Por dentro da mídia conservadora que impulsiona os boatos de fraude na eleição nos EUA


Seis semanas após derrota, a campanha agressiva de Trump e seus incentivadores na imprensa insistem que resultado da eleição ainda pode ser revertido

Por Jeremy W. Peters

NOVA YORK — A crítica do presidente Donald Trump à cobertura da imprensa americana é geralmente binária: há as “boas matérias”, favoráveis a ele, e a segunda categoria. A maior parte da cobertura da imprensa na segunda-feira, 16, caiu nessa outra categoria. 

Um por um, os colégios eleitorais reconheceram formalmente Joe Biden como o presidente eleito, a mais recente e significativa rejeição até agora das tentativas desesperadas de Trump de desfazer a vontade dos eleitores.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Foto: Amanda Voisard/The Washington Post
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Mas dentro da vasta rede de sites, podcasts e vídeos que alimentam algumas das reinvindicações mais imprudentes e irrealistas sobre a eleição, o mito da sobrevivência política de Trump continua.

Na segunda-feira, a matéria principal do Gateway Pundit, site que os pesquisadores identificaram como uma das principais fontes de desinformação pró-Trump, lançava a ideia de uma decisão bombástica, que poderia representar uma possível virada de jogo: “Será um pequeno condado no norte de Michigan a chave para reverter os resultados eleitorais?”.

Em um podcast apresentado pelo ex-estrategista chefe da Casa Branca de Trump, Steve Bannon, um ativista conservador prometeu abrir um novo processo para tentar reverter o voto dos eleitores — somando-se às dezenas de processos até agora, quase todos arquivados.

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“Intimidação e medo não são algo que funcionam em uma democracia”, disse Phill Kline, o diretor do conservador Projeto Amistad, prometendo continuar a luta.

O podcast é um dos pelo menos seis, na lista dos 100 mais populares da Apple, hospedados por alguém que apoiou vocalmente o ataque de Trump ao sistema eleitoral do país.

O mundo parece ter reconhecido o que o Colégio Eleitoral afirmou na segunda-feira: Trump deixará o cargo, quer queira aceitar seu destino ou não. 

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A Suprema Corte se recusou a questionar a decisão na sexta-feira, quando rejeitou uma manobra de última hora legalmente duvidosa do Estado do Texas. Vários líderes mundiais parabenizaram Biden. Até o próprio governo acabou cedendo e concordou em iniciar formalmente o processo de transição.

No entanto, seis semanas após sua derrota, a campanha agressiva de Trump e seus incentivadores na imprensa insistem, a cada novo revés, que a eleição está longe de ser resolvida.

Dentro desta bolha, os aliados do presidente apresentam resultados virtualmente impossíveis como completamente plausíveis. 

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Aumentam as expectativas de vitória em processos judiciais sem chance, e reforçam a credibilidade de testemunhas questionáveis, cuja qualificação mais importante é a convicção inequívoca de que Trump ganhou em novembro, apesar de todas as evidências disponíveis.

Na segunda-feira, o conselheiro sênior do presidente, Stephen Miller, insistiu em uma entrevista ao programa Fox & Friends, que a votação do Colégio Eleitoral foi irrelevante porque tudo o que realmente importava era o dia da posse, 20 de janeiro.

“Portanto, temos tempo mais do que suficiente para corrigir o erro desse resultado fraudulento da eleição e certificar Donald Trump como o vencedor”, disse Miller, redefinindo o calendário.

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Nas últimas semanas, personalidades da mídia amigáveis a Trump, como Mark Levin, que apresenta um dos programas de rádio mais populares do país, levaram seu público a acreditar que era possível pressionar legisladores estaduais a rejeitar a vitória de Biden. Muitas vezes, basearam sua confiança nas acusações de pessoas com motivos políticos e credibilidade diminuída.

Levin, junto com Rush Limbaugh e Bannon, foi um dos primeiros a dar uma plataforma nacional às teorias da conspiração dos advogados Lin Wood e Sidney Powell, cujas várias denúncias de fraude envolvem uma rede multinacional de sabotadores e inimigos domésticos do presidente, estejam eles mortos (Hugo Chávez, da Venezuela) ou vivos (da corrente de republicanos “Never Trump”).

