde ele é um conselheiro sênior.

Outra análise publicada no mês passado pelo Instituto de Pesquisa de Política Externa disse que se a Ucrânia continuasse a receber um suprimento constante de munição, especialmente para artilharia, bem como peças sobressalentes, teria uma boa chance de recuperar mais território que a Rússia havia tomado.

Imagem de 2019 mostra tanque de batalha Marder, do Exército da Alemanha, durante treinamento em Munster. Berlim e Washington coordenam um "novo passo qualitativo" nas entregas de armas à Ucrânia Foto: PATRIK STOLLARZ / AFP - 20/05/2019

“A questão é se essas vantagens serão suficientes para as forças ucranianas retomarem o território das tropas russas entrincheiradas”, escreveram Rob Lee e Michael Kofman, importantes analistas militares.

Armar os militares ucranianos com munição de artilharia suficiente faz parte de um esforço maior liderado pelos americanos para aumentar seu poder de combate geral, fornecendo também armas de longo alcance mais precisas, tanques ocidentais e veículos blindados de combate e treinamento de uso dessas armas combinadas.

Até agora, os Estados Unidos enviaram ou prometeram enviar à Ucrânia pouco mais de um milhão de projéteis de 155 milímetros. Uma parte considerável disso - embora menos da metade - veio dos estoques em Israel e na Coréia do Sul, disse uma autoridade sênior dos EUA, falando sob condição de anonimato para discutir questões operacionais.

Outros países ocidentais, incluindo Alemanha, Canadá, Estônia e Itália, enviaram projéteis de 155 milímetros para a Ucrânia.

O exército ucraniano usa cerca de 90.000 cartuchos de artilharia por mês, cerca de duas vezes a taxa que estão sendo fabricados pelos Estados Unidos e países europeus juntos, disseram autoridades americanas e ocidentais. O restante deve vir de outras fontes, incluindo estoques existentes ou vendas comerciais.

Cautela com os estoques americanos

Kofman disse em uma entrevista que, sem ajustes na forma como os militares ucranianos lutam, futuras ofensivas ucranianas podem exigir significativamente mais munição de artilharia para avançar contra as defesas russas entrincheiradas.

“Os EUA estão compensando a diferença com seus estoques, mas essa é uma solução insustentável”, disse Kofman, diretor de estudos russos do CNA, um instituto de pesquisa em Arlington, na Virgínia.

Funcionários do Pentágono dizem que devem garantir que, mesmo quando armarem a Ucrânia, os estoques americanos não caiam para níveis perigosamente baixos. De acordo com dois altos funcionários israelenses, os Estados Unidos prometeram a Israel que reabastecerão o que for necessário dos armazéns em seu território e enviariam munição imediatamente em caso de emergência grave.

“Estamos confiantes de que continuaremos a apoiar a Ucrânia pelo tempo que for necessário”, disse o general Patrick Ryder, porta-voz do Pentágono, a repórteres na semana passada. “E estamos confiantes de que seremos capazes de continuar a manter os níveis de prontidão que são vitais para defender nossa nação.”

O general Ryder disse ao The New York Times em um comunicado na terça-feira que o Pentágono “não discutirá a localização ou as unidades que fornecem o equipamento ou material”, citando razões de segurança operacional.

Quando, no ano passado, o Pentágono levantou pela primeira vez a ideia de retirar as munições do estoque, as autoridades israelenses expressaram preocupação com a reação de Moscou.

Embargo às vendas

Israel impôs um embargo quase total à venda de armas para a Ucrânia, temendo que a Rússia possa retaliar usando suas forças na Síria para limitar os ataques aéreos israelenses direcionados às forças iranianas e do Hezbollah.

O relacionamento de Israel com a Rússia está sob escrutínio desde a invasão russa da Ucrânia em fevereiro passado, e as autoridades ucranianas criticaram o governo de Israel por oferecer a seu país apenas apoio limitado e se curvar à pressão russa.

À medida que a guerra se arrastava, o Pentágono e os israelenses chegaram a um acordo para mover cerca de 300.000 projéteis de 155 milímetros, disseram autoridades israelenses e americanas.

O desejo americano de mover as munições foi oficialmente apresentado em uma conversa telefônica criptografada entre o secretário de defesa dos EUA, Lloyd J. Austin III, e Benny Gantz, o ministro da defesa israelense na época, de acordo com um oficial israelense que foi informado sobre os detalhes da conversa.

Gantz levou a questão ao gabinete israelense. Os funcionários pediram para ouvir a opinião do establishment de Defesa, cujos representantes recomendaram aceitar o plano para evitar tensões com os Estados Unidos, em parte porque a munição era propriedade americana. Yair Lapid, então primeiro-ministro, aprovou o pedido ao final da discussão.

As autoridades israelenses disseram que Israel não havia mudado sua política de não fornecer armas letais à Ucrânia e, ao contrário, estava concordando com a decisão americana de usar sua própria munição como bem entendesse.

“Com base em uma solicitação dos EUA, certos equipamentos foram transferidos para o estoque do Departamento de Defesa dos EUA” em Israel, disse um porta-voz das Forças de Defesa de Israel em um comunicado.

O estoque de equipamento militar americano e munições em Israel tem suas origens na Guerra Árabe-Israelense de 1973, que viu os Estados Unidos transportando armas para reabastecer as forças israelenses.

Após a guerra, os Estados Unidos estabeleceram armazéns em Israel para que pudessem contar com eles caso fossem novamente pegos em uma crise. Um memorando estratégico assinado pelos dois países na década de 1980 abriu caminho para o “pré-posicionamento” de ativos do Pentágono em Israel, segundo dois ex-funcionários dos EUA e um ex-oficial militar israelense com conhecimento direto do acordo.

