Opinião|Por que os reféns israelenses poderiam ser o alicerce da paz


Parentes dos reféns tendem a não culpar os palestinos genericamente; eles só querem que o suplício termine, assim como judeus e árabes que querem o fim de uma guerra perpétua

Por Jennifer Rubin
Atualização:

Simona Steinbrecher toca para mim uma mensagem de áudio de sua filha de 30 anos, Doron, de 7 de outubro, quando soube dela pela última vez. Doron sussurra em hebraico: “Eles me pegaram, eles me pegaram, eles me pegaram”. A voz dela é sôfrega, o terror que ela experimenta é inequívoco. Doron foi capturada pelos terroristas do Hamas escondida embaixo da cama, em sua casa, no Kibutz Kfar Aza. Desde então, seus pais não souberam mais nada a respeito dela. Nenhum vídeo. Nenhuma informação de turistas já libertados.

Simona circula com um pôster que exibe a foto de sua filha e a palavra “sequestrada”. Doron é enfermeira veterinária, uma pessoa calorosa e atenciosa, afirma sua mãe. Ainda quase sem conseguir acreditar no que ocorreu, Simona me diz, “Entraram na casa dela, um lugar em que supostamente nos sentimos em segurança”. A horrenda violência sexual em 7 de outubro e os relatos posteriores de reféns libertados colaboram para sua angústia. “Eu me preocupo com ela”, afirma Simona, “porque ela é uma menina jovem”.

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Como tantos outros parentes de reféns, Simona experimentou seus próprios momentos de terror em 7 de outubro. Depois de 13 horas no quarto seguro de sua residência, no Kibutz Kfar Aza, seu marido saiu correndo em busca de Doron, acreditando ter visto seu corpo. Ele correu de volta até Simona. “Não é ela”, disse-lhe. A expressão de Simona se retorce conforme ela recorda o cheiro “horrível” dos corpos queimados naquele dia. Outra filha de Simona, seu enteado e seus filhos de 6 e 3 anos sobreviveram trancados no quarto seguro — os terroristas não conseguiram arrombar a porta.

Doron precisa tomar medicamentos diariamente. Ainda que um acordo tenha sido alcançado para entregar remédios a reféns que precisam, Simona ouviu que, em vez disso, eles vão para “o Hamas e…”, sua voz esmorece. Sua agonia por não saber, exilada numa impotência perpétua, é palpável.

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O suplício dos Steinbrechers é o mesmo de parentes e amigos de mais de 130 outros reféns — alguns sabidamente mortos, outros cuja condição, como a de Doron, é completamente desconhecida. As famílias forjaram um laço emocional, com vários membros viajando para cidades americanas, encontrando-se com legisladores e falando em fóruns públicos. Simona afirma que ficou animada e emocionada com as reações tanto no Capitólio, onde um grupo se encontrou na quarta-feira com congressistas, quanto entre grupos de judeus americanos. Mas sua excruciante tortura emocional está longe de terminar.

Gili Roman, um jovem alto, magro e gentil, compartilha uma peculiaridade dessa experiência com muitas famílias de reféns. Sua irmã Yarden foi libertada, mas a cunhada dela, Carmel Gat, continua em Gaza. Carmel foi sequestrada na residência de seus pais, no Kibutz Beeri, em 7 de outubro. Sua mãe foi assassinada em frente ao local. Seu irmão, Alon, e sua mulher, Yarden, e sua filha de 3 anos também foram feitos reféns. Num determinado momento, quando estavam sendo transportados para Gaza, eles perceberam uma chance de escapar; Yarden entregou a menina para Alon, sabendo que ele conseguiria correr mais rápido carregando-a. Os terroristas recapturaram Yarden, mas Alon e sua filha escaparam. Depois de quase oito semanas sequestrada, Yarden foi solta. Carmel ainda é mantida.

