Por que Tim Walz é a aposta democrata para atrair o eleitorado rural moderado na eleição dos EUA


O governador de Minnesota representou um distrito considerado republicano no Congresso americano, foi professor e gosta de caçar e pescar, hábitos tradicionais da população rural americana

Por Luciana Dyniewicz
Atualização:

SAINT PAUL (EUA) - Um homem branco, de 60 anos, proveniente de uma região rural e ex-membro de Guarda Nacional, mas que trabalhou pela implementação de políticas que garantem o direito ao aborto e o acesso a tratamento para pessoas transgênero. Esse é o candidato democrata à vice-presidência americana, Tim Walz, cujas imagens – supostamente antagonistas para uma sociedade polarizada – têm sido exploradas pelos diferentes lados da disputa política.

Enquanto democratas tentam reforçar a ideia de que Walz, atual governador de Minnesota, é um moderado, na tentativa de atrair votos da população branca rural dos Estados pêndulos (aqueles cujos votos variam entre os partidos de uma eleição para outra), republicanos o pintam como alguém que, no Brasil, seria chamado de “liberal nos costumes”.

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Em um eleição cujo resultado será apertado justamente nesses Estados-chaves, qualquer voto que um candidato a vice possa conseguir será importante, de acordo com o jornalista John Rash, colunista do Star Tribune – o principal jornal de Minnesota. Para ele, porém, Walz deve atrair menos eleitores do que Kamala Harris espera porque a imagem de um político que, recentemente, adotou medidas mais progressistas é a que tem ganhado força.

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Estado de Minnesota, governado por candidato a vice de Kamala, amplia políticas progressistas

Por outro lado, Rash, que cobre a carreira de Walz desde 2007, pondera que o fato de o governador se mostrar alguém preocupado com todos, que quer que todos sejam bem-vindos a seu Estado, tem empolgado eleitores progressistas e pode fazer com que eles se sintam mais animados para sair de casa para votar.

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Professor de ciência política do St. Olaf College, sediado em Minnesota, Dan Hofrenning frisa que será difícil saber se Walz fez alguma diferença no resultado final da eleição. “O conhecimento convencional diz que o candidato à vice-presidência não costuma ter um grande impacto, mas é complicado provar isso. Ninguém nunca será capaz de dizer qual porcentagem Kamala receberia se tivesse escolhido um vice-presidente diferente.”

Moderado

Walz começou sua carreira política em 2006, ao derrotar um republicano que estava no poder havia seis mandatos e acabar eleito para a Câmara americana. Ele passou, assim, a representar o primeiro distrito do Estado de Minnesota, uma região cuja economia depende basicamente do agronegócio. Permaneceu no cargo por sete mandatos até vencer as eleições para governador de Minnesota em 2018 – sendo reeleito em 2022.

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Para Daniel Myers, professor de ciência política da Universidade de Minnesota, Walz adotou uma postura moderada desde o começo de sua carreira até 2022. Naquele ano, após os democratas conseguirem, por uma pequena margem, a maioria nas duas casas legislativas – o que é raro no Estado –, eles adotaram a agenda mais progressista.

O governador de Minnesota e companheiro de chapa de Kamala Harris, Tim Walz, discursa após votar em St. Paul, Minnesota  Foto: Renée Jones Schneider/AP

“Foi muito estranho para alguns de nós em Minnesota ver pessoas como Bernie Sanders e outras figuras mais de esquerda do Partido Democrata apoiando Walz. Ele sempre teve uma reputação de moderado”, diz Myers. “Se você me falasse, em 2021, que isso aconteceria, eu não acreditaria.”

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O professor destaca que, além das políticas pró-aborto e de garantia de direitos para pessoas transgêneros, medidas que aumentaram os gastos, como alimentação gratuita nas escolas, viraram alvo de debates no país. Segundo Myers, um superávit fiscal no Estado favoreceu a adoção de políticas como essa. “Uma confluência de fatos permitiu que Walz virasse um campeão de causas progressistas. E ele claramente está orgulhoso delas.”

Dan Hofrenning também diz que Walz se tornou mais progressista nos últimos anos e lembra que a decisão de Kamala Harris o escolher foi criticada por muitos que acreditavam que ela deveria ter selecionado um político mais de centro para atrair eleitores moderados. Ele acrescenta, no entanto, que a própria Kamala tem tentado fazer esse papel de moderada, ao voltar atrás no discurso de alguns temas polêmicos.

