O plano que o presidente dos EUA, George W. Bush, anunciará nesta quarta para o Iraque - provavelmente incluindo o envio de mais 20 mil soldados americanos ao país - tem ecos do Vietnã, com a crença de que um esforço extra deve dar conta do recado. A estratégia também tem várias contradições entre a esperança por resultados rápidos e a evolução gradativa pregada pelas novas táticas desenvolvidas pelo Exército americano para conter a insurgência. Essas táticas foram delineadas pelo general David Petraeus, nome favorito para assumir as forças americanas no Iraque. A sugestão da mídia de que o reforço das tropas é uma medida rápida e temporária também contraria os conceitos do general. Repetição A história não se repete totalmente e assim, o que aconteceu no Vietnã talvez não aconteça no Iraque. Contudo, há paralelos interessantes entre as duas guerras. Primeiro, existe a consciência de Washington de que a atual política não está tendo resultados. Isso já foi admitido pelo próprio presidente Bush. Segundo, existe uma tentativa de entrega da responsabilidade para o governo local durante a guerra e não depois dela - o que aconteceu no Vietnã com a política da ?vietnamização?. Em terceiro lugar, a administração americana acredita piamente que um novo envio de tropas faz parte da resposta adequada. Quarto: opositores da guerra estão convencidos de que a tarefa não pode ser cumprida e que os Estados Unidos devem se desvencilhar da missão o quanto antes - a opinião pública também é comum aos dois conflitos. Em quinto lugar, nos tempos do Vietnã, o presidente também solicitou a consultoria de um grupo externo. Na ocasião, Lyndon Johnson buscou conselhos dos chamados Wise Men ("Os Seis Sábios") que, como o Grupo de Estudos do Iraque, também aconselhou uma retirada militar. Os ?Seis Sábios? eram um grupo de notáveis, formado durante a administração do presidente Harry Truman, para desenvolver uma política para conter o avanço do comunismo no mundo. O fator Bush Contudo, também há diferenças consideráveis. A operação no Vietnã foi muito maior. Os Estados Unidos tinham enviado mais de 500 mil soldados. A luta era contra o Exército norte-vietnamita e contra os insurgentes vietcongs. Também há o fator Bush. Ele já está indo contra as sugestões feitas pelo Grupo de Estudos do Iraque, que entende que uma retirada é necessária o mais rápido possível. Contudo, Bush parece cada vez mais convencido a fazer a rota inversa. Ele está determinado a não ter um segundo Vietnã. Se os líderes americanos estavam convencidos de que o comunismo tomaria conta do sul da Ásia, caso o Vietnã fosse conquistado, Bush tem mais certeza ainda de que o fundamentalismo islâmico vai ganhar terreno com a queda do Iraque. No livro das memórias do presidente Lyndon Johnson, The Vantage Point, pode-se encontrar uma leitura bastante instrutiva, onde se percebe o conflito entre confiança e dúvida e como as opções foram ficando cada vez mais limitadas. Ofensiva do Tet O ano-chave para os Estados Unidos na guerra do Vietnã provavelmente foi em 1968, quando, em janeiro, o Exército norte-vietnamita desfechou a Ofensiva do Tet. A ofensiva do Tet foi uma manobra lançada pelo Exército norte-vietnamita e pela Frente Nacional de Libertação do Vietnã no final de janeiro de 1968. A operação surpreendeu por ter sido marcada para o dia do Tet (o Ano Novo vietnamita) e trazer um ataque conjunto em várias cidades do sul do país, especialmente a capital Saigon. Apesar da ofensiva ter sido rechaçada pelos americanos, o vice-presidente Hubert Humphrey disse a Johnson: ?O Tet realmente nos derrubou?. As memórias de Johnson nos lembram do falso otimismo que permeava a administração da época. À época, o general William Westmoreland, comandante das forças americanas no Vietnã, pediu mais tropas e as conseguiu. Johnson observou que o general ?acreditava que aproveitar a oportunidade poderia encurtar a guerra?. Johnson menciona as suas próprias esperanças de que o Vietnã do Sul pudesse fazer mais por si mesmo. ?Eu queria que os sul-vietnamitas tivessem uma responsabilidade mais pesada na luta pelo seu país?. Contudo, ele não estava seguro sobre o futuro e pouco depois anunciou que não disputaria a reeleição. Hora de sair ?O general Creighton Abrams [assistente de Westmoreland, mas que depois assumiria o comando das tropas] me deu um relatório completo sobre a situação e falando com bastante confiança sobre os avanços do Exército sul-vietnamita?, observou Johnson em 26 de março de 1968. Johnson temia que os ?Seis Sábios? ?estivessem muito influenciados pela cobertura negativa pessimista da imprensa sobre a guerra?. Só que os ?Seis Sábios? tinham suas próprias razões para a postura pessimista. O ex-presidente diz no livro que, no mesmo dia em que ele recebeu o relatório do general Abrams, Dean Acheson, ex-secretário de Estado, afirmava que ?sentia que a tarefa não poderia mais ser cumprida em tempo hábil?. Acheson também teria dito que era preciso fazer a retirada. A maioria dos ?Sábios? concordava. A história do desenvolvimento do Exército sul-vietnamita, escrita em 1991 pelo brigadeiro-general James Collins, historiador-chefe do Exército americano, delineia a decisão tomada. ?Em 16 de abril [de 1968], o vice-secretário de Defesa ordenou um plano para uma retirada gradual com a entrega da responsabilidade da guerra para as forças sul-vietnamitas?, escreveu Collins. Assim, depois de muitos acontecimentos, os americanos se retirariam em 1973. Em 30 de abril de 1975, os tanques norte-vietnamitas entraram em Saigon (então capital do Vietnã do Sul). include $_SERVER["DOCUMENT_ROOT"]."/ext/selos/bbc.inc"; ?>