Gili afirma que Yarden está em casa, está melhor. Mesmo que não esteja com ele nos Estados Unidos, afirma, “Eu sei que posso mandar uma mensagem de texto e ela responde no mesmo instante. Eu sei que posso ligar para ela”. Saber que Yarden não está lá faz toda a diferença. Entre as famílias que tiveram parentes libertados, “quase todas ainda têm alguém lá”, afirma ele. As famílias estão dilaceradas, incompletas.

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Manifestação pede a libertação imediata dos reféns israelenses detidos pelo Hamas em Gaza; Segundo do exército israelense, 133 pessoas continuam mantidos como reféns. Foto: EFE/EPA/ABIR SULTAN

Carmel é terapeuta ocupacional e ativista social, uma alma empática. Dois meninos libertados posteriormente contaram que ela “ajudou com seu estado mental”. “Ela lhes ensinou ioga, ajudou-os a manter um diário”, afirma Gili. Num determinado momento eles foram levados ao banheiro; sem o conhecimento de Carmel, eles foram, em vez disso, libertados. Ela provavelmente segue sem saber do destino deles.

Eu pergunto a Gili o que ele gostaria ver acontecer. “A libertação humanitária — das mulheres, dos idosos, dos doentes — deve ser completada”, afirma ele. “Não há nenhuma razão para mantê-los. Não há razão para manter nenhum deles, eles devem ser libertados.” Além disso, ele afirma que, se houver uma oferta do Hamas para libertar todos os reféns em troca do fim da guerra, o governo israelense “precisa aceitar absolutamente”.

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“A chave é a libertação dos reféns”, repete ele. Muitas das famílias que vivem nos kibutzim do sul de Israel se envolveram no movimento pela paz. Muitas ainda têm esperança de uma reconciliação maior, um fim às hostilidades. Gili classifica como “muito grave” o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu apresentar “dificuldades” para um acordo desse tipo.

De Washington, DC, ele viajará para Los Angeles, e posteriormente espera falar na Universidade da Pensilvânia e em Harvard. Eu lhe pergunto se haverá regras básicas. “É uma loucura que nas principais universidades não possa haver um debate educacional”, afirma Gili. Talvez ele inicie um.

Afinal, se parassem de gritar e começassem a escutar, os grupos pró-palestinos reconheceriam que seus maiores aliados podem ser as famílias dos reféns. Essas pessoas defendem a libertação imediata de seus parentes como prelúdio de uma paz maior na região. Ainda que os membros do governo de direita possam ter outras ideias, os parentes dos reféns tendem a não culpar os palestinos mais genericamente. Eles só querem que o suplício dos reféns termine — assim como o suplício de centenas de milhares, talvez até milhões, de judeus e árabes que querem simplesmente o fim do pesadelo de uma guerra perpétua. A libertação dos reféns e um cessar-fogo poderiam, portanto, abrir o caminho, eventualmente, para uma paz maior com os palestinos.

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Se os legisladores americanos e amigos de Israel quiserem ser eficazes, o sucesso pode residir em assegurar que o governo Biden faça de tudo em seu poder para evitar que Netanyahu prolongue desnecessariamente esta guerra (que se reduziu muito em intensidade nas semanas recentes). Nisto, os parentes de reféns que conheci, incontáveis israelenses, muitos políticos americanos e grande parte da comunidade judaica dos EUA estão unidos: façam um acordo assim que possível — pelo bem dos reféns e em prol de uma paz maior./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Simona Steinbrecher toca para mim uma mensagem de áudio de sua filha de 30 anos, Doron, de 7 de outubro, quando soube dela pela última vez. Doron sussurra em hebraico: “Eles me pegaram, eles me pegaram, eles me pegaram”. A voz dela é sôfrega, o terror que ela experimenta é inequívoco. Doron foi capturada pelos terroristas do Hamas escondida embaixo da cama, em sua casa, no Kibutz Kfar Aza. Desde então, seus pais não souberam mais nada a respeito dela. Nenhum vídeo. Nenhuma informação de turistas já libertados.

