Por que os republicanos do Texas estão desencantados com a indústria dos criptoativos


Republicanos anunciaram na plataforma de seu partido planos para pôr fim à ‘cripto-opressão antiamericana’ e Trump prometeu tornar os Estados Unidos a ‘criptocapital do planeta’

Por The Economist

A indústria dos criptoativos entrou na campanha presidencial americana — graças a Donald Trump. No mês passado, os republicanos anunciaram na plataforma de seu partido planos para pôr fim à “cripto-opressão antiamericana” e prometeram “defender o direito de minerar bitcoin”. Numa conferência do universo bitcoin em Nashville, dias depois, a maior do tipo no mundo, Trump prometeu tornar os Estados Unidos a “criptocapital do planeta”.

Ao contrário da maioria das promessas de campanha, esta poderá ser fácil de cumprir — porque sua pretensão já existe. Depois da China banir os bitcoins em 2021, as criptomineradoras partiram em busca de refúgio. No Texas, encontraram tudo o que precisavam: energia barata, terras em abundância, impostos baixos e um ethos libertário similar ao seu. Três anos depois, os EUA são lar de mais mineradoras de bitcoin do que qualquer outro país, e o Texas tem mais do que a maioria dos outros Estados combinados. Mas logo o Lone Star State poderá mandá-las embora.

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A uma hora de carro ao norte de Austin, a capital do Estado, a Riot Platforms transformou o terreno de uma fundição de alumínio na maior mina de bitcoin do mundo. Sete edifícios de aço abrigam 100 mil “mineiros”: computadores do tamanho de torradeiras que competem numa corrida matemática para gerar códigos que premiam seus proprietários com bitcoin. Fileiras de mineiros são submergidas em tanques de óleo não condutor de eletricidade para resfriá-los. Grilos mortos flutuam na superfície, pegos pelos tentáculos de fios que alimentam as máquinas.

A mina de bitcoin Bitdeer em Rockdale, Texas: consumo de energia elétrica por mineradoras de bitcoin causa impacto energético no Estado  Foto: Jordan Vonderhaar/The New York Times

O diretor de pesquisas da Riot, Pierre Rochard, afirma que custa cerca de US$ 30 mil em eletricidade minerar um bitcoin, e no ano passado a Riot minerou aproximadamente 7 mil (o que implica um custo anual de mais ou menos US$ 200 milhões). E a Riot está apenas começando. A empresa está construindo uma segunda unidade em Corsicana, ao sul de Dallas, que será duas vezes maior.

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O plano ambicioso carrega uma nova e crescente dor para a indústria. Neste verão, os legisladores do Texas — entre os mais conservadores do país — começaram a mostrar sinais de que se voltarão contra os criptoativos. Numa audiência de comissão, em junho, o Conselho de Confiabilidade Elétrica do Texas (ERCOT), operador da rede de eletricidade no Estado, alertou que a demanda por energia poderia quase dobrar antes de 2030.

Um fluxo de indivíduos mudando-se para o Texas, tempestades de inverno mais severas e verões mais quentes já pressionam o abastecimento de energia e causam apagões nas cidades, como o furacão Beryl fez em Houston em julho. Mas uma série de novos centros de processamentos de dados, incluindo destinados a mineração de bitcoin e inteligência artificial, deverão ser responsáveis por metade do aumento.

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Em resposta ao alerta do ERCOT, o vice-governador do Texas, Dan Patrick, criticou a indústria de mineração de criptomoedas por não criar empregos suficientes em relação à quantidade de energia que consome. “Não podemos permitir que um Velho Oeste dos centros de processamento de dados e criptomineradoras destrua nossa rede e faça as luzes se apagar”, escreveu ele no X. Senadores estaduais perguntaram-se em voz alta como fazer as mineradoras irem embora. “(Há) muitos porcos no chiqueiro, que acabou de ficar sem comida”, afirmou a republicana Donna Campbell, que representa sete condados de Hill Country. “Se eles não trouxerem a própria comida nós não poderíamos simplesmente dizer não?”

