Por dentro de túnel do Hezbollah: veja vídeo e entenda como funciona passagem entre Líbano e Israel


Descoberta por Israel em 2019 na fronteira com o Líbano, a estrutura tinha escadarias de concreto, tubulações de ar, energia elétrica e telefone, que foram construídos durante anos

Por Carolina Marins

ENVIADA ESPECIAL ÀS COLINAS DO GOLAN, ISRAEL* - Túneis já foram uma arma eficiente no conflito entre israelenses e palestinos. Só nos últimos cinco anos, Israel descobriu mais de vinte estruturas construídas debaixo das fronteiras com a Faixa de Gaza e com o Líbano, construídas pelo Hamas e Hezbollah, respectivamente. O Estadão entrou em um desses túneis, nas Colinas do Golan, em conjunto com uma delegação de jornalistas brasileiros que viajaram a Israel a convite do Ministério das Relações Exteriores.

O túnel, que é aberto para uma visitação controlada pelas Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), foi o último descoberto depois de outros cinco localizados na fronteira norte do país com o Líbano, logo abaixo da Linha Azul estabelecida pela resolução do Conselho de Segurança da ONU que deu fim à Guerra do Líbano em 2006. Além desses seis, outros 22 foram encontrados na Faixa de Gaza nos últimos anos.

Localizado no vilarejo de Shtula, o túnel tem uma descida íngreme e arriscada devido ao barro causado pela constante umidade do local. Ainda assim, tem uma estrutura complexa: a escada foi construída com concreto, há tubos de ventilação, energia e comunicação com o exterior que, segundo o general Alon Friedman, que conduziu a visitação, foram completamente construídas pelo Hezbollah manualmente. Este é o único túnel acessível para visitação, já que os outros cinco foram bloqueados com concreto.

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A entrada fica localizada logo abaixo do enorme muro construído por Israel para separar a fronteira com o Líbano. Apenas a porta e menos de dois metros de escadas de metal na entrada foram construídos pela forças israelenses, o restante é estrutura do Hezbollah, como informam as placas espalhadas por todo o caminho.

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Apenas a energia dentro do túnel foi substituída por energia israelense por questão de segurança, conta Friedman. O fato de termos andado menos de dois metros para chegar ao início do túnel mostra como o grupo esteve perto de chegar à superfície, completa ele.

Embora tenha 70 metros de profundidade, a descida só é possível até 45 metros, pois o restante foi bloqueado com toneladas de concreto pelo Exército israelense. De acordo com Friedman, os 45 metros limites ficam exatamente abaixo da Linha Azul estabelecida pela ONU para separar as fronteiras.


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Escadarias de concreto e corrimão foram construídos por membros do Hezbollah, apenas a luz elétrica foi substituída Foto: Carolina Marins/Estadão

Operação Escudo do Norte

A estrutura tem um quilômetro de extensão, partindo de dentro de uma casa no vilarejo de Ramyeh, no sul do Líbano e saindo próximo às Colinas do Golan, no norte, que Israel capturou da Síria em 1967. “A estratégia foi colocar seus equipamentos e membros do grupo dentro dos vilarejos no Líbano para construir os túneis que os permitiram adentrar em nosso território em uma manobra surpresa”, afirmou o general.

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A descoberta ocorreu em 2019, depois que moradores das Colinas do Golan denunciaram sentir tremores na região. O governo israelense já suspeitava que poderiam existir túneis no local, pois haviam descoberto as mesmas estruturas no sul do país, durante a Guerra na Faixa de Gaza em 2014. Após as denúncias, o Exército deu início à Operação Escudo do Norte, dedicada exclusivamente a procurar pelos túneis.

Uma vez que confirmaram a existência de atividades de escavação, a dificuldade era localizar com precisão os túneis, e sem ultrapassar a fronteira com o Líbano, o que violaria o cessar-fogo estabelecido pela ONU.

“Felizmente, em 2017, nossas indústrias de inteligência militar desenvolveram uma tecnologia ultrassecreta que nos permitiu localizar os túneis em Gaza. Quando terminamos a operação de lá, trouxemos a tecnologia para cá”, explicou, sem entrar em detalhes sobre a tecnologia. Segundo ele, a dificuldade no Golan era maior, já que o terreno é feito de montanhas de pedras, muito diferente do terreno arenoso de Gaza.

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Entrada do túnel fica logo abaixo do muro que separa Israel do Líbano, o que seria uma violação da Resolução 1701 da ONU, segundo Israel Foto: Carolina Marins/Estadão

A tecnologia, explicou o ex-porta voz do IDF Jonathan Concrius, permite escanear a presença de túneis pelo ar e então o Exército ataca com foguetes ou outras armas que busca levar a estrutura ao colapso. Desde a criação da tecnologia, o militar diz que foram encontrados 22 túneis na Faixa de Gaza, onde o risco de novas construções ainda é uma preocupação.

“Essa foi uma arma muito eficaz que o Hamas e a Jihad Islâmica trabalharam por décadas”, afirma o militar hoje baseado na Faixa de Gaza. “Eles são muito bons nisso e há toda uma indústria em Gaza, de trabalhadores e empreiteiros com muito conhecimento acumulado para escavações”. Um indústria que custa milhões de dólares, segundo Israel, cujo financiamento vem do Irã.