Tanques e veículos blindados americanos foram inicialmente transferidos para o deserto do sul de Israel com o entendimento de que seriam usados pelas forças dos EUA na região, se necessário, disseram as autoridades, que falaram sob condição de anonimato para discutir deliberações internas delicadas.

Nos anos 2000, o programa foi expandido para incluir munições para o Exército, Marinha e Força Aérea dos EUA – todas armazenadas em locais separados acessíveis apenas a militares americanos, de acordo com um ex-inspetor de armas dos EUA.

Na época, o estoque, oficialmente chamado de WRSA-I, ou War Reserve Stocks for Allies-Israel, era supervisionado pelo Comando Europeu dos EUA. Mas agora é administrado pelo Comando Central dos EUA, após uma reformulação de sua área de responsabilidade em setembro de 2021.

Israel foi autorizado a retirar munições americanas do estoque durante sua guerra com o Hezbollah no verão de 2006 e novamente durante as operações contra o Hamas na Faixa de Gaza em 2014, de acordo com um relatório do Serviço de Pesquisa do Congresso divulgado em fevereiro de 2022.

O Pentágono também abordou a Coreia do Sul no ano passado sobre a transferência de munições do estoque dos EUA para a Ucrânia. Os sul-coreanos estavam mais dispostos do que os israelenses a trabalhar com os Estados Unidos no uso dos estoques, disse um alto funcionário dos EUA. Mas eles também se opuseram ao envio de projéteis de artilharia diretamente para a Ucrânia, embora por razões diferentes, disse o oficial. O governo sul-coreano não queria balas de artilharia marcadas como R.O.K. (República da Coreia) aparecendo na Ucrânia em violação das regras de exportação de armas sul-coreanas.

Chegou-se a um acordo. Os projéteis de artilharia do estoque coreano seriam enviados para reabastecer os estoques americanos em outros lugares.

Os Estados Unidos também concordaram em comprar 100.000 novos projéteis de artilharia da Coreia do Sul.

Autoridades dos EUA dizem que o acesso aos estoques no exterior ajudará os ucranianos até que os fabricantes de munição americanos possam aumentar sua produção.

Outros fatores podem aliviar a pressão por mais projéteis. O fogo de artilharia da Rússia diminuiu drasticamente nas últimas semanas, disseram autoridades do Pentágono, possivelmente refletindo o racionamento de munições por causa dos poucos suprimentos.

Funcionários da Casa Branca disseram em novembro que a Coreia do Norte estava enviando projéteis de artilharia para a Rússia, outro sinal de provável escassez de munições, disseram autoridades dos EUA.

Finalmente, os Estados Unidos estão ajudando a Ucrânia a usar munição de forma mais eficiente. Os ucranianos dispararam tantas barragens de artilharia que cerca de um terço dos obuses de 155 milímetros fornecidos pelos Estados Unidos e outras nações ocidentais estão fora de serviço para reparos.

Durante o verão, durante intensos combates entre a Ucrânia e a Rússia na região oriental de Donbass, funcionários do Pentágono coletaram imagens de satélite que mostraram a devastação causada em terras agrícolas entre as trincheiras das duas forças. Os campos foram transformados em paisagens lunares, esburacados e perfurados por milhares de crateras.

Desde então, as autoridades americanas pedem aos ucranianos que usem sua artilharia de forma mais criteriosa. E a chegada da artilharia de foguetes de precisão, como a artilharia de foguetes HIMARS, permitiu que a Ucrânia atacasse com mais habilidade.

WASHINGTON - O Departamento de Justiça dos Estados Unidos vai enviar um vasto, mas pouco conhecido, estoque de munição americana em Israel para ajudar a atender à extrema necessidade da Ucrânia de projéteis de artilharia na guerra com a Rússia, disseram autoridades americanas e israelenses.

O estoque fornece armas e munições para o Pentágono usar em conflitos no Oriente Médio. Os Estados Unidos também permitiram que Israel tivesse acesso aos suprimentos em emergências.

O conflito na Ucrânia tornou-se uma guerra de atrito impulsionada pela artilharia, com cada lado lançando milhares de projéteis todos os dias. A Ucrânia está ficando sem munição para seu armamento da era soviética e passou a usar artilharia e munições doadas pelos Estados Unidos e outros aliados ocidentais.

Membros do exército ucraniano nas linhas de batalha próximas de Kherson, em 27 de outubro de 2022. Militares do país devem receber novas remessas de armas dos EUA diretamente de Israel Foto: Ivor Prickett/NYT

A artilharia constitui a espinha dorsal do poder de fogo de combate terrestre tanto para a Ucrânia quanto para a Rússia, e o resultado da guerra pode depender de qual lado ficará sem munição primeiro, dizem analistas militares.

Com os estoques nos Estados Unidos esgotados e os fabricantes de armas americanos ainda incapazes de acompanhar o ritmo das operações no campo de batalha da Ucrânia, o Pentágono recorreu a dois suprimentos alternativos de projéteis para preencher a lacuna: um na Coréia do Sul e outro em Israel, que ainda ão havia sido usado na guerra da Ucrânia.

O envio de centenas de milhares de projéteis de artilharia dos dois estoques para ajudar a sustentar o esforço de guerra da Ucrânia encontra entraves nos limites da base industrial americana e as sensibilidades diplomáticas de dois aliados vitais dos EUA que se comprometeram publicamente a não enviar ajuda militar letal à Ucrânia.

Israel sempre se recusou a fornecer armas à Ucrânia por medo de prejudicar as relações próximas com Moscou e inicialmente expressou preocupação em parecer cúmplice em armar a Ucrânia se o Pentágono retirasse suas munições do estoque. Cerca de metade das 300.000 munições destinadas à Ucrânia já foram enviadas para a Europa e serão entregues pela Polônia, disseram autoridades israelenses e americanas.