Embora a lista de de Powell de conspiradores e crimes cometidos contra o presidente tenha se tornado bizarra até mesmo para a campanha de Trump —que a rejeitou em um comunicado em 22 de novembro —a imprensa pró-Trump continuou dando a ela um espaço considerável.

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Na segunda-feira, com a vitória de Biden prestes a ser ratificada pelos eleitores, o Gateway Pundit postou uma nota sobre uma entrevista que a advogada havia dado para o Epoch Times, outro grande fornecedor de desinformação pró-Trump.

Powell afirmou que “um de nossos especialistas” descobriu como as máquinas de votação Dominion fabricaram contagens que levaram a“votos 5% maiores para Biden em todos os lugares”.

Contos absurdos de vastas redes subversivas de infiltrados têm uma longa história no Partido Republicano. As afirmações de Powell de que Cuba, Venezuela e China estão por trás de um complô para instalar urnas eletrônicas fraudadas nos Estados Unidos ecoam a paranóia anticomunista promovida na década de 1960 pela John Birch Society e Phyllis Schlafly, considerada por muitos como a fundadora do movimento conservador.

Há pouco estímulo para que a imprensa de direita publique qualquer coisa além da validação das afirmações mais ultrajantes de Trump. E aqueles que tentam corrigir os erros são punidos, como Tucker Carlson, da Fox News. Quando questionou a credibilidade de Powell, teve que enfrentar uma forte reação contrária.

“Estamos neste ciclo de feedback em que a mídia dá ao público armas e ferramentas para negar a realidade”, disse Benkler. “E o público guia a imprensa, ameaçando ir a algum lugar ainda mais maluco se eles não seguirem aquela linha”.

Quando os aliados de Trump entraram com uma ação na Suprema Corte na semana passada, que especialistas jurídicos disseram ter poucas chances de sucesso, houve pouca menção de suas falhas na mídia mais leal ao presidente.

Limbaugh observou que havia apoio para o caso entre os 18 procuradores-gerais republicanos e na Câmara dos Representantes.

“Onde estão os outros republicanos? Eles não percebem que, se os democratas puderem roubar a Casa Branca, eles nunca vão parar de roubar eleições?”

NOVA YORK — A crítica do presidente Donald Trump à cobertura da imprensa americana é geralmente binária: há as “boas matérias”, favoráveis a ele, e a segunda categoria. A maior parte da cobertura da imprensa na segunda-feira, 16, caiu nessa outra categoria. 

Um por um, os colégios eleitorais reconheceram formalmente Joe Biden como o presidente eleito, a mais recente e significativa rejeição até agora das tentativas desesperadas de Trump de desfazer a vontade dos eleitores.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Foto: Amanda Voisard/The Washington Post

Mas dentro da vasta rede de sites, podcasts e vídeos que alimentam algumas das reinvindicações mais imprudentes e irrealistas sobre a eleição, o mito da sobrevivência política de Trump continua.

Na segunda-feira, a matéria principal do Gateway Pundit, site que os pesquisadores identificaram como uma das principais fontes de desinformação pró-Trump, lançava a ideia de uma decisão bombástica, que poderia representar uma possível virada de jogo: “Será um pequeno condado no norte de Michigan a chave para reverter os resultados eleitorais?”.

Em um podcast apresentado pelo ex-estrategista chefe da Casa Branca de Trump, Steve Bannon, um ativista conservador prometeu abrir um novo processo para tentar reverter o voto dos eleitores — somando-se às dezenas de processos até agora, quase todos arquivados.

“Intimidação e medo não são algo que funcionam em uma democracia”, disse Phill Kline, o diretor do conservador Projeto Amistad, prometendo continuar a luta.

O podcast é um dos pelo menos seis, na lista dos 100 mais populares da Apple, hospedados por alguém que apoiou vocalmente o ataque de Trump ao sistema eleitoral do país.

O mundo parece ter reconhecido o que o Colégio Eleitoral afirmou na segunda-feira: Trump deixará o cargo, quer queira aceitar seu destino ou não. 

