Por que o ataque do Hamas a Israel é diferente e terá consequências profundas; leia análise


Ação deste sábado revela uma audácia, coordenação e efetividade militar vistas poucas vezes no histórico do confronto

Por Luiz Raatz
Atualização:

Ataques do grupo terrorista Hamas a Israel desde que os radicais palestinos assumiram o controle da Faixa de Gaza, em 2006, não são incomuns. Em 2008, 2012, 2014, 2018 e 2021, em maior ou menor grau, assaltos do Hamas e as subsequentes respostas de Israel levaram tensão à região. A ação deste sábado, no entanto, revela uma audácia, coordenação e efetividade militar vistas poucas vezes no histórico do confronto. Além disso, as consequências do ataque, que até o momento já matou mais de 100 israelenses, serão profundas tanto internamente em Israel, quanto na sua relação com o restante do Oriente Médio.

Até o ataque de hoje, o recurso mais utilizado pelo Hamas para atacar Israel eram os foguetes lançados de Gaza contra o sul do país. Obtidos por meio de contrabando com túneis construídos entre Gaza e o Sinai, e, segundo o governo israelense, muitas vezes construídos com o auxílio logístico e financeiro do Irã, esses mísseis têm como objetivo principalmente alvos próximos da fronteira.

Com a construção do chamado Domo de Ferro, um potente sistema antimíssil desenvolvido com a ajuda dos Estados Unidos, Israel conseguiu, ao longo dos anos, limitar as baixas provocadas por esse tipo de ataque. As respostas israelenses, frequentemente, vinham por meio de ataques aéreos contra alvos do Hamas em Gaza. Operações maiores, como em 2008 e 2014, também contavam com apoio terrestre.

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Tanque israelense tomado pelo Hamas: grupo lançou um dos maiores ataques de sua história Foto: Hassan Eslaiah / AP

Audácia inédita

Mas desta vez o Hamas não se limitou aos foguetes. Os terroristas se infiltraram dentro do território israelense, matando indiscriminadamente civis em diversas cidades e fazendo reféns. Há relatos de que muitos desses comandos palestinos usaram parapentes para se projetar sobre o território israelense. Delegacias de polícia foram rendidas e arsenal israelense foi tomado pelos radicais.

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Muitos observadores do conflito no Oriente Médio desenharam nesta manhã um paralelo direto entre a ação do Hamas e a Guerra do Yom Kippur, que completou ontem 50 anos. Na ocasião, Egito e Síria atacaram Israel de surpresa, durante o feriado de ano-novo em Israel . A invasão do Hamas ocorreu também de surpresa, no sábado, dia de descanso da religião judaica.

Um ataque dessa magnitude não é elaborado da noite para o dia. A necessidade de logística e da arrecadação de fundos para a operação, aliada à escolha da data, reforçam a teoria de que o Hamas há muito tempo planejava algo contra Israel.

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Soldados israelenses se protegem de ataque do Hamas no sul de Israel Foto: AP / AP

Crise interna em Israel

Outro fator que torna o ataque diferente é a situação interna de Israel. Há meses, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu enfrenta protestos em massa contra seu projeto de reforma do Judiciário. As leis propostas pelo premiê visam diminuir o poder da Suprema Corte, responsável por investigá-lo por denúncias de corrupção. Esse projeto agravou as divisões num país já polarizado. Setores das Forças Armadas e da comunidade de inteligência se juntaram aos manifestantes em marchas contra Netanyahu.

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Além disso, desde o começo do ano, tem havido um aumento da violência entre colonos judeus e palestinos na Cisjordânia. Ataques de militantes palestinos armados em Israel se tornaram mais frequentes e concentraram a atenção dos serviços de segurança em cidades próximas ao território palestino, o que, em tese, junto com a insatisfação interna contra o premiê pode ter tirado a atenção e o foco de Gaza.

O papel do Irã

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O quarto sinal de que a atual crise é diferente é a aproximação entre Israel e Arábia Saudita. Há meses, o governo americano tenta costurar a retomada de relações diplomáticas entre as duas potências regionais, que, apesar das imensas divergências, têm um inimigo em comum, o Irã. Há anos, o Hamas conta com o auxílio de Teerã em suas campanhas contra Israel. A aproximação entre Tel-Aviv e Riad pode ter servido de incentivo para os patrocinadores do grupo terrorista de aumentar sua aposta no caos.