Enquanto autoridades militares e de defesa de dezenas de nações, incluindo países da Otan, se preparam para se reunir na Base Aérea de Ramstein, na Alemanha, na sexta-feira, para discutir o envio de mais tanques e outras armas à Ucrânia, as autoridades americanas têm se esforçado nos bastidores para reunir projéteis suficientes para manter Kyev suficientemente abastecida este ano, inclusive em uma ofensiva prevista para a primavera.

“Com a linha de frente agora praticamente estacionada, a artilharia se tornou a arma de combate mais importante”, disse Mark Cancian, ex-estrategista de armas da Casa Branca, em um novo estudo para o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, onde ele é um conselheiro sênior.

Outra análise publicada no mês passado pelo Instituto de Pesquisa de Política Externa disse que se a Ucrânia continuasse a receber um suprimento constante de munição, especialmente para artilharia, bem como peças sobressalentes, teria uma boa chance de recuperar mais território que a Rússia havia tomado.

Imagem de 2019 mostra tanque de batalha Marder, do Exército da Alemanha, durante treinamento em Munster. Berlim e Washington coordenam um "novo passo qualitativo" nas entregas de armas à Ucrânia Foto: PATRIK STOLLARZ / AFP - 20/05/2019

“A questão é se essas vantagens serão suficientes para as forças ucranianas retomarem o território das tropas russas entrincheiradas”, escreveram Rob Lee e Michael Kofman, importantes analistas militares.

Armar os militares ucranianos com munição de artilharia suficiente faz parte de um esforço maior liderado pelos americanos para aumentar seu poder de combate geral, fornecendo também armas de longo alcance mais precisas, tanques ocidentais e veículos blindados de combate e treinamento de uso dessas armas combinadas.

Até agora, os Estados Unidos enviaram ou prometeram enviar à Ucrânia pouco mais de um milhão de projéteis de 155 milímetros. Uma parte considerável disso - embora menos da metade - veio dos estoques em Israel e na Coréia do Sul, disse uma autoridade sênior dos EUA, falando sob condição de anonimato para discutir questões operacionais.

Outros países ocidentais, incluindo Alemanha, Canadá, Estônia e Itália, enviaram projéteis de 155 milímetros para a Ucrânia.

O exército ucraniano usa cerca de 90.000 cartuchos de artilharia por mês, cerca de duas vezes a taxa que estão sendo fabricados pelos Estados Unidos e países europeus juntos, disseram autoridades americanas e ocidentais. O restante deve vir de outras fontes, incluindo estoques existentes ou vendas comerciais.

Cautela com os estoques americanos

Kofman disse em uma entrevista que, sem ajustes na forma como os militares ucranianos lutam, futuras ofensivas ucranianas podem exigir significativamente mais munição de artilharia para avançar contra as defesas russas entrincheiradas.

“Os EUA estão compensando a diferença com seus estoques, mas essa é uma solução insustentável”, disse Kofman, diretor de estudos russos do CNA, um instituto de pesquisa em Arlington, na Virgínia.

Funcionários do Pentágono dizem que devem garantir que, mesmo quando armarem a Ucrânia, os estoques americanos não caiam para níveis perigosamente baixos. De acordo com dois altos funcionários israelenses, os Estados Unidos prometeram a Israel que reabastecerão o que for necessário dos armazéns em seu território e enviariam munição imediatamente em caso de emergência grave.

“Estamos confiantes de que continuaremos a apoiar a Ucrânia pelo tempo que for necessário”, disse o general Patrick Ryder, porta-voz do Pentágono, a repórteres na semana passada. “E estamos confiantes de que seremos capazes de continuar a manter os níveis de prontidão que são vitais para defender nossa nação.”

O general Ryder disse ao The New York Times em um comunicado na terça-feira que o Pentágono “não discutirá a localização ou as unidades que fornecem o equipamento ou material”, citando razões de segurança operacional.

Quando, no ano passado, o Pentágono levantou pela primeira vez a ideia de retirar as munições do estoque, as autoridades israelenses expressaram preocupação com a reação de Moscou.

Embargo às vendas

Israel impôs um embargo quase total à venda de armas para a Ucrânia, temendo que a Rússia possa retaliar usando suas forças na Síria para limitar os ataques aéreos israelenses direcionados às forças iranianas e do Hezbollah.

O relacionamento de Israel com a Rússia está sob escrutínio desde a invasão russa da Ucrânia em fevereiro passado, e as autoridades ucranianas criticaram o governo de Israel por oferecer a seu país apenas apoio limitado e se curvar à pressão russa.

À medida que a guerra se arrastava, o Pentágono e os israelenses chegaram a um acordo para mover cerca de 300.000 projéteis de 155 milímetros, disseram autoridades israelenses e americanas.

O desejo americano de mover as munições foi oficialmente apresentado em uma conversa telefônica criptografada entre o secretário de defesa dos EUA, Lloyd J. Austin III, e Benny Gantz, o ministro da defesa israelense na época, de acordo com um oficial israelense que foi informado sobre os detalhes da conversa.

Gantz levou a questão ao gabinete israelense. Os funcionários pediram para ouvir a opinião do establishment de Defesa, cujos representantes recomendaram aceitar o plano para evitar tensões com os Estados Unidos, em parte porque a munição era propriedade americana. Yair Lapid, então primeiro-ministro, aprovou o pedido ao final da discussão.

As autoridades israelenses disseram que Israel não havia mudado sua política de não fornecer armas letais à Ucrânia e, ao contrário, estava concordando com a decisão americana de usar sua própria munição como bem entendesse.