Simona circula com um pôster que exibe a foto de sua filha e a palavra “sequestrada”. Doron é enfermeira veterinária, uma pessoa calorosa e atenciosa, afirma sua mãe. Ainda quase sem conseguir acreditar no que ocorreu, Simona me diz, “Entraram na casa dela, um lugar em que supostamente nos sentimos em segurança”. A horrenda violência sexual em 7 de outubro e os relatos posteriores de reféns libertados colaboram para sua angústia. “Eu me preocupo com ela”, afirma Simona, “porque ela é uma menina jovem”.

Como tantos outros parentes de reféns, Simona experimentou seus próprios momentos de terror em 7 de outubro. Depois de 13 horas no quarto seguro de sua residência, no Kibutz Kfar Aza, seu marido saiu correndo em busca de Doron, acreditando ter visto seu corpo. Ele correu de volta até Simona. “Não é ela”, disse-lhe. A expressão de Simona se retorce conforme ela recorda o cheiro “horrível” dos corpos queimados naquele dia. Outra filha de Simona, seu enteado e seus filhos de 6 e 3 anos sobreviveram trancados no quarto seguro — os terroristas não conseguiram arrombar a porta.

Doron precisa tomar medicamentos diariamente. Ainda que um acordo tenha sido alcançado para entregar remédios a reféns que precisam, Simona ouviu que, em vez disso, eles vão para “o Hamas e…”, sua voz esmorece. Sua agonia por não saber, exilada numa impotência perpétua, é palpável.

O suplício dos Steinbrechers é o mesmo de parentes e amigos de mais de 130 outros reféns — alguns sabidamente mortos, outros cuja condição, como a de Doron, é completamente desconhecida. As famílias forjaram um laço emocional, com vários membros viajando para cidades americanas, encontrando-se com legisladores e falando em fóruns públicos. Simona afirma que ficou animada e emocionada com as reações tanto no Capitólio, onde um grupo se encontrou na quarta-feira com congressistas, quanto entre grupos de judeus americanos. Mas sua excruciante tortura emocional está longe de terminar.

Gili Roman, um jovem alto, magro e gentil, compartilha uma peculiaridade dessa experiência com muitas famílias de reféns. Sua irmã Yarden foi libertada, mas a cunhada dela, Carmel Gat, continua em Gaza. Carmel foi sequestrada na residência de seus pais, no Kibutz Beeri, em 7 de outubro. Sua mãe foi assassinada em frente ao local. Seu irmão, Alon, e sua mulher, Yarden, e sua filha de 3 anos também foram feitos reféns. Num determinado momento, quando estavam sendo transportados para Gaza, eles perceberam uma chance de escapar; Yarden entregou a menina para Alon, sabendo que ele conseguiria correr mais rápido carregando-a. Os terroristas recapturaram Yarden, mas Alon e sua filha escaparam. Depois de quase oito semanas sequestrada, Yarden foi solta. Carmel ainda é mantida.

Gili afirma que Yarden está em casa, está melhor. Mesmo que não esteja com ele nos Estados Unidos, afirma, “Eu sei que posso mandar uma mensagem de texto e ela responde no mesmo instante. Eu sei que posso ligar para ela”. Saber que Yarden não está lá faz toda a diferença. Entre as famílias que tiveram parentes libertados, “quase todas ainda têm alguém lá”, afirma ele. As famílias estão dilaceradas, incompletas.

Manifestação pede a libertação imediata dos reféns israelenses detidos pelo Hamas em Gaza; Segundo do exército israelense, 133 pessoas continuam mantidos como reféns. Foto: EFE/EPA/ABIR SULTAN

Carmel é terapeuta ocupacional e ativista social, uma alma empática. Dois meninos libertados posteriormente contaram que ela “ajudou com seu estado mental”. “Ela lhes ensinou ioga, ajudou-os a manter um diário”, afirma Gili. Num determinado momento eles foram levados ao banheiro; sem o conhecimento de Carmel, eles foram, em vez disso, libertados. Ela provavelmente segue sem saber do destino deles.

