Opinião|Por que Trump está dobrando a aposta no preconceito a poucas semanas da eleição


Da mesma forma que outros sujeitos autoritários, Trump usa o racismo instrumentalmente como parte de seu ataque contra a democracia

Por Jennifer Rubin

O ex-presidente Donald Trump assumiu-se completamente racista (ou “nativista”, como alguns meios de imprensa o descrevem delicadamente). Em Aurora, Colorado, segundo noticiou o New York Times, ele vomitou “repetidas alegações, desmentidas por autoridades locais, de que Aurora tinha sido ‘invadida e conquistada’, descreveu os Estados Unidos como um ‘Estado ocupado’ (…) e ressuscitou a promessa de usar a Lei dos Estrangeiros Inimigos, de 1798, para deportar suspeitos de integrar cartéis de narcotráfico e gangues criminosas sem o devido processo”. Ele continuou a demonizar os imigrantes haitianos em Springfield, Ohio.

Em Detroit, como costuma fazer em muitas localidades com grandes números de eleitores afro-americanos, ele esculhambou a cidade. (O país inteiro ficará como — vocês querem a verdade? — ficará como Detroit”, afirmou ele. “Nosso país inteiro acabará como Detroit se ela virar presidente. Vamos ficar com uma encrenca nas mãos.”)

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O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa de um comício em Atlanta, Geórgia  Foto: Kevin Dietsch/AFP

Independentemente de onde está, Trump invoca o espectro de uma horda não branca substituindo os brancos. Os imigrantes ilegais são “maus”, estão “roubando seus empregos” e têm “genes ruins”. Comentaristas de direita, republicanos que ocupam cargos eletivos e a maioria dos candidatos republicanos de menos calão não se abalam nem denunciam o racismo sem precedentes na história recente das eleições presidenciais americanas. Os meios de comunicação do mainstream começaram a expor o racismo de Trump (às vezes levemente disfarçado com terminologias imprecisas) nas manchetes.

A não ser para instigar ódio, medo e ressentimentos em sua base branca, por que ele faria isso? E, em particular, por que ele vai a cidades e comunidades insultá-las presencialmente?

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Para começar, Trump demonstrou posições racistas consistentemente ao longo de sua carreira. Ele pode ter recuado quanto ao aborto, mas a animosidade racial parece ter impregnado sua psique. Seja sendo processado por se recusar a alugar para afro-americanos, demonizando os 5 inocentes do Central Park, promovendo a teoria conspiratória sobre o local de nascimento do primeiro presidente negro dos EUA para deslegitimá-lo, anunciando sua entrada na política difamando imigrantes e classificando-os como homicidas e ladrões, recusando-se a denunciar nacionalistas brancos em um debate de 2016, referindo-se a países de maioria não branca como “lugares de merda” ou culpando os judeus antecipadamente por sua derrota, Trump nunca se afastou de um fluxo constante de racismo, xenofobia e antissemitismo. Seus exageros sobre a criminalidade nas grandes cidades são um aceno codificado para o racismo; sua mentirosa “onda de crimes de imigrantes” é um megafone racista. Eis o que ele é.

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, gesticula durante um compromisso de campanha em Atlanta, Geórgia  Foto: Kevin Dietsch/AFP

Da mesma forma que outros sujeitos autoritários, Trump usa o racismo instrumentalmente como parte de seu ataque contra a democracia e sua busca para se tornar “ditador no primeiro dia”. O general aposentado Mark Milley disse a Bob Woodward que Trump é “fascista na essência”. Milley aprendeu com sua experiência em primeira mão. Trump acionou uma turba violenta em 6 de janeiro de 2021 e ainda usa com frequência a ameaça da violência; quis disparar contra manifestantes civis; usa minorias como bode-expiatório; se vale de teorias conspiratórias para aterrorizar as massas; se identifica com ditadores e os elogia.

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Sejam os fascistas dos anos 30, o indiano Narendra Modi (marginalizando muçulmanos), o chinês Xi Jinping (perseguindo uigures) ou o russo Vladimir Putin (tentando erradicar a Ucrânia), os sujeitos autoritários inevitavelmente arregimentam o poder do Estado contra algum grupo minoritário que eles culpam pelos males da sociedade. Sob a alegação de proteger seu país de alguma ameaça virulenta, qualquer coisa é justificável.

