Opinião|Por que Donald Trump ignora os crescentes alertas no Ocidente sobre uma perigosa campanha de Putin?


Ex-presidente continua a elogiar líder do Kremlin de forma bizarra enquanto ele empreende uma campanha secreta em escala contra os Estados Unidos e seus aliados europeus

Por David Ignatius

Não se trata de uma “galhofa russa”. Conforme o Dia da Eleição se aproxima, o ex-presidente Donald Trump continua a elogiar de forma bizarra um líder do Kremlin que, segundo autoridades de inteligência, empreende uma campanha secreta em escala contra os Estados Unidos e seus aliados europeus.

Desta vez os russos não estão apenas disseminando desinformação. Estão supostamente organizando uma rede de sabotadores que busca punir apoiadores da Ucrânia enviando pacotes explosivos por meio de entregas da DHL, perseguindo alvos em meia dúzia de países europeus e até ameaçando assassinar o diretor de uma fabricante de armas alemã.

Mas Trump continua a enaltecer sua relação “amistosa” com Vladimir Putin e colocar a culpa da invasão russa em escala total iniciada em 2022 no presidente ucraniano, Volodmir Zelenski. Durante a campanha eleitoral, Trump tem divulgado repetidamente um plano de paz que ele afirma que firmaria com Putin — que para mim parece um pacto de rendição que poria fim na guerra tão rapidamente quanto alguém seria capaz de pronunciar “Neville Chamberlain”.

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Imagem de julho de 2018 mostra encontro entre Donald Trump, então presidente dos EUA, e Vladimir Putin, presidente da Rússia. Ex-presidente mantêm relação com líder do Kremlin  Foto: Pablo Martinez Monsivais/AP

Enquanto isso, a Otan se vê diante de uma punitiva série de atos secretos de guerra que se situam pouco abaixo de um limite que requereria resposta militar. Quase todos os grandes países europeus que fornecem armas para a Ucrânia relataram ações de sabotagem, incêndios criminosos ou coisa pior. E Trump afirma que é culpa exclusiva de Zelenski seu país ter sido atacado pela Rússia. “Ele nunca deveria ter deixado essa guerra começar”, disse Trump a um podcast este mês. “Essa guerra é um fiasco.”

Autoridades de segurança europeias estão furiosas. Ken McCallum, diretor do MI-5, o serviço britânico de inteligência doméstica, emitiu um comunicado denunciando a ameaça de operações clandestinas de Putin e do GRU, o Departamento Central de Inteligência das Forças Armadas russas. “O GRU (…) empreende uma missão sustentada para gerar caos nas ruas britânicas e europeias”, disse McCallum, que resumiu a ameaça: “Ações perigosas conduzidas cada vez mais irresponsavelmente”.

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Como a Rússia empreende essa campanha? A polícia britânica revelou este mês que está investigando se um pacote explosivo que pegou fogo em um armazém da DHL num subúrbio de Birmingham em julho está ligado a “incidentes similares ocorridos em toda a Europa”. Também em julho, na Alemanha, outro pacote da DHL pegou fogo.

Se tivesse explodido dentro de um avião, o pacote da DHL que se incendiou na Alemanha “teria derrubado” e aeronave, disse o chefe da inteligência alemã, Thomas Haldenwang, a uma comissão do Bundestag este mês. “Estamos observando comportamentos agressivos por parte dos serviços de inteligência russos” que estão “colocando em risco as vidas das pessoas”, afirmou ele.

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O objetivo da Rússia parece ser intimidar países ou empresas que ajudam a Ucrânia. A CNN noticiou em julho que a Rússia chegou a planejar o assassinato do diretor-executivo da empresa alemã Rheinmetall, que fabrica projéteis de artilharia de 155 milímetros e outros equipamentos militares enviados para a Ucrânia. O CEO, Armin Papperger, disse ao Financial Times que o governo alemão forneceu “um grande nível de segurança em torno da minha pessoa”.

