PF investiga rede russa de apoio a espião que se passou por estudante brasileiro


Governo russo diz que Sergey Vladimir Cherkasov é um traficante de drogas e pede a extradição dele; STF só permitirá a saída depois de concluída investigação da PF sobre a rede do espião no País.

Por Vinícius Valfré e Julia Affonso
Atualização:

BRASÍLIA - A Polícia Federal investiga se o espião russo Sergei Vladimir Cherkasov, que fingiu ser um estudante brasileiro para entrar nos Estados Unidos e na Europa, realizou ações de espionagem também em território nacional, com o auxílio de uma rede de apoio formada por outros agentes infiltrados. Cherkasov foi preso no Brasil ao ser deportado da Holanda, em abril de 2022, com um passaporte falso.

Um inquérito que tramita na PF em São Paulo aponta para “atos de espionagem” praticados no Brasil, nos Estados Unidos e na Irlanda. Também estão na mira dos investigadores brasileiros crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A pedido da polícia, a Justiça Federal determinou a quebra dos sigilos bancário e de dados, além do confisco de bens que o russo tinha no Brasil. Os agentes já encontraram indícios de outras pessoas envolvidas.

Depois de estudar na prestigiosa Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, Cherkasov, com o nome falso de Victor Muller Ferreira, conseguiu um estágio no Tribunal Penal Internacional em Haia. Uma investigação do FBI e de autoridades holandesas levou à sua deportação para o Brasil antes que ele começasse o estágio no Tribunal. Ali, segundo autoridades americanas, ele buscaria informações sobre crimes de guerra da Rússia na Ucrânia.

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Além de Cherkasov, ao menos outros dois espiões russos com identidades brasileiras falsas foram descobertos nos últimos meses. Em outubro, o serviço de inteligência da Noruega deteve Mikhail Valeryevich Mikushin. Ele se apresentava como o pesquisador José Assis Giammaria na Universidade de Tromsø.

E Gerhard Daniel Campos Wittich era o nome falso de um outro espião russo que morou no Rio de Janeiro por cinco anos e se dizia brasileiro com ascendência austríaca. Ele foi descoberto pela inteligência da Grécia neste mês, segundo o The Guardian, porque a mulher dele, também espiã, estaria atuando em Atenas.

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O caso mais documentado é o de Sergei Cherkasov. Ele aparece em relatórios de inteligência dos Estados Unidos que foram compartilhados com o governo holandês quando o russo tentou entrar no país, a partir do Brasil. Ele foi condenado a 15 anos de prisão por uso de passaporte e documentos falsos, em junho, pela Justiça Federal em São Paulo. Primeiro ficou preso em São Paulo e em dezembro foi transferido a Brasília, onde permanece.

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A Polícia britânica trabalha nesta terça-feira em um restaurante italiano em busca da substância que envenenou o ex-espião russo Sergei Skripal. Ele está internado em estado grave.

Pedido de extradição

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Depois da prisão do espião no ano passada, o governo russo passou a atuar no caso e pediu a extradição de Cherkasov sob o argumento de enviá-lo para cumprimento de pena por tráfico de drogas naquele país. Apesar de as acusações serem de fatos supostamente ocorridos entre 2011 e 2013, o governo russo decidiu buscá-lo internacionalmente para cumprimento da pena apenas em junho de 2022, depois da prisão no Brasil. O processo estava parado desde abril de 2017. E os registros de imigração apontam que o espião veio ao Brasil pela primeira vez em 2010. Em 2011, entrou pela segunda vez no País.

O passaporte original diz que ele nasceu em 11 de setembro de 1985. Os documentos falsos que obteve no Brasil sob a identidade de Victor Muller Ferreira dizem que ele nasceu em 4 de abril de 1989. Como nome da mãe ele usou a identidade de uma mulher que morreu em março de 2010 e que não teve filhos.