Reação imprevisível

Diante do ataque, Netanyahu declarou ‘Estado de Guerra’, o que na prática indica uma operação contra os grupos radicais em Gaza sem prazo para terminar. Em seu pronunciamento após a invasão dos comandos do Hamas, Bibi, como o premiê é conhecido, deu indícios de que pode haver uma operação terrestre em Gaza. Além disso, o primeiro-ministro também sinalizou ao Hezbollah, que atua na fronteira entre Israel e o Líbano que ‘não cometa o erro de se juntar a essa guerra’.

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Membros mais radicais de seu governo, como o ministro do Interior Itamar Ben-Gvir, já defenderam no passado uma ocupação militar de Gaza, abandonada por Israel em 2005. Netanyahu, no entanto, não pode se dar ao luxo de cometer um erro de cálculo.

Num primeiro momento, a oposição e o Exército cerraram fileiras ao lado do governo diante da intensidade do ataque. Mas as críticas às falhas que permitiram que algo dessa magnitude ocorresse certamente virão. Junto delas, virá também um aumento exponencial da sensação de insegurança da população israelense, diante do trauma das vidas perdidas neste sábado.

*É subeditor de internacional

Ataques do grupo terrorista Hamas a Israel desde que os radicais palestinos assumiram o controle da Faixa de Gaza, em 2006, não são incomuns. Em 2008, 2012, 2014, 2018 e 2021, em maior ou menor grau, assaltos do Hamas e as subsequentes respostas de Israel levaram tensão à região. A ação deste sábado, no entanto, revela uma audácia, coordenação e efetividade militar vistas poucas vezes no histórico do confronto. Além disso, as consequências do ataque, que até o momento já matou mais de 100 israelenses, serão profundas tanto internamente em Israel, quanto na sua relação com o restante do Oriente Médio.

Até o ataque de hoje, o recurso mais utilizado pelo Hamas para atacar Israel eram os foguetes lançados de Gaza contra o sul do país. Obtidos por meio de contrabando com túneis construídos entre Gaza e o Sinai, e, segundo o governo israelense, muitas vezes construídos com o auxílio logístico e financeiro do Irã, esses mísseis têm como objetivo principalmente alvos próximos da fronteira.

Com a construção do chamado Domo de Ferro, um potente sistema antimíssil desenvolvido com a ajuda dos Estados Unidos, Israel conseguiu, ao longo dos anos, limitar as baixas provocadas por esse tipo de ataque. As respostas israelenses, frequentemente, vinham por meio de ataques aéreos contra alvos do Hamas em Gaza. Operações maiores, como em 2008 e 2014, também contavam com apoio terrestre.

Tanque israelense tomado pelo Hamas: grupo lançou um dos maiores ataques de sua história Foto: Hassan Eslaiah / AP

Audácia inédita

Mas desta vez o Hamas não se limitou aos foguetes. Os terroristas se infiltraram dentro do território israelense, matando indiscriminadamente civis em diversas cidades e fazendo reféns. Há relatos de que muitos desses comandos palestinos usaram parapentes para se projetar sobre o território israelense. Delegacias de polícia foram rendidas e arsenal israelense foi tomado pelos radicais.

Muitos observadores do conflito no Oriente Médio desenharam nesta manhã um paralelo direto entre a ação do Hamas e a Guerra do Yom Kippur, que completou ontem 50 anos. Na ocasião, Egito e Síria atacaram Israel de surpresa, durante o feriado de ano-novo em Israel . A invasão do Hamas ocorreu também de surpresa, no sábado, dia de descanso da religião judaica.

Um ataque dessa magnitude não é elaborado da noite para o dia. A necessidade de logística e da arrecadação de fundos para a operação, aliada à escolha da data, reforçam a teoria de que o Hamas há muito tempo planejava algo contra Israel.

Soldados israelenses se protegem de ataque do Hamas no sul de Israel Foto: AP / AP

Crise interna em Israel

Outro fator que torna o ataque diferente é a situação interna de Israel. Há meses, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu enfrenta protestos em massa contra seu projeto de reforma do Judiciário. As leis propostas pelo premiê visam diminuir o poder da Suprema Corte, responsável por investigá-lo por denúncias de corrupção. Esse projeto agravou as divisões num país já polarizado. Setores das Forças Armadas e da comunidade de inteligência se juntaram aos manifestantes em marchas contra Netanyahu.