“Com base em uma solicitação dos EUA, certos equipamentos foram transferidos para o estoque do Departamento de Defesa dos EUA” em Israel, disse um porta-voz das Forças de Defesa de Israel em um comunicado.

O estoque de equipamento militar americano e munições em Israel tem suas origens na Guerra Árabe-Israelense de 1973, que viu os Estados Unidos transportando armas para reabastecer as forças israelenses.

Após a guerra, os Estados Unidos estabeleceram armazéns em Israel para que pudessem contar com eles caso fossem novamente pegos em uma crise. Um memorando estratégico assinado pelos dois países na década de 1980 abriu caminho para o “pré-posicionamento” de ativos do Pentágono em Israel, segundo dois ex-funcionários dos EUA e um ex-oficial militar israelense com conhecimento direto do acordo.

Tanques e veículos blindados americanos foram inicialmente transferidos para o deserto do sul de Israel com o entendimento de que seriam usados pelas forças dos EUA na região, se necessário, disseram as autoridades, que falaram sob condição de anonimato para discutir deliberações internas delicadas.

Nos anos 2000, o programa foi expandido para incluir munições para o Exército, Marinha e Força Aérea dos EUA – todas armazenadas em locais separados acessíveis apenas a militares americanos, de acordo com um ex-inspetor de armas dos EUA.

Na época, o estoque, oficialmente chamado de WRSA-I, ou War Reserve Stocks for Allies-Israel, era supervisionado pelo Comando Europeu dos EUA. Mas agora é administrado pelo Comando Central dos EUA, após uma reformulação de sua área de responsabilidade em setembro de 2021.

Israel foi autorizado a retirar munições americanas do estoque durante sua guerra com o Hezbollah no verão de 2006 e novamente durante as operações contra o Hamas na Faixa de Gaza em 2014, de acordo com um relatório do Serviço de Pesquisa do Congresso divulgado em fevereiro de 2022.

O Pentágono também abordou a Coreia do Sul no ano passado sobre a transferência de munições do estoque dos EUA para a Ucrânia. Os sul-coreanos estavam mais dispostos do que os israelenses a trabalhar com os Estados Unidos no uso dos estoques, disse um alto funcionário dos EUA. Mas eles também se opuseram ao envio de projéteis de artilharia diretamente para a Ucrânia, embora por razões diferentes, disse o oficial. O governo sul-coreano não queria balas de artilharia marcadas como R.O.K. (República da Coreia) aparecendo na Ucrânia em violação das regras de exportação de armas sul-coreanas.

Chegou-se a um acordo. Os projéteis de artilharia do estoque coreano seriam enviados para reabastecer os estoques americanos em outros lugares.

Os Estados Unidos também concordaram em comprar 100.000 novos projéteis de artilharia da Coreia do Sul.

Autoridades dos EUA dizem que o acesso aos estoques no exterior ajudará os ucranianos até que os fabricantes de munição americanos possam aumentar sua produção.

Outros fatores podem aliviar a pressão por mais projéteis. O fogo de artilharia da Rússia diminuiu drasticamente nas últimas semanas, disseram autoridades do Pentágono, possivelmente refletindo o racionamento de munições por causa dos poucos suprimentos.

Funcionários da Casa Branca disseram em novembro que a Coreia do Norte estava enviando projéteis de artilharia para a Rússia, outro sinal de provável escassez de munições, disseram autoridades dos EUA.

Finalmente, os Estados Unidos estão ajudando a Ucrânia a usar munição de forma mais eficiente. Os ucranianos dispararam tantas barragens de artilharia que cerca de um terço dos obuses de 155 milímetros fornecidos pelos Estados Unidos e outras nações ocidentais estão fora de serviço para reparos.

Durante o verão, durante intensos combates entre a Ucrânia e a Rússia na região oriental de Donbass, funcionários do Pentágono coletaram imagens de satélite que mostraram a devastação causada em terras agrícolas entre as trincheiras das duas forças. Os campos foram transformados em paisagens lunares, esburacados e perfurados por milhares de crateras.

Desde então, as autoridades americanas pedem aos ucranianos que usem sua artilharia de forma mais criteriosa. E a chegada da artilharia de foguetes de precisão, como a artilharia de foguetes HIMARS, permitiu que a Ucrânia atacasse com mais habilidade.

WASHINGTON - O Departamento de Justiça dos Estados Unidos vai enviar um vasto, mas pouco conhecido, estoque de munição americana em Israel para ajudar a atender à extrema necessidade da Ucrânia de projéteis de artilharia na guerra com a Rússia, disseram autoridades americanas e israelenses.

O estoque fornece armas e munições para o Pentágono usar em conflitos no Oriente Médio. Os Estados Unidos também permitiram que Israel tivesse acesso aos suprimentos em emergências.

O conflito na Ucrânia tornou-se uma guerra de atrito impulsionada pela artilharia, com cada lado lançando milhares de projéteis todos os dias. A Ucrânia está ficando sem munição para seu armamento da era soviética e passou a usar artilharia e munições doadas pelos Estados Unidos e outros aliados ocidentais.

Membros do exército ucraniano nas linhas de batalha próximas de Kherson, em 27 de outubro de 2022. Militares do país devem receber novas remessas de armas dos EUA diretamente de Israel Foto: Ivor Prickett/NYT

A artilharia constitui a espinha dorsal do poder de fogo de combate terrestre tanto para a Ucrânia quanto para a Rússia, e o resultado da guerra pode depender de qual lado ficará sem munição primeiro, dizem analistas militares.

Com os estoques nos Estados Unidos esgotados e os fabricantes de armas americanos ainda incapazes de acompanhar o ritmo das operações no campo de batalha da Ucrânia, o Pentágono recorreu a dois suprimentos alternativos de projéteis para preencher a lacuna: um na Coréia do Sul e outro em Israel, que ainda ão havia sido usado na guerra da Ucrânia.

