LIMA - O Conselho de Estado do Peru, que reúne os presidentes dos três Poderes, sinalizou, na sexta-feira, 16, apoio à polícia e às forças armadas na repressão contra a onda de protestos que ocorre no país desde a queda do então presidente Pedro Castillo. O número de pessoas mortas nas manifestações chega a 22, segundo a mais recente atualização das autoridades de saúde, enquanto o número de feridos está em torno de 500.
“As forças policiais e as forças armadas têm sido apoiadas no controle da situação. Acredito que o país deve apoiar e estimular nossas forças para restabelecer a paz e a tranquilidade no país”, afirmou o presidente do Conselho Nacional de Justiça, Henrique Ávila, no final da reunião entre os Poderes.
O encontro contou com a participação da presidente da República, Dina Boluarte, que assumiu o cargo depois da destituição do ex-presidente Pedro Castillo, na semana passada, após este tentar um golpe de Estado. Participaram ainda os presidentes do Congresso, José Williams; do Judiciário, Elvia Barrios; da Corte Constitucional, Francisco Morales; além da ouvidora Eliana Revollar, e do controlador geral, Nelson Shack.
Ávila explicou que o conselho exorta todos os “cidadãos envolvidos nas ações de violência a cessarem a conduta nas regiões do país”. Ele ainda acrescentou que o Executivo começou a “promover mesas de diálogo para qualificar as reivindicações sociais que os cidadãos têm de levantar; mas não pela violência e sim pelo diálogo e pelas conversas entre cidadãos e autoridades. Nunca com violência”.
O Peru vive dias de tensão social e política desde o último 7 de dezembro, dia da tentativa de golpe do então presidente Pedro Castillo, após o qual o Congresso o demitiu e pouco depois o prendeu. A justiça peruana ainda decretou 18 meses de prisão preventiva contra Castillo.
No mesmo dia, a vice-presidente, Dina Boluarte, assumiu o cargo de chefe de Estado. E, cerca de três dias depois, eclodiram manifestações, protestos e motins em grande parte do país.
Protestos
Pelo menos mais dois manifestantes morreram, na sexta-feira nos confrontos com a polícia no departamento peruano de Junín (centro), elevando o total de vítimas. As mortes nos protestos que pedem o fechamento do Congresso e a renúncia da presidente Dina Boluarte chegam a 22.
A Direção Regional de Saúde de Junín confirmou, na noite de sexta-feira, que três civis morreram “em consequência dos confrontos ocorridos no distrito de Pichanaki durante o dia”, eventos que também deixaram 52 feridos, dos quais 43 são manifestantes e nove são policiais.
Essas três vítimas se somam às seis de Apurímac, às três de La Libertad, às oito de Ayacucho, à de Arequipa e à de Cuzco. Até agora, as identidades de todas as vítimas não foram fornecidas, mas pelo menos três delas eram menores de idade.
Também nesta sexta-feira, o Ministério da Saúde anunciou que 63 pessoas continuam internadas após os protestos que ocorreram em vários pontos do país. Destas, 26 estão em Ayacucho, no sul do país, onde na quinta-feira os manifestantes tentaram tomar o aeroporto. Na ocasião, os militares abriram fogo contra o grupo.
A Direção Regional de Saúde de Ayacucho indicou que “os 410 estabelecimentos de saúde e hospitais de apoio da região estão em alerta vermelho, a fim de garantir a presença de pessoal, a disponibilidade de suprimentos médicos e o atendimento oportuno dos pacientes”.
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Com a ascensão dos protestos, o governo de Boluarte decretou estado de emergência em nível nacional por 30 dias a fim de controlar atos de vandalismo e violência cometidos nas manifestações. Na quinta-feira, 15, foi decretado toque de recolher em 15 províncias de oito departamentos.
“Lamento os trágicos acontecimentos que ceifaram a vida de vários compatriotas em inúmeras regiões do país. Isso tem que acabar”, enfatizou Boluarte nesta sexta-feira, na solenidade de formatura dos oficiais da Escola Militar de Chorrillos.
A presidente convocou os líderes das igrejas católica, cristã e evangélica para montar uma mesa de diálogo em cada uma das regiões que se mobilizaram, com o objetivo de abrir espaços para convocar os representantes que lideram as marchas para ouvir suas demandas e canalizá-las.
Antecipação das eleições
Também na sexta-feira, o Congresso do Peru rejeitou antecipar as eleições gerais do país para dezembro de 2023. A antecipação das eleições, previstas para 2026, é uma demanda de classes políticas e de movimentos sociais do Peru que realizam a onda de protestos.
A proposta para antecipar o pleito de abril de 2026 para dezembro de 2023 necessitava de 87 votos para prosperar, mas obteve 49 a favor, 33 contra e 25 abstenções, segundo a contagem oficial da votação no plenário. Os deputados ainda discutem se as eleições serão antecipadas para 2024.
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Desde que Castillo foi deposto e preso e a sua vice-presidente, Dina Boluarte, assumiu o comando do Peru, parte dos peruanos foram às ruas para pedir que as eleições do país fossem antecipadas e o Congresso fechado. O governo peruano declarou estado de emergência em todo o país e enviou um projeto para as eleições ocorrerem em 2024. /Agências internacionais