Político que coleciona relíquias de Mussolini é eleito presidente do Senado na Itália


Ignazio La Russa vai presidir a Câmara alta italiana, mesmo sem ter recebido o apoio do Força Itália, um dos partidos da coalização de extrema direita vencedora das eleições

Por Redação

ROMA - A Itália instalou seu novo Parlamento nesta quinta-feira, 13, após a vitória da extrema direita nas eleições de 25 de setembro, em um primeiro passo para a formação do Executivo que provavelmente será liderado pela pós-fascista Giorgia Meloni. Na abertura do Senado, o ultradireitista Ignazio La Russa, famoso por colecionar relíquias fascistas, foi eleito presidente da casa, mesmo sem o apoio de um dos partidos da coalização vencedora das eleições.

“Rasputin”, como era chamado por causa da longa barba e cabelo que usava nos anos 70, inspirados no conselheiro do último czar russo Nicolau II, La Russa será fundamental para o primeiro governo liderado por uma mulher e que vem da extrema direita. O veterano político de 75 anos participou de todas as manobras políticas da direita italiana nos últimos trinta anos.

La Russa, que está entre os fundadores do partido pós-fascista Irmãos da Itália, recebeu 116 votos a favor dos 104 necessários, enquanto 65 ficaram em branco. “Escolheram um patriota”, reagiu Meloni. Sua eleição, porém, gerou reações porque não teve o apoio dos senadores do Força Itália, um dos partidos da coalizão, que não participaram da votação, o que mostra as fortes divisões internas do novo governo.

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Um dos fundadores do partido Irmãos da Itália, Ignazio La Russa, discursa no Senado italiano depois de ter sido eleito seu novo presidente, em Roma  Foto: Alessandro Di Meo/EPA/EFE

O presidente da Câmara dos Deputados será eleito na sexta-feira, 14, após negociações entre as forças da coalizão vencedora formada pelo partido Irmãos da Itália, de Meloni, que conquistou 26% dos votos, a Liga Anti-Imigração de Matteo Salvini e a conservadora Força Itália de Silvio Berlusconi, ambas com menos de 10%, mas fundamentais para garantir a maioria.

Ignazio La Russa, cujo nome do meio é Benito, como Mussolini, nasceu em 18 de julho de 1947 em Paternò, perto de Catania, na Sicília, em uma família de proprietários de terras. Seu pai, Antonino La Russa, foi secretário da seção local do Partido Nacional Fascista (PNF), de Mussolini.

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Militante do Movimento Social Italiano desde jovem, foi deputado e senador do partido dos herdeiros do fascismo após a 2ª Guerra, mesmo partido em que Giorgia Meloni iniciou sua carreira na adolescência. “O MSI foi o partido dos que perderam a guerra, mas seu grande mérito é que nunca pensou em terrorismo ou rebelião e sempre em democracia”, disse La Russa ao jornal Il Corriere della Sera. “Claro que eles tinham uma visão diferente da história, mas construíram um partido muito democrático”.

Nos últimos dias, surgiu um vídeo de La Russa gravado em 2018 mostrando relíquias fascistas, incluindo fotos, medalhas e uma estátua de Mussolini, em sua casa. “Tem até um símbolo comunista, mas colocamos embaixo dos pés [da estátua de Mussolini]”, disse ele na filmagem.

O recém-eleito presidente do Senado italiano, Ignazio La Russa, faz seu discurso de posse durante a sessão de abertura do novo Parlamento Foto: Gregorio Borgia/AP
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Em fevereiro de 2020, para zombar das medidas de distanciamento devido à pandemia de coronavírus, ele publicou um tweet em sua conta que teve que retirar: “Não se aproxime de ninguém, é mortal se contaminar. Faça a saudação romana: é antiviral e contra os micróbios.”

Recentemente, seu irmão, Romano, chefe da Segurança da Região da Lombardia, provocou polêmica durante a campanha eleitoral ao fazer a saudação fascista durante o funeral de um militante neofascista. “Foi um erro grave”, lamentou La Russa, embora alguns dias depois tenha comentado: “Todos somos herdeiros do Duce”, disse em um programa de televisão, “no sentido de que somos herdeiros de nossos pais e avós”.