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A operação no norte começou em dezembro de 2018 e foi encerrada em janeiro de 2019, quando foi descoberto o sexto túnel, considerado o mais sofisticado, segundo o IDF. É este que está disponível para visitação controlada.


Resposta do Hezbollah

Na época Israel denunciou a construção dos túneis como uma violação direta da Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU. A resolução estabeleceu a Linha Azul na fronteira entre Israel e o Líbano para que as forças israelenses se retirassem e o governo libanês retomasse o controle da área invadida.

As forças israelenses estimam que os túneis começaram a ser construídos entre 2013 e 2014, o que o líder do Hezbollah, Hassam Nasrallah, nega. Ele riu das descobertas do Exército de Israel na época, dizendo não se tratar de uma novidade, já que a prática de construir túneis pelo Hezbollah eram bastante conhecidas. Mas afirmou que elas vinham de antes da resolução.

“Os israelenses descobriram vários túneis depois de muitos anos, e não é uma surpresa”, afirmou Nasrallah em 2019 ao canal árabe al-Mayadeen, com sede em Beirute. “A surpresa é que esses túneis levaram algum tempo para serem encontrados. Um dos túneis descobertos nas últimas semanas tem 13 ou 14 anos”.

Estrutura conta com tubulações para saída de ar, água e comunicações com o exterior Foto: Carolina Marins/Estadão

Ele chamou a operação israelense de fracasso, mas confirmou a acusação de que seus planos eram entrar no território para atacar. “Parte de nosso plano para a próxima guerra é entrar na Galileia, uma parte de nosso plano de que somos capazes, se Deus quiser. O importante é que temos essa capacidade e a temos há anos”, disse, segundo traduções da entrevista feitas por agências ocidentais.

O Hezbollah é um grupo xiita paramilitar considerado terrorista por Israel e pelos Estados Unidos. O grupo foi fundamental para a ascensão dos aiatolás no Irã após a Revolução Islâmica, sendo que sua atuação no país é militar. Já no Líbano o grupo possui um partido político com assentos no Parlamento. O último conflito aberto entre Israel e Hezbollah foi justamente a guerra de 2006, mas ainda há atritos recorrentes na fronteira e na guerra da Síria.

Para Israel, o Hezbollah - bem como seu líder Nasrallah - são ferramentas do Irã para destruir Israel. Irã e Israel travam uma guerra silenciosa desde os anos 70. Ainda assim, a fronteira com o Líbano tem sido relativamente calma desde os acordos de paz com a ONU. Muito diferente da situação na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, onde o conflito vem escalando desde o retorno de Binyamin Netanyahu ao governo junto com uma coalizão de extrema direita ultra religiosa.

Mas mesmo com a suposta calmaria, as forças israelenses demonstraram agitação com a presença de uma delegação de jornalistas estrangeiros na fronteira. Após a visitação ao túnel, foi possível ver um suposto membro do Hezbollah observando a cena com binóculos e uma máquina fotográfica. No local, porém, só poderiam estar forças oficiais do Líbano ou da Força Interina das Nações Unidas no Líbano, segundo as regras estabelecidas pela resolução 1701.

*A repórter viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores de Israel

É possível ver placas com os dizeres "Infraestrutura Original do Hezbollah" por toda a descida Foto: Carolina Marins/Estadão

ENVIADA ESPECIAL ÀS COLINAS DO GOLAN, ISRAEL* - Túneis já foram uma arma eficiente no conflito entre israelenses e palestinos. Só nos últimos cinco anos, Israel descobriu mais de vinte estruturas construídas debaixo das fronteiras com a Faixa de Gaza e com o Líbano, construídas pelo Hamas e Hezbollah, respectivamente. O Estadão entrou em um desses túneis, nas Colinas do Golan, em conjunto com uma delegação de jornalistas brasileiros que viajaram a Israel a convite do Ministério das Relações Exteriores.

O túnel, que é aberto para uma visitação controlada pelas Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), foi o último descoberto depois de outros cinco localizados na fronteira norte do país com o Líbano, logo abaixo da Linha Azul estabelecida pela resolução do Conselho de Segurança da ONU que deu fim à Guerra do Líbano em 2006. Além desses seis, outros 22 foram encontrados na Faixa de Gaza nos últimos anos.

Localizado no vilarejo de Shtula, o túnel tem uma descida íngreme e arriscada devido ao barro causado pela constante umidade do local. Ainda assim, tem uma estrutura complexa: a escada foi construída com concreto, há tubos de ventilação, energia e comunicação com o exterior que, segundo o general Alon Friedman, que conduziu a visitação, foram completamente construídas pelo Hezbollah manualmente. Este é o único túnel acessível para visitação, já que os outros cinco foram bloqueados com concreto.

A entrada fica localizada logo abaixo do enorme muro construído por Israel para separar a fronteira com o Líbano. Apenas a porta e menos de dois metros de escadas de metal na entrada foram construídos pela forças israelenses, o restante é estrutura do Hezbollah, como informam as placas espalhadas por todo o caminho.