Além disso, desde o começo do ano, tem havido um aumento da violência entre colonos judeus e palestinos na Cisjordânia. Ataques de militantes palestinos armados em Israel se tornaram mais frequentes e concentraram a atenção dos serviços de segurança em cidades próximas ao território palestino, o que, em tese, junto com a insatisfação interna contra o premiê pode ter tirado a atenção e o foco de Gaza.

O papel do Irã

O quarto sinal de que a atual crise é diferente é a aproximação entre Israel e Arábia Saudita. Há meses, o governo americano tenta costurar a retomada de relações diplomáticas entre as duas potências regionais, que, apesar das imensas divergências, têm um inimigo em comum, o Irã. Há anos, o Hamas conta com o auxílio de Teerã em suas campanhas contra Israel. A aproximação entre Tel-Aviv e Riad pode ter servido de incentivo para os patrocinadores do grupo terrorista de aumentar sua aposta no caos.

Reação imprevisível

Diante do ataque, Netanyahu declarou ‘Estado de Guerra’, o que na prática indica uma operação contra os grupos radicais em Gaza sem prazo para terminar. Em seu pronunciamento após a invasão dos comandos do Hamas, Bibi, como o premiê é conhecido, deu indícios de que pode haver uma operação terrestre em Gaza. Além disso, o primeiro-ministro também sinalizou ao Hezbollah, que atua na fronteira entre Israel e o Líbano que ‘não cometa o erro de se juntar a essa guerra’.

Membros mais radicais de seu governo, como o ministro do Interior Itamar Ben-Gvir, já defenderam no passado uma ocupação militar de Gaza, abandonada por Israel em 2005. Netanyahu, no entanto, não pode se dar ao luxo de cometer um erro de cálculo.

Num primeiro momento, a oposição e o Exército cerraram fileiras ao lado do governo diante da intensidade do ataque. Mas as críticas às falhas que permitiram que algo dessa magnitude ocorresse certamente virão. Junto delas, virá também um aumento exponencial da sensação de insegurança da população israelense, diante do trauma das vidas perdidas neste sábado.

*É subeditor de internacional

Ataques do grupo terrorista Hamas a Israel desde que os radicais palestinos assumiram o controle da Faixa de Gaza, em 2006, não são incomuns. Em 2008, 2012, 2014, 2018 e 2021, em maior ou menor grau, assaltos do Hamas e as subsequentes respostas de Israel levaram tensão à região. A ação deste sábado, no entanto, revela uma audácia, coordenação e efetividade militar vistas poucas vezes no histórico do confronto. Além disso, as consequências do ataque, que até o momento já matou mais de 100 israelenses, serão profundas tanto internamente em Israel, quanto na sua relação com o restante do Oriente Médio.

Até o ataque de hoje, o recurso mais utilizado pelo Hamas para atacar Israel eram os foguetes lançados de Gaza contra o sul do país. Obtidos por meio de contrabando com túneis construídos entre Gaza e o Sinai, e, segundo o governo israelense, muitas vezes construídos com o auxílio logístico e financeiro do Irã, esses mísseis têm como objetivo principalmente alvos próximos da fronteira.

Com a construção do chamado Domo de Ferro, um potente sistema antimíssil desenvolvido com a ajuda dos Estados Unidos, Israel conseguiu, ao longo dos anos, limitar as baixas provocadas por esse tipo de ataque. As respostas israelenses, frequentemente, vinham por meio de ataques aéreos contra alvos do Hamas em Gaza. Operações maiores, como em 2008 e 2014, também contavam com apoio terrestre.

Tanque israelense tomado pelo Hamas: grupo lançou um dos maiores ataques de sua história Foto: Hassan Eslaiah / AP

Audácia inédita

Mas desta vez o Hamas não se limitou aos foguetes. Os terroristas se infiltraram dentro do território israelense, matando indiscriminadamente civis em diversas cidades e fazendo reféns. Há relatos de que muitos desses comandos palestinos usaram parapentes para se projetar sobre o território israelense. Delegacias de polícia foram rendidas e arsenal israelense foi tomado pelos radicais.