Sobrevivente do Holocausto abre Senado

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Em meio ao novo governo pós-fascista, a senadora vitalícia Liliana Segre, de 92 anos, sobrevivente do campo de concentração nazista de Auschwitz, na Polônia, foi a encarregada de presidir a sessão de abertura do Senado, com um discurso comovente durante o qual falou contra a guerra, lembrou que teve que deixar a escola em 1938 por causa das leis contra os judeus durante o fascismo e enviou saudações ao papa Francisco.

“É impossível não sentir uma espécie de vertigem ao lembrar daquela menina que em outubro de 1938 foi forçada a deixar sua carteira vazia na escola. E que hoje se encontra por um estranho destino na mesa mais prestigiosa do Senado”, disse ela depois de ser aplaudida de pé, incluindo pela delegação dos Irmãos da Itália.

Ignazio La Russa, ao centro, presenteia a sobrevivente do Holocausto e senadora Liliana Segre com um buquê depois que ela presidiu a sessão de abertura da casa Foto: Gregorio Borgia/AP
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Segre se maravilhou com o “valor simbólico” da coincidência de seu papel com o momento histórico que a Itália vive, no qual presidia a sessão do Senado dias antes da Itália marcar o 100º aniversário da Marcha sobre Roma, que levou o ditador fascista Benito Mussolini ao poder, e a guerra continua mais uma vez na Europa com a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Segre foi uma das poucas crianças italianas que sobreviveram à deportação para um campo de extermínio nazista e passou as últimas décadas ensinando crianças italianas sobre o Holocausto. Sua defesa levou o presidente Sergio Mattarella a nomeá-la senadora vitalícia em 2018, quando a Itália marcou o aniversário da introdução de leis raciais da era fascista que discriminavam os judeus.

Assumindo o cargo de presidente do Senado, La Russa presenteou Segre com um buquê de rosas brancas e elogiou sua liderança “moral”. “Não há uma palavra que ela disse que não merecesse meus aplausos”, disse ele sobre o discurso de Segre, em comentários improvisados.

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Formação do novo governo

Os novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado se reunirão nos próximos dias com o presidente da República, Sergio Mattarella, iniciando as consultas para nomear um novo chefe de governo, segundo as regras desta república parlamentar. Ao final das consultas, Mattarella deve pedir a Meloni para formar um Executivo, com o qual ela se tornará a primeira mulher na história da Itália a ocupar o cargo de primeira-ministra.

Giorgia Meloni, 45 anos, fez poucas aparições públicas desde sua vitória eleitoral, comunicando-se apenas pelas redes sociais. A líder pós-fascista, que não tem muita experiência de governo, tem tentado tranquilizar os mercados sobre sua capacidade de gestão.

No entanto, permanece uma incógnita o nome do futuro ministro da Economia, responsável pela terceira maior economia da zona do euro, com uma dívida que chega a 150% do PIB. O Fundo Monetário Internacional anunciou esta semana que a Itália deverá entrar em recessão em 2023 e que seu PIB encolherá 0,2%./AFP e AP

ROMA - A Itália instalou seu novo Parlamento nesta quinta-feira, 13, após a vitória da extrema direita nas eleições de 25 de setembro, em um primeiro passo para a formação do Executivo que provavelmente será liderado pela pós-fascista Giorgia Meloni. Na abertura do Senado, o ultradireitista Ignazio La Russa, famoso por colecionar relíquias fascistas, foi eleito presidente da casa, mesmo sem o apoio de um dos partidos da coalização vencedora das eleições.

“Rasputin”, como era chamado por causa da longa barba e cabelo que usava nos anos 70, inspirados no conselheiro do último czar russo Nicolau II, La Russa será fundamental para o primeiro governo liderado por uma mulher e que vem da extrema direita. O veterano político de 75 anos participou de todas as manobras políticas da direita italiana nos últimos trinta anos.