Tim Walz participa de um comício em Madison, Wisconsin, no dia 22 de outubro  Foto: Kamil Krzaczynski/AFP
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“Quando ela tentou se candidatar à Presidência (nas eleições de 2020), disse, por exemplo, que baniria a exploração de petróleo por meio de fracking, defendendo uma postura mais pró-meio ambiente. Agora, ela já mudou essa posição.”

Hofrenning afirma que, apesar da postura mais progressistas, Walz tem a capacidade de conversar diretamente com o eleitorado rural, o que pode favorecer a chapa democrata. Um dos principais valores da população de pequenas cidades do interior americano, diz ele, é que cada um deve empreender e cuidar de seu próprio negócio. “Walz fala da sua experiência de crescer em uma dessas cidades e da cultura de trabalhar pelo seu negócio. Ele veste camisa de flanela xadrez e até o Barack Obama mencionou isso. Disse que Walz é alguém real.”

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O professor do St. Olaf College acrescenta que uma das teorias que tentam explicar o motivo de os democratas terem perdido, nas últimas eleições, espaço entre os americanos de zonas rurais é o fato de esse eleitorado ver os políticos do partido como pessoas esnobes formadas em universidades elite. Obama, por exemplo, estudou em Harvard. Bill Clinton, em Yale.

“Há uma crença de que o Partido Democrata é controlado por uma elite intelectual. Isso não pega bem nos EUA rural. E Tim Walz se posiciona melhor nesses EUA real.”

A repórter viajou como bolsista do World Press Institute (WPI)

SAINT PAUL (EUA) - Um homem branco, de 60 anos, proveniente de uma região rural e ex-membro de Guarda Nacional, mas que trabalhou pela implementação de políticas que garantem o direito ao aborto e o acesso a tratamento para pessoas transgênero. Esse é o candidato democrata à vice-presidência americana, Tim Walz, cujas imagens – supostamente antagonistas para uma sociedade polarizada – têm sido exploradas pelos diferentes lados da disputa política.

Enquanto democratas tentam reforçar a ideia de que Walz, atual governador de Minnesota, é um moderado, na tentativa de atrair votos da população branca rural dos Estados pêndulos (aqueles cujos votos variam entre os partidos de uma eleição para outra), republicanos o pintam como alguém que, no Brasil, seria chamado de “liberal nos costumes”.

Em um eleição cujo resultado será apertado justamente nesses Estados-chaves, qualquer voto que um candidato a vice possa conseguir será importante, de acordo com o jornalista John Rash, colunista do Star Tribune – o principal jornal de Minnesota. Para ele, porém, Walz deve atrair menos eleitores do que Kamala Harris espera porque a imagem de um político que, recentemente, adotou medidas mais progressistas é a que tem ganhado força.

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Estado de Minnesota, governado por candidato a vice de Kamala, amplia políticas progressistas

Por outro lado, Rash, que cobre a carreira de Walz desde 2007, pondera que o fato de o governador se mostrar alguém preocupado com todos, que quer que todos sejam bem-vindos a seu Estado, tem empolgado eleitores progressistas e pode fazer com que eles se sintam mais animados para sair de casa para votar.

Professor de ciência política do St. Olaf College, sediado em Minnesota, Dan Hofrenning frisa que será difícil saber se Walz fez alguma diferença no resultado final da eleição. “O conhecimento convencional diz que o candidato à vice-presidência não costuma ter um grande impacto, mas é complicado provar isso. Ninguém nunca será capaz de dizer qual porcentagem Kamala receberia se tivesse escolhido um vice-presidente diferente.”

Moderado

Walz começou sua carreira política em 2006, ao derrotar um republicano que estava no poder havia seis mandatos e acabar eleito para a Câmara americana. Ele passou, assim, a representar o primeiro distrito do Estado de Minnesota, uma região cuja economia depende basicamente do agronegócio. Permaneceu no cargo por sete mandatos até vencer as eleições para governador de Minnesota em 2018 – sendo reeleito em 2022.

Para Daniel Myers, professor de ciência política da Universidade de Minnesota, Walz adotou uma postura moderada desde o começo de sua carreira até 2022. Naquele ano, após os democratas conseguirem, por uma pequena margem, a maioria nas duas casas legislativas – o que é raro no Estado –, eles adotaram a agenda mais progressista.

O governador de Minnesota e companheiro de chapa de Kamala Harris, Tim Walz, discursa após votar em St. Paul, Minnesota  Foto: Renée Jones Schneider/AP

“Foi muito estranho para alguns de nós em Minnesota ver pessoas como Bernie Sanders e outras figuras mais de esquerda do Partido Democrata apoiando Walz. Ele sempre teve uma reputação de moderado”, diz Myers. “Se você me falasse, em 2021, que isso aconteceria, eu não acreditaria.”

