The Economist: Por que Donald Trump está ganhando espaço entre o eleitorado mais jovem?


Joe Biden está com dificuldades na substância e no estilo

Por The Economist

Enquanto formadores de um gosto, os dois ex-presidentes americanos mais recentes não poderiam ser mais diferentes entre si. Barack Obama, com sua elegância e ironia, ainda publica listas de melhores do ano com suas recomendações de música, filmes e livros, cada sugestão um triunfo da urbanidade acessível que mistura doses suficientes de Lizzo e “Top Gun: Maverick” para ajudar a passar Abdulrazak Gurnah. À maestria de Obama nessas mixagens, Donald Trump opôs um estilo característico de kitsch-ostentação. Sua bazófia, sua belicosidade, seus redutos folheados a ouro, sua maneira de se relacionar com as mulheres: tudo isso levou um autor da New Yorker, Jelani Cobb, a observar já em 2015, “sob todos os aspectos relevantes, com exceção de uma apresentação em si, Donald Trump não é um político, e sim um rapper”.

E ainda assim, como presidente, Joe Biden encontrou uma maneira de se distinguir tanto do DJ quanto do rapper, e de todos os demais presidentes da era moderna: ele não está deixando praticamente nenhuma marca cultural de qualquer tipo. Talvez John Kennedy tenha mudado o rumo da moda masculina ao não usar chapéu durante sua cerimônia de posse, mas Biden não conseguiu trazer de volta os Staple Singers ao incluir a música deles na playlist da sua posse. Óculos de aviador e sorvete de casquinha, ou quem sabe um passeio de bicicleta em Delaware, são os grandes ícones pop da presidência de Biden até o momento.

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Seria, é claro, condescendente sugerir que a falta de envolvimento de Biden com a cultura em um sentido mais amplo, e não a sua forma de lidar com questões difíceis como a guerra em Gaza, estaria por trás da dificuldade dele de alcançar os americanos mais jovens. Mas isso certamente não ajuda. O que está claro é que ele tem um problema, que resume seu desafio maior ao começar a campanha pela reeleição. O eleitorado mais jovem, que foi chave para sua vitória em 2020, não está curtindo sua presidência.

Former president Donald Trump after speaking at a Commit to Caucus rally in Ankeny, Iowa, on Dec. 2. MUST CREDIT: Jabin Botsford/The Washington Post. Foto: The Washington Post / The Washington Post

Nenhum candidato republicano à presidência conseguiu liderar entre o eleitorado com idade inferior a 30 anos desde 1988. Mas uma pesquisa de intenção de voto realizada pelo New York Times e a Siena College publicada no dia 19 de dezembro mostrou Donald Trump (49%) à frente de Biden (43%) entre os eleitores de 18 a 29 anos. Trata-se de um ganho de dez pontos para Trump desde julho. De acordo com o Pew Research Centre, em 2020 Biden ganhou entre esse eleitorado com vantagem de 24 pontos, 59% a 35%.

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O resultado das pesquisas foi tão ruim para Biden, e tão errático, e a confiança nas pesquisas de opinião foi tão abalada nos anos mais recentes, que teve início um debate entre os obcecados pela política envolvendo a confiabilidade dos números. Nas pesquisas nacionais, subgrupos como eleitores jovens representam amostragens menores e, portanto, trazem margens de erro maiores. Para compensar isso, um grupo chamado Split Ticket agregou no início de dezembro subgrupos de numerosas pesquisas nacionais. Os resultados mostraram Biden à frente de Trump, por uma margem reduzida, mas ainda substancial, de 16 pontos entre os eleitores com menos de 30 anos, mas de apenas três pontos quando os eleitores jovens eram definidos como aqueles de idade inferior a 34 anos. Isso indica ao mesmo tempo que há estática nos números, e que o risco à reeleição de Biden é real.

Os republicanos farejam uma oportunidade. Joe Mitchell, ex-deputado estadual de Iowa que comanda um grupo chamado Run GenZ, voltado para o recrutamento de candidatos conservadores jovens, diz que o que ele mais escuta é “tínhamos mais dinheiro no bolso quando Donald Trump era presidente”. Mas ele argumenta que o peso cultural de Trump é uma vantagem como não se via desde 2016. Ele diz que Biden aprovou leis mais progressistas do que Obama, mas é menos admirado entre os progressistas porque não tem o mesmo carisma do democrata. Em comparação, os indiciamentos de Trump restauraram seu brilho de celebridade. “As pessoas estavam mostrando seu retrato policial como algo positivo”, diz Mitchell, 26 anos. “Ele virou um Tupac da vida.”