La Russa, que está entre os fundadores do partido pós-fascista Irmãos da Itália, recebeu 116 votos a favor dos 104 necessários, enquanto 65 ficaram em branco. “Escolheram um patriota”, reagiu Meloni. Sua eleição, porém, gerou reações porque não teve o apoio dos senadores do Força Itália, um dos partidos da coalizão, que não participaram da votação, o que mostra as fortes divisões internas do novo governo.

Um dos fundadores do partido Irmãos da Itália, Ignazio La Russa, discursa no Senado italiano depois de ter sido eleito seu novo presidente, em Roma  Foto: Alessandro Di Meo/EPA/EFE

O presidente da Câmara dos Deputados será eleito na sexta-feira, 14, após negociações entre as forças da coalizão vencedora formada pelo partido Irmãos da Itália, de Meloni, que conquistou 26% dos votos, a Liga Anti-Imigração de Matteo Salvini e a conservadora Força Itália de Silvio Berlusconi, ambas com menos de 10%, mas fundamentais para garantir a maioria.

Ignazio La Russa, cujo nome do meio é Benito, como Mussolini, nasceu em 18 de julho de 1947 em Paternò, perto de Catania, na Sicília, em uma família de proprietários de terras. Seu pai, Antonino La Russa, foi secretário da seção local do Partido Nacional Fascista (PNF), de Mussolini.

Militante do Movimento Social Italiano desde jovem, foi deputado e senador do partido dos herdeiros do fascismo após a 2ª Guerra, mesmo partido em que Giorgia Meloni iniciou sua carreira na adolescência. “O MSI foi o partido dos que perderam a guerra, mas seu grande mérito é que nunca pensou em terrorismo ou rebelião e sempre em democracia”, disse La Russa ao jornal Il Corriere della Sera. “Claro que eles tinham uma visão diferente da história, mas construíram um partido muito democrático”.

Nos últimos dias, surgiu um vídeo de La Russa gravado em 2018 mostrando relíquias fascistas, incluindo fotos, medalhas e uma estátua de Mussolini, em sua casa. “Tem até um símbolo comunista, mas colocamos embaixo dos pés [da estátua de Mussolini]”, disse ele na filmagem.

O recém-eleito presidente do Senado italiano, Ignazio La Russa, faz seu discurso de posse durante a sessão de abertura do novo Parlamento Foto: Gregorio Borgia/AP

Em fevereiro de 2020, para zombar das medidas de distanciamento devido à pandemia de coronavírus, ele publicou um tweet em sua conta que teve que retirar: “Não se aproxime de ninguém, é mortal se contaminar. Faça a saudação romana: é antiviral e contra os micróbios.”

Recentemente, seu irmão, Romano, chefe da Segurança da Região da Lombardia, provocou polêmica durante a campanha eleitoral ao fazer a saudação fascista durante o funeral de um militante neofascista. “Foi um erro grave”, lamentou La Russa, embora alguns dias depois tenha comentado: “Todos somos herdeiros do Duce”, disse em um programa de televisão, “no sentido de que somos herdeiros de nossos pais e avós”.

Sobrevivente do Holocausto abre Senado

Em meio ao novo governo pós-fascista, a senadora vitalícia Liliana Segre, de 92 anos, sobrevivente do campo de concentração nazista de Auschwitz, na Polônia, foi a encarregada de presidir a sessão de abertura do Senado, com um discurso comovente durante o qual falou contra a guerra, lembrou que teve que deixar a escola em 1938 por causa das leis contra os judeus durante o fascismo e enviou saudações ao papa Francisco.

“É impossível não sentir uma espécie de vertigem ao lembrar daquela menina que em outubro de 1938 foi forçada a deixar sua carteira vazia na escola. E que hoje se encontra por um estranho destino na mesa mais prestigiosa do Senado”, disse ela depois de ser aplaudida de pé, incluindo pela delegação dos Irmãos da Itália.

