Por que o ‘namoro’ entre Xi Jinping e Putin parece estar próximo do fim? Leia análise


O desastroso esforço de guerra da Rússia, culminando na insurreição abortada do mês passado liderada pelo comandante paramilitar do Grupo Wagner, Ievgeni Prigozhin, revelou a Rússia de Putin como ela é: um Estado nuclear enfraquecido e imprevisível

Por Ryan Hass
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - Quando ascendeu ao pináculo do poder chinês, uma década atrás, Xi Jinping percebia Vladimir Putin como um líder forte, com o qual compartilhava a hostilidade por um sistema internacional dominado pelo Ocidente. Eles estabeleceram vínculos em virtude de sua paranoia mútua sobre ameaças aos seus regimes e intercambiaram boas práticas para impor controle domesticamente e tornar o mundo mais complacente em relação aos seus impulsos autoritários. Xi referiu-se a Putin como seu “melhor e mais íntimo amigo”.

Na esteira do caso Wagner, a grande aposta de Xi no líder russo não parece tão certa.

O desastroso esforço de guerra da Rússia, culminando na insurreição abortada do mês passado liderada pelo comandante paramilitar do Grupo Wagner, Ievgeni Prigozhin, revelou a Rússia de Putin como ela é: um Estado nuclear enfraquecido e imprevisível, fronteiriço à China, com um líder ferido cuja permanência a longo prazo no poder não está assegurada.

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, conversa com o presidente da China, Xi Jinping  Foto: Sergei Bobylev/ AP

Xi não pode se permitir abandonar Putin completamente. Ele investiu demais nessa relação, e a Rússia segue útil para a China. Mas o namoro que tem causado tanta preocupação no Ocidente provavelmente já atingiu seu auge.

Se pretende alcançar seu objetivo estratégico de superar a força dos EUA no mundo, Xi terá de reequilibrar sua política externa para ter em conta as vulnerabilidades de Putin. Isso poderá significar apoio chinês mais intenso pelo fim da guerra que saiu tão errado para o líder russo e uma abordagem possivelmente menos agressiva em relação aos Estados Unidos e Taiwan. Há sinais de que o afeto entre Xi e Putin pode já estar arrefecendo. Pequim deu apenas uma resposta moderada ao episódio Wagner, classificando-o como “assunto interno”, mas sinais de alarme em relação ao motim fracassado emergiram nos meios de comunicação estatais chineses. Xi não se beneficiaria em assinar um cheque em branco em apoio a Putin neste momento. Fazer isso abriria espaço para questionamentos dentro da China sobre o juízo da política externa de Xi, que poderiam se tornar mais comuns se Putin sofrer mais reveses.

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Ucrânia

A China pode se sentir compelida a ajustar sua postura em relação à guerra na Ucrânia. Até aqui, ainda que tenha emitido clamores sem convicção pela paz, Pequim tem concedido a Moscou uma cobertura diplomática crucial ao retratar a guerra como um movimento justificado para deter a expansão da Otan ou como resposta a uma provocação do Ocidente. Pequim também forneceu a Moscou ajuda econômica, compensando as sanções ocidentais com uma significativa expansão no comércio sino-russo.

Ainda que há muito existam sinais de que os líderes chineses não apoiam completamente a guerra de Putin, inicialmente o conflito ofereceu à China esperança de que desviaria o foco americano da Ásia, onde Pequim tem buscado expandir sua influência. Isso não aconteceu. Em vez disso, Washington e seus aliados asiáticos estabeleceram uma presença militar mais forte ao longo da periferia da China após o início da guerra na Ucrânia e estão mais unidos hoje no sentido de limitar o acesso da China a tecnologias cruciais.

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Primeiro-ministro da Índia e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se encontraram para uma série de reuniões bilaterais em Washington  Foto: Pete Marovich / NYT

Putin faz o que bem entende. Mas a China agora está ciente de que uma guerra prolongada na Ucrânia poderia ameaçar ainda mais seu parceiro russo e comprometer sua própria agenda de política externa. Pequim tem motivo para se movimentar para além de expressões vagas de princípio em relação à guerra e exercer sua influência singular sobre Moscou para clamar pelo fim dos combates.