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O Comitê Nacional Republicano criou um “conselho jovem”, e organizou seu primeiro debate das primárias junto com um grupo de jovens conservadores. Mas os republicanos têm seus próprios problemas. Quando um universitário presente no debate perguntou como os candidatos fariam para afastar “o temor de que o Partido Republicano não se importa com a mudança climática”, a maioria deles procurou a saída mais próxima. E, em meados de dezembro, cinco dos 16 membros do conselho jovem deixaram o grupo, alegando um problema que remeteu aos anos de Trump: falta de organização, objetivos e visão.

A iteração mais recente da pesquisa Harvard Youth Poll indicou que os americanos com menos de 30 não confiam muito em nenhum dos dois prováveis candidatos. Mas confiavam mais em Trump em se tratando da economia, da segurança nacional, da guerra entre Israel e o Hamas, do crime, da imigração e do fortalecimento da classe trabalhadora. Confiavam mais em Biden em se tratando da mudança climática, do aborto, da violência causada pelas armas de fogo e da proteção à democracia.

Nessa pesquisa, Biden liderava por 11 pontos entre todos os americanos jovens, mas parece que a maior parte deste apoio se deve a Trump. A maioria daqueles que favorecem Biden—69%—disseram fazê-lo por oposição a Trump; em comparação, 65% dos que favorecem Trump se disseram leais a ele. Isso sublinha para Biden o risco de um terceiro candidato atrair para si o eleitorado anti-Trump. A pesquisa de Harvard mostrou a liderança de Biden diminuindo substancialmente quando as pessoas também eram indagadas a respeito de tais candidatos.

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Sempre maçante, nunca entediado

A idade de Biden e sua falta de impacto cultural foram vantagens em 2020. Depois do caos dos anos de Trump, ele trazia uma presença calma, mais velha, que jamais apareceria fumegando de raiva entre as fotos de Taylor Swift e outros memes nas redes sociais das pessoas. “Os EUA elegem tornar a política maçante novamente”, declarou a publicação Politico depois daquela eleição. Em relação a essa promessa implícita, Biden ficou devendo. E o próprio fato de muitos dos acontecimentos novos ocorridos no seu mandato, como as guerras na Ucrânia e em Gaza, estarem além do controle dele simplesmente reforça o problema.

Este é o verdadeiro problema de estilo de Biden: ele não parece estar no controle. Em vez de proteger o presidente em um casulo, seus assessores precisam encontrar mais maneiras de apresentá-lo como uma presença imponente. Se isso não for possível, podem usar melhor os secretários do gabinete e mostrar Biden como o sábio líder de uma equipe altamente funcional. Biden tem bons pontos a defender, e precisa fazer isso com substância e estilo. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Enquanto formadores de um gosto, os dois ex-presidentes americanos mais recentes não poderiam ser mais diferentes entre si. Barack Obama, com sua elegância e ironia, ainda publica listas de melhores do ano com suas recomendações de música, filmes e livros, cada sugestão um triunfo da urbanidade acessível que mistura doses suficientes de Lizzo e “Top Gun: Maverick” para ajudar a passar Abdulrazak Gurnah. À maestria de Obama nessas mixagens, Donald Trump opôs um estilo característico de kitsch-ostentação. Sua bazófia, sua belicosidade, seus redutos folheados a ouro, sua maneira de se relacionar com as mulheres: tudo isso levou um autor da New Yorker, Jelani Cobb, a observar já em 2015, “sob todos os aspectos relevantes, com exceção de uma apresentação em si, Donald Trump não é um político, e sim um rapper”.

E ainda assim, como presidente, Joe Biden encontrou uma maneira de se distinguir tanto do DJ quanto do rapper, e de todos os demais presidentes da era moderna: ele não está deixando praticamente nenhuma marca cultural de qualquer tipo. Talvez John Kennedy tenha mudado o rumo da moda masculina ao não usar chapéu durante sua cerimônia de posse, mas Biden não conseguiu trazer de volta os Staple Singers ao incluir a música deles na playlist da sua posse. Óculos de aviador e sorvete de casquinha, ou quem sabe um passeio de bicicleta em Delaware, são os grandes ícones pop da presidência de Biden até o momento.