Ignazio La Russa, ao centro, presenteia a sobrevivente do Holocausto e senadora Liliana Segre com um buquê depois que ela presidiu a sessão de abertura da casa Foto: Gregorio Borgia/AP

Segre se maravilhou com o “valor simbólico” da coincidência de seu papel com o momento histórico que a Itália vive, no qual presidia a sessão do Senado dias antes da Itália marcar o 100º aniversário da Marcha sobre Roma, que levou o ditador fascista Benito Mussolini ao poder, e a guerra continua mais uma vez na Europa com a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Segre foi uma das poucas crianças italianas que sobreviveram à deportação para um campo de extermínio nazista e passou as últimas décadas ensinando crianças italianas sobre o Holocausto. Sua defesa levou o presidente Sergio Mattarella a nomeá-la senadora vitalícia em 2018, quando a Itália marcou o aniversário da introdução de leis raciais da era fascista que discriminavam os judeus.

Assumindo o cargo de presidente do Senado, La Russa presenteou Segre com um buquê de rosas brancas e elogiou sua liderança “moral”. “Não há uma palavra que ela disse que não merecesse meus aplausos”, disse ele sobre o discurso de Segre, em comentários improvisados.

Formação do novo governo

Os novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado se reunirão nos próximos dias com o presidente da República, Sergio Mattarella, iniciando as consultas para nomear um novo chefe de governo, segundo as regras desta república parlamentar. Ao final das consultas, Mattarella deve pedir a Meloni para formar um Executivo, com o qual ela se tornará a primeira mulher na história da Itália a ocupar o cargo de primeira-ministra.

Giorgia Meloni, 45 anos, fez poucas aparições públicas desde sua vitória eleitoral, comunicando-se apenas pelas redes sociais. A líder pós-fascista, que não tem muita experiência de governo, tem tentado tranquilizar os mercados sobre sua capacidade de gestão.

No entanto, permanece uma incógnita o nome do futuro ministro da Economia, responsável pela terceira maior economia da zona do euro, com uma dívida que chega a 150% do PIB. O Fundo Monetário Internacional anunciou esta semana que a Itália deverá entrar em recessão em 2023 e que seu PIB encolherá 0,2%./AFP e AP

ROMA - A Itália instalou seu novo Parlamento nesta quinta-feira, 13, após a vitória da extrema direita nas eleições de 25 de setembro, em um primeiro passo para a formação do Executivo que provavelmente será liderado pela pós-fascista Giorgia Meloni. Na abertura do Senado, o ultradireitista Ignazio La Russa, famoso por colecionar relíquias fascistas, foi eleito presidente da casa, mesmo sem o apoio de um dos partidos da coalização vencedora das eleições.

“Rasputin”, como era chamado por causa da longa barba e cabelo que usava nos anos 70, inspirados no conselheiro do último czar russo Nicolau II, La Russa será fundamental para o primeiro governo liderado por uma mulher e que vem da extrema direita. O veterano político de 75 anos participou de todas as manobras políticas da direita italiana nos últimos trinta anos.

La Russa, que está entre os fundadores do partido pós-fascista Irmãos da Itália, recebeu 116 votos a favor dos 104 necessários, enquanto 65 ficaram em branco. “Escolheram um patriota”, reagiu Meloni. Sua eleição, porém, gerou reações porque não teve o apoio dos senadores do Força Itália, um dos partidos da coalizão, que não participaram da votação, o que mostra as fortes divisões internas do novo governo.

Um dos fundadores do partido Irmãos da Itália, Ignazio La Russa, discursa no Senado italiano depois de ter sido eleito seu novo presidente, em Roma  Foto: Alessandro Di Meo/EPA/EFE

O presidente da Câmara dos Deputados será eleito na sexta-feira, 14, após negociações entre as forças da coalizão vencedora formada pelo partido Irmãos da Itália, de Meloni, que conquistou 26% dos votos, a Liga Anti-Imigração de Matteo Salvini e a conservadora Força Itália de Silvio Berlusconi, ambas com menos de 10%, mas fundamentais para garantir a maioria.