Eu pergunto a Gili o que ele gostaria ver acontecer. “A libertação humanitária — das mulheres, dos idosos, dos doentes — deve ser completada”, afirma ele. “Não há nenhuma razão para mantê-los. Não há razão para manter nenhum deles, eles devem ser libertados.” Além disso, ele afirma que, se houver uma oferta do Hamas para libertar todos os reféns em troca do fim da guerra, o governo israelense “precisa aceitar absolutamente”.

“A chave é a libertação dos reféns”, repete ele. Muitas das famílias que vivem nos kibutzim do sul de Israel se envolveram no movimento pela paz. Muitas ainda têm esperança de uma reconciliação maior, um fim às hostilidades. Gili classifica como “muito grave” o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu apresentar “dificuldades” para um acordo desse tipo.

De Washington, DC, ele viajará para Los Angeles, e posteriormente espera falar na Universidade da Pensilvânia e em Harvard. Eu lhe pergunto se haverá regras básicas. “É uma loucura que nas principais universidades não possa haver um debate educacional”, afirma Gili. Talvez ele inicie um.

Afinal, se parassem de gritar e começassem a escutar, os grupos pró-palestinos reconheceriam que seus maiores aliados podem ser as famílias dos reféns. Essas pessoas defendem a libertação imediata de seus parentes como prelúdio de uma paz maior na região. Ainda que os membros do governo de direita possam ter outras ideias, os parentes dos reféns tendem a não culpar os palestinos mais genericamente. Eles só querem que o suplício dos reféns termine — assim como o suplício de centenas de milhares, talvez até milhões, de judeus e árabes que querem simplesmente o fim do pesadelo de uma guerra perpétua. A libertação dos reféns e um cessar-fogo poderiam, portanto, abrir o caminho, eventualmente, para uma paz maior com os palestinos.

Se os legisladores americanos e amigos de Israel quiserem ser eficazes, o sucesso pode residir em assegurar que o governo Biden faça de tudo em seu poder para evitar que Netanyahu prolongue desnecessariamente esta guerra (que se reduziu muito em intensidade nas semanas recentes). Nisto, os parentes de reféns que conheci, incontáveis israelenses, muitos políticos americanos e grande parte da comunidade judaica dos EUA estão unidos: façam um acordo assim que possível — pelo bem dos reféns e em prol de uma paz maior./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Simona Steinbrecher toca para mim uma mensagem de áudio de sua filha de 30 anos, Doron, de 7 de outubro, quando soube dela pela última vez. Doron sussurra em hebraico: “Eles me pegaram, eles me pegaram, eles me pegaram”. A voz dela é sôfrega, o terror que ela experimenta é inequívoco. Doron foi capturada pelos terroristas do Hamas escondida embaixo da cama, em sua casa, no Kibutz Kfar Aza. Desde então, seus pais não souberam mais nada a respeito dela. Nenhum vídeo. Nenhuma informação de turistas já libertados.

Simona circula com um pôster que exibe a foto de sua filha e a palavra “sequestrada”. Doron é enfermeira veterinária, uma pessoa calorosa e atenciosa, afirma sua mãe. Ainda quase sem conseguir acreditar no que ocorreu, Simona me diz, “Entraram na casa dela, um lugar em que supostamente nos sentimos em segurança”. A horrenda violência sexual em 7 de outubro e os relatos posteriores de reféns libertados colaboram para sua angústia. “Eu me preocupo com ela”, afirma Simona, “porque ela é uma menina jovem”.

Como tantos outros parentes de reféns, Simona experimentou seus próprios momentos de terror em 7 de outubro. Depois de 13 horas no quarto seguro de sua residência, no Kibutz Kfar Aza, seu marido saiu correndo em busca de Doron, acreditando ter visto seu corpo. Ele correu de volta até Simona. “Não é ela”, disse-lhe. A expressão de Simona se retorce conforme ela recorda o cheiro “horrível” dos corpos queimados naquele dia. Outra filha de Simona, seu enteado e seus filhos de 6 e 3 anos sobreviveram trancados no quarto seguro — os terroristas não conseguiram arrombar a porta.