O professor destaca que, além das políticas pró-aborto e de garantia de direitos para pessoas transgêneros, medidas que aumentaram os gastos, como alimentação gratuita nas escolas, viraram alvo de debates no país. Segundo Myers, um superávit fiscal no Estado favoreceu a adoção de políticas como essa. “Uma confluência de fatos permitiu que Walz virasse um campeão de causas progressistas. E ele claramente está orgulhoso delas.”

Dan Hofrenning também diz que Walz se tornou mais progressista nos últimos anos e lembra que a decisão de Kamala Harris o escolher foi criticada por muitos que acreditavam que ela deveria ter selecionado um político mais de centro para atrair eleitores moderados. Ele acrescenta, no entanto, que a própria Kamala tem tentado fazer esse papel de moderada, ao voltar atrás no discurso de alguns temas polêmicos.

Tim Walz participa de um comício em Madison, Wisconsin, no dia 22 de outubro  Foto: Kamil Krzaczynski/AFP

“Quando ela tentou se candidatar à Presidência (nas eleições de 2020), disse, por exemplo, que baniria a exploração de petróleo por meio de fracking, defendendo uma postura mais pró-meio ambiente. Agora, ela já mudou essa posição.”

Hofrenning afirma que, apesar da postura mais progressistas, Walz tem a capacidade de conversar diretamente com o eleitorado rural, o que pode favorecer a chapa democrata. Um dos principais valores da população de pequenas cidades do interior americano, diz ele, é que cada um deve empreender e cuidar de seu próprio negócio. “Walz fala da sua experiência de crescer em uma dessas cidades e da cultura de trabalhar pelo seu negócio. Ele veste camisa de flanela xadrez e até o Barack Obama mencionou isso. Disse que Walz é alguém real.”

O professor do St. Olaf College acrescenta que uma das teorias que tentam explicar o motivo de os democratas terem perdido, nas últimas eleições, espaço entre os americanos de zonas rurais é o fato de esse eleitorado ver os políticos do partido como pessoas esnobes formadas em universidades elite. Obama, por exemplo, estudou em Harvard. Bill Clinton, em Yale.

“Há uma crença de que o Partido Democrata é controlado por uma elite intelectual. Isso não pega bem nos EUA rural. E Tim Walz se posiciona melhor nesses EUA real.”

A repórter viajou como bolsista do World Press Institute (WPI)

SAINT PAUL (EUA) - Um homem branco, de 60 anos, proveniente de uma região rural e ex-membro de Guarda Nacional, mas que trabalhou pela implementação de políticas que garantem o direito ao aborto e o acesso a tratamento para pessoas transgênero. Esse é o candidato democrata à vice-presidência americana, Tim Walz, cujas imagens – supostamente antagonistas para uma sociedade polarizada – têm sido exploradas pelos diferentes lados da disputa política.

Enquanto democratas tentam reforçar a ideia de que Walz, atual governador de Minnesota, é um moderado, na tentativa de atrair votos da população branca rural dos Estados pêndulos (aqueles cujos votos variam entre os partidos de uma eleição para outra), republicanos o pintam como alguém que, no Brasil, seria chamado de “liberal nos costumes”.

Em um eleição cujo resultado será apertado justamente nesses Estados-chaves, qualquer voto que um candidato a vice possa conseguir será importante, de acordo com o jornalista John Rash, colunista do Star Tribune – o principal jornal de Minnesota. Para ele, porém, Walz deve atrair menos eleitores do que Kamala Harris espera porque a imagem de um político que, recentemente, adotou medidas mais progressistas é a que tem ganhado força.

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Estado de Minnesota, governado por candidato a vice de Kamala, amplia políticas progressistas

Por outro lado, Rash, que cobre a carreira de Walz desde 2007, pondera que o fato de o governador se mostrar alguém preocupado com todos, que quer que todos sejam bem-vindos a seu Estado, tem empolgado eleitores progressistas e pode fazer com que eles se sintam mais animados para sair de casa para votar.

Professor de ciência política do St. Olaf College, sediado em Minnesota, Dan Hofrenning frisa que será difícil saber se Walz fez alguma diferença no resultado final da eleição. “O conhecimento convencional diz que o candidato à vice-presidência não costuma ter um grande impacto, mas é complicado provar isso. Ninguém nunca será capaz de dizer qual porcentagem Kamala receberia se tivesse escolhido um vice-presidente diferente.”