Ignazio La Russa, cujo nome do meio é Benito, como Mussolini, nasceu em 18 de julho de 1947 em Paternò, perto de Catania, na Sicília, em uma família de proprietários de terras. Seu pai, Antonino La Russa, foi secretário da seção local do Partido Nacional Fascista (PNF), de Mussolini.

Militante do Movimento Social Italiano desde jovem, foi deputado e senador do partido dos herdeiros do fascismo após a 2ª Guerra, mesmo partido em que Giorgia Meloni iniciou sua carreira na adolescência. “O MSI foi o partido dos que perderam a guerra, mas seu grande mérito é que nunca pensou em terrorismo ou rebelião e sempre em democracia”, disse La Russa ao jornal Il Corriere della Sera. “Claro que eles tinham uma visão diferente da história, mas construíram um partido muito democrático”.

Nos últimos dias, surgiu um vídeo de La Russa gravado em 2018 mostrando relíquias fascistas, incluindo fotos, medalhas e uma estátua de Mussolini, em sua casa. “Tem até um símbolo comunista, mas colocamos embaixo dos pés [da estátua de Mussolini]”, disse ele na filmagem.

O recém-eleito presidente do Senado italiano, Ignazio La Russa, faz seu discurso de posse durante a sessão de abertura do novo Parlamento Foto: Gregorio Borgia/AP

Em fevereiro de 2020, para zombar das medidas de distanciamento devido à pandemia de coronavírus, ele publicou um tweet em sua conta que teve que retirar: “Não se aproxime de ninguém, é mortal se contaminar. Faça a saudação romana: é antiviral e contra os micróbios.”

Recentemente, seu irmão, Romano, chefe da Segurança da Região da Lombardia, provocou polêmica durante a campanha eleitoral ao fazer a saudação fascista durante o funeral de um militante neofascista. “Foi um erro grave”, lamentou La Russa, embora alguns dias depois tenha comentado: “Todos somos herdeiros do Duce”, disse em um programa de televisão, “no sentido de que somos herdeiros de nossos pais e avós”.

Sobrevivente do Holocausto abre Senado

Em meio ao novo governo pós-fascista, a senadora vitalícia Liliana Segre, de 92 anos, sobrevivente do campo de concentração nazista de Auschwitz, na Polônia, foi a encarregada de presidir a sessão de abertura do Senado, com um discurso comovente durante o qual falou contra a guerra, lembrou que teve que deixar a escola em 1938 por causa das leis contra os judeus durante o fascismo e enviou saudações ao papa Francisco.

“É impossível não sentir uma espécie de vertigem ao lembrar daquela menina que em outubro de 1938 foi forçada a deixar sua carteira vazia na escola. E que hoje se encontra por um estranho destino na mesa mais prestigiosa do Senado”, disse ela depois de ser aplaudida de pé, incluindo pela delegação dos Irmãos da Itália.

Ignazio La Russa, ao centro, presenteia a sobrevivente do Holocausto e senadora Liliana Segre com um buquê depois que ela presidiu a sessão de abertura da casa Foto: Gregorio Borgia/AP

Segre se maravilhou com o “valor simbólico” da coincidência de seu papel com o momento histórico que a Itália vive, no qual presidia a sessão do Senado dias antes da Itália marcar o 100º aniversário da Marcha sobre Roma, que levou o ditador fascista Benito Mussolini ao poder, e a guerra continua mais uma vez na Europa com a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Segre foi uma das poucas crianças italianas que sobreviveram à deportação para um campo de extermínio nazista e passou as últimas décadas ensinando crianças italianas sobre o Holocausto. Sua defesa levou o presidente Sergio Mattarella a nomeá-la senadora vitalícia em 2018, quando a Itália marcou o aniversário da introdução de leis raciais da era fascista que discriminavam os judeus.

Assumindo o cargo de presidente do Senado, La Russa presenteou Segre com um buquê de rosas brancas e elogiou sua liderança “moral”. “Não há uma palavra que ela disse que não merecesse meus aplausos”, disse ele sobre o discurso de Segre, em comentários improvisados.