Simplesmente dizer não à indústria de criptoativos seria um desvio ideológico para o Texas. Quando concorreu para governador em 2014, Greg Abbott aceitou doações de campanha em bitcoin antes das criptomoedas serem algo descolado. Desde então ele endossou ferventemente as mineradoras. Depois de Uri, a tempestade de inverno de 2021 que deixou 4,5 milhões de lares texanos sem luz e matou cerca de 300 pessoas, Abbott definiu a mineração de criptomoedas como uma ferramenta para robustecer a rede de eletricidade. Trazer outras gigantes para a rede incentivaria as empresas de eletricidade a produzir mais energia e manter os custos baixos, constatou ele. Naquele ano, Patrick criou um grupo de trabalho para “desenvolver um plano de mestre para a expansão da indústria de blockchain no Texas”.

Por volta da mesma época, muitas mineradoras de criptomoedas, incluindo a Riot, assinaram contratos com empresas de fornecimento de energia que lhes fixou as tarifas por até uma década. Anos depois, esse movimento parece ter sido inteligente de sua parte. Ao contrário de siderúrgicas ou fábricas de papel, mineradoras de bitcoin podem fechar temporariamente sem prejudicar cadeias de fornecimento (porque, apesar de afirmarem que os bitcoins “não são feijões-mágicos online”, não existe um produto que precise chegar ao mercado) — o que lhes permite tirar vantagem de dois esquemas de emergência.

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A arte do acordo

Nos dias mais quentes e mais frios, quando a demanda por eletricidade é enorme e o preço vai às alturas, as mineradoras vendem energia de volta para as fornecedoras com lucro ou param de minerar, cobrando uma taxa paga pelo ERCOT. Esse mecanismo tornou-se mais lucrativo do que a própria mineração. Em agosto de 2023, a Riot recebeu US$ 32 milhões por limitar a mineração e apenas US$ 8,6 milhões vendendo bitcoin.

O Tech Transparency Project, uma organização sem fins lucrativos sediada em Washington, DC, acusa as mineradoras de agir como em

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Montagem com ilustrações de criptoativos, que entraram de vez na eleição americana com promessa de Trump de transformar os EUA em 'cripto-capital do mundo' Foto: Adobe Stock

presas de arbitragem de energia disfarçadas, mantendo o Texas “refém” e desperdiçando dólares de contribuintes. Seus laços com a China as torna ainda mais duvidosas. Mas a indústria enfatiza que é uma cidadã corporativa estrelada e crítica para a saúde da rede elétrica. Agindo como “interruptores dimmer”, as mineradoras oferecem ao ERCOT flexibilidade a um preço mais baixo do que qualquer outra empresa, afirma Lee Bratcher, do Texas Blockchain Council, um grupo de defesa de direitos. A Riot afirma que a indústria é acusada injustamente e que substituir as mineradoras por baterias custaria ainda mais ao Estado.

Mas um negócio que se beneficia financeiramente das crises no Estado e faz lobby contra reformas no mercado de energia poderá deixar de ser a primeira escolha do governador para estabilizar uma rede elétrica que enfrenta uma pressão crescente. Hoje em dia, assegurar texanos ansiosos de que suas luzes permanecerão ligadas quando o clima piorar é prioridade, afirma Brian Korgel, diretor do Instituto de Energia da Universidade do Texas, em Austin. Se os texanos culparem as mineradoras de bitcoin, corretamente ou não, seus líderes farão o mesmo, prevê ele.