Os EUA não foram atingidos por pacotes explosivos. Mas têm enfrentado ciberataques e operações de desinformação praticadas pela Rússia, incluindo uma suposta operação, recém-revelada, do GRU com objetivo de usar “deepfakes” para prejudicar o candidato democrata à vice-presidência, Tim Walz. Foi a ação mais recente de uma série de supostos ataques: o Departamento de Justiça indiciou em setembro dois funcionários do Russia Today envolvidos em um suposto esquema para plantar propaganda e também revelou uma operação russa com objetivo de disseminar informações falsas chamado “Doppelganger”. Autoridades de inteligência me disseram que o GRU está conduzindo outras operações dentro dos EUA, mas não deram detalhes.

Para arrematar seu comportamento irresponsável, a Rússia está agora alistando soldados norte-coreanos para ajudá-la a travar sua guerra. A Coreia do Sul afirma que até 10 mil estão a caminho, e uma autoridade ucraniana afirma que 2,5 mil podem estar rumando para a região russa de Kursk, para repelir o contra-ataque ucraniano por lá.

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O secretário-geral da Otan de saída do cargo, Jens Stoltenberg, declarou numa conferência de imprensa em julho: “O que posso dizer é que nós percebemos um padrão, uma campanha da Rússia organizada por suas forças de segurança para conduzir ações hostis contra aliados da Otan. (…) Não são incidentes isolados; são parte de um padrão, parte de uma campanha russa em andamento. E o objetivo dessa campanha é, evidentemente, intimidar os aliados da Otan para que retirem o apoio à Ucrânia”.

“O comportamento dos serviços de inteligência russos ficou um pouco agressivo”, disse Richard Moore, diretor do MI6, o serviço britânico de inteligência estrangeira, em uma conferência do Financial Times, no mês passado. Moore e o diretor da CIA, William Burns, escreveram em um artigo de opinião assinado conjuntamente que, em razão das ações da Rússia, a ordem global está “sob ameaça de uma maneira que não víamos desde a Guerra Fria”.

E, para arrematar seu comportamento irresponsável, a Rússia está agora alistando soldados norte-coreanos para ajudá-la a travar sua guerra. A Coreia do Sul afirma que até 10 mil estão a caminho, e uma autoridade ucraniana afirma que 2,5 mil podem estar rumando para a região russa de Kursk, para repelir o contra-ataque ucraniano por lá. O secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, afirma que “a situação é muito, muito séria”.

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Tentando evitar uma crise durante a atual temporada eleitoral, o governo Biden não respondeu Putin com força. A Casa Branca parece preferir uma batalha nas sombras, usando operações de inteligência para desvelar e perturbar as conspirações russas. Uma dissuasão bastante tímida. Mas pelo menos a vice-presidente Kamala Harris qualificou Putin corretamente, como um “ditador assassino”.

E onde está Trump enquanto Putin empreende o que a Economist deste mês chamou de campanha “Tudo, em toda parte, ao mesmo tempo”? Talvez telefonando novamente para seu amigo no Kremlin, com quem já conversou pelo menos sete vezes desde que deixou a Casa Branca, segundo o novo livro de Bob Woodward.

Num momento em que quase todos os aliados dos EUA alertam que uma guerra secreta contra o Ocidente está em andamento, por que Trump parece estar se amigando com o outro lado? /TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Não se trata de uma “galhofa russa”. Conforme o Dia da Eleição se aproxima, o ex-presidente Donald Trump continua a elogiar de forma bizarra um líder do Kremlin que, segundo autoridades de inteligência, empreende uma campanha secreta em escala contra os Estados Unidos e seus aliados europeus.

Desta vez os russos não estão apenas disseminando desinformação. Estão supostamente organizando uma rede de sabotadores que busca punir apoiadores da Ucrânia enviando pacotes explosivos por meio de entregas da DHL, perseguindo alvos em meia dúzia de países europeus e até ameaçando assassinar o diretor de uma fabricante de armas alemã.