Formação do novo governo

Os novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado se reunirão nos próximos dias com o presidente da República, Sergio Mattarella, iniciando as consultas para nomear um novo chefe de governo, segundo as regras desta república parlamentar. Ao final das consultas, Mattarella deve pedir a Meloni para formar um Executivo, com o qual ela se tornará a primeira mulher na história da Itália a ocupar o cargo de primeira-ministra.

Giorgia Meloni, 45 anos, fez poucas aparições públicas desde sua vitória eleitoral, comunicando-se apenas pelas redes sociais. A líder pós-fascista, que não tem muita experiência de governo, tem tentado tranquilizar os mercados sobre sua capacidade de gestão.

No entanto, permanece uma incógnita o nome do futuro ministro da Economia, responsável pela terceira maior economia da zona do euro, com uma dívida que chega a 150% do PIB. O Fundo Monetário Internacional anunciou esta semana que a Itália deverá entrar em recessão em 2023 e que seu PIB encolherá 0,2%./AFP e AP

ROMA - A Itália instalou seu novo Parlamento nesta quinta-feira, 13, após a vitória da extrema direita nas eleições de 25 de setembro, em um primeiro passo para a formação do Executivo que provavelmente será liderado pela pós-fascista Giorgia Meloni. Na abertura do Senado, o ultradireitista Ignazio La Russa, famoso por colecionar relíquias fascistas, foi eleito presidente da casa, mesmo sem o apoio de um dos partidos da coalização vencedora das eleições.

“Rasputin”, como era chamado por causa da longa barba e cabelo que usava nos anos 70, inspirados no conselheiro do último czar russo Nicolau II, La Russa será fundamental para o primeiro governo liderado por uma mulher e que vem da extrema direita. O veterano político de 75 anos participou de todas as manobras políticas da direita italiana nos últimos trinta anos.

La Russa, que está entre os fundadores do partido pós-fascista Irmãos da Itália, recebeu 116 votos a favor dos 104 necessários, enquanto 65 ficaram em branco. “Escolheram um patriota”, reagiu Meloni. Sua eleição, porém, gerou reações porque não teve o apoio dos senadores do Força Itália, um dos partidos da coalizão, que não participaram da votação, o que mostra as fortes divisões internas do novo governo.

Um dos fundadores do partido Irmãos da Itália, Ignazio La Russa, discursa no Senado italiano depois de ter sido eleito seu novo presidente, em Roma  Foto: Alessandro Di Meo/EPA/EFE

O presidente da Câmara dos Deputados será eleito na sexta-feira, 14, após negociações entre as forças da coalizão vencedora formada pelo partido Irmãos da Itália, de Meloni, que conquistou 26% dos votos, a Liga Anti-Imigração de Matteo Salvini e a conservadora Força Itália de Silvio Berlusconi, ambas com menos de 10%, mas fundamentais para garantir a maioria.

Ignazio La Russa, cujo nome do meio é Benito, como Mussolini, nasceu em 18 de julho de 1947 em Paternò, perto de Catania, na Sicília, em uma família de proprietários de terras. Seu pai, Antonino La Russa, foi secretário da seção local do Partido Nacional Fascista (PNF), de Mussolini.

Militante do Movimento Social Italiano desde jovem, foi deputado e senador do partido dos herdeiros do fascismo após a 2ª Guerra, mesmo partido em que Giorgia Meloni iniciou sua carreira na adolescência. “O MSI foi o partido dos que perderam a guerra, mas seu grande mérito é que nunca pensou em terrorismo ou rebelião e sempre em democracia”, disse La Russa ao jornal Il Corriere della Sera. “Claro que eles tinham uma visão diferente da história, mas construíram um partido muito democrático”.

Nos últimos dias, surgiu um vídeo de La Russa gravado em 2018 mostrando relíquias fascistas, incluindo fotos, medalhas e uma estátua de Mussolini, em sua casa. “Tem até um símbolo comunista, mas colocamos embaixo dos pés [da estátua de Mussolini]”, disse ele na filmagem.