O envio de centenas de milhares de projéteis de artilharia dos dois estoques para ajudar a sustentar o esforço de guerra da Ucrânia encontra entraves nos limites da base industrial americana e as sensibilidades diplomáticas de dois aliados vitais dos EUA que se comprometeram publicamente a não enviar ajuda militar letal à Ucrânia.

Israel sempre se recusou a fornecer armas à Ucrânia por medo de prejudicar as relações próximas com Moscou e inicialmente expressou preocupação em parecer cúmplice em armar a Ucrânia se o Pentágono retirasse suas munições do estoque. Cerca de metade das 300.000 munições destinadas à Ucrânia já foram enviadas para a Europa e serão entregues pela Polônia, disseram autoridades israelenses e americanas.

Enquanto autoridades militares e de defesa de dezenas de nações, incluindo países da Otan, se preparam para se reunir na Base Aérea de Ramstein, na Alemanha, na sexta-feira, para discutir o envio de mais tanques e outras armas à Ucrânia, as autoridades americanas têm se esforçado nos bastidores para reunir projéteis suficientes para manter Kyev suficientemente abastecida este ano, inclusive em uma ofensiva prevista para a primavera.

“Com a linha de frente agora praticamente estacionada, a artilharia se tornou a arma de combate mais importante”, disse Mark Cancian, ex-estrategista de armas da Casa Branca, em um novo estudo para o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, onde ele é um conselheiro sênior.

Outra análise publicada no mês passado pelo Instituto de Pesquisa de Política Externa disse que se a Ucrânia continuasse a receber um suprimento constante de munição, especialmente para artilharia, bem como peças sobressalentes, teria uma boa chance de recuperar mais território que a Rússia havia tomado.

Imagem de 2019 mostra tanque de batalha Marder, do Exército da Alemanha, durante treinamento em Munster. Berlim e Washington coordenam um "novo passo qualitativo" nas entregas de armas à Ucrânia Foto: PATRIK STOLLARZ / AFP - 20/05/2019

“A questão é se essas vantagens serão suficientes para as forças ucranianas retomarem o território das tropas russas entrincheiradas”, escreveram Rob Lee e Michael Kofman, importantes analistas militares.

Armar os militares ucranianos com munição de artilharia suficiente faz parte de um esforço maior liderado pelos americanos para aumentar seu poder de combate geral, fornecendo também armas de longo alcance mais precisas, tanques ocidentais e veículos blindados de combate e treinamento de uso dessas armas combinadas.

Até agora, os Estados Unidos enviaram ou prometeram enviar à Ucrânia pouco mais de um milhão de projéteis de 155 milímetros. Uma parte considerável disso - embora menos da metade - veio dos estoques em Israel e na Coréia do Sul, disse uma autoridade sênior dos EUA, falando sob condição de anonimato para discutir questões operacionais.

Outros países ocidentais, incluindo Alemanha, Canadá, Estônia e Itália, enviaram projéteis de 155 milímetros para a Ucrânia.

O exército ucraniano usa cerca de 90.000 cartuchos de artilharia por mês, cerca de duas vezes a taxa que estão sendo fabricados pelos Estados Unidos e países europeus juntos, disseram autoridades americanas e ocidentais. O restante deve vir de outras fontes, incluindo estoques existentes ou vendas comerciais.

Cautela com os estoques americanos

Kofman disse em uma entrevista que, sem ajustes na forma como os militares ucranianos lutam, futuras ofensivas ucranianas podem exigir significativamente mais munição de artilharia para avançar contra as defesas russas entrincheiradas.

“Os EUA estão compensando a diferença com seus estoques, mas essa é uma solução insustentável”, disse Kofman, diretor de estudos russos do CNA, um instituto de pesquisa em Arlington, na Virgínia.

Funcionários do Pentágono dizem que devem garantir que, mesmo quando armarem a Ucrânia, os estoques americanos não caiam para níveis perigosamente baixos. De acordo com dois altos funcionários israelenses, os Estados Unidos prometeram a Israel que reabastecerão o que for necessário dos armazéns em seu território e enviariam munição imediatamente em caso de emergência grave.

“Estamos confiantes de que continuaremos a apoiar a Ucrânia pelo tempo que for necessário”, disse o general Patrick Ryder, porta-voz do Pentágono, a repórteres na semana passada. “E estamos confiantes de que seremos capazes de continuar a manter os níveis de prontidão que são vitais para defender nossa nação.”

O general Ryder disse ao The New York Times em um comunicado na terça-feira que o Pentágono “não discutirá a localização ou as unidades que fornecem o equipamento ou material”, citando razões de segurança operacional.

Quando, no ano passado, o Pentágono levantou pela primeira vez a ideia de retirar as munições do estoque, as autoridades israelenses expressaram preocupação com a reação de Moscou.

Embargo às vendas

Israel impôs um embargo quase total à venda de armas para a Ucrânia, temendo que a Rússia possa retaliar usando suas forças na Síria para limitar os ataques aéreos israelenses direcionados às forças iranianas e do Hezbollah.

O relacionamento de Israel com a Rússia está sob escrutínio desde a invasão russa da Ucrânia em fevereiro passado, e as autoridades ucranianas criticaram o governo de Israel por oferecer a seu país apenas apoio limitado e se curvar à pressão russa.

À medida que a guerra se arrastava, o Pentágono e os israelenses chegaram a um acordo para mover cerca de 300.000 projéteis de 155 milímetros, disseram autoridades israelenses e americanas.