Mas Trump continua a enaltecer sua relação “amistosa” com Vladimir Putin e colocar a culpa da invasão russa em escala total iniciada em 2022 no presidente ucraniano, Volodmir Zelenski. Durante a campanha eleitoral, Trump tem divulgado repetidamente um plano de paz que ele afirma que firmaria com Putin — que para mim parece um pacto de rendição que poria fim na guerra tão rapidamente quanto alguém seria capaz de pronunciar “Neville Chamberlain”.

Imagem de julho de 2018 mostra encontro entre Donald Trump, então presidente dos EUA, e Vladimir Putin, presidente da Rússia. Ex-presidente mantêm relação com líder do Kremlin  Foto: Pablo Martinez Monsivais/AP

Enquanto isso, a Otan se vê diante de uma punitiva série de atos secretos de guerra que se situam pouco abaixo de um limite que requereria resposta militar. Quase todos os grandes países europeus que fornecem armas para a Ucrânia relataram ações de sabotagem, incêndios criminosos ou coisa pior. E Trump afirma que é culpa exclusiva de Zelenski seu país ter sido atacado pela Rússia. “Ele nunca deveria ter deixado essa guerra começar”, disse Trump a um podcast este mês. “Essa guerra é um fiasco.”

Autoridades de segurança europeias estão furiosas. Ken McCallum, diretor do MI-5, o serviço britânico de inteligência doméstica, emitiu um comunicado denunciando a ameaça de operações clandestinas de Putin e do GRU, o Departamento Central de Inteligência das Forças Armadas russas. “O GRU (…) empreende uma missão sustentada para gerar caos nas ruas britânicas e europeias”, disse McCallum, que resumiu a ameaça: “Ações perigosas conduzidas cada vez mais irresponsavelmente”.

Como a Rússia empreende essa campanha? A polícia britânica revelou este mês que está investigando se um pacote explosivo que pegou fogo em um armazém da DHL num subúrbio de Birmingham em julho está ligado a “incidentes similares ocorridos em toda a Europa”. Também em julho, na Alemanha, outro pacote da DHL pegou fogo.

Se tivesse explodido dentro de um avião, o pacote da DHL que se incendiou na Alemanha “teria derrubado” e aeronave, disse o chefe da inteligência alemã, Thomas Haldenwang, a uma comissão do Bundestag este mês. “Estamos observando comportamentos agressivos por parte dos serviços de inteligência russos” que estão “colocando em risco as vidas das pessoas”, afirmou ele.

O objetivo da Rússia parece ser intimidar países ou empresas que ajudam a Ucrânia. A CNN noticiou em julho que a Rússia chegou a planejar o assassinato do diretor-executivo da empresa alemã Rheinmetall, que fabrica projéteis de artilharia de 155 milímetros e outros equipamentos militares enviados para a Ucrânia. O CEO, Armin Papperger, disse ao Financial Times que o governo alemão forneceu “um grande nível de segurança em torno da minha pessoa”.

Os EUA não foram atingidos por pacotes explosivos. Mas têm enfrentado ciberataques e operações de desinformação praticadas pela Rússia, incluindo uma suposta operação, recém-revelada, do GRU com objetivo de usar “deepfakes” para prejudicar o candidato democrata à vice-presidência, Tim Walz. Foi a ação mais recente de uma série de supostos ataques: o Departamento de Justiça indiciou em setembro dois funcionários do Russia Today envolvidos em um suposto esquema para plantar propaganda e também revelou uma operação russa com objetivo de disseminar informações falsas chamado “Doppelganger”. Autoridades de inteligência me disseram que o GRU está conduzindo outras operações dentro dos EUA, mas não deram detalhes.

Para arrematar seu comportamento irresponsável, a Rússia está agora alistando soldados norte-coreanos para ajudá-la a travar sua guerra. A Coreia do Sul afirma que até 10 mil estão a caminho, e uma autoridade ucraniana afirma que 2,5 mil podem estar rumando para a região russa de Kursk, para repelir o contra-ataque ucraniano por lá.