Apenas a energia dentro do túnel foi substituída por energia israelense por questão de segurança, conta Friedman. O fato de termos andado menos de dois metros para chegar ao início do túnel mostra como o grupo esteve perto de chegar à superfície, completa ele.

Embora tenha 70 metros de profundidade, a descida só é possível até 45 metros, pois o restante foi bloqueado com toneladas de concreto pelo Exército israelense. De acordo com Friedman, os 45 metros limites ficam exatamente abaixo da Linha Azul estabelecida pela ONU para separar as fronteiras.


Escadarias de concreto e corrimão foram construídos por membros do Hezbollah, apenas a luz elétrica foi substituída Foto: Carolina Marins/Estadão

Operação Escudo do Norte

A estrutura tem um quilômetro de extensão, partindo de dentro de uma casa no vilarejo de Ramyeh, no sul do Líbano e saindo próximo às Colinas do Golan, no norte, que Israel capturou da Síria em 1967. “A estratégia foi colocar seus equipamentos e membros do grupo dentro dos vilarejos no Líbano para construir os túneis que os permitiram adentrar em nosso território em uma manobra surpresa”, afirmou o general.

A descoberta ocorreu em 2019, depois que moradores das Colinas do Golan denunciaram sentir tremores na região. O governo israelense já suspeitava que poderiam existir túneis no local, pois haviam descoberto as mesmas estruturas no sul do país, durante a Guerra na Faixa de Gaza em 2014. Após as denúncias, o Exército deu início à Operação Escudo do Norte, dedicada exclusivamente a procurar pelos túneis.

Uma vez que confirmaram a existência de atividades de escavação, a dificuldade era localizar com precisão os túneis, e sem ultrapassar a fronteira com o Líbano, o que violaria o cessar-fogo estabelecido pela ONU.

“Felizmente, em 2017, nossas indústrias de inteligência militar desenvolveram uma tecnologia ultrassecreta que nos permitiu localizar os túneis em Gaza. Quando terminamos a operação de lá, trouxemos a tecnologia para cá”, explicou, sem entrar em detalhes sobre a tecnologia. Segundo ele, a dificuldade no Golan era maior, já que o terreno é feito de montanhas de pedras, muito diferente do terreno arenoso de Gaza.

Entrada do túnel fica logo abaixo do muro que separa Israel do Líbano, o que seria uma violação da Resolução 1701 da ONU, segundo Israel Foto: Carolina Marins/Estadão

A tecnologia, explicou o ex-porta voz do IDF Jonathan Concrius, permite escanear a presença de túneis pelo ar e então o Exército ataca com foguetes ou outras armas que busca levar a estrutura ao colapso. Desde a criação da tecnologia, o militar diz que foram encontrados 22 túneis na Faixa de Gaza, onde o risco de novas construções ainda é uma preocupação.

“Essa foi uma arma muito eficaz que o Hamas e a Jihad Islâmica trabalharam por décadas”, afirma o militar hoje baseado na Faixa de Gaza. “Eles são muito bons nisso e há toda uma indústria em Gaza, de trabalhadores e empreiteiros com muito conhecimento acumulado para escavações”. Um indústria que custa milhões de dólares, segundo Israel, cujo financiamento vem do Irã.

A operação no norte começou em dezembro de 2018 e foi encerrada em janeiro de 2019, quando foi descoberto o sexto túnel, considerado o mais sofisticado, segundo o IDF. É este que está disponível para visitação controlada.


Resposta do Hezbollah

Na época Israel denunciou a construção dos túneis como uma violação direta da Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU. A resolução estabeleceu a Linha Azul na fronteira entre Israel e o Líbano para que as forças israelenses se retirassem e o governo libanês retomasse o controle da área invadida.

As forças israelenses estimam que os túneis começaram a ser construídos entre 2013 e 2014, o que o líder do Hezbollah, Hassam Nasrallah, nega. Ele riu das descobertas do Exército de Israel na época, dizendo não se tratar de uma novidade, já que a prática de construir túneis pelo Hezbollah eram bastante conhecidas. Mas afirmou que elas vinham de antes da resolução.

“Os israelenses descobriram vários túneis depois de muitos anos, e não é uma surpresa”, afirmou Nasrallah em 2019 ao canal árabe al-Mayadeen, com sede em Beirute. “A surpresa é que esses túneis levaram algum tempo para serem encontrados. Um dos túneis descobertos nas últimas semanas tem 13 ou 14 anos”.

Estrutura conta com tubulações para saída de ar, água e comunicações com o exterior Foto: Carolina Marins/Estadão

Ele chamou a operação israelense de fracasso, mas confirmou a acusação de que seus planos eram entrar no território para atacar. “Parte de nosso plano para a próxima guerra é entrar na Galileia, uma parte de nosso plano de que somos capazes, se Deus quiser. O importante é que temos essa capacidade e a temos há anos”, disse, segundo traduções da entrevista feitas por agências ocidentais.

O Hezbollah é um grupo xiita paramilitar considerado terrorista por Israel e pelos Estados Unidos. O grupo foi fundamental para a ascensão dos aiatolás no Irã após a Revolução Islâmica, sendo que sua atuação no país é militar. Já no Líbano o grupo possui um partido político com assentos no Parlamento. O último conflito aberto entre Israel e Hezbollah foi justamente a guerra de 2006, mas ainda há atritos recorrentes na fronteira e na guerra da Síria.