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No ano passado, um projeto de lei que pretende impedir as mineradoras de participar do esquema “demanda-resposta” foi aprovado no Senado Estadual do Texas, mas empacou na Câmara. Membros da indústria de criptoativos esperam que os legisladores apresentem mais “legislações ruins” desse tipo em janeiro. Enquanto isso, o diretor de políticas públicas da Riot, Brian Morgenstern, afirma que sua equipe está “gastando sola de sapato indo de gabinete em gabinete” persuadir os políticos a deixá-los ficar. Ele acredita que Trump trará um “mar de mudanças” se for eleito. Afinal, relata-se que Abbott almeja um cargo no governo, e Patrick, o segundo no comando do Estado, é um conhecido bajulador de Trump. Certamente não seria de seu interesse afugentar a nova indústria queridinha de Trump. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

A indústria dos criptoativos entrou na campanha presidencial americana — graças a Donald Trump. No mês passado, os republicanos anunciaram na plataforma de seu partido planos para pôr fim à “cripto-opressão antiamericana” e prometeram “defender o direito de minerar bitcoin”. Numa conferência do universo bitcoin em Nashville, dias depois, a maior do tipo no mundo, Trump prometeu tornar os Estados Unidos a “criptocapital do planeta”.

Ao contrário da maioria das promessas de campanha, esta poderá ser fácil de cumprir — porque sua pretensão já existe. Depois da China banir os bitcoins em 2021, as criptomineradoras partiram em busca de refúgio. No Texas, encontraram tudo o que precisavam: energia barata, terras em abundância, impostos baixos e um ethos libertário similar ao seu. Três anos depois, os EUA são lar de mais mineradoras de bitcoin do que qualquer outro país, e o Texas tem mais do que a maioria dos outros Estados combinados. Mas logo o Lone Star State poderá mandá-las embora.

A uma hora de carro ao norte de Austin, a capital do Estado, a Riot Platforms transformou o terreno de uma fundição de alumínio na maior mina de bitcoin do mundo. Sete edifícios de aço abrigam 100 mil “mineiros”: computadores do tamanho de torradeiras que competem numa corrida matemática para gerar códigos que premiam seus proprietários com bitcoin. Fileiras de mineiros são submergidas em tanques de óleo não condutor de eletricidade para resfriá-los. Grilos mortos flutuam na superfície, pegos pelos tentáculos de fios que alimentam as máquinas.

A mina de bitcoin Bitdeer em Rockdale, Texas: consumo de energia elétrica por mineradoras de bitcoin causa impacto energético no Estado  Foto: Jordan Vonderhaar/The New York Times

O diretor de pesquisas da Riot, Pierre Rochard, afirma que custa cerca de US$ 30 mil em eletricidade minerar um bitcoin, e no ano passado a Riot minerou aproximadamente 7 mil (o que implica um custo anual de mais ou menos US$ 200 milhões). E a Riot está apenas começando. A empresa está construindo uma segunda unidade em Corsicana, ao sul de Dallas, que será duas vezes maior.

O plano ambicioso carrega uma nova e crescente dor para a indústria. Neste verão, os legisladores do Texas — entre os mais conservadores do país — começaram a mostrar sinais de que se voltarão contra os criptoativos. Numa audiência de comissão, em junho, o Conselho de Confiabilidade Elétrica do Texas (ERCOT), operador da rede de eletricidade no Estado, alertou que a demanda por energia poderia quase dobrar antes de 2030.

Um fluxo de indivíduos mudando-se para o Texas, tempestades de inverno mais severas e verões mais quentes já pressionam o abastecimento de energia e causam apagões nas cidades, como o furacão Beryl fez em Houston em julho. Mas uma série de novos centros de processamentos de dados, incluindo destinados a mineração de bitcoin e inteligência artificial, deverão ser responsáveis por metade do aumento.

Em resposta ao alerta do ERCOT, o vice-governador do Texas, Dan Patrick, criticou a indústria de mineração de criptomoedas por não criar empregos suficientes em relação à quantidade de energia que consome. “Não podemos permitir que um Velho Oeste dos centros de processamento de dados e criptomineradoras destrua nossa rede e faça as luzes se apagar”, escreveu ele no X. Senadores estaduais perguntaram-se em voz alta como fazer as mineradoras irem embora. “(Há) muitos porcos no chiqueiro, que acabou de ficar sem comida”, afirmou a republicana Donna Campbell, que representa sete condados de Hill Country. “Se eles não trouxerem a própria comida nós não poderíamos simplesmente dizer não?”