O secretário-geral da Otan de saída do cargo, Jens Stoltenberg, declarou numa conferência de imprensa em julho: “O que posso dizer é que nós percebemos um padrão, uma campanha da Rússia organizada por suas forças de segurança para conduzir ações hostis contra aliados da Otan. (…) Não são incidentes isolados; são parte de um padrão, parte de uma campanha russa em andamento. E o objetivo dessa campanha é, evidentemente, intimidar os aliados da Otan para que retirem o apoio à Ucrânia”.

“O comportamento dos serviços de inteligência russos ficou um pouco agressivo”, disse Richard Moore, diretor do MI6, o serviço britânico de inteligência estrangeira, em uma conferência do Financial Times, no mês passado. Moore e o diretor da CIA, William Burns, escreveram em um artigo de opinião assinado conjuntamente que, em razão das ações da Rússia, a ordem global está “sob ameaça de uma maneira que não víamos desde a Guerra Fria”.

E, para arrematar seu comportamento irresponsável, a Rússia está agora alistando soldados norte-coreanos para ajudá-la a travar sua guerra. A Coreia do Sul afirma que até 10 mil estão a caminho, e uma autoridade ucraniana afirma que 2,5 mil podem estar rumando para a região russa de Kursk, para repelir o contra-ataque ucraniano por lá. O secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, afirma que “a situação é muito, muito séria”.

Tentando evitar uma crise durante a atual temporada eleitoral, o governo Biden não respondeu Putin com força. A Casa Branca parece preferir uma batalha nas sombras, usando operações de inteligência para desvelar e perturbar as conspirações russas. Uma dissuasão bastante tímida. Mas pelo menos a vice-presidente Kamala Harris qualificou Putin corretamente, como um “ditador assassino”.

E onde está Trump enquanto Putin empreende o que a Economist deste mês chamou de campanha “Tudo, em toda parte, ao mesmo tempo”? Talvez telefonando novamente para seu amigo no Kremlin, com quem já conversou pelo menos sete vezes desde que deixou a Casa Branca, segundo o novo livro de Bob Woodward.

Num momento em que quase todos os aliados dos EUA alertam que uma guerra secreta contra o Ocidente está em andamento, por que Trump parece estar se amigando com o outro lado? /TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Não se trata de uma “galhofa russa”. Conforme o Dia da Eleição se aproxima, o ex-presidente Donald Trump continua a elogiar de forma bizarra um líder do Kremlin que, segundo autoridades de inteligência, empreende uma campanha secreta em escala contra os Estados Unidos e seus aliados europeus.

Desta vez os russos não estão apenas disseminando desinformação. Estão supostamente organizando uma rede de sabotadores que busca punir apoiadores da Ucrânia enviando pacotes explosivos por meio de entregas da DHL, perseguindo alvos em meia dúzia de países europeus e até ameaçando assassinar o diretor de uma fabricante de armas alemã.

Mas Trump continua a enaltecer sua relação “amistosa” com Vladimir Putin e colocar a culpa da invasão russa em escala total iniciada em 2022 no presidente ucraniano, Volodmir Zelenski. Durante a campanha eleitoral, Trump tem divulgado repetidamente um plano de paz que ele afirma que firmaria com Putin — que para mim parece um pacto de rendição que poria fim na guerra tão rapidamente quanto alguém seria capaz de pronunciar “Neville Chamberlain”.

Imagem de julho de 2018 mostra encontro entre Donald Trump, então presidente dos EUA, e Vladimir Putin, presidente da Rússia. Ex-presidente mantêm relação com líder do Kremlin  Foto: Pablo Martinez Monsivais/AP

Enquanto isso, a Otan se vê diante de uma punitiva série de atos secretos de guerra que se situam pouco abaixo de um limite que requereria resposta militar. Quase todos os grandes países europeus que fornecem armas para a Ucrânia relataram ações de sabotagem, incêndios criminosos ou coisa pior. E Trump afirma que é culpa exclusiva de Zelenski seu país ter sido atacado pela Rússia. “Ele nunca deveria ter deixado essa guerra começar”, disse Trump a um podcast este mês. “Essa guerra é um fiasco.”