Para as falsificações, ele contou com a ajuda de uma mulher ligada a um cartório. Em agradecimento aos serviços chegou a presenteá-la com um colar Swarovsky que custou cerca de US$ 400. Em uma mensagem recuperada por investigadores, Cherkasov disse que ela poderia ajudar com documentos falsos de outros espiões russos.

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Em julho de 2022, a representação russa usou canais diplomáticos para pedir a extradição de seu cidadão ao governo brasileiro. No mês seguinte, o pedido foi formalizado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em uma audiência por videoconferência, Sergei Cherkasov afirmou que gostaria de ser enviado de volta ao seu país para cumprir a pena imposta pela Justiça russa.

O caso tramita sob relatoria do ministro Edson Fachin. No mês passado, o magistrado negou pedido de revogação da prisão, reconheceu requisitos necessários à extradição, mas determinou que ela só será executada após as investigações contra o russo no Brasil serem concluídas.

Construindo um personagem

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Victor Muller Ferreira é um personagem que o espião construía há quase uma década, segundo relatórios de inteligência. Do Brasil, viajou para estudos na Irlanda e nos Estados Unidos, sempre com a identidade falsa. A última investida visava um estágio no Tribunal de Haia, na Holanda, no ano passado. Ele acabou interceptado por autoridades holandesas e interrogado por horas, antes de ser enviado de volta ao Brasil.

À época da descoberta, autoridades holandesas encontraram com ele um documento com passagens da própria vida. Seria uma forma de se familiarizar com o personagem que vivia na pele. As anotações tinham detalhes da infância em Niterói, no Rio de Janeiro, e até endereços de restaurantes preferidos em Brasília.

BRASÍLIA - A Polícia Federal investiga se o espião russo Sergei Vladimir Cherkasov, que fingiu ser um estudante brasileiro para entrar nos Estados Unidos e na Europa, realizou ações de espionagem também em território nacional, com o auxílio de uma rede de apoio formada por outros agentes infiltrados. Cherkasov foi preso no Brasil ao ser deportado da Holanda, em abril de 2022, com um passaporte falso.

Um inquérito que tramita na PF em São Paulo aponta para “atos de espionagem” praticados no Brasil, nos Estados Unidos e na Irlanda. Também estão na mira dos investigadores brasileiros crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A pedido da polícia, a Justiça Federal determinou a quebra dos sigilos bancário e de dados, além do confisco de bens que o russo tinha no Brasil. Os agentes já encontraram indícios de outras pessoas envolvidas.

Depois de estudar na prestigiosa Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, Cherkasov, com o nome falso de Victor Muller Ferreira, conseguiu um estágio no Tribunal Penal Internacional em Haia. Uma investigação do FBI e de autoridades holandesas levou à sua deportação para o Brasil antes que ele começasse o estágio no Tribunal. Ali, segundo autoridades americanas, ele buscaria informações sobre crimes de guerra da Rússia na Ucrânia.

Além de Cherkasov, ao menos outros dois espiões russos com identidades brasileiras falsas foram descobertos nos últimos meses. Em outubro, o serviço de inteligência da Noruega deteve Mikhail Valeryevich Mikushin. Ele se apresentava como o pesquisador José Assis Giammaria na Universidade de Tromsø.

E Gerhard Daniel Campos Wittich era o nome falso de um outro espião russo que morou no Rio de Janeiro por cinco anos e se dizia brasileiro com ascendência austríaca. Ele foi descoberto pela inteligência da Grécia neste mês, segundo o The Guardian, porque a mulher dele, também espiã, estaria atuando em Atenas.

O caso mais documentado é o de Sergei Cherkasov. Ele aparece em relatórios de inteligência dos Estados Unidos que foram compartilhados com o governo holandês quando o russo tentou entrar no país, a partir do Brasil. Ele foi condenado a 15 anos de prisão por uso de passaporte e documentos falsos, em junho, pela Justiça Federal em São Paulo. Primeiro ficou preso em São Paulo e em dezembro foi transferido a Brasília, onde permanece.