Simplesmente dizer não à indústria de criptoativos seria um desvio ideológico para o Texas. Quando concorreu para governador em 2014, Greg Abbott aceitou doações de campanha em bitcoin antes das criptomoedas serem algo descolado. Desde então ele endossou ferventemente as mineradoras. Depois de Uri, a tempestade de inverno de 2021 que deixou 4,5 milhões de lares texanos sem luz e matou cerca de 300 pessoas, Abbott definiu a mineração de criptomoedas como uma ferramenta para robustecer a rede de eletricidade. Trazer outras gigantes para a rede incentivaria as empresas de eletricidade a produzir mais energia e manter os custos baixos, constatou ele. Naquele ano, Patrick criou um grupo de trabalho para “desenvolver um plano de mestre para a expansão da indústria de blockchain no Texas”.

Por volta da mesma época, muitas mineradoras de criptomoedas, incluindo a Riot, assinaram contratos com empresas de fornecimento de energia que lhes fixou as tarifas por até uma década. Anos depois, esse movimento parece ter sido inteligente de sua parte. Ao contrário de siderúrgicas ou fábricas de papel, mineradoras de bitcoin podem fechar temporariamente sem prejudicar cadeias de fornecimento (porque, apesar de afirmarem que os bitcoins “não são feijões-mágicos online”, não existe um produto que precise chegar ao mercado) — o que lhes permite tirar vantagem de dois esquemas de emergência.

A arte do acordo

Nos dias mais quentes e mais frios, quando a demanda por eletricidade é enorme e o preço vai às alturas, as mineradoras vendem energia de volta para as fornecedoras com lucro ou param de minerar, cobrando uma taxa paga pelo ERCOT. Esse mecanismo tornou-se mais lucrativo do que a própria mineração. Em agosto de 2023, a Riot recebeu US$ 32 milhões por limitar a mineração e apenas US$ 8,6 milhões vendendo bitcoin.

O Tech Transparency Project, uma organização sem fins lucrativos sediada em Washington, DC, acusa as mineradoras de agir como em

Montagem com ilustrações de criptoativos, que entraram de vez na eleição americana com promessa de Trump de transformar os EUA em 'cripto-capital do mundo' Foto: Adobe Stock

presas de arbitragem de energia disfarçadas, mantendo o Texas “refém” e desperdiçando dólares de contribuintes. Seus laços com a China as torna ainda mais duvidosas. Mas a indústria enfatiza que é uma cidadã corporativa estrelada e crítica para a saúde da rede elétrica. Agindo como “interruptores dimmer”, as mineradoras oferecem ao ERCOT flexibilidade a um preço mais baixo do que qualquer outra empresa, afirma Lee Bratcher, do Texas Blockchain Council, um grupo de defesa de direitos. A Riot afirma que a indústria é acusada injustamente e que substituir as mineradoras por baterias custaria ainda mais ao Estado.

Mas um negócio que se beneficia financeiramente das crises no Estado e faz lobby contra reformas no mercado de energia poderá deixar de ser a primeira escolha do governador para estabilizar uma rede elétrica que enfrenta uma pressão crescente. Hoje em dia, assegurar texanos ansiosos de que suas luzes permanecerão ligadas quando o clima piorar é prioridade, afirma Brian Korgel, diretor do Instituto de Energia da Universidade do Texas, em Austin. Se os texanos culparem as mineradoras de bitcoin, corretamente ou não, seus líderes farão o mesmo, prevê ele.

No ano passado, um projeto de lei que pretende impedir as mineradoras de participar do esquema “demanda-resposta” foi aprovado no Senado Estadual do Texas, mas empacou na Câmara. Membros da indústria de criptoativos esperam que os legisladores apresentem mais “legislações ruins” desse tipo em janeiro. Enquanto isso, o diretor de políticas públicas da Riot, Brian Morgenstern, afirma que sua equipe está “gastando sola de sapato indo de gabinete em gabinete” persuadir os políticos a deixá-los ficar. Ele acredita que Trump trará um “mar de mudanças” se for eleito. Afinal, relata-se que Abbott almeja um cargo no governo, e Patrick, o segundo no comando do Estado, é um conhecido bajulador de Trump. Certamente não seria de seu interesse afugentar a nova indústria queridinha de Trump. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

A indústria dos criptoativos entrou na campanha presidencial americana — graças a Donald Trump. No mês passado, os republicanos anunciaram na plataforma de seu partido planos para pôr fim à “cripto-opressão antiamericana” e prometeram “defender o direito de minerar bitcoin”. Numa conferência do universo bitcoin em Nashville, dias depois, a maior do tipo no mundo, Trump prometeu tornar os Estados Unidos a “criptocapital do planeta”.