Moderado

Walz começou sua carreira política em 2006, ao derrotar um republicano que estava no poder havia seis mandatos e acabar eleito para a Câmara americana. Ele passou, assim, a representar o primeiro distrito do Estado de Minnesota, uma região cuja economia depende basicamente do agronegócio. Permaneceu no cargo por sete mandatos até vencer as eleições para governador de Minnesota em 2018 – sendo reeleito em 2022.

Para Daniel Myers, professor de ciência política da Universidade de Minnesota, Walz adotou uma postura moderada desde o começo de sua carreira até 2022. Naquele ano, após os democratas conseguirem, por uma pequena margem, a maioria nas duas casas legislativas – o que é raro no Estado –, eles adotaram a agenda mais progressista.

O governador de Minnesota e companheiro de chapa de Kamala Harris, Tim Walz, discursa após votar em St. Paul, Minnesota  Foto: Renée Jones Schneider/AP

“Foi muito estranho para alguns de nós em Minnesota ver pessoas como Bernie Sanders e outras figuras mais de esquerda do Partido Democrata apoiando Walz. Ele sempre teve uma reputação de moderado”, diz Myers. “Se você me falasse, em 2021, que isso aconteceria, eu não acreditaria.”

O professor destaca que, além das políticas pró-aborto e de garantia de direitos para pessoas transgêneros, medidas que aumentaram os gastos, como alimentação gratuita nas escolas, viraram alvo de debates no país. Segundo Myers, um superávit fiscal no Estado favoreceu a adoção de políticas como essa. “Uma confluência de fatos permitiu que Walz virasse um campeão de causas progressistas. E ele claramente está orgulhoso delas.”

Dan Hofrenning também diz que Walz se tornou mais progressista nos últimos anos e lembra que a decisão de Kamala Harris o escolher foi criticada por muitos que acreditavam que ela deveria ter selecionado um político mais de centro para atrair eleitores moderados. Ele acrescenta, no entanto, que a própria Kamala tem tentado fazer esse papel de moderada, ao voltar atrás no discurso de alguns temas polêmicos.

Tim Walz participa de um comício em Madison, Wisconsin, no dia 22 de outubro  Foto: Kamil Krzaczynski/AFP

“Quando ela tentou se candidatar à Presidência (nas eleições de 2020), disse, por exemplo, que baniria a exploração de petróleo por meio de fracking, defendendo uma postura mais pró-meio ambiente. Agora, ela já mudou essa posição.”

Hofrenning afirma que, apesar da postura mais progressistas, Walz tem a capacidade de conversar diretamente com o eleitorado rural, o que pode favorecer a chapa democrata. Um dos principais valores da população de pequenas cidades do interior americano, diz ele, é que cada um deve empreender e cuidar de seu próprio negócio. “Walz fala da sua experiência de crescer em uma dessas cidades e da cultura de trabalhar pelo seu negócio. Ele veste camisa de flanela xadrez e até o Barack Obama mencionou isso. Disse que Walz é alguém real.”

O professor do St. Olaf College acrescenta que uma das teorias que tentam explicar o motivo de os democratas terem perdido, nas últimas eleições, espaço entre os americanos de zonas rurais é o fato de esse eleitorado ver os políticos do partido como pessoas esnobes formadas em universidades elite. Obama, por exemplo, estudou em Harvard. Bill Clinton, em Yale.

“Há uma crença de que o Partido Democrata é controlado por uma elite intelectual. Isso não pega bem nos EUA rural. E Tim Walz se posiciona melhor nesses EUA real.”

A repórter viajou como bolsista do World Press Institute (WPI)

SAINT PAUL (EUA) - Um homem branco, de 60 anos, proveniente de uma região rural e ex-membro de Guarda Nacional, mas que trabalhou pela implementação de políticas que garantem o direito ao aborto e o acesso a tratamento para pessoas transgênero. Esse é o candidato democrata à vice-presidência americana, Tim Walz, cujas imagens – supostamente antagonistas para uma sociedade polarizada – têm sido exploradas pelos diferentes lados da disputa política.

Enquanto democratas tentam reforçar a ideia de que Walz, atual governador de Minnesota, é um moderado, na tentativa de atrair votos da população branca rural dos Estados pêndulos (aqueles cujos votos variam entre os partidos de uma eleição para outra), republicanos o pintam como alguém que, no Brasil, seria chamado de “liberal nos costumes”.

Em um eleição cujo resultado será apertado justamente nesses Estados-chaves, qualquer voto que um candidato a vice possa conseguir será importante, de acordo com o jornalista John Rash, colunista do Star Tribune – o principal jornal de Minnesota. Para ele, porém, Walz deve atrair menos eleitores do que Kamala Harris espera porque a imagem de um político que, recentemente, adotou medidas mais progressistas é a que tem ganhado força.