Doron precisa tomar medicamentos diariamente. Ainda que um acordo tenha sido alcançado para entregar remédios a reféns que precisam, Simona ouviu que, em vez disso, eles vão para “o Hamas e…”, sua voz esmorece. Sua agonia por não saber, exilada numa impotência perpétua, é palpável.

O suplício dos Steinbrechers é o mesmo de parentes e amigos de mais de 130 outros reféns — alguns sabidamente mortos, outros cuja condição, como a de Doron, é completamente desconhecida. As famílias forjaram um laço emocional, com vários membros viajando para cidades americanas, encontrando-se com legisladores e falando em fóruns públicos. Simona afirma que ficou animada e emocionada com as reações tanto no Capitólio, onde um grupo se encontrou na quarta-feira com congressistas, quanto entre grupos de judeus americanos. Mas sua excruciante tortura emocional está longe de terminar.

Gili Roman, um jovem alto, magro e gentil, compartilha uma peculiaridade dessa experiência com muitas famílias de reféns. Sua irmã Yarden foi libertada, mas a cunhada dela, Carmel Gat, continua em Gaza. Carmel foi sequestrada na residência de seus pais, no Kibutz Beeri, em 7 de outubro. Sua mãe foi assassinada em frente ao local. Seu irmão, Alon, e sua mulher, Yarden, e sua filha de 3 anos também foram feitos reféns. Num determinado momento, quando estavam sendo transportados para Gaza, eles perceberam uma chance de escapar; Yarden entregou a menina para Alon, sabendo que ele conseguiria correr mais rápido carregando-a. Os terroristas recapturaram Yarden, mas Alon e sua filha escaparam. Depois de quase oito semanas sequestrada, Yarden foi solta. Carmel ainda é mantida.

Gili afirma que Yarden está em casa, está melhor. Mesmo que não esteja com ele nos Estados Unidos, afirma, “Eu sei que posso mandar uma mensagem de texto e ela responde no mesmo instante. Eu sei que posso ligar para ela”. Saber que Yarden não está lá faz toda a diferença. Entre as famílias que tiveram parentes libertados, “quase todas ainda têm alguém lá”, afirma ele. As famílias estão dilaceradas, incompletas.

Manifestação pede a libertação imediata dos reféns israelenses detidos pelo Hamas em Gaza; Segundo do exército israelense, 133 pessoas continuam mantidos como reféns. Foto: EFE/EPA/ABIR SULTAN

Carmel é terapeuta ocupacional e ativista social, uma alma empática. Dois meninos libertados posteriormente contaram que ela “ajudou com seu estado mental”. “Ela lhes ensinou ioga, ajudou-os a manter um diário”, afirma Gili. Num determinado momento eles foram levados ao banheiro; sem o conhecimento de Carmel, eles foram, em vez disso, libertados. Ela provavelmente segue sem saber do destino deles.

Eu pergunto a Gili o que ele gostaria ver acontecer. “A libertação humanitária — das mulheres, dos idosos, dos doentes — deve ser completada”, afirma ele. “Não há nenhuma razão para mantê-los. Não há razão para manter nenhum deles, eles devem ser libertados.” Além disso, ele afirma que, se houver uma oferta do Hamas para libertar todos os reféns em troca do fim da guerra, o governo israelense “precisa aceitar absolutamente”.

“A chave é a libertação dos reféns”, repete ele. Muitas das famílias que vivem nos kibutzim do sul de Israel se envolveram no movimento pela paz. Muitas ainda têm esperança de uma reconciliação maior, um fim às hostilidades. Gili classifica como “muito grave” o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu apresentar “dificuldades” para um acordo desse tipo.

De Washington, DC, ele viajará para Los Angeles, e posteriormente espera falar na Universidade da Pensilvânia e em Harvard. Eu lhe pergunto se haverá regras básicas. “É uma loucura que nas principais universidades não possa haver um debate educacional”, afirma Gili. Talvez ele inicie um.