Muitos observadores do conflito no Oriente Médio desenharam nesta manhã um paralelo direto entre a ação do Hamas e a Guerra do Yom Kippur, que completou ontem 50 anos. Na ocasião, Egito e Síria atacaram Israel de surpresa, durante o feriado de ano-novo em Israel . A invasão do Hamas ocorreu também de surpresa, no sábado, dia de descanso da religião judaica.

Um ataque dessa magnitude não é elaborado da noite para o dia. A necessidade de logística e da arrecadação de fundos para a operação, aliada à escolha da data, reforçam a teoria de que o Hamas há muito tempo planejava algo contra Israel.

Soldados israelenses se protegem de ataque do Hamas no sul de Israel Foto: AP / AP

Crise interna em Israel

Outro fator que torna o ataque diferente é a situação interna de Israel. Há meses, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu enfrenta protestos em massa contra seu projeto de reforma do Judiciário. As leis propostas pelo premiê visam diminuir o poder da Suprema Corte, responsável por investigá-lo por denúncias de corrupção. Esse projeto agravou as divisões num país já polarizado. Setores das Forças Armadas e da comunidade de inteligência se juntaram aos manifestantes em marchas contra Netanyahu.

Além disso, desde o começo do ano, tem havido um aumento da violência entre colonos judeus e palestinos na Cisjordânia. Ataques de militantes palestinos armados em Israel se tornaram mais frequentes e concentraram a atenção dos serviços de segurança em cidades próximas ao território palestino, o que, em tese, junto com a insatisfação interna contra o premiê pode ter tirado a atenção e o foco de Gaza.

O papel do Irã

O quarto sinal de que a atual crise é diferente é a aproximação entre Israel e Arábia Saudita. Há meses, o governo americano tenta costurar a retomada de relações diplomáticas entre as duas potências regionais, que, apesar das imensas divergências, têm um inimigo em comum, o Irã. Há anos, o Hamas conta com o auxílio de Teerã em suas campanhas contra Israel. A aproximação entre Tel-Aviv e Riad pode ter servido de incentivo para os patrocinadores do grupo terrorista de aumentar sua aposta no caos.

Reação imprevisível

Diante do ataque, Netanyahu declarou ‘Estado de Guerra’, o que na prática indica uma operação contra os grupos radicais em Gaza sem prazo para terminar. Em seu pronunciamento após a invasão dos comandos do Hamas, Bibi, como o premiê é conhecido, deu indícios de que pode haver uma operação terrestre em Gaza. Além disso, o primeiro-ministro também sinalizou ao Hezbollah, que atua na fronteira entre Israel e o Líbano que ‘não cometa o erro de se juntar a essa guerra’.

Membros mais radicais de seu governo, como o ministro do Interior Itamar Ben-Gvir, já defenderam no passado uma ocupação militar de Gaza, abandonada por Israel em 2005. Netanyahu, no entanto, não pode se dar ao luxo de cometer um erro de cálculo.

Num primeiro momento, a oposição e o Exército cerraram fileiras ao lado do governo diante da intensidade do ataque. Mas as críticas às falhas que permitiram que algo dessa magnitude ocorresse certamente virão. Junto delas, virá também um aumento exponencial da sensação de insegurança da população israelense, diante do trauma das vidas perdidas neste sábado.

*É subeditor de internacional

Ataques do grupo terrorista Hamas a Israel desde que os radicais palestinos assumiram o controle da Faixa de Gaza, em 2006, não são incomuns. Em 2008, 2012, 2014, 2018 e 2021, em maior ou menor grau, assaltos do Hamas e as subsequentes respostas de Israel levaram tensão à região. A ação deste sábado, no entanto, revela uma audácia, coordenação e efetividade militar vistas poucas vezes no histórico do confronto. Além disso, as consequências do ataque, que até o momento já matou mais de 100 israelenses, serão profundas tanto internamente em Israel, quanto na sua relação com o restante do Oriente Médio.

Até o ataque de hoje, o recurso mais utilizado pelo Hamas para atacar Israel eram os foguetes lançados de Gaza contra o sul do país. Obtidos por meio de contrabando com túneis construídos entre Gaza e o Sinai, e, segundo o governo israelense, muitas vezes construídos com o auxílio logístico e financeiro do Irã, esses mísseis têm como objetivo principalmente alvos próximos da fronteira.