Seria, é claro, condescendente sugerir que a falta de envolvimento de Biden com a cultura em um sentido mais amplo, e não a sua forma de lidar com questões difíceis como a guerra em Gaza, estaria por trás da dificuldade dele de alcançar os americanos mais jovens. Mas isso certamente não ajuda. O que está claro é que ele tem um problema, que resume seu desafio maior ao começar a campanha pela reeleição. O eleitorado mais jovem, que foi chave para sua vitória em 2020, não está curtindo sua presidência.

Former president Donald Trump after speaking at a Commit to Caucus rally in Ankeny, Iowa, on Dec. 2. MUST CREDIT: Jabin Botsford/The Washington Post. Foto: The Washington Post / The Washington Post

Nenhum candidato republicano à presidência conseguiu liderar entre o eleitorado com idade inferior a 30 anos desde 1988. Mas uma pesquisa de intenção de voto realizada pelo New York Times e a Siena College publicada no dia 19 de dezembro mostrou Donald Trump (49%) à frente de Biden (43%) entre os eleitores de 18 a 29 anos. Trata-se de um ganho de dez pontos para Trump desde julho. De acordo com o Pew Research Centre, em 2020 Biden ganhou entre esse eleitorado com vantagem de 24 pontos, 59% a 35%.

O resultado das pesquisas foi tão ruim para Biden, e tão errático, e a confiança nas pesquisas de opinião foi tão abalada nos anos mais recentes, que teve início um debate entre os obcecados pela política envolvendo a confiabilidade dos números. Nas pesquisas nacionais, subgrupos como eleitores jovens representam amostragens menores e, portanto, trazem margens de erro maiores. Para compensar isso, um grupo chamado Split Ticket agregou no início de dezembro subgrupos de numerosas pesquisas nacionais. Os resultados mostraram Biden à frente de Trump, por uma margem reduzida, mas ainda substancial, de 16 pontos entre os eleitores com menos de 30 anos, mas de apenas três pontos quando os eleitores jovens eram definidos como aqueles de idade inferior a 34 anos. Isso indica ao mesmo tempo que há estática nos números, e que o risco à reeleição de Biden é real.

Os republicanos farejam uma oportunidade. Joe Mitchell, ex-deputado estadual de Iowa que comanda um grupo chamado Run GenZ, voltado para o recrutamento de candidatos conservadores jovens, diz que o que ele mais escuta é “tínhamos mais dinheiro no bolso quando Donald Trump era presidente”. Mas ele argumenta que o peso cultural de Trump é uma vantagem como não se via desde 2016. Ele diz que Biden aprovou leis mais progressistas do que Obama, mas é menos admirado entre os progressistas porque não tem o mesmo carisma do democrata. Em comparação, os indiciamentos de Trump restauraram seu brilho de celebridade. “As pessoas estavam mostrando seu retrato policial como algo positivo”, diz Mitchell, 26 anos. “Ele virou um Tupac da vida.”

O Comitê Nacional Republicano criou um “conselho jovem”, e organizou seu primeiro debate das primárias junto com um grupo de jovens conservadores. Mas os republicanos têm seus próprios problemas. Quando um universitário presente no debate perguntou como os candidatos fariam para afastar “o temor de que o Partido Republicano não se importa com a mudança climática”, a maioria deles procurou a saída mais próxima. E, em meados de dezembro, cinco dos 16 membros do conselho jovem deixaram o grupo, alegando um problema que remeteu aos anos de Trump: falta de organização, objetivos e visão.

A iteração mais recente da pesquisa Harvard Youth Poll indicou que os americanos com menos de 30 não confiam muito em nenhum dos dois prováveis candidatos. Mas confiavam mais em Trump em se tratando da economia, da segurança nacional, da guerra entre Israel e o Hamas, do crime, da imigração e do fortalecimento da classe trabalhadora. Confiavam mais em Biden em se tratando da mudança climática, do aborto, da violência causada pelas armas de fogo e da proteção à democracia.

Nessa pesquisa, Biden liderava por 11 pontos entre todos os americanos jovens, mas parece que a maior parte deste apoio se deve a Trump. A maioria daqueles que favorecem Biden—69%—disseram fazê-lo por oposição a Trump; em comparação, 65% dos que favorecem Trump se disseram leais a ele. Isso sublinha para Biden o risco de um terceiro candidato atrair para si o eleitorado anti-Trump. A pesquisa de Harvard mostrou a liderança de Biden diminuindo substancialmente quando as pessoas também eram indagadas a respeito de tais candidatos.