Afinal, se parassem de gritar e começassem a escutar, os grupos pró-palestinos reconheceriam que seus maiores aliados podem ser as famílias dos reféns. Essas pessoas defendem a libertação imediata de seus parentes como prelúdio de uma paz maior na região. Ainda que os membros do governo de direita possam ter outras ideias, os parentes dos reféns tendem a não culpar os palestinos mais genericamente. Eles só querem que o suplício dos reféns termine — assim como o suplício de centenas de milhares, talvez até milhões, de judeus e árabes que querem simplesmente o fim do pesadelo de uma guerra perpétua. A libertação dos reféns e um cessar-fogo poderiam, portanto, abrir o caminho, eventualmente, para uma paz maior com os palestinos.

Se os legisladores americanos e amigos de Israel quiserem ser eficazes, o sucesso pode residir em assegurar que o governo Biden faça de tudo em seu poder para evitar que Netanyahu prolongue desnecessariamente esta guerra (que se reduziu muito em intensidade nas semanas recentes). Nisto, os parentes de reféns que conheci, incontáveis israelenses, muitos políticos americanos e grande parte da comunidade judaica dos EUA estão unidos: façam um acordo assim que possível — pelo bem dos reféns e em prol de uma paz maior./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Simona Steinbrecher toca para mim uma mensagem de áudio de sua filha de 30 anos, Doron, de 7 de outubro, quando soube dela pela última vez. Doron sussurra em hebraico: “Eles me pegaram, eles me pegaram, eles me pegaram”. A voz dela é sôfrega, o terror que ela experimenta é inequívoco. Doron foi capturada pelos terroristas do Hamas escondida embaixo da cama, em sua casa, no Kibutz Kfar Aza. Desde então, seus pais não souberam mais nada a respeito dela. Nenhum vídeo. Nenhuma informação de turistas já libertados.

Simona circula com um pôster que exibe a foto de sua filha e a palavra “sequestrada”. Doron é enfermeira veterinária, uma pessoa calorosa e atenciosa, afirma sua mãe. Ainda quase sem conseguir acreditar no que ocorreu, Simona me diz, “Entraram na casa dela, um lugar em que supostamente nos sentimos em segurança”. A horrenda violência sexual em 7 de outubro e os relatos posteriores de reféns libertados colaboram para sua angústia. “Eu me preocupo com ela”, afirma Simona, “porque ela é uma menina jovem”.

Como tantos outros parentes de reféns, Simona experimentou seus próprios momentos de terror em 7 de outubro. Depois de 13 horas no quarto seguro de sua residência, no Kibutz Kfar Aza, seu marido saiu correndo em busca de Doron, acreditando ter visto seu corpo. Ele correu de volta até Simona. “Não é ela”, disse-lhe. A expressão de Simona se retorce conforme ela recorda o cheiro “horrível” dos corpos queimados naquele dia. Outra filha de Simona, seu enteado e seus filhos de 6 e 3 anos sobreviveram trancados no quarto seguro — os terroristas não conseguiram arrombar a porta.

Doron precisa tomar medicamentos diariamente. Ainda que um acordo tenha sido alcançado para entregar remédios a reféns que precisam, Simona ouviu que, em vez disso, eles vão para “o Hamas e…”, sua voz esmorece. Sua agonia por não saber, exilada numa impotência perpétua, é palpável.

O suplício dos Steinbrechers é o mesmo de parentes e amigos de mais de 130 outros reféns — alguns sabidamente mortos, outros cuja condição, como a de Doron, é completamente desconhecida. As famílias forjaram um laço emocional, com vários membros viajando para cidades americanas, encontrando-se com legisladores e falando em fóruns públicos. Simona afirma que ficou animada e emocionada com as reações tanto no Capitólio, onde um grupo se encontrou na quarta-feira com congressistas, quanto entre grupos de judeus americanos. Mas sua excruciante tortura emocional está longe de terminar.