Ao contrário da maioria das promessas de campanha, esta poderá ser fácil de cumprir — porque sua pretensão já existe. Depois da China banir os bitcoins em 2021, as criptomineradoras partiram em busca de refúgio. No Texas, encontraram tudo o que precisavam: energia barata, terras em abundância, impostos baixos e um ethos libertário similar ao seu. Três anos depois, os EUA são lar de mais mineradoras de bitcoin do que qualquer outro país, e o Texas tem mais do que a maioria dos outros Estados combinados. Mas logo o Lone Star State poderá mandá-las embora.

A uma hora de carro ao norte de Austin, a capital do Estado, a Riot Platforms transformou o terreno de uma fundição de alumínio na maior mina de bitcoin do mundo. Sete edifícios de aço abrigam 100 mil “mineiros”: computadores do tamanho de torradeiras que competem numa corrida matemática para gerar códigos que premiam seus proprietários com bitcoin. Fileiras de mineiros são submergidas em tanques de óleo não condutor de eletricidade para resfriá-los. Grilos mortos flutuam na superfície, pegos pelos tentáculos de fios que alimentam as máquinas.

A mina de bitcoin Bitdeer em Rockdale, Texas: consumo de energia elétrica por mineradoras de bitcoin causa impacto energético no Estado  Foto: Jordan Vonderhaar/The New York Times

O diretor de pesquisas da Riot, Pierre Rochard, afirma que custa cerca de US$ 30 mil em eletricidade minerar um bitcoin, e no ano passado a Riot minerou aproximadamente 7 mil (o que implica um custo anual de mais ou menos US$ 200 milhões). E a Riot está apenas começando. A empresa está construindo uma segunda unidade em Corsicana, ao sul de Dallas, que será duas vezes maior.

O plano ambicioso carrega uma nova e crescente dor para a indústria. Neste verão, os legisladores do Texas — entre os mais conservadores do país — começaram a mostrar sinais de que se voltarão contra os criptoativos. Numa audiência de comissão, em junho, o Conselho de Confiabilidade Elétrica do Texas (ERCOT), operador da rede de eletricidade no Estado, alertou que a demanda por energia poderia quase dobrar antes de 2030.

Um fluxo de indivíduos mudando-se para o Texas, tempestades de inverno mais severas e verões mais quentes já pressionam o abastecimento de energia e causam apagões nas cidades, como o furacão Beryl fez em Houston em julho. Mas uma série de novos centros de processamentos de dados, incluindo destinados a mineração de bitcoin e inteligência artificial, deverão ser responsáveis por metade do aumento.

Em resposta ao alerta do ERCOT, o vice-governador do Texas, Dan Patrick, criticou a indústria de mineração de criptomoedas por não criar empregos suficientes em relação à quantidade de energia que consome. “Não podemos permitir que um Velho Oeste dos centros de processamento de dados e criptomineradoras destrua nossa rede e faça as luzes se apagar”, escreveu ele no X. Senadores estaduais perguntaram-se em voz alta como fazer as mineradoras irem embora. “(Há) muitos porcos no chiqueiro, que acabou de ficar sem comida”, afirmou a republicana Donna Campbell, que representa sete condados de Hill Country. “Se eles não trouxerem a própria comida nós não poderíamos simplesmente dizer não?”