Com a construção do chamado Domo de Ferro, um potente sistema antimíssil desenvolvido com a ajuda dos Estados Unidos, Israel conseguiu, ao longo dos anos, limitar as baixas provocadas por esse tipo de ataque. As respostas israelenses, frequentemente, vinham por meio de ataques aéreos contra alvos do Hamas em Gaza. Operações maiores, como em 2008 e 2014, também contavam com apoio terrestre.

Tanque israelense tomado pelo Hamas: grupo lançou um dos maiores ataques de sua história Foto: Hassan Eslaiah / AP

Audácia inédita

Mas desta vez o Hamas não se limitou aos foguetes. Os terroristas se infiltraram dentro do território israelense, matando indiscriminadamente civis em diversas cidades e fazendo reféns. Há relatos de que muitos desses comandos palestinos usaram parapentes para se projetar sobre o território israelense. Delegacias de polícia foram rendidas e arsenal israelense foi tomado pelos radicais.

Muitos observadores do conflito no Oriente Médio desenharam nesta manhã um paralelo direto entre a ação do Hamas e a Guerra do Yom Kippur, que completou ontem 50 anos. Na ocasião, Egito e Síria atacaram Israel de surpresa, durante o feriado de ano-novo em Israel . A invasão do Hamas ocorreu também de surpresa, no sábado, dia de descanso da religião judaica.

Um ataque dessa magnitude não é elaborado da noite para o dia. A necessidade de logística e da arrecadação de fundos para a operação, aliada à escolha da data, reforçam a teoria de que o Hamas há muito tempo planejava algo contra Israel.

Soldados israelenses se protegem de ataque do Hamas no sul de Israel Foto: AP / AP

Crise interna em Israel

Outro fator que torna o ataque diferente é a situação interna de Israel. Há meses, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu enfrenta protestos em massa contra seu projeto de reforma do Judiciário. As leis propostas pelo premiê visam diminuir o poder da Suprema Corte, responsável por investigá-lo por denúncias de corrupção. Esse projeto agravou as divisões num país já polarizado. Setores das Forças Armadas e da comunidade de inteligência se juntaram aos manifestantes em marchas contra Netanyahu.

Além disso, desde o começo do ano, tem havido um aumento da violência entre colonos judeus e palestinos na Cisjordânia. Ataques de militantes palestinos armados em Israel se tornaram mais frequentes e concentraram a atenção dos serviços de segurança em cidades próximas ao território palestino, o que, em tese, junto com a insatisfação interna contra o premiê pode ter tirado a atenção e o foco de Gaza.

O papel do Irã

O quarto sinal de que a atual crise é diferente é a aproximação entre Israel e Arábia Saudita. Há meses, o governo americano tenta costurar a retomada de relações diplomáticas entre as duas potências regionais, que, apesar das imensas divergências, têm um inimigo em comum, o Irã. Há anos, o Hamas conta com o auxílio de Teerã em suas campanhas contra Israel. A aproximação entre Tel-Aviv e Riad pode ter servido de incentivo para os patrocinadores do grupo terrorista de aumentar sua aposta no caos.

Reação imprevisível

Diante do ataque, Netanyahu declarou ‘Estado de Guerra’, o que na prática indica uma operação contra os grupos radicais em Gaza sem prazo para terminar. Em seu pronunciamento após a invasão dos comandos do Hamas, Bibi, como o premiê é conhecido, deu indícios de que pode haver uma operação terrestre em Gaza. Além disso, o primeiro-ministro também sinalizou ao Hezbollah, que atua na fronteira entre Israel e o Líbano que ‘não cometa o erro de se juntar a essa guerra’.

Membros mais radicais de seu governo, como o ministro do Interior Itamar Ben-Gvir, já defenderam no passado uma ocupação militar de Gaza, abandonada por Israel em 2005. Netanyahu, no entanto, não pode se dar ao luxo de cometer um erro de cálculo.

Num primeiro momento, a oposição e o Exército cerraram fileiras ao lado do governo diante da intensidade do ataque. Mas as críticas às falhas que permitiram que algo dessa magnitude ocorresse certamente virão. Junto delas, virá também um aumento exponencial da sensação de insegurança da população israelense, diante do trauma das vidas perdidas neste sábado.

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