Para Israel, o Hezbollah - bem como seu líder Nasrallah - são ferramentas do Irã para destruir Israel. Irã e Israel travam uma guerra silenciosa desde os anos 70. Ainda assim, a fronteira com o Líbano tem sido relativamente calma desde os acordos de paz com a ONU. Muito diferente da situação na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, onde o conflito vem escalando desde o retorno de Binyamin Netanyahu ao governo junto com uma coalizão de extrema direita ultra religiosa.

Mas mesmo com a suposta calmaria, as forças israelenses demonstraram agitação com a presença de uma delegação de jornalistas estrangeiros na fronteira. Após a visitação ao túnel, foi possível ver um suposto membro do Hezbollah observando a cena com binóculos e uma máquina fotográfica. No local, porém, só poderiam estar forças oficiais do Líbano ou da Força Interina das Nações Unidas no Líbano, segundo as regras estabelecidas pela resolução 1701.

*A repórter viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores de Israel

É possível ver placas com os dizeres "Infraestrutura Original do Hezbollah" por toda a descida Foto: Carolina Marins/Estadão

ENVIADA ESPECIAL ÀS COLINAS DO GOLAN, ISRAEL* - Túneis já foram uma arma eficiente no conflito entre israelenses e palestinos. Só nos últimos cinco anos, Israel descobriu mais de vinte estruturas construídas debaixo das fronteiras com a Faixa de Gaza e com o Líbano, construídas pelo Hamas e Hezbollah, respectivamente. O Estadão entrou em um desses túneis, nas Colinas do Golan, em conjunto com uma delegação de jornalistas brasileiros que viajaram a Israel a convite do Ministério das Relações Exteriores.

O túnel, que é aberto para uma visitação controlada pelas Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), foi o último descoberto depois de outros cinco localizados na fronteira norte do país com o Líbano, logo abaixo da Linha Azul estabelecida pela resolução do Conselho de Segurança da ONU que deu fim à Guerra do Líbano em 2006. Além desses seis, outros 22 foram encontrados na Faixa de Gaza nos últimos anos.

Localizado no vilarejo de Shtula, o túnel tem uma descida íngreme e arriscada devido ao barro causado pela constante umidade do local. Ainda assim, tem uma estrutura complexa: a escada foi construída com concreto, há tubos de ventilação, energia e comunicação com o exterior que, segundo o general Alon Friedman, que conduziu a visitação, foram completamente construídas pelo Hezbollah manualmente. Este é o único túnel acessível para visitação, já que os outros cinco foram bloqueados com concreto.

A entrada fica localizada logo abaixo do enorme muro construído por Israel para separar a fronteira com o Líbano. Apenas a porta e menos de dois metros de escadas de metal na entrada foram construídos pela forças israelenses, o restante é estrutura do Hezbollah, como informam as placas espalhadas por todo o caminho.

Apenas a energia dentro do túnel foi substituída por energia israelense por questão de segurança, conta Friedman. O fato de termos andado menos de dois metros para chegar ao início do túnel mostra como o grupo esteve perto de chegar à superfície, completa ele.

Embora tenha 70 metros de profundidade, a descida só é possível até 45 metros, pois o restante foi bloqueado com toneladas de concreto pelo Exército israelense. De acordo com Friedman, os 45 metros limites ficam exatamente abaixo da Linha Azul estabelecida pela ONU para separar as fronteiras.


Escadarias de concreto e corrimão foram construídos por membros do Hezbollah, apenas a luz elétrica foi substituída Foto: Carolina Marins/Estadão

Operação Escudo do Norte

A estrutura tem um quilômetro de extensão, partindo de dentro de uma casa no vilarejo de Ramyeh, no sul do Líbano e saindo próximo às Colinas do Golan, no norte, que Israel capturou da Síria em 1967. “A estratégia foi colocar seus equipamentos e membros do grupo dentro dos vilarejos no Líbano para construir os túneis que os permitiram adentrar em nosso território em uma manobra surpresa”, afirmou o general.

A descoberta ocorreu em 2019, depois que moradores das Colinas do Golan denunciaram sentir tremores na região. O governo israelense já suspeitava que poderiam existir túneis no local, pois haviam descoberto as mesmas estruturas no sul do país, durante a Guerra na Faixa de Gaza em 2014. Após as denúncias, o Exército deu início à Operação Escudo do Norte, dedicada exclusivamente a procurar pelos túneis.

Uma vez que confirmaram a existência de atividades de escavação, a dificuldade era localizar com precisão os túneis, e sem ultrapassar a fronteira com o Líbano, o que violaria o cessar-fogo estabelecido pela ONU.

“Felizmente, em 2017, nossas indústrias de inteligência militar desenvolveram uma tecnologia ultrassecreta que nos permitiu localizar os túneis em Gaza. Quando terminamos a operação de lá, trouxemos a tecnologia para cá”, explicou, sem entrar em detalhes sobre a tecnologia. Segundo ele, a dificuldade no Golan era maior, já que o terreno é feito de montanhas de pedras, muito diferente do terreno arenoso de Gaza.