A Suprema Corte se recusou a questionar a decisão na sexta-feira, quando rejeitou uma manobra de última hora legalmente duvidosa do Estado do Texas. Vários líderes mundiais parabenizaram Biden. Até o próprio governo acabou cedendo e concordou em iniciar formalmente o processo de transição.

No entanto, seis semanas após sua derrota, a campanha agressiva de Trump e seus incentivadores na imprensa insistem, a cada novo revés, que a eleição está longe de ser resolvida.

Dentro desta bolha, os aliados do presidente apresentam resultados virtualmente impossíveis como completamente plausíveis. 

Aumentam as expectativas de vitória em processos judiciais sem chance, e reforçam a credibilidade de testemunhas questionáveis, cuja qualificação mais importante é a convicção inequívoca de que Trump ganhou em novembro, apesar de todas as evidências disponíveis.

Na segunda-feira, o conselheiro sênior do presidente, Stephen Miller, insistiu em uma entrevista ao programa Fox & Friends, que a votação do Colégio Eleitoral foi irrelevante porque tudo o que realmente importava era o dia da posse, 20 de janeiro.

“Portanto, temos tempo mais do que suficiente para corrigir o erro desse resultado fraudulento da eleição e certificar Donald Trump como o vencedor”, disse Miller, redefinindo o calendário.

Nas últimas semanas, personalidades da mídia amigáveis a Trump, como Mark Levin, que apresenta um dos programas de rádio mais populares do país, levaram seu público a acreditar que era possível pressionar legisladores estaduais a rejeitar a vitória de Biden. Muitas vezes, basearam sua confiança nas acusações de pessoas com motivos políticos e credibilidade diminuída.

Levin, junto com Rush Limbaugh e Bannon, foi um dos primeiros a dar uma plataforma nacional às teorias da conspiração dos advogados Lin Wood e Sidney Powell, cujas várias denúncias de fraude envolvem uma rede multinacional de sabotadores e inimigos domésticos do presidente, estejam eles mortos (Hugo Chávez, da Venezuela) ou vivos (da corrente de republicanos “Never Trump”).

Embora a lista de de Powell de conspiradores e crimes cometidos contra o presidente tenha se tornado bizarra até mesmo para a campanha de Trump —que a rejeitou em um comunicado em 22 de novembro —a imprensa pró-Trump continuou dando a ela um espaço considerável.

Na segunda-feira, com a vitória de Biden prestes a ser ratificada pelos eleitores, o Gateway Pundit postou uma nota sobre uma entrevista que a advogada havia dado para o Epoch Times, outro grande fornecedor de desinformação pró-Trump.

Powell afirmou que “um de nossos especialistas” descobriu como as máquinas de votação Dominion fabricaram contagens que levaram a“votos 5% maiores para Biden em todos os lugares”.

Contos absurdos de vastas redes subversivas de infiltrados têm uma longa história no Partido Republicano. As afirmações de Powell de que Cuba, Venezuela e China estão por trás de um complô para instalar urnas eletrônicas fraudadas nos Estados Unidos ecoam a paranóia anticomunista promovida na década de 1960 pela John Birch Society e Phyllis Schlafly, considerada por muitos como a fundadora do movimento conservador.

Há pouco estímulo para que a imprensa de direita publique qualquer coisa além da validação das afirmações mais ultrajantes de Trump. E aqueles que tentam corrigir os erros são punidos, como Tucker Carlson, da Fox News. Quando questionou a credibilidade de Powell, teve que enfrentar uma forte reação contrária.

“Estamos neste ciclo de feedback em que a mídia dá ao público armas e ferramentas para negar a realidade”, disse Benkler. “E o público guia a imprensa, ameaçando ir a algum lugar ainda mais maluco se eles não seguirem aquela linha”.

Quando os aliados de Trump entraram com uma ação na Suprema Corte na semana passada, que especialistas jurídicos disseram ter poucas chances de sucesso, houve pouca menção de suas falhas na mídia mais leal ao presidente.

Limbaugh observou que havia apoio para o caso entre os 18 procuradores-gerais republicanos e na Câmara dos Representantes.