Uma razão crítica para isso é a Europa, onde a imagem da China tem sido prejudicada por seu apoio à Rússia. A opinião do empresariado europeu sobre os chineses azedou, o investimento estrangeiro direto diminuiu e a coordenação transatlântica em relação a Pequim enrijeceu.

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Xi está determinado a anular os esforços americanos em limitar Pequim. Uma Europa hostil dificultará sua missão. O isolamento da Rússia pressiona a China a buscar melhores relações com a Europa para evitar que os europeus se alinhem com os americanos contra os chineses. Uma das melhores maneiras para a China alcançar isso seria reposicionar-se com mais força enquanto intermediária da paz no conflito às portas da União Europeia.

Taiwan

Os problemas dentro da Rússia também complicam os cálculos de Xi sobre Taiwan. A Ucrânia deixou duas coisas claras: força militar pura não garante sucesso em batalha; e qualquer desfecho menor que a vitória pode abrir espaço para desafios na liderança. Sob esta luz, provocar uma guerra no Estreito de Taiwan por meio de ações crescentemente beligerantes poderia ser desastroso para o líder chinês.

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A ilha autogovernada organizará eleição presidencial em janeiro para escolher quem sucederá a Tsai Ing-wen, que enfureceu Pequim por cultivar relações próximas com os EUA. A China conta com um conjunto de ferramentas que, suspeita-se, foram usadas anteriormente contra Taiwan para impor pressão econômica e disseminar desinformação em apoio a candidatos que priorizam melhores relações com Pequim.

Mas a retórica agressiva da China e suas ameaças com exercícios militares em torno de Taiwan poderiam limitar esse objetivo impulsionando candidatos que se opõem a um acordo com a China, além de ocasionar um apoio americano e internacional mais forte e mais visível a Taiwan. Para Xi, a melhor posição seria parecer forte e determinado sem desencadear uma espiral de escalada militar.

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Dadas essas dinâmicas transformadas, os líderes em Pequim agora provavelmente também se dão conta de que devem baixar a tensão nas relações com os EUA. O congelamento absoluto ocasionado pelo incidente do balão espião, em fevereiro, nas relações China-EUA mostrou recentemente sinais de degelo, com a visita no mês passado a Pequim do secretário de Estado americano, Antony Blinken — que incluiu uma audiência com Xi — e a visita desta semana da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen.

O presidente chinês ainda precisa de seu “amigo íntimo”. A Rússia permanece o único país no mundo com meios e motivações para se aliar com a China na diluição da relevância dos direitos humanos e da governança democrática no sistema internacional. As relações perenes também garantem estabilidade ao longo se sua extensa fronteira terrestre e mantêm a China abastecida de energia vendida com desconto pelos russos e importações de alimentos e equipamentos militares. Pode-se esperar que ambos os lados mantenham as aparências expressando normalidade.

Mas Xi tem pouco a ganhar optando por dobrar a aposta em Putin, cujos dissabores não colaboram para os planos de grandeza da China.

Muitas questões não resolvidas sobre o impacto do enfraquecimento do poder de Putin na Rússia perduram. A maneira que Xi for capaz de navegar essa precipitação, com seu parceiro agora diminuído, é uma delas. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

THE NEW YORK TIMES - Quando ascendeu ao pináculo do poder chinês, uma década atrás, Xi Jinping percebia Vladimir Putin como um líder forte, com o qual compartilhava a hostilidade por um sistema internacional dominado pelo Ocidente. Eles estabeleceram vínculos em virtude de sua paranoia mútua sobre ameaças aos seus regimes e intercambiaram boas práticas para impor controle domesticamente e tornar o mundo mais complacente em relação aos seus impulsos autoritários. Xi referiu-se a Putin como seu “melhor e mais íntimo amigo”.

Na esteira do caso Wagner, a grande aposta de Xi no líder russo não parece tão certa.

O desastroso esforço de guerra da Rússia, culminando na insurreição abortada do mês passado liderada pelo comandante paramilitar do Grupo Wagner, Ievgeni Prigozhin, revelou a Rússia de Putin como ela é: um Estado nuclear enfraquecido e imprevisível, fronteiriço à China, com um líder ferido cuja permanência a longo prazo no poder não está assegurada.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, conversa com o presidente da China, Xi Jinping  Foto: Sergei Bobylev/ AP

Xi não pode se permitir abandonar Putin completamente. Ele investiu demais nessa relação, e a Rússia segue útil para a China. Mas o namoro que tem causado tanta preocupação no Ocidente provavelmente já atingiu seu auge.