Sempre maçante, nunca entediado

A idade de Biden e sua falta de impacto cultural foram vantagens em 2020. Depois do caos dos anos de Trump, ele trazia uma presença calma, mais velha, que jamais apareceria fumegando de raiva entre as fotos de Taylor Swift e outros memes nas redes sociais das pessoas. “Os EUA elegem tornar a política maçante novamente”, declarou a publicação Politico depois daquela eleição. Em relação a essa promessa implícita, Biden ficou devendo. E o próprio fato de muitos dos acontecimentos novos ocorridos no seu mandato, como as guerras na Ucrânia e em Gaza, estarem além do controle dele simplesmente reforça o problema.

Este é o verdadeiro problema de estilo de Biden: ele não parece estar no controle. Em vez de proteger o presidente em um casulo, seus assessores precisam encontrar mais maneiras de apresentá-lo como uma presença imponente. Se isso não for possível, podem usar melhor os secretários do gabinete e mostrar Biden como o sábio líder de uma equipe altamente funcional. Biden tem bons pontos a defender, e precisa fazer isso com substância e estilo. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Enquanto formadores de um gosto, os dois ex-presidentes americanos mais recentes não poderiam ser mais diferentes entre si. Barack Obama, com sua elegância e ironia, ainda publica listas de melhores do ano com suas recomendações de música, filmes e livros, cada sugestão um triunfo da urbanidade acessível que mistura doses suficientes de Lizzo e “Top Gun: Maverick” para ajudar a passar Abdulrazak Gurnah. À maestria de Obama nessas mixagens, Donald Trump opôs um estilo característico de kitsch-ostentação. Sua bazófia, sua belicosidade, seus redutos folheados a ouro, sua maneira de se relacionar com as mulheres: tudo isso levou um autor da New Yorker, Jelani Cobb, a observar já em 2015, “sob todos os aspectos relevantes, com exceção de uma apresentação em si, Donald Trump não é um político, e sim um rapper”.

E ainda assim, como presidente, Joe Biden encontrou uma maneira de se distinguir tanto do DJ quanto do rapper, e de todos os demais presidentes da era moderna: ele não está deixando praticamente nenhuma marca cultural de qualquer tipo. Talvez John Kennedy tenha mudado o rumo da moda masculina ao não usar chapéu durante sua cerimônia de posse, mas Biden não conseguiu trazer de volta os Staple Singers ao incluir a música deles na playlist da sua posse. Óculos de aviador e sorvete de casquinha, ou quem sabe um passeio de bicicleta em Delaware, são os grandes ícones pop da presidência de Biden até o momento.

Seria, é claro, condescendente sugerir que a falta de envolvimento de Biden com a cultura em um sentido mais amplo, e não a sua forma de lidar com questões difíceis como a guerra em Gaza, estaria por trás da dificuldade dele de alcançar os americanos mais jovens. Mas isso certamente não ajuda. O que está claro é que ele tem um problema, que resume seu desafio maior ao começar a campanha pela reeleição. O eleitorado mais jovem, que foi chave para sua vitória em 2020, não está curtindo sua presidência.

Former president Donald Trump after speaking at a Commit to Caucus rally in Ankeny, Iowa, on Dec. 2. MUST CREDIT: Jabin Botsford/The Washington Post. Foto: The Washington Post / The Washington Post

Nenhum candidato republicano à presidência conseguiu liderar entre o eleitorado com idade inferior a 30 anos desde 1988. Mas uma pesquisa de intenção de voto realizada pelo New York Times e a Siena College publicada no dia 19 de dezembro mostrou Donald Trump (49%) à frente de Biden (43%) entre os eleitores de 18 a 29 anos. Trata-se de um ganho de dez pontos para Trump desde julho. De acordo com o Pew Research Centre, em 2020 Biden ganhou entre esse eleitorado com vantagem de 24 pontos, 59% a 35%.

O resultado das pesquisas foi tão ruim para Biden, e tão errático, e a confiança nas pesquisas de opinião foi tão abalada nos anos mais recentes, que teve início um debate entre os obcecados pela política envolvendo a confiabilidade dos números. Nas pesquisas nacionais, subgrupos como eleitores jovens representam amostragens menores e, portanto, trazem margens de erro maiores. Para compensar isso, um grupo chamado Split Ticket agregou no início de dezembro subgrupos de numerosas pesquisas nacionais. Os resultados mostraram Biden à frente de Trump, por uma margem reduzida, mas ainda substancial, de 16 pontos entre os eleitores com menos de 30 anos, mas de apenas três pontos quando os eleitores jovens eram definidos como aqueles de idade inferior a 34 anos. Isso indica ao mesmo tempo que há estática nos números, e que o risco à reeleição de Biden é real.

