O governo da presidente Cristina Kirchner negou ontem que esteja planejando a "chavização" da economia argentina. "É um disparate que digam que o chavismo vem aí", afirmou o ministro argentino do Interior, Florencio Randazzo. "Não estatizaremos empresas." A manobra foi interpretada no âmbito político como uma tentativa apressada de diferenciar Cristina do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que na quinta-feira estatizou três empresas argentinas instaladas no país. Nos últimos dias surgiram rumores de que Cristina planejava um programa local de nacionalizações. No ano passado, a presidente estatizou o sistema de aposentadorias e a companhia aérea Aerolíneas Argentinas. "O governo argentino tem posição diferente da Venezuela. Acreditamos em um capitalismo nacional e na necessidade de intervenção do Estado em áreas específicas, mas não vamos sair estatizando empresas", disse Randazzo, sem criticar Chávez de forma direta pela nacionalização das empresas argentinas Tavsa, Matesi e Comsigua. Ano passado, o presidente venezuelano já havia estatizado a siderúrgica Sidor, também controlada por um grupo argentino. O anúncio da estatização de empresas argentinas causa problemas para Cristina e seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, que estão em campanha para as eleições parlamentares do dia 28 de junho. Além disso, atrapalha as celebrações do casal, que hoje completa seis anos no poder. Desde 2005, os Kirchners dependem de Chávez, que foi o principal comprador estrangeiro dos títulos da dívida pública argentina - US$ 9,2 bilhões, pelos quais a Argentina paga juros de 14%. "São decisões soberanas, que respeitamos", disse Randazzo, em referência às estatizações. No entanto, o ministro argentino afirmou que o governo "fará tudo a seu alcance para recuperar as empresas". Randazzo disse que Chávez não avisou Cristina sobre as estatizações. A oposição argentina afirma que Chávez esteve reunido com os Kirchners em Buenos Aires e teria sido hóspede do casal presidencial em El Calafate, uma semana antes do anúncio das estatizações. Segundo uma dos principais nomes da oposição, Elisa Carrió, da Coalizão Cívica, os Kirchners apoiaram as medidas de Chávez. "Esse é o modelo de populismo confiscatório que os Kirchners aplicarão se ganharem as eleições." Nos últimos dias, as estatizações das empresas argentinas na Venezuela causaram forte reação em Buenos Aires. A União Industrial Argentina (UIA), a Associação Empresarial Argentina (AEA), a Associação de Bancos da Argentina (ABA), a Câmara Argentina do Comércio, a Confederação Geral Empresarial (CGE) e a Sociedade Rural, que geralmente estão separadas por divergências políticas, criticaram a medida e exigiram que Cristina tome providências para recuperar as empresas. A Confederação Geral do Trabalho (CGT), maior central sindical e aliada de Cristina, inesperadamente criticou a estatização de Chávez. "Estatizar empresas privadas não é aquilo que o general Perón nos ensinou", disse a CGT, em comunicado.