A mensagem de texto que chegou no celular de Marina Levinchuk antes de ela decidir fugir de Mariupol, na Ucrânia, com as tropas russas às portas da cidade, era chocante.
“Se alguém da sua família morrer, coloque o corpo do lado de fora da casa, amarre os pés e as mãos, cubra e deixe-o ali”, dizia o texto.
Horas depois de deixar a cidade, numa viagem de carro de 30 horas até um local mais seguro, ela conta que é exatamente esta cena que viu por toda a cidade. “Os corpos estão espalhados pelas ruas”, conta. “Não há água, não há combustível e nem aquecimento.”
Fervendo neve para beber
Segundo a refugiada de 28 anos, as pessoas que ficaram para trás estão recolhendo a neve do fim do inverno das ruas, na esperança de fervê-la e obter um pouco de água.
O drama dos civis na Ucrânia
Tropas russas começaram há uma semana o cerco da cidade de 500 mil habitantes, um porto estratégico para o escoamento da produção agrícola da Ucrânia e ponto de ligação entre a Península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e a província de Donetsk, cuja independência decretada por separatistas russos foi reconhecida pelo Kremlin antes da invasão.
Alvo de bombardeios implacáveis nos últimos dias, um conselheiro da Prefeitura de Mariupol disse que 1.300 pessoas foram mortas na cidade e que pelo menos 3 mil ficaram feridas.
Não há mais sinal telefônico nem de internet na cidade e o único meio de comunicação com o exterior são os escassos telefones via satélite.
Sem conseguir conquistar seus alvos prioritários na primeira semana de invasão, como a própria Mariupol e Kharkiv – o principal centro bélico da Ucrânia – os russos reutilizaram uma técnica das guerras da Chechênia e da Síria: um cerco militar combinado com bombardeio pesado.
Imagens do centro da cidade mostram um local devastado, com árvores destroçadas, janelas quebrados e prédios semidestruídos. Ontem, um hospital pediátrico e maternidade foi alvo das bombas russas. Segundo o Kremlin, isso ocorreu porque havia combates perto do prédio.
Solidariedade em meio ao caos
Os civis que não conseguiram escapar fazem o que pode para ajudar uns aos outros, segundo Levinchuk.
Marina Levinchuk, refugiada ucraniana
Há três dias, negociações para abrir um corredor humanitário na cidade fracassam diante do disparo frequente de peças de artilharia.
Os moradores de Mariupol acreditam que o ataque à cidade é o mais feroz de toda a guerra. “Os tiros ocorrem a toda hora”, diz Julia Diderko, uma jornalista que conseguiu fugir da cidade pouco antes do cerco dos soldados russos se fechar.
“Houve bombardeios também. Se alguém pode ajudar, por favor o faça. As pessoas estão morrendo”, apela. / THE NEW YORK TIMES
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