A historiadora Ruth Ben-Ghiat disse ao Politico que Trump tem “levado os americanos e seus seguidores em uma jornada, realmente, desde 2015, condicionando-os (…) passo a passo, instigando ódio em um grupo e depois escalando”. Ela explicou que, na visão de Trump, “imigrantes são o crime. Imigrantes são a anarquia. Eles estão roubando seus empregos e agora são também animais que vão nos matar, devorar nossos bichos de estimação ou até devorar-nos. É assim que você faz as pessoas sentirem que qualquer coisa que fizerem com os imigrantes — como deportações em massa, arrebanhá-los, colocá-los em campos de detenção — é OK”.

Donald Trump participa de um comício em Walker, Michigan  Foto: Carlos Osorio/AP
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Além disso, para Trump o racismo é crucial para sua supressão de eleitores e seu negacionismo eleitoral. A série de leis de supressão de eleitores que se seguiu ao 6 de Janeiro afetando desproporcionalmente pessoas não brancas, mirando cidades de Estados indefinidos com grandes eleitorados negros em 2020 (Detroit e Filadélfia), os ataques contra funcionários eleitorais negros e as atuais alegações de que milhões de imigrantes indocumentados votarão têm um propósito em comum.

Trump e seus seguidores querem retirar pessoas não brancas do eleitorado americano (os não “americanos de verdade”) e denunciar fraudes com base em acusações inconsistentes quando seus candidatos perderem. Se os não brancos não forem americanos “de verdade” ou ficarem no caminho de brancos almejando ou retendo o poder, dificultar-lhes o voto (ou não contar seus votos) — e remover imigrantes sob a mera suspeita de eles serem ilegais — é justificável.

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Não é coincidência que nas semanas finais da campanha Trump retorne para a disputa. Seu racismo, sua xenofobia e seu antissemitismo não são incidentais em sua campanha (o que importa é cortar impostos!). São, em vez disso, elementos centrais em sua personalidade e seu movimento político. Quem vota em Trump, o viabiliza ou normaliza deve ser responsabilizado pelo movimento que ameaça destruir a democracia pluralista. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O ex-presidente Donald Trump assumiu-se completamente racista (ou “nativista”, como alguns meios de imprensa o descrevem delicadamente). Em Aurora, Colorado, segundo noticiou o New York Times, ele vomitou “repetidas alegações, desmentidas por autoridades locais, de que Aurora tinha sido ‘invadida e conquistada’, descreveu os Estados Unidos como um ‘Estado ocupado’ (…) e ressuscitou a promessa de usar a Lei dos Estrangeiros Inimigos, de 1798, para deportar suspeitos de integrar cartéis de narcotráfico e gangues criminosas sem o devido processo”. Ele continuou a demonizar os imigrantes haitianos em Springfield, Ohio.

Em Detroit, como costuma fazer em muitas localidades com grandes números de eleitores afro-americanos, ele esculhambou a cidade. (O país inteiro ficará como — vocês querem a verdade? — ficará como Detroit”, afirmou ele. “Nosso país inteiro acabará como Detroit se ela virar presidente. Vamos ficar com uma encrenca nas mãos.”)

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa de um comício em Atlanta, Geórgia  Foto: Kevin Dietsch/AFP

Independentemente de onde está, Trump invoca o espectro de uma horda não branca substituindo os brancos. Os imigrantes ilegais são “maus”, estão “roubando seus empregos” e têm “genes ruins”. Comentaristas de direita, republicanos que ocupam cargos eletivos e a maioria dos candidatos republicanos de menos calão não se abalam nem denunciam o racismo sem precedentes na história recente das eleições presidenciais americanas. Os meios de comunicação do mainstream começaram a expor o racismo de Trump (às vezes levemente disfarçado com terminologias imprecisas) nas manchetes.

A não ser para instigar ódio, medo e ressentimentos em sua base branca, por que ele faria isso? E, em particular, por que ele vai a cidades e comunidades insultá-las presencialmente?