Autoridades de segurança europeias estão furiosas. Ken McCallum, diretor do MI-5, o serviço britânico de inteligência doméstica, emitiu um comunicado denunciando a ameaça de operações clandestinas de Putin e do GRU, o Departamento Central de Inteligência das Forças Armadas russas. “O GRU (…) empreende uma missão sustentada para gerar caos nas ruas britânicas e europeias”, disse McCallum, que resumiu a ameaça: “Ações perigosas conduzidas cada vez mais irresponsavelmente”.

Como a Rússia empreende essa campanha? A polícia britânica revelou este mês que está investigando se um pacote explosivo que pegou fogo em um armazém da DHL num subúrbio de Birmingham em julho está ligado a “incidentes similares ocorridos em toda a Europa”. Também em julho, na Alemanha, outro pacote da DHL pegou fogo.

Se tivesse explodido dentro de um avião, o pacote da DHL que se incendiou na Alemanha “teria derrubado” e aeronave, disse o chefe da inteligência alemã, Thomas Haldenwang, a uma comissão do Bundestag este mês. “Estamos observando comportamentos agressivos por parte dos serviços de inteligência russos” que estão “colocando em risco as vidas das pessoas”, afirmou ele.

O objetivo da Rússia parece ser intimidar países ou empresas que ajudam a Ucrânia. A CNN noticiou em julho que a Rússia chegou a planejar o assassinato do diretor-executivo da empresa alemã Rheinmetall, que fabrica projéteis de artilharia de 155 milímetros e outros equipamentos militares enviados para a Ucrânia. O CEO, Armin Papperger, disse ao Financial Times que o governo alemão forneceu “um grande nível de segurança em torno da minha pessoa”.

Os EUA não foram atingidos por pacotes explosivos. Mas têm enfrentado ciberataques e operações de desinformação praticadas pela Rússia, incluindo uma suposta operação, recém-revelada, do GRU com objetivo de usar “deepfakes” para prejudicar o candidato democrata à vice-presidência, Tim Walz. Foi a ação mais recente de uma série de supostos ataques: o Departamento de Justiça indiciou em setembro dois funcionários do Russia Today envolvidos em um suposto esquema para plantar propaganda e também revelou uma operação russa com objetivo de disseminar informações falsas chamado “Doppelganger”. Autoridades de inteligência me disseram que o GRU está conduzindo outras operações dentro dos EUA, mas não deram detalhes.

Para arrematar seu comportamento irresponsável, a Rússia está agora alistando soldados norte-coreanos para ajudá-la a travar sua guerra. A Coreia do Sul afirma que até 10 mil estão a caminho, e uma autoridade ucraniana afirma que 2,5 mil podem estar rumando para a região russa de Kursk, para repelir o contra-ataque ucraniano por lá.

O secretário-geral da Otan de saída do cargo, Jens Stoltenberg, declarou numa conferência de imprensa em julho: “O que posso dizer é que nós percebemos um padrão, uma campanha da Rússia organizada por suas forças de segurança para conduzir ações hostis contra aliados da Otan. (…) Não são incidentes isolados; são parte de um padrão, parte de uma campanha russa em andamento. E o objetivo dessa campanha é, evidentemente, intimidar os aliados da Otan para que retirem o apoio à Ucrânia”.

“O comportamento dos serviços de inteligência russos ficou um pouco agressivo”, disse Richard Moore, diretor do MI6, o serviço britânico de inteligência estrangeira, em uma conferência do Financial Times, no mês passado. Moore e o diretor da CIA, William Burns, escreveram em um artigo de opinião assinado conjuntamente que, em razão das ações da Rússia, a ordem global está “sob ameaça de uma maneira que não víamos desde a Guerra Fria”.

E, para arrematar seu comportamento irresponsável, a Rússia está agora alistando soldados norte-coreanos para ajudá-la a travar sua guerra. A Coreia do Sul afirma que até 10 mil estão a caminho, e uma autoridade ucraniana afirma que 2,5 mil podem estar rumando para a região russa de Kursk, para repelir o contra-ataque ucraniano por lá. O secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, afirma que “a situação é muito, muito séria”.

