BOGOTÁ - O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, nomeou nesta sexta-feira, 12, uma nova liderança militar à qual pediu “o aumento substancial” do respeito aos direitos humanos e às liberdades civis.
O primeiro líder de esquerda a chegar ao poder na Colômbia prometeu em sua campanha reformas na força pública questionada por seus excessos em operações contra grupos armados e nos protestos contra o governo.
Como comandante das forças militares, Petro nomeou o general Helder Fernan Giraldo, militar de 55 anos que estava encarregado das operações na violenta fronteira de 2,2 mil km com a Venezuela.
O general Luis Mauricio Ospina assumirá o comando do Exército, enquanto o general Luis Carlos Córdoba comandará a Aeronáutica. O general Henry Armando Sanabria comandará a Polícia e o vice-almirante Francisco Hernando Cubides comandará a Marinha.
Em meio ao pior pico de violência após o acordo de paz de 2016 com a guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a nova liderança terá como prioridades “a redução da violência, do crime e o aumento substancial do respeito aos direitos humanos e das liberdades civis”, disse Petro em uma entrevista coletiva.
A ascensão de Petro ao poder perturba os militares, que agora respondem a um ex-membro da guerrilha de esquerda que lutou durante seis décadas de conflito.
Durante a campanha, o presidente acusou membros da antiga liderança militar de serem aliados do Clã do Golfo, a maior quadrilha de traficantes do país.
Em resposta, o então comandante do Exército, general Eduardo Zapateiro, repreendeu-o publicamente em uma intervenção política inusitada, já que a Constituição do país proíbe a força pública de participar do debate político e votar.
“Estamos diante de uma mudança, uma mudança de mentalidades, o governo mudou, as estratégias mudaram”, disse Petro nesta sexta-feira. “A trajetória dos novos comandantes mostra corrupção zero, violação zero de direitos fundamentais, pelo menos por meio das informações que obtivemos.”
Em abril, o então candidato qualificou de “crime de guerra” uma operação militar contra supostos guerrilheiros na fronteira com o Equador, na qual morreram 11 pessoas, várias delas civis, segundo os moradores.
Do Parlamento, ele também criticou a repressão policial durante os protestos do ano passado contra seu antecessor, Iván Duque, nos quais 28 pessoas morreram nas mãos da força pública, segundo a ONU.
Ministério da paz
Seu governo está buscando transformar ou eliminar a tropa de choque envolvida em muitos desses abusos e remover a polícia da pasta da Defesa para que ela se torne um “ministério especial” de paz, convivência e segurança.
Embora os militares gozem de apoio popular, escândalos minaram sua reputação, incluindo as alianças com paramilitares sanguinários e a execução de 6.402 civis que as tropas apresentaram como guerrilheiros mortos em combate para inflar seus resultados entre 2002 e 2008.
“Queremos uma política de dignidade e melhoria da qualidade de vida dos militares”, explicou, acrescentando que seu governo vai procurar que “não haja uma barreira quase intransponível que existe hoje entre suboficiais e oficiais”.
A nomeação da liderança militar foi um dos pronunciamentos mais esperados depois que Petro assumiu a presidência da Colômbia no último domingo.
Negociações com o ELN
Ainda nesta sexta-feira, o governo da Colômbia reconheceu a legitimidade da comissão de negociação do Exército de Libertação Nacional (ELN) para retomar as conversas de paz em Cuba e anunciou que ambas as partes concordam na necessidade de reiniciar o diálogo, interrompido há quatro anos.
A delegação do governo colombiano, acompanhada pelo chanceler Álvaro Leyva, se reuniu nesta sexta-feira com integrantes desta guerrilha radicados em Havana desde 2018.
Petro explicou em entrevista coletiva em Bogotá que a aproximação com o ELN em Havana é “um processo estudado, de olhar para o que restava há anos, de ver o que pode ser resgatado, processos que já existiam para negociações, de tréguas”, entre outros.
Após o anúncio da delegação em Havana, o governo colombiano informou a libertação de nove pessoas que estavam nas mãos do ELN desde 13 de julho no Departamento de Arauca, que faz fronteira com a Venezuela.
O grupo detido era de 11 pessoas, mas 2 morreram em cativeiro, entre elas um ex-combatente das Farc que havia aceitado o acordo de paz, informou a Defensoria do Estado, que zela pelos direitos humanos.
O ex-presidente colombiano Juan Manuel Santos, que negociou a paz em Havana com as Farc, também iniciou em 2017 diálogos com o ELN. No entanto, seu sucessor, Duque, enterrou as conversas em 2018 após um atentado contra uma academia da Polícia que deixou 22 mortos.
Embora o acordo de paz que desarmou as Farc em 2017 tenha resultado em um alívio da violência, a Colômbia é assolada por um novo surto de derramamento de sangue causado por grupos armados que disputam o controle do tráfico de drogas e o garimpo ilegal no país./AFP e EFE