Se pretende alcançar seu objetivo estratégico de superar a força dos EUA no mundo, Xi terá de reequilibrar sua política externa para ter em conta as vulnerabilidades de Putin. Isso poderá significar apoio chinês mais intenso pelo fim da guerra que saiu tão errado para o líder russo e uma abordagem possivelmente menos agressiva em relação aos Estados Unidos e Taiwan. Há sinais de que o afeto entre Xi e Putin pode já estar arrefecendo. Pequim deu apenas uma resposta moderada ao episódio Wagner, classificando-o como “assunto interno”, mas sinais de alarme em relação ao motim fracassado emergiram nos meios de comunicação estatais chineses. Xi não se beneficiaria em assinar um cheque em branco em apoio a Putin neste momento. Fazer isso abriria espaço para questionamentos dentro da China sobre o juízo da política externa de Xi, que poderiam se tornar mais comuns se Putin sofrer mais reveses.

Ucrânia

A China pode se sentir compelida a ajustar sua postura em relação à guerra na Ucrânia. Até aqui, ainda que tenha emitido clamores sem convicção pela paz, Pequim tem concedido a Moscou uma cobertura diplomática crucial ao retratar a guerra como um movimento justificado para deter a expansão da Otan ou como resposta a uma provocação do Ocidente. Pequim também forneceu a Moscou ajuda econômica, compensando as sanções ocidentais com uma significativa expansão no comércio sino-russo.

Ainda que há muito existam sinais de que os líderes chineses não apoiam completamente a guerra de Putin, inicialmente o conflito ofereceu à China esperança de que desviaria o foco americano da Ásia, onde Pequim tem buscado expandir sua influência. Isso não aconteceu. Em vez disso, Washington e seus aliados asiáticos estabeleceram uma presença militar mais forte ao longo da periferia da China após o início da guerra na Ucrânia e estão mais unidos hoje no sentido de limitar o acesso da China a tecnologias cruciais.

Primeiro-ministro da Índia e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se encontraram para uma série de reuniões bilaterais em Washington  Foto: Pete Marovich / NYT

Putin faz o que bem entende. Mas a China agora está ciente de que uma guerra prolongada na Ucrânia poderia ameaçar ainda mais seu parceiro russo e comprometer sua própria agenda de política externa. Pequim tem motivo para se movimentar para além de expressões vagas de princípio em relação à guerra e exercer sua influência singular sobre Moscou para clamar pelo fim dos combates.

Uma razão crítica para isso é a Europa, onde a imagem da China tem sido prejudicada por seu apoio à Rússia. A opinião do empresariado europeu sobre os chineses azedou, o investimento estrangeiro direto diminuiu e a coordenação transatlântica em relação a Pequim enrijeceu.

Xi está determinado a anular os esforços americanos em limitar Pequim. Uma Europa hostil dificultará sua missão. O isolamento da Rússia pressiona a China a buscar melhores relações com a Europa para evitar que os europeus se alinhem com os americanos contra os chineses. Uma das melhores maneiras para a China alcançar isso seria reposicionar-se com mais força enquanto intermediária da paz no conflito às portas da União Europeia.

Taiwan

Os problemas dentro da Rússia também complicam os cálculos de Xi sobre Taiwan. A Ucrânia deixou duas coisas claras: força militar pura não garante sucesso em batalha; e qualquer desfecho menor que a vitória pode abrir espaço para desafios na liderança. Sob esta luz, provocar uma guerra no Estreito de Taiwan por meio de ações crescentemente beligerantes poderia ser desastroso para o líder chinês.

A ilha autogovernada organizará eleição presidencial em janeiro para escolher quem sucederá a Tsai Ing-wen, que enfureceu Pequim por cultivar relações próximas com os EUA. A China conta com um conjunto de ferramentas que, suspeita-se, foram usadas anteriormente contra Taiwan para impor pressão econômica e disseminar desinformação em apoio a candidatos que priorizam melhores relações com Pequim.