Simplesmente dizer não à indústria de criptoativos seria um desvio ideológico para o Texas. Quando concorreu para governador em 2014, Greg Abbott aceitou doações de campanha em bitcoin antes das criptomoedas serem algo descolado. Desde então ele endossou ferventemente as mineradoras. Depois de Uri, a tempestade de inverno de 2021 que deixou 4,5 milhões de lares texanos sem luz e matou cerca de 300 pessoas, Abbott definiu a mineração de criptomoedas como uma ferramenta para robustecer a rede de eletricidade. Trazer outras gigantes para a rede incentivaria as empresas de eletricidade a produzir mais energia e manter os custos baixos, constatou ele. Naquele ano, Patrick criou um grupo de trabalho para “desenvolver um plano de mestre para a expansão da indústria de blockchain no Texas”.

Por volta da mesma época, muitas mineradoras de criptomoedas, incluindo a Riot, assinaram contratos com empresas de fornecimento de energia que lhes fixou as tarifas por até uma década. Anos depois, esse movimento parece ter sido inteligente de sua parte. Ao contrário de siderúrgicas ou fábricas de papel, mineradoras de bitcoin podem fechar temporariamente sem prejudicar cadeias de fornecimento (porque, apesar de afirmarem que os bitcoins “não são feijões-mágicos online”, não existe um produto que precise chegar ao mercado) — o que lhes permite tirar vantagem de dois esquemas de emergência.

A arte do acordo

Nos dias mais quentes e mais frios, quando a demanda por eletricidade é enorme e o preço vai às alturas, as mineradoras vendem energia de volta para as fornecedoras com lucro ou param de minerar, cobrando uma taxa paga pelo ERCOT. Esse mecanismo tornou-se mais lucrativo do que a própria mineração. Em agosto de 2023, a Riot recebeu US$ 32 milhões por limitar a mineração e apenas US$ 8,6 milhões vendendo bitcoin.

O Tech Transparency Project, uma organização sem fins lucrativos sediada em Washington, DC, acusa as mineradoras de agir como em

Montagem com ilustrações de criptoativos, que entraram de vez na eleição americana com promessa de Trump de transformar os EUA em 'cripto-capital do mundo' Foto: Adobe Stock

presas de arbitragem de energia disfarçadas, mantendo o Texas “refém” e desperdiçando dólares de contribuintes. Seus laços com a China as torna ainda mais duvidosas. Mas a indústria enfatiza que é uma cidadã corporativa estrelada e crítica para a saúde da rede elétrica. Agindo como “interruptores dimmer”, as mineradoras oferecem ao ERCOT flexibilidade a um preço mais baixo do que qualquer outra empresa, afirma Lee Bratcher, do Texas Blockchain Council, um grupo de defesa de direitos. A Riot afirma que a indústria é acusada injustamente e que substituir as mineradoras por baterias custaria ainda mais ao Estado.

Mas um negócio que se beneficia financeiramente das crises no Estado e faz lobby contra reformas no mercado de energia poderá deixar de ser a primeira escolha do governador para estabilizar uma rede elétrica que enfrenta uma pressão crescente. Hoje em dia, assegurar texanos ansiosos de que suas luzes permanecerão ligadas quando o clima piorar é prioridade, afirma Brian Korgel, diretor do Instituto de Energia da Universidade do Texas, em Austin. Se os texanos culparem as mineradoras de bitcoin, corretamente ou não, seus líderes farão o mesmo, prevê ele.

No ano passado, um projeto de lei que pretende impedir as mineradoras de participar do esquema “demanda-resposta” foi aprovado no Senado Estadual do Texas, mas empacou na Câmara. Membros da indústria de criptoativos esperam que os legisladores apresentem mais “legislações ruins” desse tipo em janeiro. Enquanto isso, o diretor de políticas públicas da Riot, Brian Morgenstern, afirma que sua equipe está “gastando sola de sapato indo de gabinete em gabinete” persuadir os políticos a deixá-los ficar. Ele acredita que Trump trará um “mar de mudanças” se for eleito. Afinal, relata-se que Abbott almeja um cargo no governo, e Patrick, o segundo no comando do Estado, é um conhecido bajulador de Trump. Certamente não seria de seu interesse afugentar a nova indústria queridinha de Trump. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

A indústria dos criptoativos entrou na campanha presidencial americana — graças a Donald Trump. No mês passado, os republicanos anunciaram na plataforma de seu partido planos para pôr fim à “cripto-opressão antiamericana” e prometeram “defender o direito de minerar bitcoin”. Numa conferência do universo bitcoin em Nashville, dias depois, a maior do tipo no mundo, Trump prometeu tornar os Estados Unidos a “criptocapital do planeta”.