O recém-eleito presidente do Senado italiano, Ignazio La Russa, faz seu discurso de posse durante a sessão de abertura do novo Parlamento Foto: Gregorio Borgia/AP

Em fevereiro de 2020, para zombar das medidas de distanciamento devido à pandemia de coronavírus, ele publicou um tweet em sua conta que teve que retirar: “Não se aproxime de ninguém, é mortal se contaminar. Faça a saudação romana: é antiviral e contra os micróbios.”

Recentemente, seu irmão, Romano, chefe da Segurança da Região da Lombardia, provocou polêmica durante a campanha eleitoral ao fazer a saudação fascista durante o funeral de um militante neofascista. “Foi um erro grave”, lamentou La Russa, embora alguns dias depois tenha comentado: “Todos somos herdeiros do Duce”, disse em um programa de televisão, “no sentido de que somos herdeiros de nossos pais e avós”.

Sobrevivente do Holocausto abre Senado

Em meio ao novo governo pós-fascista, a senadora vitalícia Liliana Segre, de 92 anos, sobrevivente do campo de concentração nazista de Auschwitz, na Polônia, foi a encarregada de presidir a sessão de abertura do Senado, com um discurso comovente durante o qual falou contra a guerra, lembrou que teve que deixar a escola em 1938 por causa das leis contra os judeus durante o fascismo e enviou saudações ao papa Francisco.

“É impossível não sentir uma espécie de vertigem ao lembrar daquela menina que em outubro de 1938 foi forçada a deixar sua carteira vazia na escola. E que hoje se encontra por um estranho destino na mesa mais prestigiosa do Senado”, disse ela depois de ser aplaudida de pé, incluindo pela delegação dos Irmãos da Itália.

Ignazio La Russa, ao centro, presenteia a sobrevivente do Holocausto e senadora Liliana Segre com um buquê depois que ela presidiu a sessão de abertura da casa Foto: Gregorio Borgia/AP

Segre se maravilhou com o “valor simbólico” da coincidência de seu papel com o momento histórico que a Itália vive, no qual presidia a sessão do Senado dias antes da Itália marcar o 100º aniversário da Marcha sobre Roma, que levou o ditador fascista Benito Mussolini ao poder, e a guerra continua mais uma vez na Europa com a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Segre foi uma das poucas crianças italianas que sobreviveram à deportação para um campo de extermínio nazista e passou as últimas décadas ensinando crianças italianas sobre o Holocausto. Sua defesa levou o presidente Sergio Mattarella a nomeá-la senadora vitalícia em 2018, quando a Itália marcou o aniversário da introdução de leis raciais da era fascista que discriminavam os judeus.

Assumindo o cargo de presidente do Senado, La Russa presenteou Segre com um buquê de rosas brancas e elogiou sua liderança “moral”. “Não há uma palavra que ela disse que não merecesse meus aplausos”, disse ele sobre o discurso de Segre, em comentários improvisados.

Formação do novo governo

Os novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado se reunirão nos próximos dias com o presidente da República, Sergio Mattarella, iniciando as consultas para nomear um novo chefe de governo, segundo as regras desta república parlamentar. Ao final das consultas, Mattarella deve pedir a Meloni para formar um Executivo, com o qual ela se tornará a primeira mulher na história da Itália a ocupar o cargo de primeira-ministra.

Giorgia Meloni, 45 anos, fez poucas aparições públicas desde sua vitória eleitoral, comunicando-se apenas pelas redes sociais. A líder pós-fascista, que não tem muita experiência de governo, tem tentado tranquilizar os mercados sobre sua capacidade de gestão.

No entanto, permanece uma incógnita o nome do futuro ministro da Economia, responsável pela terceira maior economia da zona do euro, com uma dívida que chega a 150% do PIB. O Fundo Monetário Internacional anunciou esta semana que a Itália deverá entrar em recessão em 2023 e que seu PIB encolherá 0,2%./AFP e AP

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