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A Polícia britânica trabalha nesta terça-feira em um restaurante italiano em busca da substância que envenenou o ex-espião russo Sergei Skripal. Ele está internado em estado grave.

Pedido de extradição

Depois da prisão do espião no ano passada, o governo russo passou a atuar no caso e pediu a extradição de Cherkasov sob o argumento de enviá-lo para cumprimento de pena por tráfico de drogas naquele país. Apesar de as acusações serem de fatos supostamente ocorridos entre 2011 e 2013, o governo russo decidiu buscá-lo internacionalmente para cumprimento da pena apenas em junho de 2022, depois da prisão no Brasil. O processo estava parado desde abril de 2017. E os registros de imigração apontam que o espião veio ao Brasil pela primeira vez em 2010. Em 2011, entrou pela segunda vez no País.

O passaporte original diz que ele nasceu em 11 de setembro de 1985. Os documentos falsos que obteve no Brasil sob a identidade de Victor Muller Ferreira dizem que ele nasceu em 4 de abril de 1989. Como nome da mãe ele usou a identidade de uma mulher que morreu em março de 2010 e que não teve filhos.

Para as falsificações, ele contou com a ajuda de uma mulher ligada a um cartório. Em agradecimento aos serviços chegou a presenteá-la com um colar Swarovsky que custou cerca de US$ 400. Em uma mensagem recuperada por investigadores, Cherkasov disse que ela poderia ajudar com documentos falsos de outros espiões russos.

Em julho de 2022, a representação russa usou canais diplomáticos para pedir a extradição de seu cidadão ao governo brasileiro. No mês seguinte, o pedido foi formalizado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em uma audiência por videoconferência, Sergei Cherkasov afirmou que gostaria de ser enviado de volta ao seu país para cumprir a pena imposta pela Justiça russa.

O caso tramita sob relatoria do ministro Edson Fachin. No mês passado, o magistrado negou pedido de revogação da prisão, reconheceu requisitos necessários à extradição, mas determinou que ela só será executada após as investigações contra o russo no Brasil serem concluídas.

Construindo um personagem

Victor Muller Ferreira é um personagem que o espião construía há quase uma década, segundo relatórios de inteligência. Do Brasil, viajou para estudos na Irlanda e nos Estados Unidos, sempre com a identidade falsa. A última investida visava um estágio no Tribunal de Haia, na Holanda, no ano passado. Ele acabou interceptado por autoridades holandesas e interrogado por horas, antes de ser enviado de volta ao Brasil.

À época da descoberta, autoridades holandesas encontraram com ele um documento com passagens da própria vida. Seria uma forma de se familiarizar com o personagem que vivia na pele. As anotações tinham detalhes da infância em Niterói, no Rio de Janeiro, e até endereços de restaurantes preferidos em Brasília.

BRASÍLIA - A Polícia Federal investiga se o espião russo Sergei Vladimir Cherkasov, que fingiu ser um estudante brasileiro para entrar nos Estados Unidos e na Europa, realizou ações de espionagem também em território nacional, com o auxílio de uma rede de apoio formada por outros agentes infiltrados. Cherkasov foi preso no Brasil ao ser deportado da Holanda, em abril de 2022, com um passaporte falso.

Um inquérito que tramita na PF em São Paulo aponta para “atos de espionagem” praticados no Brasil, nos Estados Unidos e na Irlanda. Também estão na mira dos investigadores brasileiros crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A pedido da polícia, a Justiça Federal determinou a quebra dos sigilos bancário e de dados, além do confisco de bens que o russo tinha no Brasil. Os agentes já encontraram indícios de outras pessoas envolvidas.

Depois de estudar na prestigiosa Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, Cherkasov, com o nome falso de Victor Muller Ferreira, conseguiu um estágio no Tribunal Penal Internacional em Haia. Uma investigação do FBI e de autoridades holandesas levou à sua deportação para o Brasil antes que ele começasse o estágio no Tribunal. Ali, segundo autoridades americanas, ele buscaria informações sobre crimes de guerra da Rússia na Ucrânia.

