Um policial de Michigan, nos Estados Unidos, atirou fatalmente na nuca de um homem negro, identificado como Patrick Lyoya, 26, enquanto ele estava de bruços no chão. Vídeos do incidente, que aconteceu no dia 4 de abril, foram divulgados nesta quarta-feira, 13. O tiro foi o ponto mais crítico de uma perseguição a pé e briga por uma arma de choque depois de Lyoya ter sido abordado pelo agente.
A morte de Patrick indignou familiares e desencadeou protestos na cidade de Grand Rapids de repúdio a violência policial contra jovens.
Lyoya é natural do Congo e tinha duas filhas pequenas e cinco irmãos, segundo a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer, que conversou com sua família. “Ele chegou aos Estados Unidos como refugiado com sua família fugindo da violência. Ele tinha toda a sua vida pela frente”, disse a governadora, uma democrata.
O novo chefe de polícia da cidade, Eric Winstrom, divulgou quatro vídeos nesta quarta-feira, 13, com a alegação de transparência dos fatos. “Eu vejo isso como uma tragédia (...) foi uma progressão triste para mim”, disse Winstrom, ex-comandante do alto escalão da polícia de Chicago.
As autoridades não informaram a identidade do policial que atirou em Lyoya, mas afirmaram que ele atua há 7 anos na polícia e está afastado durante as investigações.
Os vídeos mostram que Lyoya estava em um carro quando foi abordado pelo policial. Ele sai do carro antes que o policial se aproxime, mas em seguida recebe a ordem para voltar ao veículo. Ele se recusa a voltar e é perguntado pelo policial se fala inglês. O oficial também exige a carteira de motorista de Lyoya. Ele tenta se afastar e a perseguição começa logo depois.
A pé, Lyoya corre e é alcançado pelo policial. Os dois começam a brigar e Lyoya tenta pegar a arma de choque. Nos momentos finais, o oficial está em cima de Lyoya, se ajoelha sobre as suas costas para dominá-lo e atira. “Do meu ponto de vista sobre o vídeo, o teaser foi usado duas vezes, mas sem fazer contato (com a vítima)”, disse Wistrom. “Lyoya foi baleado na cabeça. Essa é a única informação que eu tenho”.
ATENÇÃO - IMAGENS FORTES
A polícia estadual investiga o caso. O médico legista chefe do condado de Kent, Stephen Cohle, disse que completou a autópsia, mas os testes toxicológicos ainda não foram concluídos.
Os vídeos foram coletados do celular do passageiro que estava com Lyoya, da câmera do policial junto ao corpo, do carro-patrulha do policial e de uma câmera de campainha. O promotor Chris Becker, que decidirá se as acusações são justificadas, se opôs à libertação do policial, mas disse que Winstrom poderia agir por conta própria.
Becker acrescentou que o público não deve esperar uma decisão rápida. “Embora os vídeos divulgados hoje sejam uma evidência importante, eles não são todas as evidências”, disse ele.
O prefeito da cidade, Mark Washington, alertou que os vídeos levariam a “manifestações de choque, raiva e dor”. Algumas empresas do centro fecharam suas fachadas com tábuas e a sede da polícia foi cercada com barricadas de concreto.
Protestos anti-racistas
Na noite desta terça-feira, 12, antes da divulgação dos vídeos, mais de 100 pessoas marcharam em protesto para a Prefeitura de Grand Rapids antes de uma reunião da Câmara Municipal. Havia gritos de “Vidas negras importam” e “Sem justiça, sem paz”.
O chefe da polícia, Eric Winstrom, disse na semana passada que conheceu o pai de Lyoya, Peter Lyoya, e que ambos choraram. “Eu entendo como pai. (...) É simplesmente de partir o coração”, disse o chefe à imprensa norte-americana.
Como em muitas cidades dos Estados Unidos, a polícia de Grand Rapids já foi criticada pelo uso da força, principalmente contra os negros, que representam 18% da população. Há uma ação judicial em andamento na Suprema Corte de Michigan sobre a prática policial de fotografar e tirar impressões digitais de pessoas que nunca foram acusadas de um crime. Segundo a polícia de Grand Rapids, essa política mudou em 2015.
Uma rua do centro da cidade foi designada como Breonna Taylor Way, em homenagem à mulher negra e nativa de Grand Rapids que foi morta pela polícia em Louisville, Kentucky, durante uma operação antidrogas fracassada em 2020. /AP E REUTERS