Gili Roman, um jovem alto, magro e gentil, compartilha uma peculiaridade dessa experiência com muitas famílias de reféns. Sua irmã Yarden foi libertada, mas a cunhada dela, Carmel Gat, continua em Gaza. Carmel foi sequestrada na residência de seus pais, no Kibutz Beeri, em 7 de outubro. Sua mãe foi assassinada em frente ao local. Seu irmão, Alon, e sua mulher, Yarden, e sua filha de 3 anos também foram feitos reféns. Num determinado momento, quando estavam sendo transportados para Gaza, eles perceberam uma chance de escapar; Yarden entregou a menina para Alon, sabendo que ele conseguiria correr mais rápido carregando-a. Os terroristas recapturaram Yarden, mas Alon e sua filha escaparam. Depois de quase oito semanas sequestrada, Yarden foi solta. Carmel ainda é mantida.

Gili afirma que Yarden está em casa, está melhor. Mesmo que não esteja com ele nos Estados Unidos, afirma, “Eu sei que posso mandar uma mensagem de texto e ela responde no mesmo instante. Eu sei que posso ligar para ela”. Saber que Yarden não está lá faz toda a diferença. Entre as famílias que tiveram parentes libertados, “quase todas ainda têm alguém lá”, afirma ele. As famílias estão dilaceradas, incompletas.

Manifestação pede a libertação imediata dos reféns israelenses detidos pelo Hamas em Gaza; Segundo do exército israelense, 133 pessoas continuam mantidos como reféns. Foto: EFE/EPA/ABIR SULTAN

Carmel é terapeuta ocupacional e ativista social, uma alma empática. Dois meninos libertados posteriormente contaram que ela “ajudou com seu estado mental”. “Ela lhes ensinou ioga, ajudou-os a manter um diário”, afirma Gili. Num determinado momento eles foram levados ao banheiro; sem o conhecimento de Carmel, eles foram, em vez disso, libertados. Ela provavelmente segue sem saber do destino deles.

Eu pergunto a Gili o que ele gostaria ver acontecer. “A libertação humanitária — das mulheres, dos idosos, dos doentes — deve ser completada”, afirma ele. “Não há nenhuma razão para mantê-los. Não há razão para manter nenhum deles, eles devem ser libertados.” Além disso, ele afirma que, se houver uma oferta do Hamas para libertar todos os reféns em troca do fim da guerra, o governo israelense “precisa aceitar absolutamente”.

“A chave é a libertação dos reféns”, repete ele. Muitas das famílias que vivem nos kibutzim do sul de Israel se envolveram no movimento pela paz. Muitas ainda têm esperança de uma reconciliação maior, um fim às hostilidades. Gili classifica como “muito grave” o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu apresentar “dificuldades” para um acordo desse tipo.

De Washington, DC, ele viajará para Los Angeles, e posteriormente espera falar na Universidade da Pensilvânia e em Harvard. Eu lhe pergunto se haverá regras básicas. “É uma loucura que nas principais universidades não possa haver um debate educacional”, afirma Gili. Talvez ele inicie um.

Afinal, se parassem de gritar e começassem a escutar, os grupos pró-palestinos reconheceriam que seus maiores aliados podem ser as famílias dos reféns. Essas pessoas defendem a libertação imediata de seus parentes como prelúdio de uma paz maior na região. Ainda que os membros do governo de direita possam ter outras ideias, os parentes dos reféns tendem a não culpar os palestinos mais genericamente. Eles só querem que o suplício dos reféns termine — assim como o suplício de centenas de milhares, talvez até milhões, de judeus e árabes que querem simplesmente o fim do pesadelo de uma guerra perpétua. A libertação dos reféns e um cessar-fogo poderiam, portanto, abrir o caminho, eventualmente, para uma paz maior com os palestinos.

Se os legisladores americanos e amigos de Israel quiserem ser eficazes, o sucesso pode residir em assegurar que o governo Biden faça de tudo em seu poder para evitar que Netanyahu prolongue desnecessariamente esta guerra (que se reduziu muito em intensidade nas semanas recentes). Nisto, os parentes de reféns que conheci, incontáveis israelenses, muitos políticos americanos e grande parte da comunidade judaica dos EUA estão unidos: façam um acordo assim que possível — pelo bem dos reféns e em prol de uma paz maior./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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Opinião por Jennifer Rubin

Escritora e colunista de Opinião do Washington Post

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