“Onde estão os outros republicanos? Eles não percebem que, se os democratas puderem roubar a Casa Branca, eles nunca vão parar de roubar eleições?”

NOVA YORK — A crítica do presidente Donald Trump à cobertura da imprensa americana é geralmente binária: há as “boas matérias”, favoráveis a ele, e a segunda categoria. A maior parte da cobertura da imprensa na segunda-feira, 16, caiu nessa outra categoria. 

Um por um, os colégios eleitorais reconheceram formalmente Joe Biden como o presidente eleito, a mais recente e significativa rejeição até agora das tentativas desesperadas de Trump de desfazer a vontade dos eleitores.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Foto: Amanda Voisard/The Washington Post

Mas dentro da vasta rede de sites, podcasts e vídeos que alimentam algumas das reinvindicações mais imprudentes e irrealistas sobre a eleição, o mito da sobrevivência política de Trump continua.

Na segunda-feira, a matéria principal do Gateway Pundit, site que os pesquisadores identificaram como uma das principais fontes de desinformação pró-Trump, lançava a ideia de uma decisão bombástica, que poderia representar uma possível virada de jogo: “Será um pequeno condado no norte de Michigan a chave para reverter os resultados eleitorais?”.

Em um podcast apresentado pelo ex-estrategista chefe da Casa Branca de Trump, Steve Bannon, um ativista conservador prometeu abrir um novo processo para tentar reverter o voto dos eleitores — somando-se às dezenas de processos até agora, quase todos arquivados.

“Intimidação e medo não são algo que funcionam em uma democracia”, disse Phill Kline, o diretor do conservador Projeto Amistad, prometendo continuar a luta.

O podcast é um dos pelo menos seis, na lista dos 100 mais populares da Apple, hospedados por alguém que apoiou vocalmente o ataque de Trump ao sistema eleitoral do país.

O mundo parece ter reconhecido o que o Colégio Eleitoral afirmou na segunda-feira: Trump deixará o cargo, quer queira aceitar seu destino ou não. 

A Suprema Corte se recusou a questionar a decisão na sexta-feira, quando rejeitou uma manobra de última hora legalmente duvidosa do Estado do Texas. Vários líderes mundiais parabenizaram Biden. Até o próprio governo acabou cedendo e concordou em iniciar formalmente o processo de transição.

No entanto, seis semanas após sua derrota, a campanha agressiva de Trump e seus incentivadores na imprensa insistem, a cada novo revés, que a eleição está longe de ser resolvida.

Dentro desta bolha, os aliados do presidente apresentam resultados virtualmente impossíveis como completamente plausíveis. 

Aumentam as expectativas de vitória em processos judiciais sem chance, e reforçam a credibilidade de testemunhas questionáveis, cuja qualificação mais importante é a convicção inequívoca de que Trump ganhou em novembro, apesar de todas as evidências disponíveis.

Na segunda-feira, o conselheiro sênior do presidente, Stephen Miller, insistiu em uma entrevista ao programa Fox & Friends, que a votação do Colégio Eleitoral foi irrelevante porque tudo o que realmente importava era o dia da posse, 20 de janeiro.

“Portanto, temos tempo mais do que suficiente para corrigir o erro desse resultado fraudulento da eleição e certificar Donald Trump como o vencedor”, disse Miller, redefinindo o calendário.

Nas últimas semanas, personalidades da mídia amigáveis a Trump, como Mark Levin, que apresenta um dos programas de rádio mais populares do país, levaram seu público a acreditar que era possível pressionar legisladores estaduais a rejeitar a vitória de Biden. Muitas vezes, basearam sua confiança nas acusações de pessoas com motivos políticos e credibilidade diminuída.

Levin, junto com Rush Limbaugh e Bannon, foi um dos primeiros a dar uma plataforma nacional às teorias da conspiração dos advogados Lin Wood e Sidney Powell, cujas várias denúncias de fraude envolvem uma rede multinacional de sabotadores e inimigos domésticos do presidente, estejam eles mortos (Hugo Chávez, da Venezuela) ou vivos (da corrente de republicanos “Never Trump”).