O desejo americano de mover as munições foi oficialmente apresentado em uma conversa telefônica criptografada entre o secretário de defesa dos EUA, Lloyd J. Austin III, e Benny Gantz, o ministro da defesa israelense na época, de acordo com um oficial israelense que foi informado sobre os detalhes da conversa.

Gantz levou a questão ao gabinete israelense. Os funcionários pediram para ouvir a opinião do establishment de Defesa, cujos representantes recomendaram aceitar o plano para evitar tensões com os Estados Unidos, em parte porque a munição era propriedade americana. Yair Lapid, então primeiro-ministro, aprovou o pedido ao final da discussão.

As autoridades israelenses disseram que Israel não havia mudado sua política de não fornecer armas letais à Ucrânia e, ao contrário, estava concordando com a decisão americana de usar sua própria munição como bem entendesse.

“Com base em uma solicitação dos EUA, certos equipamentos foram transferidos para o estoque do Departamento de Defesa dos EUA” em Israel, disse um porta-voz das Forças de Defesa de Israel em um comunicado.

O estoque de equipamento militar americano e munições em Israel tem suas origens na Guerra Árabe-Israelense de 1973, que viu os Estados Unidos transportando armas para reabastecer as forças israelenses.

Após a guerra, os Estados Unidos estabeleceram armazéns em Israel para que pudessem contar com eles caso fossem novamente pegos em uma crise. Um memorando estratégico assinado pelos dois países na década de 1980 abriu caminho para o “pré-posicionamento” de ativos do Pentágono em Israel, segundo dois ex-funcionários dos EUA e um ex-oficial militar israelense com conhecimento direto do acordo.

Tanques e veículos blindados americanos foram inicialmente transferidos para o deserto do sul de Israel com o entendimento de que seriam usados pelas forças dos EUA na região, se necessário, disseram as autoridades, que falaram sob condição de anonimato para discutir deliberações internas delicadas.

Nos anos 2000, o programa foi expandido para incluir munições para o Exército, Marinha e Força Aérea dos EUA – todas armazenadas em locais separados acessíveis apenas a militares americanos, de acordo com um ex-inspetor de armas dos EUA.

Na época, o estoque, oficialmente chamado de WRSA-I, ou War Reserve Stocks for Allies-Israel, era supervisionado pelo Comando Europeu dos EUA. Mas agora é administrado pelo Comando Central dos EUA, após uma reformulação de sua área de responsabilidade em setembro de 2021.

Israel foi autorizado a retirar munições americanas do estoque durante sua guerra com o Hezbollah no verão de 2006 e novamente durante as operações contra o Hamas na Faixa de Gaza em 2014, de acordo com um relatório do Serviço de Pesquisa do Congresso divulgado em fevereiro de 2022.

O Pentágono também abordou a Coreia do Sul no ano passado sobre a transferência de munições do estoque dos EUA para a Ucrânia. Os sul-coreanos estavam mais dispostos do que os israelenses a trabalhar com os Estados Unidos no uso dos estoques, disse um alto funcionário dos EUA. Mas eles também se opuseram ao envio de projéteis de artilharia diretamente para a Ucrânia, embora por razões diferentes, disse o oficial. O governo sul-coreano não queria balas de artilharia marcadas como R.O.K. (República da Coreia) aparecendo na Ucrânia em violação das regras de exportação de armas sul-coreanas.

Chegou-se a um acordo. Os projéteis de artilharia do estoque coreano seriam enviados para reabastecer os estoques americanos em outros lugares.

Os Estados Unidos também concordaram em comprar 100.000 novos projéteis de artilharia da Coreia do Sul.

Autoridades dos EUA dizem que o acesso aos estoques no exterior ajudará os ucranianos até que os fabricantes de munição americanos possam aumentar sua produção.

Outros fatores podem aliviar a pressão por mais projéteis. O fogo de artilharia da Rússia diminuiu drasticamente nas últimas semanas, disseram autoridades do Pentágono, possivelmente refletindo o racionamento de munições por causa dos poucos suprimentos.

Funcionários da Casa Branca disseram em novembro que a Coreia do Norte estava enviando projéteis de artilharia para a Rússia, outro sinal de provável escassez de munições, disseram autoridades dos EUA.

Finalmente, os Estados Unidos estão ajudando a Ucrânia a usar munição de forma mais eficiente. Os ucranianos dispararam tantas barragens de artilharia que cerca de um terço dos obuses de 155 milímetros fornecidos pelos Estados Unidos e outras nações ocidentais estão fora de serviço para reparos.

Durante o verão, durante intensos combates entre a Ucrânia e a Rússia na região oriental de Donbass, funcionários do Pentágono coletaram imagens de satélite que mostraram a devastação causada em terras agrícolas entre as trincheiras das duas forças. Os campos foram transformados em paisagens lunares, esburacados e perfurados por milhares de crateras.

Desde então, as autoridades americanas pedem aos ucranianos que usem sua artilharia de forma mais criteriosa. E a chegada da artilharia de foguetes de precisão, como a artilharia de foguetes HIMARS, permitiu que a Ucrânia atacasse com mais habilidade.

WASHINGTON - O Departamento de Justiça dos Estados Unidos vai enviar um vasto, mas pouco conhecido, estoque de munição americana em Israel para ajudar a atender à extrema necessidade da Ucrânia de projéteis de artilharia na guerra com a Rússia, disseram autoridades americanas e israelenses.

O estoque fornece armas e munições para o Pentágono usar em conflitos no Oriente Médio. Os Estados Unidos também permitiram que Israel tivesse acesso aos suprimentos em emergências.

O conflito na Ucrânia tornou-se uma guerra de atrito impulsionada pela artilharia, com cada lado lançando milhares de projéteis todos os dias. A Ucrânia está ficando sem munição para seu armamento da era soviética e passou a usar artilharia e munições doadas pelos Estados Unidos e outros aliados ocidentais.