Para começar, Trump demonstrou posições racistas consistentemente ao longo de sua carreira. Ele pode ter recuado quanto ao aborto, mas a animosidade racial parece ter impregnado sua psique. Seja sendo processado por se recusar a alugar para afro-americanos, demonizando os 5 inocentes do Central Park, promovendo a teoria conspiratória sobre o local de nascimento do primeiro presidente negro dos EUA para deslegitimá-lo, anunciando sua entrada na política difamando imigrantes e classificando-os como homicidas e ladrões, recusando-se a denunciar nacionalistas brancos em um debate de 2016, referindo-se a países de maioria não branca como “lugares de merda” ou culpando os judeus antecipadamente por sua derrota, Trump nunca se afastou de um fluxo constante de racismo, xenofobia e antissemitismo. Seus exageros sobre a criminalidade nas grandes cidades são um aceno codificado para o racismo; sua mentirosa “onda de crimes de imigrantes” é um megafone racista. Eis o que ele é.

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, gesticula durante um compromisso de campanha em Atlanta, Geórgia  Foto: Kevin Dietsch/AFP

Da mesma forma que outros sujeitos autoritários, Trump usa o racismo instrumentalmente como parte de seu ataque contra a democracia e sua busca para se tornar “ditador no primeiro dia”. O general aposentado Mark Milley disse a Bob Woodward que Trump é “fascista na essência”. Milley aprendeu com sua experiência em primeira mão. Trump acionou uma turba violenta em 6 de janeiro de 2021 e ainda usa com frequência a ameaça da violência; quis disparar contra manifestantes civis; usa minorias como bode-expiatório; se vale de teorias conspiratórias para aterrorizar as massas; se identifica com ditadores e os elogia.

Sejam os fascistas dos anos 30, o indiano Narendra Modi (marginalizando muçulmanos), o chinês Xi Jinping (perseguindo uigures) ou o russo Vladimir Putin (tentando erradicar a Ucrânia), os sujeitos autoritários inevitavelmente arregimentam o poder do Estado contra algum grupo minoritário que eles culpam pelos males da sociedade. Sob a alegação de proteger seu país de alguma ameaça virulenta, qualquer coisa é justificável.

A historiadora Ruth Ben-Ghiat disse ao Politico que Trump tem “levado os americanos e seus seguidores em uma jornada, realmente, desde 2015, condicionando-os (…) passo a passo, instigando ódio em um grupo e depois escalando”. Ela explicou que, na visão de Trump, “imigrantes são o crime. Imigrantes são a anarquia. Eles estão roubando seus empregos e agora são também animais que vão nos matar, devorar nossos bichos de estimação ou até devorar-nos. É assim que você faz as pessoas sentirem que qualquer coisa que fizerem com os imigrantes — como deportações em massa, arrebanhá-los, colocá-los em campos de detenção — é OK”.

Donald Trump participa de um comício em Walker, Michigan  Foto: Carlos Osorio/AP

Além disso, para Trump o racismo é crucial para sua supressão de eleitores e seu negacionismo eleitoral. A série de leis de supressão de eleitores que se seguiu ao 6 de Janeiro afetando desproporcionalmente pessoas não brancas, mirando cidades de Estados indefinidos com grandes eleitorados negros em 2020 (Detroit e Filadélfia), os ataques contra funcionários eleitorais negros e as atuais alegações de que milhões de imigrantes indocumentados votarão têm um propósito em comum.

Trump e seus seguidores querem retirar pessoas não brancas do eleitorado americano (os não “americanos de verdade”) e denunciar fraudes com base em acusações inconsistentes quando seus candidatos perderem. Se os não brancos não forem americanos “de verdade” ou ficarem no caminho de brancos almejando ou retendo o poder, dificultar-lhes o voto (ou não contar seus votos) — e remover imigrantes sob a mera suspeita de eles serem ilegais — é justificável.