Entrada do túnel fica logo abaixo do muro que separa Israel do Líbano, o que seria uma violação da Resolução 1701 da ONU, segundo Israel Foto: Carolina Marins/Estadão

A tecnologia, explicou o ex-porta voz do IDF Jonathan Concrius, permite escanear a presença de túneis pelo ar e então o Exército ataca com foguetes ou outras armas que busca levar a estrutura ao colapso. Desde a criação da tecnologia, o militar diz que foram encontrados 22 túneis na Faixa de Gaza, onde o risco de novas construções ainda é uma preocupação.

“Essa foi uma arma muito eficaz que o Hamas e a Jihad Islâmica trabalharam por décadas”, afirma o militar hoje baseado na Faixa de Gaza. “Eles são muito bons nisso e há toda uma indústria em Gaza, de trabalhadores e empreiteiros com muito conhecimento acumulado para escavações”. Um indústria que custa milhões de dólares, segundo Israel, cujo financiamento vem do Irã.

A operação no norte começou em dezembro de 2018 e foi encerrada em janeiro de 2019, quando foi descoberto o sexto túnel, considerado o mais sofisticado, segundo o IDF. É este que está disponível para visitação controlada.


Resposta do Hezbollah

Na época Israel denunciou a construção dos túneis como uma violação direta da Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU. A resolução estabeleceu a Linha Azul na fronteira entre Israel e o Líbano para que as forças israelenses se retirassem e o governo libanês retomasse o controle da área invadida.

As forças israelenses estimam que os túneis começaram a ser construídos entre 2013 e 2014, o que o líder do Hezbollah, Hassam Nasrallah, nega. Ele riu das descobertas do Exército de Israel na época, dizendo não se tratar de uma novidade, já que a prática de construir túneis pelo Hezbollah eram bastante conhecidas. Mas afirmou que elas vinham de antes da resolução.

“Os israelenses descobriram vários túneis depois de muitos anos, e não é uma surpresa”, afirmou Nasrallah em 2019 ao canal árabe al-Mayadeen, com sede em Beirute. “A surpresa é que esses túneis levaram algum tempo para serem encontrados. Um dos túneis descobertos nas últimas semanas tem 13 ou 14 anos”.

Estrutura conta com tubulações para saída de ar, água e comunicações com o exterior Foto: Carolina Marins/Estadão

Ele chamou a operação israelense de fracasso, mas confirmou a acusação de que seus planos eram entrar no território para atacar. “Parte de nosso plano para a próxima guerra é entrar na Galileia, uma parte de nosso plano de que somos capazes, se Deus quiser. O importante é que temos essa capacidade e a temos há anos”, disse, segundo traduções da entrevista feitas por agências ocidentais.

O Hezbollah é um grupo xiita paramilitar considerado terrorista por Israel e pelos Estados Unidos. O grupo foi fundamental para a ascensão dos aiatolás no Irã após a Revolução Islâmica, sendo que sua atuação no país é militar. Já no Líbano o grupo possui um partido político com assentos no Parlamento. O último conflito aberto entre Israel e Hezbollah foi justamente a guerra de 2006, mas ainda há atritos recorrentes na fronteira e na guerra da Síria.

Para Israel, o Hezbollah - bem como seu líder Nasrallah - são ferramentas do Irã para destruir Israel. Irã e Israel travam uma guerra silenciosa desde os anos 70. Ainda assim, a fronteira com o Líbano tem sido relativamente calma desde os acordos de paz com a ONU. Muito diferente da situação na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, onde o conflito vem escalando desde o retorno de Binyamin Netanyahu ao governo junto com uma coalizão de extrema direita ultra religiosa.

Mas mesmo com a suposta calmaria, as forças israelenses demonstraram agitação com a presença de uma delegação de jornalistas estrangeiros na fronteira. Após a visitação ao túnel, foi possível ver um suposto membro do Hezbollah observando a cena com binóculos e uma máquina fotográfica. No local, porém, só poderiam estar forças oficiais do Líbano ou da Força Interina das Nações Unidas no Líbano, segundo as regras estabelecidas pela resolução 1701.

*A repórter viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores de Israel

É possível ver placas com os dizeres "Infraestrutura Original do Hezbollah" por toda a descida Foto: Carolina Marins/Estadão

ENVIADA ESPECIAL ÀS COLINAS DO GOLAN, ISRAEL* - Túneis já foram uma arma eficiente no conflito entre israelenses e palestinos. Só nos últimos cinco anos, Israel descobriu mais de vinte estruturas construídas debaixo das fronteiras com a Faixa de Gaza e com o Líbano, construídas pelo Hamas e Hezbollah, respectivamente. O Estadão entrou em um desses túneis, nas Colinas do Golan, em conjunto com uma delegação de jornalistas brasileiros que viajaram a Israel a convite do Ministério das Relações Exteriores.

O túnel, que é aberto para uma visitação controlada pelas Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), foi o último descoberto depois de outros cinco localizados na fronteira norte do país com o Líbano, logo abaixo da Linha Azul estabelecida pela resolução do Conselho de Segurança da ONU que deu fim à Guerra do Líbano em 2006. Além desses seis, outros 22 foram encontrados na Faixa de Gaza nos últimos anos.