Membros do exército ucraniano nas linhas de batalha próximas de Kherson, em 27 de outubro de 2022. Militares do país devem receber novas remessas de armas dos EUA diretamente de Israel Foto: Ivor Prickett/NYT

A artilharia constitui a espinha dorsal do poder de fogo de combate terrestre tanto para a Ucrânia quanto para a Rússia, e o resultado da guerra pode depender de qual lado ficará sem munição primeiro, dizem analistas militares.

Com os estoques nos Estados Unidos esgotados e os fabricantes de armas americanos ainda incapazes de acompanhar o ritmo das operações no campo de batalha da Ucrânia, o Pentágono recorreu a dois suprimentos alternativos de projéteis para preencher a lacuna: um na Coréia do Sul e outro em Israel, que ainda ão havia sido usado na guerra da Ucrânia.

O envio de centenas de milhares de projéteis de artilharia dos dois estoques para ajudar a sustentar o esforço de guerra da Ucrânia encontra entraves nos limites da base industrial americana e as sensibilidades diplomáticas de dois aliados vitais dos EUA que se comprometeram publicamente a não enviar ajuda militar letal à Ucrânia.

Israel sempre se recusou a fornecer armas à Ucrânia por medo de prejudicar as relações próximas com Moscou e inicialmente expressou preocupação em parecer cúmplice em armar a Ucrânia se o Pentágono retirasse suas munições do estoque. Cerca de metade das 300.000 munições destinadas à Ucrânia já foram enviadas para a Europa e serão entregues pela Polônia, disseram autoridades israelenses e americanas.

Enquanto autoridades militares e de defesa de dezenas de nações, incluindo países da Otan, se preparam para se reunir na Base Aérea de Ramstein, na Alemanha, na sexta-feira, para discutir o envio de mais tanques e outras armas à Ucrânia, as autoridades americanas têm se esforçado nos bastidores para reunir projéteis suficientes para manter Kyev suficientemente abastecida este ano, inclusive em uma ofensiva prevista para a primavera.

“Com a linha de frente agora praticamente estacionada, a artilharia se tornou a arma de combate mais importante”, disse Mark Cancian, ex-estrategista de armas da Casa Branca, em um novo estudo para o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, onde ele é um conselheiro sênior.

Outra análise publicada no mês passado pelo Instituto de Pesquisa de Política Externa disse que se a Ucrânia continuasse a receber um suprimento constante de munição, especialmente para artilharia, bem como peças sobressalentes, teria uma boa chance de recuperar mais território que a Rússia havia tomado.

Imagem de 2019 mostra tanque de batalha Marder, do Exército da Alemanha, durante treinamento em Munster. Berlim e Washington coordenam um "novo passo qualitativo" nas entregas de armas à Ucrânia Foto: PATRIK STOLLARZ / AFP - 20/05/2019

“A questão é se essas vantagens serão suficientes para as forças ucranianas retomarem o território das tropas russas entrincheiradas”, escreveram Rob Lee e Michael Kofman, importantes analistas militares.

Armar os militares ucranianos com munição de artilharia suficiente faz parte de um esforço maior liderado pelos americanos para aumentar seu poder de combate geral, fornecendo também armas de longo alcance mais precisas, tanques ocidentais e veículos blindados de combate e treinamento de uso dessas armas combinadas.

Até agora, os Estados Unidos enviaram ou prometeram enviar à Ucrânia pouco mais de um milhão de projéteis de 155 milímetros. Uma parte considerável disso - embora menos da metade - veio dos estoques em Israel e na Coréia do Sul, disse uma autoridade sênior dos EUA, falando sob condição de anonimato para discutir questões operacionais.

Outros países ocidentais, incluindo Alemanha, Canadá, Estônia e Itália, enviaram projéteis de 155 milímetros para a Ucrânia.

O exército ucraniano usa cerca de 90.000 cartuchos de artilharia por mês, cerca de duas vezes a taxa que estão sendo fabricados pelos Estados Unidos e países europeus juntos, disseram autoridades americanas e ocidentais. O restante deve vir de outras fontes, incluindo estoques existentes ou vendas comerciais.

Cautela com os estoques americanos

Kofman disse em uma entrevista que, sem ajustes na forma como os militares ucranianos lutam, futuras ofensivas ucranianas podem exigir significativamente mais munição de artilharia para avançar contra as defesas russas entrincheiradas.

“Os EUA estão compensando a diferença com seus estoques, mas essa é uma solução insustentável”, disse Kofman, diretor de estudos russos do CNA, um instituto de pesquisa em Arlington, na Virgínia.

Funcionários do Pentágono dizem que devem garantir que, mesmo quando armarem a Ucrânia, os estoques americanos não caiam para níveis perigosamente baixos. De acordo com dois altos funcionários israelenses, os Estados Unidos prometeram a Israel que reabastecerão o que for necessário dos armazéns em seu território e enviariam munição imediatamente em caso de emergência grave.

“Estamos confiantes de que continuaremos a apoiar a Ucrânia pelo tempo que for necessário”, disse o general Patrick Ryder, porta-voz do Pentágono, a repórteres na semana passada. “E estamos confiantes de que seremos capazes de continuar a manter os níveis de prontidão que são vitais para defender nossa nação.”

O general Ryder disse ao The New York Times em um comunicado na terça-feira que o Pentágono “não discutirá a localização ou as unidades que fornecem o equipamento ou material”, citando razões de segurança operacional.

Quando, no ano passado, o Pentágono levantou pela primeira vez a ideia de retirar as munições do estoque, as autoridades israelenses expressaram preocupação com a reação de Moscou.