Tentando evitar uma crise durante a atual temporada eleitoral, o governo Biden não respondeu Putin com força. A Casa Branca parece preferir uma batalha nas sombras, usando operações de inteligência para desvelar e perturbar as conspirações russas. Uma dissuasão bastante tímida. Mas pelo menos a vice-presidente Kamala Harris qualificou Putin corretamente, como um “ditador assassino”.

E onde está Trump enquanto Putin empreende o que a Economist deste mês chamou de campanha “Tudo, em toda parte, ao mesmo tempo”? Talvez telefonando novamente para seu amigo no Kremlin, com quem já conversou pelo menos sete vezes desde que deixou a Casa Branca, segundo o novo livro de Bob Woodward.

Num momento em que quase todos os aliados dos EUA alertam que uma guerra secreta contra o Ocidente está em andamento, por que Trump parece estar se amigando com o outro lado? /TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Não se trata de uma “galhofa russa”. Conforme o Dia da Eleição se aproxima, o ex-presidente Donald Trump continua a elogiar de forma bizarra um líder do Kremlin que, segundo autoridades de inteligência, empreende uma campanha secreta em escala contra os Estados Unidos e seus aliados europeus.

Desta vez os russos não estão apenas disseminando desinformação. Estão supostamente organizando uma rede de sabotadores que busca punir apoiadores da Ucrânia enviando pacotes explosivos por meio de entregas da DHL, perseguindo alvos em meia dúzia de países europeus e até ameaçando assassinar o diretor de uma fabricante de armas alemã.

Mas Trump continua a enaltecer sua relação “amistosa” com Vladimir Putin e colocar a culpa da invasão russa em escala total iniciada em 2022 no presidente ucraniano, Volodmir Zelenski. Durante a campanha eleitoral, Trump tem divulgado repetidamente um plano de paz que ele afirma que firmaria com Putin — que para mim parece um pacto de rendição que poria fim na guerra tão rapidamente quanto alguém seria capaz de pronunciar “Neville Chamberlain”.

Imagem de julho de 2018 mostra encontro entre Donald Trump, então presidente dos EUA, e Vladimir Putin, presidente da Rússia. Ex-presidente mantêm relação com líder do Kremlin  Foto: Pablo Martinez Monsivais/AP

Enquanto isso, a Otan se vê diante de uma punitiva série de atos secretos de guerra que se situam pouco abaixo de um limite que requereria resposta militar. Quase todos os grandes países europeus que fornecem armas para a Ucrânia relataram ações de sabotagem, incêndios criminosos ou coisa pior. E Trump afirma que é culpa exclusiva de Zelenski seu país ter sido atacado pela Rússia. “Ele nunca deveria ter deixado essa guerra começar”, disse Trump a um podcast este mês. “Essa guerra é um fiasco.”

Autoridades de segurança europeias estão furiosas. Ken McCallum, diretor do MI-5, o serviço britânico de inteligência doméstica, emitiu um comunicado denunciando a ameaça de operações clandestinas de Putin e do GRU, o Departamento Central de Inteligência das Forças Armadas russas. “O GRU (…) empreende uma missão sustentada para gerar caos nas ruas britânicas e europeias”, disse McCallum, que resumiu a ameaça: “Ações perigosas conduzidas cada vez mais irresponsavelmente”.

Como a Rússia empreende essa campanha? A polícia britânica revelou este mês que está investigando se um pacote explosivo que pegou fogo em um armazém da DHL num subúrbio de Birmingham em julho está ligado a “incidentes similares ocorridos em toda a Europa”. Também em julho, na Alemanha, outro pacote da DHL pegou fogo.