Localizado no vilarejo de Shtula, o túnel tem uma descida íngreme e arriscada devido ao barro causado pela constante umidade do local. Ainda assim, tem uma estrutura complexa: a escada foi construída com concreto, há tubos de ventilação, energia e comunicação com o exterior que, segundo o general Alon Friedman, que conduziu a visitação, foram completamente construídas pelo Hezbollah manualmente. Este é o único túnel acessível para visitação, já que os outros cinco foram bloqueados com concreto.

A entrada fica localizada logo abaixo do enorme muro construído por Israel para separar a fronteira com o Líbano. Apenas a porta e menos de dois metros de escadas de metal na entrada foram construídos pela forças israelenses, o restante é estrutura do Hezbollah, como informam as placas espalhadas por todo o caminho.

Apenas a energia dentro do túnel foi substituída por energia israelense por questão de segurança, conta Friedman. O fato de termos andado menos de dois metros para chegar ao início do túnel mostra como o grupo esteve perto de chegar à superfície, completa ele.

Embora tenha 70 metros de profundidade, a descida só é possível até 45 metros, pois o restante foi bloqueado com toneladas de concreto pelo Exército israelense. De acordo com Friedman, os 45 metros limites ficam exatamente abaixo da Linha Azul estabelecida pela ONU para separar as fronteiras.


Escadarias de concreto e corrimão foram construídos por membros do Hezbollah, apenas a luz elétrica foi substituída Foto: Carolina Marins/Estadão

Operação Escudo do Norte

A estrutura tem um quilômetro de extensão, partindo de dentro de uma casa no vilarejo de Ramyeh, no sul do Líbano e saindo próximo às Colinas do Golan, no norte, que Israel capturou da Síria em 1967. “A estratégia foi colocar seus equipamentos e membros do grupo dentro dos vilarejos no Líbano para construir os túneis que os permitiram adentrar em nosso território em uma manobra surpresa”, afirmou o general.

A descoberta ocorreu em 2019, depois que moradores das Colinas do Golan denunciaram sentir tremores na região. O governo israelense já suspeitava que poderiam existir túneis no local, pois haviam descoberto as mesmas estruturas no sul do país, durante a Guerra na Faixa de Gaza em 2014. Após as denúncias, o Exército deu início à Operação Escudo do Norte, dedicada exclusivamente a procurar pelos túneis.

Uma vez que confirmaram a existência de atividades de escavação, a dificuldade era localizar com precisão os túneis, e sem ultrapassar a fronteira com o Líbano, o que violaria o cessar-fogo estabelecido pela ONU.

“Felizmente, em 2017, nossas indústrias de inteligência militar desenvolveram uma tecnologia ultrassecreta que nos permitiu localizar os túneis em Gaza. Quando terminamos a operação de lá, trouxemos a tecnologia para cá”, explicou, sem entrar em detalhes sobre a tecnologia. Segundo ele, a dificuldade no Golan era maior, já que o terreno é feito de montanhas de pedras, muito diferente do terreno arenoso de Gaza.

Entrada do túnel fica logo abaixo do muro que separa Israel do Líbano, o que seria uma violação da Resolução 1701 da ONU, segundo Israel Foto: Carolina Marins/Estadão

A tecnologia, explicou o ex-porta voz do IDF Jonathan Concrius, permite escanear a presença de túneis pelo ar e então o Exército ataca com foguetes ou outras armas que busca levar a estrutura ao colapso. Desde a criação da tecnologia, o militar diz que foram encontrados 22 túneis na Faixa de Gaza, onde o risco de novas construções ainda é uma preocupação.

“Essa foi uma arma muito eficaz que o Hamas e a Jihad Islâmica trabalharam por décadas”, afirma o militar hoje baseado na Faixa de Gaza. “Eles são muito bons nisso e há toda uma indústria em Gaza, de trabalhadores e empreiteiros com muito conhecimento acumulado para escavações”. Um indústria que custa milhões de dólares, segundo Israel, cujo financiamento vem do Irã.

A operação no norte começou em dezembro de 2018 e foi encerrada em janeiro de 2019, quando foi descoberto o sexto túnel, considerado o mais sofisticado, segundo o IDF. É este que está disponível para visitação controlada.


Resposta do Hezbollah

Na época Israel denunciou a construção dos túneis como uma violação direta da Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU. A resolução estabeleceu a Linha Azul na fronteira entre Israel e o Líbano para que as forças israelenses se retirassem e o governo libanês retomasse o controle da área invadida.

As forças israelenses estimam que os túneis começaram a ser construídos entre 2013 e 2014, o que o líder do Hezbollah, Hassam Nasrallah, nega. Ele riu das descobertas do Exército de Israel na época, dizendo não se tratar de uma novidade, já que a prática de construir túneis pelo Hezbollah eram bastante conhecidas. Mas afirmou que elas vinham de antes da resolução.

“Os israelenses descobriram vários túneis depois de muitos anos, e não é uma surpresa”, afirmou Nasrallah em 2019 ao canal árabe al-Mayadeen, com sede em Beirute. “A surpresa é que esses túneis levaram algum tempo para serem encontrados. Um dos túneis descobertos nas últimas semanas tem 13 ou 14 anos”.