Os republicanos farejam uma oportunidade. Joe Mitchell, ex-deputado estadual de Iowa que comanda um grupo chamado Run GenZ, voltado para o recrutamento de candidatos conservadores jovens, diz que o que ele mais escuta é “tínhamos mais dinheiro no bolso quando Donald Trump era presidente”. Mas ele argumenta que o peso cultural de Trump é uma vantagem como não se via desde 2016. Ele diz que Biden aprovou leis mais progressistas do que Obama, mas é menos admirado entre os progressistas porque não tem o mesmo carisma do democrata. Em comparação, os indiciamentos de Trump restauraram seu brilho de celebridade. “As pessoas estavam mostrando seu retrato policial como algo positivo”, diz Mitchell, 26 anos. “Ele virou um Tupac da vida.”

O Comitê Nacional Republicano criou um “conselho jovem”, e organizou seu primeiro debate das primárias junto com um grupo de jovens conservadores. Mas os republicanos têm seus próprios problemas. Quando um universitário presente no debate perguntou como os candidatos fariam para afastar “o temor de que o Partido Republicano não se importa com a mudança climática”, a maioria deles procurou a saída mais próxima. E, em meados de dezembro, cinco dos 16 membros do conselho jovem deixaram o grupo, alegando um problema que remeteu aos anos de Trump: falta de organização, objetivos e visão.

A iteração mais recente da pesquisa Harvard Youth Poll indicou que os americanos com menos de 30 não confiam muito em nenhum dos dois prováveis candidatos. Mas confiavam mais em Trump em se tratando da economia, da segurança nacional, da guerra entre Israel e o Hamas, do crime, da imigração e do fortalecimento da classe trabalhadora. Confiavam mais em Biden em se tratando da mudança climática, do aborto, da violência causada pelas armas de fogo e da proteção à democracia.

Nessa pesquisa, Biden liderava por 11 pontos entre todos os americanos jovens, mas parece que a maior parte deste apoio se deve a Trump. A maioria daqueles que favorecem Biden—69%—disseram fazê-lo por oposição a Trump; em comparação, 65% dos que favorecem Trump se disseram leais a ele. Isso sublinha para Biden o risco de um terceiro candidato atrair para si o eleitorado anti-Trump. A pesquisa de Harvard mostrou a liderança de Biden diminuindo substancialmente quando as pessoas também eram indagadas a respeito de tais candidatos.

Sempre maçante, nunca entediado

A idade de Biden e sua falta de impacto cultural foram vantagens em 2020. Depois do caos dos anos de Trump, ele trazia uma presença calma, mais velha, que jamais apareceria fumegando de raiva entre as fotos de Taylor Swift e outros memes nas redes sociais das pessoas. “Os EUA elegem tornar a política maçante novamente”, declarou a publicação Politico depois daquela eleição. Em relação a essa promessa implícita, Biden ficou devendo. E o próprio fato de muitos dos acontecimentos novos ocorridos no seu mandato, como as guerras na Ucrânia e em Gaza, estarem além do controle dele simplesmente reforça o problema.

Este é o verdadeiro problema de estilo de Biden: ele não parece estar no controle. Em vez de proteger o presidente em um casulo, seus assessores precisam encontrar mais maneiras de apresentá-lo como uma presença imponente. Se isso não for possível, podem usar melhor os secretários do gabinete e mostrar Biden como o sábio líder de uma equipe altamente funcional. Biden tem bons pontos a defender, e precisa fazer isso com substância e estilo. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Enquanto formadores de um gosto, os dois ex-presidentes americanos mais recentes não poderiam ser mais diferentes entre si. Barack Obama, com sua elegância e ironia, ainda publica listas de melhores do ano com suas recomendações de música, filmes e livros, cada sugestão um triunfo da urbanidade acessível que mistura doses suficientes de Lizzo e “Top Gun: Maverick” para ajudar a passar Abdulrazak Gurnah. À maestria de Obama nessas mixagens, Donald Trump opôs um estilo característico de kitsch-ostentação. Sua bazófia, sua belicosidade, seus redutos folheados a ouro, sua maneira de se relacionar com as mulheres: tudo isso levou um autor da New Yorker, Jelani Cobb, a observar já em 2015, “sob todos os aspectos relevantes, com exceção de uma apresentação em si, Donald Trump não é um político, e sim um rapper”.