Ao contrário da maioria das promessas de campanha, esta poderá ser fácil de cumprir — porque sua pretensão já existe. Depois da China banir os bitcoins em 2021, as criptomineradoras partiram em busca de refúgio. No Texas, encontraram tudo o que precisavam: energia barata, terras em abundância, impostos baixos e um ethos libertário similar ao seu. Três anos depois, os EUA são lar de mais mineradoras de bitcoin do que qualquer outro país, e o Texas tem mais do que a maioria dos outros Estados combinados. Mas logo o Lone Star State poderá mandá-las embora.

A uma hora de carro ao norte de Austin, a capital do Estado, a Riot Platforms transformou o terreno de uma fundição de alumínio na maior mina de bitcoin do mundo. Sete edifícios de aço abrigam 100 mil “mineiros”: computadores do tamanho de torradeiras que competem numa corrida matemática para gerar códigos que premiam seus proprietários com bitcoin. Fileiras de mineiros são submergidas em tanques de óleo não condutor de eletricidade para resfriá-los. Grilos mortos flutuam na superfície, pegos pelos tentáculos de fios que alimentam as máquinas.

A mina de bitcoin Bitdeer em Rockdale, Texas: consumo de energia elétrica por mineradoras de bitcoin causa impacto energético no Estado  Foto: Jordan Vonderhaar/The New York Times

O diretor de pesquisas da Riot, Pierre Rochard, afirma que custa cerca de US$ 30 mil em eletricidade minerar um bitcoin, e no ano passado a Riot minerou aproximadamente 7 mil (o que implica um custo anual de mais ou menos US$ 200 milhões). E a Riot está apenas começando. A empresa está construindo uma segunda unidade em Corsicana, ao sul de Dallas, que será duas vezes maior.

O plano ambicioso carrega uma nova e crescente dor para a indústria. Neste verão, os legisladores do Texas — entre os mais conservadores do país — começaram a mostrar sinais de que se voltarão contra os criptoativos. Numa audiência de comissão, em junho, o Conselho de Confiabilidade Elétrica do Texas (ERCOT), operador da rede de eletricidade no Estado, alertou que a demanda por energia poderia quase dobrar antes de 2030.

Um fluxo de indivíduos mudando-se para o Texas, tempestades de inverno mais severas e verões mais quentes já pressionam o abastecimento de energia e causam apagões nas cidades, como o furacão Beryl fez em Houston em julho. Mas uma série de novos centros de processamentos de dados, incluindo destinados a mineração de bitcoin e inteligência artificial, deverão ser responsáveis por metade do aumento.

Em resposta ao alerta do ERCOT, o vice-governador do Texas, Dan Patrick, criticou a indústria de mineração de criptomoedas por não criar empregos suficientes em relação à quantidade de energia que consome. “Não podemos permitir que um Velho Oeste dos centros de processamento de dados e criptomineradoras destrua nossa rede e faça as luzes se apagar”, escreveu ele no X. Senadores estaduais perguntaram-se em voz alta como fazer as mineradoras irem embora. “(Há) muitos porcos no chiqueiro, que acabou de ficar sem comida”, afirmou a republicana Donna Campbell, que representa sete condados de Hill Country. “Se eles não trouxerem a própria comida nós não poderíamos simplesmente dizer não?”