Não é coincidência que nas semanas finais da campanha Trump retorne para a disputa. Seu racismo, sua xenofobia e seu antissemitismo não são incidentais em sua campanha (o que importa é cortar impostos!). São, em vez disso, elementos centrais em sua personalidade e seu movimento político. Quem vota em Trump, o viabiliza ou normaliza deve ser responsabilizado pelo movimento que ameaça destruir a democracia pluralista. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O ex-presidente Donald Trump assumiu-se completamente racista (ou “nativista”, como alguns meios de imprensa o descrevem delicadamente). Em Aurora, Colorado, segundo noticiou o New York Times, ele vomitou “repetidas alegações, desmentidas por autoridades locais, de que Aurora tinha sido ‘invadida e conquistada’, descreveu os Estados Unidos como um ‘Estado ocupado’ (…) e ressuscitou a promessa de usar a Lei dos Estrangeiros Inimigos, de 1798, para deportar suspeitos de integrar cartéis de narcotráfico e gangues criminosas sem o devido processo”. Ele continuou a demonizar os imigrantes haitianos em Springfield, Ohio.

Em Detroit, como costuma fazer em muitas localidades com grandes números de eleitores afro-americanos, ele esculhambou a cidade. (O país inteiro ficará como — vocês querem a verdade? — ficará como Detroit”, afirmou ele. “Nosso país inteiro acabará como Detroit se ela virar presidente. Vamos ficar com uma encrenca nas mãos.”)

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa de um comício em Atlanta, Geórgia  Foto: Kevin Dietsch/AFP

Independentemente de onde está, Trump invoca o espectro de uma horda não branca substituindo os brancos. Os imigrantes ilegais são “maus”, estão “roubando seus empregos” e têm “genes ruins”. Comentaristas de direita, republicanos que ocupam cargos eletivos e a maioria dos candidatos republicanos de menos calão não se abalam nem denunciam o racismo sem precedentes na história recente das eleições presidenciais americanas. Os meios de comunicação do mainstream começaram a expor o racismo de Trump (às vezes levemente disfarçado com terminologias imprecisas) nas manchetes.

A não ser para instigar ódio, medo e ressentimentos em sua base branca, por que ele faria isso? E, em particular, por que ele vai a cidades e comunidades insultá-las presencialmente?

Para começar, Trump demonstrou posições racistas consistentemente ao longo de sua carreira. Ele pode ter recuado quanto ao aborto, mas a animosidade racial parece ter impregnado sua psique. Seja sendo processado por se recusar a alugar para afro-americanos, demonizando os 5 inocentes do Central Park, promovendo a teoria conspiratória sobre o local de nascimento do primeiro presidente negro dos EUA para deslegitimá-lo, anunciando sua entrada na política difamando imigrantes e classificando-os como homicidas e ladrões, recusando-se a denunciar nacionalistas brancos em um debate de 2016, referindo-se a países de maioria não branca como “lugares de merda” ou culpando os judeus antecipadamente por sua derrota, Trump nunca se afastou de um fluxo constante de racismo, xenofobia e antissemitismo. Seus exageros sobre a criminalidade nas grandes cidades são um aceno codificado para o racismo; sua mentirosa “onda de crimes de imigrantes” é um megafone racista. Eis o que ele é.

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, gesticula durante um compromisso de campanha em Atlanta, Geórgia  Foto: Kevin Dietsch/AFP

Da mesma forma que outros sujeitos autoritários, Trump usa o racismo instrumentalmente como parte de seu ataque contra a democracia e sua busca para se tornar “ditador no primeiro dia”. O general aposentado Mark Milley disse a Bob Woodward que Trump é “fascista na essência”. Milley aprendeu com sua experiência em primeira mão. Trump acionou uma turba violenta em 6 de janeiro de 2021 e ainda usa com frequência a ameaça da violência; quis disparar contra manifestantes civis; usa minorias como bode-expiatório; se vale de teorias conspiratórias para aterrorizar as massas; se identifica com ditadores e os elogia.

Sejam os fascistas dos anos 30, o indiano Narendra Modi (marginalizando muçulmanos), o chinês Xi Jinping (perseguindo uigures) ou o russo Vladimir Putin (tentando erradicar a Ucrânia), os sujeitos autoritários inevitavelmente arregimentam o poder do Estado contra algum grupo minoritário que eles culpam pelos males da sociedade. Sob a alegação de proteger seu país de alguma ameaça virulenta, qualquer coisa é justificável.