Embora a lista de de Powell de conspiradores e crimes cometidos contra o presidente tenha se tornado bizarra até mesmo para a campanha de Trump —que a rejeitou em um comunicado em 22 de novembro —a imprensa pró-Trump continuou dando a ela um espaço considerável.

Na segunda-feira, com a vitória de Biden prestes a ser ratificada pelos eleitores, o Gateway Pundit postou uma nota sobre uma entrevista que a advogada havia dado para o Epoch Times, outro grande fornecedor de desinformação pró-Trump.

Powell afirmou que “um de nossos especialistas” descobriu como as máquinas de votação Dominion fabricaram contagens que levaram a“votos 5% maiores para Biden em todos os lugares”.

Contos absurdos de vastas redes subversivas de infiltrados têm uma longa história no Partido Republicano. As afirmações de Powell de que Cuba, Venezuela e China estão por trás de um complô para instalar urnas eletrônicas fraudadas nos Estados Unidos ecoam a paranóia anticomunista promovida na década de 1960 pela John Birch Society e Phyllis Schlafly, considerada por muitos como a fundadora do movimento conservador.

Há pouco estímulo para que a imprensa de direita publique qualquer coisa além da validação das afirmações mais ultrajantes de Trump. E aqueles que tentam corrigir os erros são punidos, como Tucker Carlson, da Fox News. Quando questionou a credibilidade de Powell, teve que enfrentar uma forte reação contrária.

“Estamos neste ciclo de feedback em que a mídia dá ao público armas e ferramentas para negar a realidade”, disse Benkler. “E o público guia a imprensa, ameaçando ir a algum lugar ainda mais maluco se eles não seguirem aquela linha”.

Quando os aliados de Trump entraram com uma ação na Suprema Corte na semana passada, que especialistas jurídicos disseram ter poucas chances de sucesso, houve pouca menção de suas falhas na mídia mais leal ao presidente.

Limbaugh observou que havia apoio para o caso entre os 18 procuradores-gerais republicanos e na Câmara dos Representantes.

“Onde estão os outros republicanos? Eles não percebem que, se os democratas puderem roubar a Casa Branca, eles nunca vão parar de roubar eleições?”

NOVA YORK — A crítica do presidente Donald Trump à cobertura da imprensa americana é geralmente binária: há as “boas matérias”, favoráveis a ele, e a segunda categoria. A maior parte da cobertura da imprensa na segunda-feira, 16, caiu nessa outra categoria. 

Um por um, os colégios eleitorais reconheceram formalmente Joe Biden como o presidente eleito, a mais recente e significativa rejeição até agora das tentativas desesperadas de Trump de desfazer a vontade dos eleitores.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Foto: Amanda Voisard/The Washington Post

Mas dentro da vasta rede de sites, podcasts e vídeos que alimentam algumas das reinvindicações mais imprudentes e irrealistas sobre a eleição, o mito da sobrevivência política de Trump continua.

Na segunda-feira, a matéria principal do Gateway Pundit, site que os pesquisadores identificaram como uma das principais fontes de desinformação pró-Trump, lançava a ideia de uma decisão bombástica, que poderia representar uma possível virada de jogo: “Será um pequeno condado no norte de Michigan a chave para reverter os resultados eleitorais?”.

Em um podcast apresentado pelo ex-estrategista chefe da Casa Branca de Trump, Steve Bannon, um ativista conservador prometeu abrir um novo processo para tentar reverter o voto dos eleitores — somando-se às dezenas de processos até agora, quase todos arquivados.

“Intimidação e medo não são algo que funcionam em uma democracia”, disse Phill Kline, o diretor do conservador Projeto Amistad, prometendo continuar a luta.

O podcast é um dos pelo menos seis, na lista dos 100 mais populares da Apple, hospedados por alguém que apoiou vocalmente o ataque de Trump ao sistema eleitoral do país.

O mundo parece ter reconhecido o que o Colégio Eleitoral afirmou na segunda-feira: Trump deixará o cargo, quer queira aceitar seu destino ou não. 