Além de Cherkasov, ao menos outros dois espiões russos com identidades brasileiras falsas foram descobertos nos últimos meses. Em outubro, o serviço de inteligência da Noruega deteve Mikhail Valeryevich Mikushin. Ele se apresentava como o pesquisador José Assis Giammaria na Universidade de Tromsø.

E Gerhard Daniel Campos Wittich era o nome falso de um outro espião russo que morou no Rio de Janeiro por cinco anos e se dizia brasileiro com ascendência austríaca. Ele foi descoberto pela inteligência da Grécia neste mês, segundo o The Guardian, porque a mulher dele, também espiã, estaria atuando em Atenas.

O caso mais documentado é o de Sergei Cherkasov. Ele aparece em relatórios de inteligência dos Estados Unidos que foram compartilhados com o governo holandês quando o russo tentou entrar no país, a partir do Brasil. Ele foi condenado a 15 anos de prisão por uso de passaporte e documentos falsos, em junho, pela Justiça Federal em São Paulo. Primeiro ficou preso em São Paulo e em dezembro foi transferido a Brasília, onde permanece.

Seu navegador não suporta esse video.

A Polícia britânica trabalha nesta terça-feira em um restaurante italiano em busca da substância que envenenou o ex-espião russo Sergei Skripal. Ele está internado em estado grave.

Pedido de extradição

Depois da prisão do espião no ano passada, o governo russo passou a atuar no caso e pediu a extradição de Cherkasov sob o argumento de enviá-lo para cumprimento de pena por tráfico de drogas naquele país. Apesar de as acusações serem de fatos supostamente ocorridos entre 2011 e 2013, o governo russo decidiu buscá-lo internacionalmente para cumprimento da pena apenas em junho de 2022, depois da prisão no Brasil. O processo estava parado desde abril de 2017. E os registros de imigração apontam que o espião veio ao Brasil pela primeira vez em 2010. Em 2011, entrou pela segunda vez no País.

O passaporte original diz que ele nasceu em 11 de setembro de 1985. Os documentos falsos que obteve no Brasil sob a identidade de Victor Muller Ferreira dizem que ele nasceu em 4 de abril de 1989. Como nome da mãe ele usou a identidade de uma mulher que morreu em março de 2010 e que não teve filhos.

Para as falsificações, ele contou com a ajuda de uma mulher ligada a um cartório. Em agradecimento aos serviços chegou a presenteá-la com um colar Swarovsky que custou cerca de US$ 400. Em uma mensagem recuperada por investigadores, Cherkasov disse que ela poderia ajudar com documentos falsos de outros espiões russos.

Em julho de 2022, a representação russa usou canais diplomáticos para pedir a extradição de seu cidadão ao governo brasileiro. No mês seguinte, o pedido foi formalizado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em uma audiência por videoconferência, Sergei Cherkasov afirmou que gostaria de ser enviado de volta ao seu país para cumprir a pena imposta pela Justiça russa.

O caso tramita sob relatoria do ministro Edson Fachin. No mês passado, o magistrado negou pedido de revogação da prisão, reconheceu requisitos necessários à extradição, mas determinou que ela só será executada após as investigações contra o russo no Brasil serem concluídas.

Construindo um personagem

Victor Muller Ferreira é um personagem que o espião construía há quase uma década, segundo relatórios de inteligência. Do Brasil, viajou para estudos na Irlanda e nos Estados Unidos, sempre com a identidade falsa. A última investida visava um estágio no Tribunal de Haia, na Holanda, no ano passado. Ele acabou interceptado por autoridades holandesas e interrogado por horas, antes de ser enviado de volta ao Brasil.

À época da descoberta, autoridades holandesas encontraram com ele um documento com passagens da própria vida. Seria uma forma de se familiarizar com o personagem que vivia na pele. As anotações tinham detalhes da infância em Niterói, no Rio de Janeiro, e até endereços de restaurantes preferidos em Brasília.

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