A historiadora Ruth Ben-Ghiat disse ao Politico que Trump tem “levado os americanos e seus seguidores em uma jornada, realmente, desde 2015, condicionando-os (…) passo a passo, instigando ódio em um grupo e depois escalando”. Ela explicou que, na visão de Trump, “imigrantes são o crime. Imigrantes são a anarquia. Eles estão roubando seus empregos e agora são também animais que vão nos matar, devorar nossos bichos de estimação ou até devorar-nos. É assim que você faz as pessoas sentirem que qualquer coisa que fizerem com os imigrantes — como deportações em massa, arrebanhá-los, colocá-los em campos de detenção — é OK”.

Donald Trump participa de um comício em Walker, Michigan  Foto: Carlos Osorio/AP

Além disso, para Trump o racismo é crucial para sua supressão de eleitores e seu negacionismo eleitoral. A série de leis de supressão de eleitores que se seguiu ao 6 de Janeiro afetando desproporcionalmente pessoas não brancas, mirando cidades de Estados indefinidos com grandes eleitorados negros em 2020 (Detroit e Filadélfia), os ataques contra funcionários eleitorais negros e as atuais alegações de que milhões de imigrantes indocumentados votarão têm um propósito em comum.

Trump e seus seguidores querem retirar pessoas não brancas do eleitorado americano (os não “americanos de verdade”) e denunciar fraudes com base em acusações inconsistentes quando seus candidatos perderem. Se os não brancos não forem americanos “de verdade” ou ficarem no caminho de brancos almejando ou retendo o poder, dificultar-lhes o voto (ou não contar seus votos) — e remover imigrantes sob a mera suspeita de eles serem ilegais — é justificável.

Não é coincidência que nas semanas finais da campanha Trump retorne para a disputa. Seu racismo, sua xenofobia e seu antissemitismo não são incidentais em sua campanha (o que importa é cortar impostos!). São, em vez disso, elementos centrais em sua personalidade e seu movimento político. Quem vota em Trump, o viabiliza ou normaliza deve ser responsabilizado pelo movimento que ameaça destruir a democracia pluralista. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

O ex-presidente Donald Trump assumiu-se completamente racista (ou “nativista”, como alguns meios de imprensa o descrevem delicadamente). Em Aurora, Colorado, segundo noticiou o New York Times, ele vomitou “repetidas alegações, desmentidas por autoridades locais, de que Aurora tinha sido ‘invadida e conquistada’, descreveu os Estados Unidos como um ‘Estado ocupado’ (…) e ressuscitou a promessa de usar a Lei dos Estrangeiros Inimigos, de 1798, para deportar suspeitos de integrar cartéis de narcotráfico e gangues criminosas sem o devido processo”. Ele continuou a demonizar os imigrantes haitianos em Springfield, Ohio.

Em Detroit, como costuma fazer em muitas localidades com grandes números de eleitores afro-americanos, ele esculhambou a cidade. (O país inteiro ficará como — vocês querem a verdade? — ficará como Detroit”, afirmou ele. “Nosso país inteiro acabará como Detroit se ela virar presidente. Vamos ficar com uma encrenca nas mãos.”)

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa de um comício em Atlanta, Geórgia  Foto: Kevin Dietsch/AFP

Independentemente de onde está, Trump invoca o espectro de uma horda não branca substituindo os brancos. Os imigrantes ilegais são “maus”, estão “roubando seus empregos” e têm “genes ruins”. Comentaristas de direita, republicanos que ocupam cargos eletivos e a maioria dos candidatos republicanos de menos calão não se abalam nem denunciam o racismo sem precedentes na história recente das eleições presidenciais americanas. Os meios de comunicação do mainstream começaram a expor o racismo de Trump (às vezes levemente disfarçado com terminologias imprecisas) nas manchetes.

A não ser para instigar ódio, medo e ressentimentos em sua base branca, por que ele faria isso? E, em particular, por que ele vai a cidades e comunidades insultá-las presencialmente?