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Estado de Minnesota, governado por candidato a vice de Kamala, amplia políticas progressistas

Por outro lado, Rash, que cobre a carreira de Walz desde 2007, pondera que o fato de o governador se mostrar alguém preocupado com todos, que quer que todos sejam bem-vindos a seu Estado, tem empolgado eleitores progressistas e pode fazer com que eles se sintam mais animados para sair de casa para votar.

Professor de ciência política do St. Olaf College, sediado em Minnesota, Dan Hofrenning frisa que será difícil saber se Walz fez alguma diferença no resultado final da eleição. “O conhecimento convencional diz que o candidato à vice-presidência não costuma ter um grande impacto, mas é complicado provar isso. Ninguém nunca será capaz de dizer qual porcentagem Kamala receberia se tivesse escolhido um vice-presidente diferente.”

Moderado

Walz começou sua carreira política em 2006, ao derrotar um republicano que estava no poder havia seis mandatos e acabar eleito para a Câmara americana. Ele passou, assim, a representar o primeiro distrito do Estado de Minnesota, uma região cuja economia depende basicamente do agronegócio. Permaneceu no cargo por sete mandatos até vencer as eleições para governador de Minnesota em 2018 – sendo reeleito em 2022.

Para Daniel Myers, professor de ciência política da Universidade de Minnesota, Walz adotou uma postura moderada desde o começo de sua carreira até 2022. Naquele ano, após os democratas conseguirem, por uma pequena margem, a maioria nas duas casas legislativas – o que é raro no Estado –, eles adotaram a agenda mais progressista.

O governador de Minnesota e companheiro de chapa de Kamala Harris, Tim Walz, discursa após votar em St. Paul, Minnesota  Foto: Renée Jones Schneider/AP

“Foi muito estranho para alguns de nós em Minnesota ver pessoas como Bernie Sanders e outras figuras mais de esquerda do Partido Democrata apoiando Walz. Ele sempre teve uma reputação de moderado”, diz Myers. “Se você me falasse, em 2021, que isso aconteceria, eu não acreditaria.”

O professor destaca que, além das políticas pró-aborto e de garantia de direitos para pessoas transgêneros, medidas que aumentaram os gastos, como alimentação gratuita nas escolas, viraram alvo de debates no país. Segundo Myers, um superávit fiscal no Estado favoreceu a adoção de políticas como essa. “Uma confluência de fatos permitiu que Walz virasse um campeão de causas progressistas. E ele claramente está orgulhoso delas.”

Dan Hofrenning também diz que Walz se tornou mais progressista nos últimos anos e lembra que a decisão de Kamala Harris o escolher foi criticada por muitos que acreditavam que ela deveria ter selecionado um político mais de centro para atrair eleitores moderados. Ele acrescenta, no entanto, que a própria Kamala tem tentado fazer esse papel de moderada, ao voltar atrás no discurso de alguns temas polêmicos.

Tim Walz participa de um comício em Madison, Wisconsin, no dia 22 de outubro  Foto: Kamil Krzaczynski/AFP

“Quando ela tentou se candidatar à Presidência (nas eleições de 2020), disse, por exemplo, que baniria a exploração de petróleo por meio de fracking, defendendo uma postura mais pró-meio ambiente. Agora, ela já mudou essa posição.”

Hofrenning afirma que, apesar da postura mais progressistas, Walz tem a capacidade de conversar diretamente com o eleitorado rural, o que pode favorecer a chapa democrata. Um dos principais valores da população de pequenas cidades do interior americano, diz ele, é que cada um deve empreender e cuidar de seu próprio negócio. “Walz fala da sua experiência de crescer em uma dessas cidades e da cultura de trabalhar pelo seu negócio. Ele veste camisa de flanela xadrez e até o Barack Obama mencionou isso. Disse que Walz é alguém real.”

O professor do St. Olaf College acrescenta que uma das teorias que tentam explicar o motivo de os democratas terem perdido, nas últimas eleições, espaço entre os americanos de zonas rurais é o fato de esse eleitorado ver os políticos do partido como pessoas esnobes formadas em universidades elite. Obama, por exemplo, estudou em Harvard. Bill Clinton, em Yale.

“Há uma crença de que o Partido Democrata é controlado por uma elite intelectual. Isso não pega bem nos EUA rural. E Tim Walz se posiciona melhor nesses EUA real.”

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