Se tivesse explodido dentro de um avião, o pacote da DHL que se incendiou na Alemanha “teria derrubado” e aeronave, disse o chefe da inteligência alemã, Thomas Haldenwang, a uma comissão do Bundestag este mês. “Estamos observando comportamentos agressivos por parte dos serviços de inteligência russos” que estão “colocando em risco as vidas das pessoas”, afirmou ele.

O objetivo da Rússia parece ser intimidar países ou empresas que ajudam a Ucrânia. A CNN noticiou em julho que a Rússia chegou a planejar o assassinato do diretor-executivo da empresa alemã Rheinmetall, que fabrica projéteis de artilharia de 155 milímetros e outros equipamentos militares enviados para a Ucrânia. O CEO, Armin Papperger, disse ao Financial Times que o governo alemão forneceu “um grande nível de segurança em torno da minha pessoa”.

Os EUA não foram atingidos por pacotes explosivos. Mas têm enfrentado ciberataques e operações de desinformação praticadas pela Rússia, incluindo uma suposta operação, recém-revelada, do GRU com objetivo de usar “deepfakes” para prejudicar o candidato democrata à vice-presidência, Tim Walz. Foi a ação mais recente de uma série de supostos ataques: o Departamento de Justiça indiciou em setembro dois funcionários do Russia Today envolvidos em um suposto esquema para plantar propaganda e também revelou uma operação russa com objetivo de disseminar informações falsas chamado “Doppelganger”. Autoridades de inteligência me disseram que o GRU está conduzindo outras operações dentro dos EUA, mas não deram detalhes.

Para arrematar seu comportamento irresponsável, a Rússia está agora alistando soldados norte-coreanos para ajudá-la a travar sua guerra. A Coreia do Sul afirma que até 10 mil estão a caminho, e uma autoridade ucraniana afirma que 2,5 mil podem estar rumando para a região russa de Kursk, para repelir o contra-ataque ucraniano por lá.

O secretário-geral da Otan de saída do cargo, Jens Stoltenberg, declarou numa conferência de imprensa em julho: “O que posso dizer é que nós percebemos um padrão, uma campanha da Rússia organizada por suas forças de segurança para conduzir ações hostis contra aliados da Otan. (…) Não são incidentes isolados; são parte de um padrão, parte de uma campanha russa em andamento. E o objetivo dessa campanha é, evidentemente, intimidar os aliados da Otan para que retirem o apoio à Ucrânia”.

“O comportamento dos serviços de inteligência russos ficou um pouco agressivo”, disse Richard Moore, diretor do MI6, o serviço britânico de inteligência estrangeira, em uma conferência do Financial Times, no mês passado. Moore e o diretor da CIA, William Burns, escreveram em um artigo de opinião assinado conjuntamente que, em razão das ações da Rússia, a ordem global está “sob ameaça de uma maneira que não víamos desde a Guerra Fria”.

E, para arrematar seu comportamento irresponsável, a Rússia está agora alistando soldados norte-coreanos para ajudá-la a travar sua guerra. A Coreia do Sul afirma que até 10 mil estão a caminho, e uma autoridade ucraniana afirma que 2,5 mil podem estar rumando para a região russa de Kursk, para repelir o contra-ataque ucraniano por lá. O secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, afirma que “a situação é muito, muito séria”.

Tentando evitar uma crise durante a atual temporada eleitoral, o governo Biden não respondeu Putin com força. A Casa Branca parece preferir uma batalha nas sombras, usando operações de inteligência para desvelar e perturbar as conspirações russas. Uma dissuasão bastante tímida. Mas pelo menos a vice-presidente Kamala Harris qualificou Putin corretamente, como um “ditador assassino”.

E onde está Trump enquanto Putin empreende o que a Economist deste mês chamou de campanha “Tudo, em toda parte, ao mesmo tempo”? Talvez telefonando novamente para seu amigo no Kremlin, com quem já conversou pelo menos sete vezes desde que deixou a Casa Branca, segundo o novo livro de Bob Woodward.

Num momento em que quase todos os aliados dos EUA alertam que uma guerra secreta contra o Ocidente está em andamento, por que Trump parece estar se amigando com o outro lado? /TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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