WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou o seu plano de paz para o conflito entre Israel e Palestina nesta terça-feira, 28, ao lado do primeiro-ministro interino israelense, Binyamin Netanyahu. O plano de Trump garante que Israel controle uma Jerusalém unificada como capital e não exige o desmantelamento de nenhum assentamento na Cisjordânia que provocaram indignação palestina e alienaram grande parte do mundo exterior.
No que chamou de 'acordo do século', Trump disse que seu "plano para Oriente Médio propõe uma solução de dois Estados realista", e esta pode "ser a última oportunidade para os palestinos".
Sem dar detalhes práticos de como será a execução do plano, o presidente dos Estados Unidos disse que “Jerusalém será a capital sagrada e indivisível de Israel”, sob aplausos dos presentes. Em seguida, afirmou que Jerusalém Oriental seria constituída a capital de um futuro Estado palestino.
No discurso, Trump relembrou o reconhecimento de Jerusalém como capital israelense e das Colinas do Golan como território de Israel, duas decisões que geraram revolta no Oriente Médio. "Portanto, é razoável que eu tenha de fazer muito para os palestinos, ou não seria justo", disse o americano.
“Este mapa do acordo vai quase dobrar o território palestino e permitir aos palestinos que constituam sua capital em Jerusalém Oriental, em um território duplo", afirmou, sem explicar como esse território seria "dobrado".
Também afirmou que se os palestinos conseguirem manter a segurança e evitar o terrorismo contra Israel, haverá a “injeção de US$ 50 bilhões para a Palestina para gerar 1 milhão de empregos”.
Para que a “transição ocorra pacificamente, os EUA abrirão embaixada também na capital da Palestina” e vão oferecer a “garantia de visita de muçulmanos a mesquita sagrada de Al-Aqsa, em Jerusalém”, garantiu o republicano.
"Quero que seja um grande acordo para os palestinos. É uma oportunidade histórica para eles, depois de 70 anos sem progresso", acrescentou Trump.
O principal arquiteto do plano de paz é o genro e assessor de Trump, Jared Kushner, que passou os últimos três anos conversando com lideranças israelenses e com alguns líderes de países do Oriente Médio para desenhar o plano.
Protestos
Os palestinos não participaram das negociações, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, se negou a conversar com Trump na segunda-feira, 27, sobre a proposta.
A divulgação do plano provocou protestos por toda a Cisjordânia e também na Faixa de Gaza. Centenas de manifestantes se reuniram para queimar cartazes de Donald Trump e de Netanyahu.
O acordo tem apoio total de Israel. O país passará por eleições em março, mas os dois principais candidatos, Netanyahu e seu opositor, o general Benny Gantz, já conversaram com Trump e se mostraram entusiasmados com a proposta.
Parte da expectativa em torno do plano de Trump se devia à recente decisão dos Estados Unidos em deixar de considerar os assentamentos israelenses na Cisjordânia uma violação ao direito internacional — uma reversão da política adotada em 1978, no governo de Jimmy Carter.
"O plano corre o risco de ser um elemento catastrófico que aprofundará as feridas e prejudicará o frágil equilíbrio do volátil conflito entre Israel e Palestina", afirmou o analista palestino Sam Bahour. Para Bahour, "Trump está brincando com fogo."
Acordo do século ou fiasco?
Desde que chegou à Casa Branca, Trump promete “o acordo do século”, que colocaria fim ao conflito. Mas a maioria dos analistas duvida da capacidade do plano de Trump de alcançar a paz entre israelenses e palestinos.
O chamado "acordo do século" é, na visão do analista israelense Amir Oren, "puramente político".
Para ele, o fato de o plano ser rejeitado por antecipação pelos palestinos, que não aceitam o governo dos Estados Unidos como único mediador, faz a ideia já nascer morta. "O plano será só um espetáculo", resumiu Oren.
O momento de divulgação da proposta, faltando pouco mais de um mês para as novas eleições de Israel, marcadas para o próximo dia 2 de março, também atende aos interesses do próprio Trump e de Netanyahu.
Oren diz não ver chances de que o acordo traga mudanças para a situação entre israelenses e palestinos, mas será um instrumento de campanha para Netanyahu, que mantém como promessa a anexação dos assentamentos na Cisjordânia ocupada.
Para Oren, o acordo também é uma forma de Trump desviar a atenção do processo de impeachment aberto contra ele e agradar um setor estratégico do eleitorado republicano: os evangélicos, defensores decididos de Israel.
Palestinos ameaçam deixar Acordos de Oslo
Os palestinos ameaçaram se retirar dos Acordos de Oslo, que enquadram suas relações com Israel se Trump continuar com seu plano de paz no Oriente Médio, considerado "histórico" por Israel.
A "Organização de Libertação da Palestina (OLP) se reserva o direito de retirar-se do acordo provisório", como é chamado, das discussões em Oslo, disse o secretário-geral da OLP, Saeb Erekat.
Segundo o acordo provisório de Oslo II, de setembro de 1995, entre a OLP e Israel, a Cisjordânia estava dividida em três zonas: A, sob controle civil e de segurança palestino, B, sob controle civil palestino e de segurança israelense, e C, sob controle civil e de segurança israelense.
Este acordo provisório terminava em 1999, mas desde então foi renovado tacitamente por ambas as partes. Para Erekat, o plano americano "transformará ocupação temporária em ocupação permanente".
Hamas rejeita o acordo
O plano de paz de Trump para o Oriente Médio "está fadado ao fracasso", disse Ismail Haniyeh, líder do Hamas, o movimento governante na Faixa de Gaza, o pequeno enclave palestino com 2 milhões de habitantes, em comunicado.
O movimento islâmico também pediu negociações no Cairo com as outras "facções palestinas", incluindo Fatah, de Abbas - que governa a Cisjordânia ocupada - para coordenar a reação ao plano dos EUA.
Logo após sua declaração, um foguete foi lançado de Gaza para Israel, de acordo com o Exército israelense, que anunciou que havia respondido. /AFP, REUTERS e NYT