Embargo às vendas

Israel impôs um embargo quase total à venda de armas para a Ucrânia, temendo que a Rússia possa retaliar usando suas forças na Síria para limitar os ataques aéreos israelenses direcionados às forças iranianas e do Hezbollah.

O relacionamento de Israel com a Rússia está sob escrutínio desde a invasão russa da Ucrânia em fevereiro passado, e as autoridades ucranianas criticaram o governo de Israel por oferecer a seu país apenas apoio limitado e se curvar à pressão russa.

À medida que a guerra se arrastava, o Pentágono e os israelenses chegaram a um acordo para mover cerca de 300.000 projéteis de 155 milímetros, disseram autoridades israelenses e americanas.

O desejo americano de mover as munições foi oficialmente apresentado em uma conversa telefônica criptografada entre o secretário de defesa dos EUA, Lloyd J. Austin III, e Benny Gantz, o ministro da defesa israelense na época, de acordo com um oficial israelense que foi informado sobre os detalhes da conversa.

Gantz levou a questão ao gabinete israelense. Os funcionários pediram para ouvir a opinião do establishment de Defesa, cujos representantes recomendaram aceitar o plano para evitar tensões com os Estados Unidos, em parte porque a munição era propriedade americana. Yair Lapid, então primeiro-ministro, aprovou o pedido ao final da discussão.

As autoridades israelenses disseram que Israel não havia mudado sua política de não fornecer armas letais à Ucrânia e, ao contrário, estava concordando com a decisão americana de usar sua própria munição como bem entendesse.

“Com base em uma solicitação dos EUA, certos equipamentos foram transferidos para o estoque do Departamento de Defesa dos EUA” em Israel, disse um porta-voz das Forças de Defesa de Israel em um comunicado.

O estoque de equipamento militar americano e munições em Israel tem suas origens na Guerra Árabe-Israelense de 1973, que viu os Estados Unidos transportando armas para reabastecer as forças israelenses.

Após a guerra, os Estados Unidos estabeleceram armazéns em Israel para que pudessem contar com eles caso fossem novamente pegos em uma crise. Um memorando estratégico assinado pelos dois países na década de 1980 abriu caminho para o “pré-posicionamento” de ativos do Pentágono em Israel, segundo dois ex-funcionários dos EUA e um ex-oficial militar israelense com conhecimento direto do acordo.

Tanques e veículos blindados americanos foram inicialmente transferidos para o deserto do sul de Israel com o entendimento de que seriam usados pelas forças dos EUA na região, se necessário, disseram as autoridades, que falaram sob condição de anonimato para discutir deliberações internas delicadas.

Nos anos 2000, o programa foi expandido para incluir munições para o Exército, Marinha e Força Aérea dos EUA – todas armazenadas em locais separados acessíveis apenas a militares americanos, de acordo com um ex-inspetor de armas dos EUA.

Na época, o estoque, oficialmente chamado de WRSA-I, ou War Reserve Stocks for Allies-Israel, era supervisionado pelo Comando Europeu dos EUA. Mas agora é administrado pelo Comando Central dos EUA, após uma reformulação de sua área de responsabilidade em setembro de 2021.

Israel foi autorizado a retirar munições americanas do estoque durante sua guerra com o Hezbollah no verão de 2006 e novamente durante as operações contra o Hamas na Faixa de Gaza em 2014, de acordo com um relatório do Serviço de Pesquisa do Congresso divulgado em fevereiro de 2022.

O Pentágono também abordou a Coreia do Sul no ano passado sobre a transferência de munições do estoque dos EUA para a Ucrânia. Os sul-coreanos estavam mais dispostos do que os israelenses a trabalhar com os Estados Unidos no uso dos estoques, disse um alto funcionário dos EUA. Mas eles também se opuseram ao envio de projéteis de artilharia diretamente para a Ucrânia, embora por razões diferentes, disse o oficial. O governo sul-coreano não queria balas de artilharia marcadas como R.O.K. (República da Coreia) aparecendo na Ucrânia em violação das regras de exportação de armas sul-coreanas.

Chegou-se a um acordo. Os projéteis de artilharia do estoque coreano seriam enviados para reabastecer os estoques americanos em outros lugares.

Os Estados Unidos também concordaram em comprar 100.000 novos projéteis de artilharia da Coreia do Sul.

Autoridades dos EUA dizem que o acesso aos estoques no exterior ajudará os ucranianos até que os fabricantes de munição americanos possam aumentar sua produção.

Outros fatores podem aliviar a pressão por mais projéteis. O fogo de artilharia da Rússia diminuiu drasticamente nas últimas semanas, disseram autoridades do Pentágono, possivelmente refletindo o racionamento de munições por causa dos poucos suprimentos.

Funcionários da Casa Branca disseram em novembro que a Coreia do Norte estava enviando projéteis de artilharia para a Rússia, outro sinal de provável escassez de munições, disseram autoridades dos EUA.

Finalmente, os Estados Unidos estão ajudando a Ucrânia a usar munição de forma mais eficiente. Os ucranianos dispararam tantas barragens de artilharia que cerca de um terço dos obuses de 155 milímetros fornecidos pelos Estados Unidos e outras nações ocidentais estão fora de serviço para reparos.

Durante o verão, durante intensos combates entre a Ucrânia e a Rússia na região oriental de Donbass, funcionários do Pentágono coletaram imagens de satélite que mostraram a devastação causada em terras agrícolas entre as trincheiras das duas forças. Os campos foram transformados em paisagens lunares, esburacados e perfurados por milhares de crateras.

Desde então, as autoridades americanas pedem aos ucranianos que usem sua artilharia de forma mais criteriosa. E a chegada da artilharia de foguetes de precisão, como a artilharia de foguetes HIMARS, permitiu que a Ucrânia atacasse com mais habilidade.

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