Simplesmente dizer não à indústria de criptoativos seria um desvio ideológico para o Texas. Quando concorreu para governador em 2014, Greg Abbott aceitou doações de campanha em bitcoin antes das criptomoedas serem algo descolado. Desde então ele endossou ferventemente as mineradoras. Depois de Uri, a tempestade de inverno de 2021 que deixou 4,5 milhões de lares texanos sem luz e matou cerca de 300 pessoas, Abbott definiu a mineração de criptomoedas como uma ferramenta para robustecer a rede de eletricidade. Trazer outras gigantes para a rede incentivaria as empresas de eletricidade a produzir mais energia e manter os custos baixos, constatou ele. Naquele ano, Patrick criou um grupo de trabalho para “desenvolver um plano de mestre para a expansão da indústria de blockchain no Texas”.

Por volta da mesma época, muitas mineradoras de criptomoedas, incluindo a Riot, assinaram contratos com empresas de fornecimento de energia que lhes fixou as tarifas por até uma década. Anos depois, esse movimento parece ter sido inteligente de sua parte. Ao contrário de siderúrgicas ou fábricas de papel, mineradoras de bitcoin podem fechar temporariamente sem prejudicar cadeias de fornecimento (porque, apesar de afirmarem que os bitcoins “não são feijões-mágicos online”, não existe um produto que precise chegar ao mercado) — o que lhes permite tirar vantagem de dois esquemas de emergência.

A arte do acordo

Nos dias mais quentes e mais frios, quando a demanda por eletricidade é enorme e o preço vai às alturas, as mineradoras vendem energia de volta para as fornecedoras com lucro ou param de minerar, cobrando uma taxa paga pelo ERCOT. Esse mecanismo tornou-se mais lucrativo do que a própria mineração. Em agosto de 2023, a Riot recebeu US$ 32 milhões por limitar a mineração e apenas US$ 8,6 milhões vendendo bitcoin.

O Tech Transparency Project, uma organização sem fins lucrativos sediada em Washington, DC, acusa as mineradoras de agir como em

Montagem com ilustrações de criptoativos, que entraram de vez na eleição americana com promessa de Trump de transformar os EUA em 'cripto-capital do mundo' Foto: Adobe Stock

presas de arbitragem de energia disfarçadas, mantendo o Texas “refém” e desperdiçando dólares de contribuintes. Seus laços com a China as torna ainda mais duvidosas. Mas a indústria enfatiza que é uma cidadã corporativa estrelada e crítica para a saúde da rede elétrica. Agindo como “interruptores dimmer”, as mineradoras oferecem ao ERCOT flexibilidade a um preço mais baixo do que qualquer outra empresa, afirma Lee Bratcher, do Texas Blockchain Council, um grupo de defesa de direitos. A Riot afirma que a indústria é acusada injustamente e que substituir as mineradoras por baterias custaria ainda mais ao Estado.

Mas um negócio que se beneficia financeiramente das crises no Estado e faz lobby contra reformas no mercado de energia poderá deixar de ser a primeira escolha do governador para estabilizar uma rede elétrica que enfrenta uma pressão crescente. Hoje em dia, assegurar texanos ansiosos de que suas luzes permanecerão ligadas quando o clima piorar é prioridade, afirma Brian Korgel, diretor do Instituto de Energia da Universidade do Texas, em Austin. Se os texanos culparem as mineradoras de bitcoin, corretamente ou não, seus líderes farão o mesmo, prevê ele.

No ano passado, um projeto de lei que pretende impedir as mineradoras de participar do esquema “demanda-resposta” foi aprovado no Senado Estadual do Texas, mas empacou na Câmara. Membros da indústria de criptoativos esperam que os legisladores apresentem mais “legislações ruins” desse tipo em janeiro. Enquanto isso, o diretor de políticas públicas da Riot, Brian Morgenstern, afirma que sua equipe está “gastando sola de sapato indo de gabinete em gabinete” persuadir os políticos a deixá-los ficar. Ele acredita que Trump trará um “mar de mudanças” se for eleito. Afinal, relata-se que Abbott almeja um cargo no governo, e Patrick, o segundo no comando do Estado, é um conhecido bajulador de Trump. Certamente não seria de seu interesse afugentar a nova indústria queridinha de Trump. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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