Para começar, Trump demonstrou posições racistas consistentemente ao longo de sua carreira. Ele pode ter recuado quanto ao aborto, mas a animosidade racial parece ter impregnado sua psique. Seja sendo processado por se recusar a alugar para afro-americanos, demonizando os 5 inocentes do Central Park, promovendo a teoria conspiratória sobre o local de nascimento do primeiro presidente negro dos EUA para deslegitimá-lo, anunciando sua entrada na política difamando imigrantes e classificando-os como homicidas e ladrões, recusando-se a denunciar nacionalistas brancos em um debate de 2016, referindo-se a países de maioria não branca como “lugares de merda” ou culpando os judeus antecipadamente por sua derrota, Trump nunca se afastou de um fluxo constante de racismo, xenofobia e antissemitismo. Seus exageros sobre a criminalidade nas grandes cidades são um aceno codificado para o racismo; sua mentirosa “onda de crimes de imigrantes” é um megafone racista. Eis o que ele é.

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, gesticula durante um compromisso de campanha em Atlanta, Geórgia  Foto: Kevin Dietsch/AFP

Da mesma forma que outros sujeitos autoritários, Trump usa o racismo instrumentalmente como parte de seu ataque contra a democracia e sua busca para se tornar “ditador no primeiro dia”. O general aposentado Mark Milley disse a Bob Woodward que Trump é “fascista na essência”. Milley aprendeu com sua experiência em primeira mão. Trump acionou uma turba violenta em 6 de janeiro de 2021 e ainda usa com frequência a ameaça da violência; quis disparar contra manifestantes civis; usa minorias como bode-expiatório; se vale de teorias conspiratórias para aterrorizar as massas; se identifica com ditadores e os elogia.

Sejam os fascistas dos anos 30, o indiano Narendra Modi (marginalizando muçulmanos), o chinês Xi Jinping (perseguindo uigures) ou o russo Vladimir Putin (tentando erradicar a Ucrânia), os sujeitos autoritários inevitavelmente arregimentam o poder do Estado contra algum grupo minoritário que eles culpam pelos males da sociedade. Sob a alegação de proteger seu país de alguma ameaça virulenta, qualquer coisa é justificável.

A historiadora Ruth Ben-Ghiat disse ao Politico que Trump tem “levado os americanos e seus seguidores em uma jornada, realmente, desde 2015, condicionando-os (…) passo a passo, instigando ódio em um grupo e depois escalando”. Ela explicou que, na visão de Trump, “imigrantes são o crime. Imigrantes são a anarquia. Eles estão roubando seus empregos e agora são também animais que vão nos matar, devorar nossos bichos de estimação ou até devorar-nos. É assim que você faz as pessoas sentirem que qualquer coisa que fizerem com os imigrantes — como deportações em massa, arrebanhá-los, colocá-los em campos de detenção — é OK”.

Donald Trump participa de um comício em Walker, Michigan  Foto: Carlos Osorio/AP

Além disso, para Trump o racismo é crucial para sua supressão de eleitores e seu negacionismo eleitoral. A série de leis de supressão de eleitores que se seguiu ao 6 de Janeiro afetando desproporcionalmente pessoas não brancas, mirando cidades de Estados indefinidos com grandes eleitorados negros em 2020 (Detroit e Filadélfia), os ataques contra funcionários eleitorais negros e as atuais alegações de que milhões de imigrantes indocumentados votarão têm um propósito em comum.

Trump e seus seguidores querem retirar pessoas não brancas do eleitorado americano (os não “americanos de verdade”) e denunciar fraudes com base em acusações inconsistentes quando seus candidatos perderem. Se os não brancos não forem americanos “de verdade” ou ficarem no caminho de brancos almejando ou retendo o poder, dificultar-lhes o voto (ou não contar seus votos) — e remover imigrantes sob a mera suspeita de eles serem ilegais — é justificável.

Não é coincidência que nas semanas finais da campanha Trump retorne para a disputa. Seu racismo, sua xenofobia e seu antissemitismo não são incidentais em sua campanha (o que importa é cortar impostos!). São, em vez disso, elementos centrais em sua personalidade e seu movimento político. Quem vota em Trump, o viabiliza ou normaliza deve ser responsabilizado pelo movimento que ameaça destruir a democracia pluralista. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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