Mas a retórica agressiva da China e suas ameaças com exercícios militares em torno de Taiwan poderiam limitar esse objetivo impulsionando candidatos que se opõem a um acordo com a China, além de ocasionar um apoio americano e internacional mais forte e mais visível a Taiwan. Para Xi, a melhor posição seria parecer forte e determinado sem desencadear uma espiral de escalada militar.

Dadas essas dinâmicas transformadas, os líderes em Pequim agora provavelmente também se dão conta de que devem baixar a tensão nas relações com os EUA. O congelamento absoluto ocasionado pelo incidente do balão espião, em fevereiro, nas relações China-EUA mostrou recentemente sinais de degelo, com a visita no mês passado a Pequim do secretário de Estado americano, Antony Blinken — que incluiu uma audiência com Xi — e a visita desta semana da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen.

O presidente chinês ainda precisa de seu “amigo íntimo”. A Rússia permanece o único país no mundo com meios e motivações para se aliar com a China na diluição da relevância dos direitos humanos e da governança democrática no sistema internacional. As relações perenes também garantem estabilidade ao longo se sua extensa fronteira terrestre e mantêm a China abastecida de energia vendida com desconto pelos russos e importações de alimentos e equipamentos militares. Pode-se esperar que ambos os lados mantenham as aparências expressando normalidade.

Mas Xi tem pouco a ganhar optando por dobrar a aposta em Putin, cujos dissabores não colaboram para os planos de grandeza da China.

Muitas questões não resolvidas sobre o impacto do enfraquecimento do poder de Putin na Rússia perduram. A maneira que Xi for capaz de navegar essa precipitação, com seu parceiro agora diminuído, é uma delas. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

THE NEW YORK TIMES - Quando ascendeu ao pináculo do poder chinês, uma década atrás, Xi Jinping percebia Vladimir Putin como um líder forte, com o qual compartilhava a hostilidade por um sistema internacional dominado pelo Ocidente. Eles estabeleceram vínculos em virtude de sua paranoia mútua sobre ameaças aos seus regimes e intercambiaram boas práticas para impor controle domesticamente e tornar o mundo mais complacente em relação aos seus impulsos autoritários. Xi referiu-se a Putin como seu “melhor e mais íntimo amigo”.

Na esteira do caso Wagner, a grande aposta de Xi no líder russo não parece tão certa.

O desastroso esforço de guerra da Rússia, culminando na insurreição abortada do mês passado liderada pelo comandante paramilitar do Grupo Wagner, Ievgeni Prigozhin, revelou a Rússia de Putin como ela é: um Estado nuclear enfraquecido e imprevisível, fronteiriço à China, com um líder ferido cuja permanência a longo prazo no poder não está assegurada.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, conversa com o presidente da China, Xi Jinping  Foto: Sergei Bobylev/ AP

Xi não pode se permitir abandonar Putin completamente. Ele investiu demais nessa relação, e a Rússia segue útil para a China. Mas o namoro que tem causado tanta preocupação no Ocidente provavelmente já atingiu seu auge.

Se pretende alcançar seu objetivo estratégico de superar a força dos EUA no mundo, Xi terá de reequilibrar sua política externa para ter em conta as vulnerabilidades de Putin. Isso poderá significar apoio chinês mais intenso pelo fim da guerra que saiu tão errado para o líder russo e uma abordagem possivelmente menos agressiva em relação aos Estados Unidos e Taiwan. Há sinais de que o afeto entre Xi e Putin pode já estar arrefecendo. Pequim deu apenas uma resposta moderada ao episódio Wagner, classificando-o como “assunto interno”, mas sinais de alarme em relação ao motim fracassado emergiram nos meios de comunicação estatais chineses. Xi não se beneficiaria em assinar um cheque em branco em apoio a Putin neste momento. Fazer isso abriria espaço para questionamentos dentro da China sobre o juízo da política externa de Xi, que poderiam se tornar mais comuns se Putin sofrer mais reveses.

Ucrânia

A China pode se sentir compelida a ajustar sua postura em relação à guerra na Ucrânia. Até aqui, ainda que tenha emitido clamores sem convicção pela paz, Pequim tem concedido a Moscou uma cobertura diplomática crucial ao retratar a guerra como um movimento justificado para deter a expansão da Otan ou como resposta a uma provocação do Ocidente. Pequim também forneceu a Moscou ajuda econômica, compensando as sanções ocidentais com uma significativa expansão no comércio sino-russo.