E ainda assim, como presidente, Joe Biden encontrou uma maneira de se distinguir tanto do DJ quanto do rapper, e de todos os demais presidentes da era moderna: ele não está deixando praticamente nenhuma marca cultural de qualquer tipo. Talvez John Kennedy tenha mudado o rumo da moda masculina ao não usar chapéu durante sua cerimônia de posse, mas Biden não conseguiu trazer de volta os Staple Singers ao incluir a música deles na playlist da sua posse. Óculos de aviador e sorvete de casquinha, ou quem sabe um passeio de bicicleta em Delaware, são os grandes ícones pop da presidência de Biden até o momento.

Seria, é claro, condescendente sugerir que a falta de envolvimento de Biden com a cultura em um sentido mais amplo, e não a sua forma de lidar com questões difíceis como a guerra em Gaza, estaria por trás da dificuldade dele de alcançar os americanos mais jovens. Mas isso certamente não ajuda. O que está claro é que ele tem um problema, que resume seu desafio maior ao começar a campanha pela reeleição. O eleitorado mais jovem, que foi chave para sua vitória em 2020, não está curtindo sua presidência.

Former president Donald Trump after speaking at a Commit to Caucus rally in Ankeny, Iowa, on Dec. 2. MUST CREDIT: Jabin Botsford/The Washington Post. Foto: The Washington Post / The Washington Post

Nenhum candidato republicano à presidência conseguiu liderar entre o eleitorado com idade inferior a 30 anos desde 1988. Mas uma pesquisa de intenção de voto realizada pelo New York Times e a Siena College publicada no dia 19 de dezembro mostrou Donald Trump (49%) à frente de Biden (43%) entre os eleitores de 18 a 29 anos. Trata-se de um ganho de dez pontos para Trump desde julho. De acordo com o Pew Research Centre, em 2020 Biden ganhou entre esse eleitorado com vantagem de 24 pontos, 59% a 35%.

O resultado das pesquisas foi tão ruim para Biden, e tão errático, e a confiança nas pesquisas de opinião foi tão abalada nos anos mais recentes, que teve início um debate entre os obcecados pela política envolvendo a confiabilidade dos números. Nas pesquisas nacionais, subgrupos como eleitores jovens representam amostragens menores e, portanto, trazem margens de erro maiores. Para compensar isso, um grupo chamado Split Ticket agregou no início de dezembro subgrupos de numerosas pesquisas nacionais. Os resultados mostraram Biden à frente de Trump, por uma margem reduzida, mas ainda substancial, de 16 pontos entre os eleitores com menos de 30 anos, mas de apenas três pontos quando os eleitores jovens eram definidos como aqueles de idade inferior a 34 anos. Isso indica ao mesmo tempo que há estática nos números, e que o risco à reeleição de Biden é real.

Os republicanos farejam uma oportunidade. Joe Mitchell, ex-deputado estadual de Iowa que comanda um grupo chamado Run GenZ, voltado para o recrutamento de candidatos conservadores jovens, diz que o que ele mais escuta é “tínhamos mais dinheiro no bolso quando Donald Trump era presidente”. Mas ele argumenta que o peso cultural de Trump é uma vantagem como não se via desde 2016. Ele diz que Biden aprovou leis mais progressistas do que Obama, mas é menos admirado entre os progressistas porque não tem o mesmo carisma do democrata. Em comparação, os indiciamentos de Trump restauraram seu brilho de celebridade. “As pessoas estavam mostrando seu retrato policial como algo positivo”, diz Mitchell, 26 anos. “Ele virou um Tupac da vida.”

O Comitê Nacional Republicano criou um “conselho jovem”, e organizou seu primeiro debate das primárias junto com um grupo de jovens conservadores. Mas os republicanos têm seus próprios problemas. Quando um universitário presente no debate perguntou como os candidatos fariam para afastar “o temor de que o Partido Republicano não se importa com a mudança climática”, a maioria deles procurou a saída mais próxima. E, em meados de dezembro, cinco dos 16 membros do conselho jovem deixaram o grupo, alegando um problema que remeteu aos anos de Trump: falta de organização, objetivos e visão.

A iteração mais recente da pesquisa Harvard Youth Poll indicou que os americanos com menos de 30 não confiam muito em nenhum dos dois prováveis candidatos. Mas confiavam mais em Trump em se tratando da economia, da segurança nacional, da guerra entre Israel e o Hamas, do crime, da imigração e do fortalecimento da classe trabalhadora. Confiavam mais em Biden em se tratando da mudança climática, do aborto, da violência causada pelas armas de fogo e da proteção à democracia.