A Suprema Corte se recusou a questionar a decisão na sexta-feira, quando rejeitou uma manobra de última hora legalmente duvidosa do Estado do Texas. Vários líderes mundiais parabenizaram Biden. Até o próprio governo acabou cedendo e concordou em iniciar formalmente o processo de transição.

No entanto, seis semanas após sua derrota, a campanha agressiva de Trump e seus incentivadores na imprensa insistem, a cada novo revés, que a eleição está longe de ser resolvida.

Dentro desta bolha, os aliados do presidente apresentam resultados virtualmente impossíveis como completamente plausíveis. 

Aumentam as expectativas de vitória em processos judiciais sem chance, e reforçam a credibilidade de testemunhas questionáveis, cuja qualificação mais importante é a convicção inequívoca de que Trump ganhou em novembro, apesar de todas as evidências disponíveis.

Na segunda-feira, o conselheiro sênior do presidente, Stephen Miller, insistiu em uma entrevista ao programa Fox & Friends, que a votação do Colégio Eleitoral foi irrelevante porque tudo o que realmente importava era o dia da posse, 20 de janeiro.

“Portanto, temos tempo mais do que suficiente para corrigir o erro desse resultado fraudulento da eleição e certificar Donald Trump como o vencedor”, disse Miller, redefinindo o calendário.

Nas últimas semanas, personalidades da mídia amigáveis a Trump, como Mark Levin, que apresenta um dos programas de rádio mais populares do país, levaram seu público a acreditar que era possível pressionar legisladores estaduais a rejeitar a vitória de Biden. Muitas vezes, basearam sua confiança nas acusações de pessoas com motivos políticos e credibilidade diminuída.

Levin, junto com Rush Limbaugh e Bannon, foi um dos primeiros a dar uma plataforma nacional às teorias da conspiração dos advogados Lin Wood e Sidney Powell, cujas várias denúncias de fraude envolvem uma rede multinacional de sabotadores e inimigos domésticos do presidente, estejam eles mortos (Hugo Chávez, da Venezuela) ou vivos (da corrente de republicanos “Never Trump”).

Embora a lista de de Powell de conspiradores e crimes cometidos contra o presidente tenha se tornado bizarra até mesmo para a campanha de Trump —que a rejeitou em um comunicado em 22 de novembro —a imprensa pró-Trump continuou dando a ela um espaço considerável.

Na segunda-feira, com a vitória de Biden prestes a ser ratificada pelos eleitores, o Gateway Pundit postou uma nota sobre uma entrevista que a advogada havia dado para o Epoch Times, outro grande fornecedor de desinformação pró-Trump.

Powell afirmou que “um de nossos especialistas” descobriu como as máquinas de votação Dominion fabricaram contagens que levaram a“votos 5% maiores para Biden em todos os lugares”.

Contos absurdos de vastas redes subversivas de infiltrados têm uma longa história no Partido Republicano. As afirmações de Powell de que Cuba, Venezuela e China estão por trás de um complô para instalar urnas eletrônicas fraudadas nos Estados Unidos ecoam a paranóia anticomunista promovida na década de 1960 pela John Birch Society e Phyllis Schlafly, considerada por muitos como a fundadora do movimento conservador.

Há pouco estímulo para que a imprensa de direita publique qualquer coisa além da validação das afirmações mais ultrajantes de Trump. E aqueles que tentam corrigir os erros são punidos, como Tucker Carlson, da Fox News. Quando questionou a credibilidade de Powell, teve que enfrentar uma forte reação contrária.

“Estamos neste ciclo de feedback em que a mídia dá ao público armas e ferramentas para negar a realidade”, disse Benkler. “E o público guia a imprensa, ameaçando ir a algum lugar ainda mais maluco se eles não seguirem aquela linha”.

Quando os aliados de Trump entraram com uma ação na Suprema Corte na semana passada, que especialistas jurídicos disseram ter poucas chances de sucesso, houve pouca menção de suas falhas na mídia mais leal ao presidente.

Limbaugh observou que havia apoio para o caso entre os 18 procuradores-gerais republicanos e na Câmara dos Representantes.

“Onde estão os outros republicanos? Eles não percebem que, se os democratas puderem roubar a Casa Branca, eles nunca vão parar de roubar eleições?”

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