Ainda que há muito existam sinais de que os líderes chineses não apoiam completamente a guerra de Putin, inicialmente o conflito ofereceu à China esperança de que desviaria o foco americano da Ásia, onde Pequim tem buscado expandir sua influência. Isso não aconteceu. Em vez disso, Washington e seus aliados asiáticos estabeleceram uma presença militar mais forte ao longo da periferia da China após o início da guerra na Ucrânia e estão mais unidos hoje no sentido de limitar o acesso da China a tecnologias cruciais.

Primeiro-ministro da Índia e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se encontraram para uma série de reuniões bilaterais em Washington  Foto: Pete Marovich / NYT

Putin faz o que bem entende. Mas a China agora está ciente de que uma guerra prolongada na Ucrânia poderia ameaçar ainda mais seu parceiro russo e comprometer sua própria agenda de política externa. Pequim tem motivo para se movimentar para além de expressões vagas de princípio em relação à guerra e exercer sua influência singular sobre Moscou para clamar pelo fim dos combates.

Uma razão crítica para isso é a Europa, onde a imagem da China tem sido prejudicada por seu apoio à Rússia. A opinião do empresariado europeu sobre os chineses azedou, o investimento estrangeiro direto diminuiu e a coordenação transatlântica em relação a Pequim enrijeceu.

Xi está determinado a anular os esforços americanos em limitar Pequim. Uma Europa hostil dificultará sua missão. O isolamento da Rússia pressiona a China a buscar melhores relações com a Europa para evitar que os europeus se alinhem com os americanos contra os chineses. Uma das melhores maneiras para a China alcançar isso seria reposicionar-se com mais força enquanto intermediária da paz no conflito às portas da União Europeia.

Taiwan

Os problemas dentro da Rússia também complicam os cálculos de Xi sobre Taiwan. A Ucrânia deixou duas coisas claras: força militar pura não garante sucesso em batalha; e qualquer desfecho menor que a vitória pode abrir espaço para desafios na liderança. Sob esta luz, provocar uma guerra no Estreito de Taiwan por meio de ações crescentemente beligerantes poderia ser desastroso para o líder chinês.

A ilha autogovernada organizará eleição presidencial em janeiro para escolher quem sucederá a Tsai Ing-wen, que enfureceu Pequim por cultivar relações próximas com os EUA. A China conta com um conjunto de ferramentas que, suspeita-se, foram usadas anteriormente contra Taiwan para impor pressão econômica e disseminar desinformação em apoio a candidatos que priorizam melhores relações com Pequim.

Mas a retórica agressiva da China e suas ameaças com exercícios militares em torno de Taiwan poderiam limitar esse objetivo impulsionando candidatos que se opõem a um acordo com a China, além de ocasionar um apoio americano e internacional mais forte e mais visível a Taiwan. Para Xi, a melhor posição seria parecer forte e determinado sem desencadear uma espiral de escalada militar.

Dadas essas dinâmicas transformadas, os líderes em Pequim agora provavelmente também se dão conta de que devem baixar a tensão nas relações com os EUA. O congelamento absoluto ocasionado pelo incidente do balão espião, em fevereiro, nas relações China-EUA mostrou recentemente sinais de degelo, com a visita no mês passado a Pequim do secretário de Estado americano, Antony Blinken — que incluiu uma audiência com Xi — e a visita desta semana da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen.

O presidente chinês ainda precisa de seu “amigo íntimo”. A Rússia permanece o único país no mundo com meios e motivações para se aliar com a China na diluição da relevância dos direitos humanos e da governança democrática no sistema internacional. As relações perenes também garantem estabilidade ao longo se sua extensa fronteira terrestre e mantêm a China abastecida de energia vendida com desconto pelos russos e importações de alimentos e equipamentos militares. Pode-se esperar que ambos os lados mantenham as aparências expressando normalidade.

Mas Xi tem pouco a ganhar optando por dobrar a aposta em Putin, cujos dissabores não colaboram para os planos de grandeza da China.

Muitas questões não resolvidas sobre o impacto do enfraquecimento do poder de Putin na Rússia perduram. A maneira que Xi for capaz de navegar essa precipitação, com seu parceiro agora diminuído, é uma delas. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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