Nessa pesquisa, Biden liderava por 11 pontos entre todos os americanos jovens, mas parece que a maior parte deste apoio se deve a Trump. A maioria daqueles que favorecem Biden—69%—disseram fazê-lo por oposição a Trump; em comparação, 65% dos que favorecem Trump se disseram leais a ele. Isso sublinha para Biden o risco de um terceiro candidato atrair para si o eleitorado anti-Trump. A pesquisa de Harvard mostrou a liderança de Biden diminuindo substancialmente quando as pessoas também eram indagadas a respeito de tais candidatos.

Sempre maçante, nunca entediado

A idade de Biden e sua falta de impacto cultural foram vantagens em 2020. Depois do caos dos anos de Trump, ele trazia uma presença calma, mais velha, que jamais apareceria fumegando de raiva entre as fotos de Taylor Swift e outros memes nas redes sociais das pessoas. “Os EUA elegem tornar a política maçante novamente”, declarou a publicação Politico depois daquela eleição. Em relação a essa promessa implícita, Biden ficou devendo. E o próprio fato de muitos dos acontecimentos novos ocorridos no seu mandato, como as guerras na Ucrânia e em Gaza, estarem além do controle dele simplesmente reforça o problema.

Este é o verdadeiro problema de estilo de Biden: ele não parece estar no controle. Em vez de proteger o presidente em um casulo, seus assessores precisam encontrar mais maneiras de apresentá-lo como uma presença imponente. Se isso não for possível, podem usar melhor os secretários do gabinete e mostrar Biden como o sábio líder de uma equipe altamente funcional. Biden tem bons pontos a defender, e precisa fazer isso com substância e estilo. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Enquanto formadores de um gosto, os dois ex-presidentes americanos mais recentes não poderiam ser mais diferentes entre si. Barack Obama, com sua elegância e ironia, ainda publica listas de melhores do ano com suas recomendações de música, filmes e livros, cada sugestão um triunfo da urbanidade acessível que mistura doses suficientes de Lizzo e “Top Gun: Maverick” para ajudar a passar Abdulrazak Gurnah. À maestria de Obama nessas mixagens, Donald Trump opôs um estilo característico de kitsch-ostentação. Sua bazófia, sua belicosidade, seus redutos folheados a ouro, sua maneira de se relacionar com as mulheres: tudo isso levou um autor da New Yorker, Jelani Cobb, a observar já em 2015, “sob todos os aspectos relevantes, com exceção de uma apresentação em si, Donald Trump não é um político, e sim um rapper”.

E ainda assim, como presidente, Joe Biden encontrou uma maneira de se distinguir tanto do DJ quanto do rapper, e de todos os demais presidentes da era moderna: ele não está deixando praticamente nenhuma marca cultural de qualquer tipo. Talvez John Kennedy tenha mudado o rumo da moda masculina ao não usar chapéu durante sua cerimônia de posse, mas Biden não conseguiu trazer de volta os Staple Singers ao incluir a música deles na playlist da sua posse. Óculos de aviador e sorvete de casquinha, ou quem sabe um passeio de bicicleta em Delaware, são os grandes ícones pop da presidência de Biden até o momento.

Seria, é claro, condescendente sugerir que a falta de envolvimento de Biden com a cultura em um sentido mais amplo, e não a sua forma de lidar com questões difíceis como a guerra em Gaza, estaria por trás da dificuldade dele de alcançar os americanos mais jovens. Mas isso certamente não ajuda. O que está claro é que ele tem um problema, que resume seu desafio maior ao começar a campanha pela reeleição. O eleitorado mais jovem, que foi chave para sua vitória em 2020, não está curtindo sua presidência.

Former president Donald Trump after speaking at a Commit to Caucus rally in Ankeny, Iowa, on Dec. 2. MUST CREDIT: Jabin Botsford/The Washington Post. Foto: The Washington Post / The Washington Post

Nenhum candidato republicano à presidência conseguiu liderar entre o eleitorado com idade inferior a 30 anos desde 1988. Mas uma pesquisa de intenção de voto realizada pelo New York Times e a Siena College publicada no dia 19 de dezembro mostrou Donald Trump (49%) à frente de Biden (43%) entre os eleitores de 18 a 29 anos. Trata-se de um ganho de dez pontos para Trump desde julho. De acordo com o Pew Research Centre, em 2020 Biden ganhou entre esse eleitorado com vantagem de 24 pontos, 59% a 35%.