Estrutura conta com tubulações para saída de ar, água e comunicações com o exterior Foto: Carolina Marins/Estadão

Ele chamou a operação israelense de fracasso, mas confirmou a acusação de que seus planos eram entrar no território para atacar. “Parte de nosso plano para a próxima guerra é entrar na Galileia, uma parte de nosso plano de que somos capazes, se Deus quiser. O importante é que temos essa capacidade e a temos há anos”, disse, segundo traduções da entrevista feitas por agências ocidentais.

O Hezbollah é um grupo xiita paramilitar considerado terrorista por Israel e pelos Estados Unidos. O grupo foi fundamental para a ascensão dos aiatolás no Irã após a Revolução Islâmica, sendo que sua atuação no país é militar. Já no Líbano o grupo possui um partido político com assentos no Parlamento. O último conflito aberto entre Israel e Hezbollah foi justamente a guerra de 2006, mas ainda há atritos recorrentes na fronteira e na guerra da Síria.

Para Israel, o Hezbollah - bem como seu líder Nasrallah - são ferramentas do Irã para destruir Israel. Irã e Israel travam uma guerra silenciosa desde os anos 70. Ainda assim, a fronteira com o Líbano tem sido relativamente calma desde os acordos de paz com a ONU. Muito diferente da situação na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, onde o conflito vem escalando desde o retorno de Binyamin Netanyahu ao governo junto com uma coalizão de extrema direita ultra religiosa.

Mas mesmo com a suposta calmaria, as forças israelenses demonstraram agitação com a presença de uma delegação de jornalistas estrangeiros na fronteira. Após a visitação ao túnel, foi possível ver um suposto membro do Hezbollah observando a cena com binóculos e uma máquina fotográfica. No local, porém, só poderiam estar forças oficiais do Líbano ou da Força Interina das Nações Unidas no Líbano, segundo as regras estabelecidas pela resolução 1701.

*A repórter viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores de Israel

É possível ver placas com os dizeres "Infraestrutura Original do Hezbollah" por toda a descida Foto: Carolina Marins/Estadão

ENVIADA ESPECIAL ÀS COLINAS DO GOLAN, ISRAEL* - Túneis já foram uma arma eficiente no conflito entre israelenses e palestinos. Só nos últimos cinco anos, Israel descobriu mais de vinte estruturas construídas debaixo das fronteiras com a Faixa de Gaza e com o Líbano, construídas pelo Hamas e Hezbollah, respectivamente. O Estadão entrou em um desses túneis, nas Colinas do Golan, em conjunto com uma delegação de jornalistas brasileiros que viajaram a Israel a convite do Ministério das Relações Exteriores.

O túnel, que é aberto para uma visitação controlada pelas Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), foi o último descoberto depois de outros cinco localizados na fronteira norte do país com o Líbano, logo abaixo da Linha Azul estabelecida pela resolução do Conselho de Segurança da ONU que deu fim à Guerra do Líbano em 2006. Além desses seis, outros 22 foram encontrados na Faixa de Gaza nos últimos anos.

Localizado no vilarejo de Shtula, o túnel tem uma descida íngreme e arriscada devido ao barro causado pela constante umidade do local. Ainda assim, tem uma estrutura complexa: a escada foi construída com concreto, há tubos de ventilação, energia e comunicação com o exterior que, segundo o general Alon Friedman, que conduziu a visitação, foram completamente construídas pelo Hezbollah manualmente. Este é o único túnel acessível para visitação, já que os outros cinco foram bloqueados com concreto.

A entrada fica localizada logo abaixo do enorme muro construído por Israel para separar a fronteira com o Líbano. Apenas a porta e menos de dois metros de escadas de metal na entrada foram construídos pela forças israelenses, o restante é estrutura do Hezbollah, como informam as placas espalhadas por todo o caminho.

Apenas a energia dentro do túnel foi substituída por energia israelense por questão de segurança, conta Friedman. O fato de termos andado menos de dois metros para chegar ao início do túnel mostra como o grupo esteve perto de chegar à superfície, completa ele.

Embora tenha 70 metros de profundidade, a descida só é possível até 45 metros, pois o restante foi bloqueado com toneladas de concreto pelo Exército israelense. De acordo com Friedman, os 45 metros limites ficam exatamente abaixo da Linha Azul estabelecida pela ONU para separar as fronteiras.


Escadarias de concreto e corrimão foram construídos por membros do Hezbollah, apenas a luz elétrica foi substituída Foto: Carolina Marins/Estadão

Operação Escudo do Norte

A estrutura tem um quilômetro de extensão, partindo de dentro de uma casa no vilarejo de Ramyeh, no sul do Líbano e saindo próximo às Colinas do Golan, no norte, que Israel capturou da Síria em 1967. “A estratégia foi colocar seus equipamentos e membros do grupo dentro dos vilarejos no Líbano para construir os túneis que os permitiram adentrar em nosso território em uma manobra surpresa”, afirmou o general.