O resultado das pesquisas foi tão ruim para Biden, e tão errático, e a confiança nas pesquisas de opinião foi tão abalada nos anos mais recentes, que teve início um debate entre os obcecados pela política envolvendo a confiabilidade dos números. Nas pesquisas nacionais, subgrupos como eleitores jovens representam amostragens menores e, portanto, trazem margens de erro maiores. Para compensar isso, um grupo chamado Split Ticket agregou no início de dezembro subgrupos de numerosas pesquisas nacionais. Os resultados mostraram Biden à frente de Trump, por uma margem reduzida, mas ainda substancial, de 16 pontos entre os eleitores com menos de 30 anos, mas de apenas três pontos quando os eleitores jovens eram definidos como aqueles de idade inferior a 34 anos. Isso indica ao mesmo tempo que há estática nos números, e que o risco à reeleição de Biden é real.

Os republicanos farejam uma oportunidade. Joe Mitchell, ex-deputado estadual de Iowa que comanda um grupo chamado Run GenZ, voltado para o recrutamento de candidatos conservadores jovens, diz que o que ele mais escuta é “tínhamos mais dinheiro no bolso quando Donald Trump era presidente”. Mas ele argumenta que o peso cultural de Trump é uma vantagem como não se via desde 2016. Ele diz que Biden aprovou leis mais progressistas do que Obama, mas é menos admirado entre os progressistas porque não tem o mesmo carisma do democrata. Em comparação, os indiciamentos de Trump restauraram seu brilho de celebridade. “As pessoas estavam mostrando seu retrato policial como algo positivo”, diz Mitchell, 26 anos. “Ele virou um Tupac da vida.”

O Comitê Nacional Republicano criou um “conselho jovem”, e organizou seu primeiro debate das primárias junto com um grupo de jovens conservadores. Mas os republicanos têm seus próprios problemas. Quando um universitário presente no debate perguntou como os candidatos fariam para afastar “o temor de que o Partido Republicano não se importa com a mudança climática”, a maioria deles procurou a saída mais próxima. E, em meados de dezembro, cinco dos 16 membros do conselho jovem deixaram o grupo, alegando um problema que remeteu aos anos de Trump: falta de organização, objetivos e visão.

A iteração mais recente da pesquisa Harvard Youth Poll indicou que os americanos com menos de 30 não confiam muito em nenhum dos dois prováveis candidatos. Mas confiavam mais em Trump em se tratando da economia, da segurança nacional, da guerra entre Israel e o Hamas, do crime, da imigração e do fortalecimento da classe trabalhadora. Confiavam mais em Biden em se tratando da mudança climática, do aborto, da violência causada pelas armas de fogo e da proteção à democracia.

Nessa pesquisa, Biden liderava por 11 pontos entre todos os americanos jovens, mas parece que a maior parte deste apoio se deve a Trump. A maioria daqueles que favorecem Biden—69%—disseram fazê-lo por oposição a Trump; em comparação, 65% dos que favorecem Trump se disseram leais a ele. Isso sublinha para Biden o risco de um terceiro candidato atrair para si o eleitorado anti-Trump. A pesquisa de Harvard mostrou a liderança de Biden diminuindo substancialmente quando as pessoas também eram indagadas a respeito de tais candidatos.

Sempre maçante, nunca entediado

A idade de Biden e sua falta de impacto cultural foram vantagens em 2020. Depois do caos dos anos de Trump, ele trazia uma presença calma, mais velha, que jamais apareceria fumegando de raiva entre as fotos de Taylor Swift e outros memes nas redes sociais das pessoas. “Os EUA elegem tornar a política maçante novamente”, declarou a publicação Politico depois daquela eleição. Em relação a essa promessa implícita, Biden ficou devendo. E o próprio fato de muitos dos acontecimentos novos ocorridos no seu mandato, como as guerras na Ucrânia e em Gaza, estarem além do controle dele simplesmente reforça o problema.

Este é o verdadeiro problema de estilo de Biden: ele não parece estar no controle. Em vez de proteger o presidente em um casulo, seus assessores precisam encontrar mais maneiras de apresentá-lo como uma presença imponente. Se isso não for possível, podem usar melhor os secretários do gabinete e mostrar Biden como o sábio líder de uma equipe altamente funcional. Biden tem bons pontos a defender, e precisa fazer isso com substância e estilo. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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