A descoberta ocorreu em 2019, depois que moradores das Colinas do Golan denunciaram sentir tremores na região. O governo israelense já suspeitava que poderiam existir túneis no local, pois haviam descoberto as mesmas estruturas no sul do país, durante a Guerra na Faixa de Gaza em 2014. Após as denúncias, o Exército deu início à Operação Escudo do Norte, dedicada exclusivamente a procurar pelos túneis.

Uma vez que confirmaram a existência de atividades de escavação, a dificuldade era localizar com precisão os túneis, e sem ultrapassar a fronteira com o Líbano, o que violaria o cessar-fogo estabelecido pela ONU.

“Felizmente, em 2017, nossas indústrias de inteligência militar desenvolveram uma tecnologia ultrassecreta que nos permitiu localizar os túneis em Gaza. Quando terminamos a operação de lá, trouxemos a tecnologia para cá”, explicou, sem entrar em detalhes sobre a tecnologia. Segundo ele, a dificuldade no Golan era maior, já que o terreno é feito de montanhas de pedras, muito diferente do terreno arenoso de Gaza.

Entrada do túnel fica logo abaixo do muro que separa Israel do Líbano, o que seria uma violação da Resolução 1701 da ONU, segundo Israel Foto: Carolina Marins/Estadão

A tecnologia, explicou o ex-porta voz do IDF Jonathan Concrius, permite escanear a presença de túneis pelo ar e então o Exército ataca com foguetes ou outras armas que busca levar a estrutura ao colapso. Desde a criação da tecnologia, o militar diz que foram encontrados 22 túneis na Faixa de Gaza, onde o risco de novas construções ainda é uma preocupação.

“Essa foi uma arma muito eficaz que o Hamas e a Jihad Islâmica trabalharam por décadas”, afirma o militar hoje baseado na Faixa de Gaza. “Eles são muito bons nisso e há toda uma indústria em Gaza, de trabalhadores e empreiteiros com muito conhecimento acumulado para escavações”. Um indústria que custa milhões de dólares, segundo Israel, cujo financiamento vem do Irã.

A operação no norte começou em dezembro de 2018 e foi encerrada em janeiro de 2019, quando foi descoberto o sexto túnel, considerado o mais sofisticado, segundo o IDF. É este que está disponível para visitação controlada.


Resposta do Hezbollah

Na época Israel denunciou a construção dos túneis como uma violação direta da Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU. A resolução estabeleceu a Linha Azul na fronteira entre Israel e o Líbano para que as forças israelenses se retirassem e o governo libanês retomasse o controle da área invadida.

As forças israelenses estimam que os túneis começaram a ser construídos entre 2013 e 2014, o que o líder do Hezbollah, Hassam Nasrallah, nega. Ele riu das descobertas do Exército de Israel na época, dizendo não se tratar de uma novidade, já que a prática de construir túneis pelo Hezbollah eram bastante conhecidas. Mas afirmou que elas vinham de antes da resolução.

“Os israelenses descobriram vários túneis depois de muitos anos, e não é uma surpresa”, afirmou Nasrallah em 2019 ao canal árabe al-Mayadeen, com sede em Beirute. “A surpresa é que esses túneis levaram algum tempo para serem encontrados. Um dos túneis descobertos nas últimas semanas tem 13 ou 14 anos”.

Estrutura conta com tubulações para saída de ar, água e comunicações com o exterior Foto: Carolina Marins/Estadão

Ele chamou a operação israelense de fracasso, mas confirmou a acusação de que seus planos eram entrar no território para atacar. “Parte de nosso plano para a próxima guerra é entrar na Galileia, uma parte de nosso plano de que somos capazes, se Deus quiser. O importante é que temos essa capacidade e a temos há anos”, disse, segundo traduções da entrevista feitas por agências ocidentais.

O Hezbollah é um grupo xiita paramilitar considerado terrorista por Israel e pelos Estados Unidos. O grupo foi fundamental para a ascensão dos aiatolás no Irã após a Revolução Islâmica, sendo que sua atuação no país é militar. Já no Líbano o grupo possui um partido político com assentos no Parlamento. O último conflito aberto entre Israel e Hezbollah foi justamente a guerra de 2006, mas ainda há atritos recorrentes na fronteira e na guerra da Síria.

Para Israel, o Hezbollah - bem como seu líder Nasrallah - são ferramentas do Irã para destruir Israel. Irã e Israel travam uma guerra silenciosa desde os anos 70. Ainda assim, a fronteira com o Líbano tem sido relativamente calma desde os acordos de paz com a ONU. Muito diferente da situação na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, onde o conflito vem escalando desde o retorno de Binyamin Netanyahu ao governo junto com uma coalizão de extrema direita ultra religiosa.

Mas mesmo com a suposta calmaria, as forças israelenses demonstraram agitação com a presença de uma delegação de jornalistas estrangeiros na fronteira. Após a visitação ao túnel, foi possível ver um suposto membro do Hezbollah observando a cena com binóculos e uma máquina fotográfica. No local, porém, só poderiam estar forças oficiais do Líbano ou da Força Interina das Nações Unidas no Líbano, segundo as regras estabelecidas pela resolução 1701.

*A repórter viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores de Israel

É possível ver placas com os dizeres "Infraestrutura Original do Hezbollah" por toda a descida Foto: Carolina Marins/Estadão

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