Opinião|Posicionamento de Trump em relação ao aborto vai dificultar sua eleição em 2024


Líder republicano defendeu que decisão cabe aos Estados, afastou apoio à proibição nacional e foi criticado por conservadores

Por Eugene Robinson

O mais recente posicionamento de Donald Trump em relação ao aborto é, basicamente, “tanto faz”. Se ativistas antiaborto pensavam que ele estava genuinamente de seu lado, deveriam ter prestado mais atenção.

Anteriormente este ano, Trump gabava-se frequentemente por ter indicado três ministros antiaborto à Suprema Corte, que alteraram o equilíbrio ideológico do tribunal e reverteram Roe versus Wade, que estabelecia uma jurisprudência que vigorou como lei por quase meio século. “Eu fiz isso e estou orgulhoso de ter feito isso”, afirmou Trump em janeiro em um evento com eleitores organizado pela Fox News.

Mas agora ele tem se mostrado incomumente reservado em relação ao assunto. Trump quer convencer eleitores de que não representa mais nenhuma ameaça a direitos ao aborto — esperando que ignorem o fato de que esses direitos foram apagados em grande parte do país graças ao ex-presidente. Os democratas não devem deixá-lo sair-se bem com esse estratagema cínico, que ele reconheceu ser projetado para “ganhar as eleições”.

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Em um vídeo postado em redes sociais na segunda-feira, Trump disse que cabe aos Estados decidir se restringem ou como restringem o aborto. Ele repete parte da retórica do movimento antiaborto a respeito da preciosidade da vida e profere uma mentira ultrajante a respeito de ativistas pró-escolha apoiarem o infanticídio, mas sua conclusão é que cada Estado deveria decidir por si só.

Donald Trump discursa em evento de campanha em Michigan, 2 de abril de 2024. Foto: Paul Sancya/Associeted Press

Grupos pró-vida estavam insistindo para Trump apoiar uma lei federal, e nos meses recentes parecia que o ex-presidente viria a público defender um banimento nacional ao aborto após 15 semanas de gestação. O que ocasionou a mudança para o posicionamento “deixem por conta dos Estados”? Aposto que tem muito a ver com o que está acontecendo em um Estado em particular — o Estado onde Trump atende seus vassalos em sua lúgubre propriedade em Mar-a-Lago.

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A história começa com o governador da Flórida, Ron DeSantis (republicano) — “Ron, o Santinho”, segundo Trump — que, por ter desejado virar presidente, pressionou a legislatura estadual sob controle republicano a aprovar o banimento do aborto após 15 semanas de gestação. Então, após Roe versus Wade ser derrubado, DeSantis — que desejava muito, muito mesmo virar presidente — fez a legislatura aprovar um banimento ainda mais draconiano, para abortos após a sexta semana de gestação.

Nenhuma medida passou a vigorar imediatamente, carecendo de revisão da Justiça. Mas na semana passada a Suprema Corte da Flórida — cuja maioria dos membros foi nomeada por DeSantis — decidiu favoravelmente às novas restrições. O banimento ao aborto após 15 semanas de gestação vigora atualmente na Flórida, mas só até 1.º de maio, quando o banimento após seis semanas o substituirá. No terceiro Estado americano mais populoso, o direito à escolha passará a ser de fato coisa do passado.

Mas também talvez coisa do futuro: em um caso separado, a Justiça da Flórida aprovou um referendo durante as eleições de novembro que poderia reinstituir os direitos ao aborto incluindo-os na Constituição do Estado. Do ponto de vista de Trump: ops.

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Ativistas contrários ao aborto celebram decisão que derrubou Roe versus Wade em frente à Suprema Corte, Washington, 24 de junho de 2022.  Foto: Shuran Huang/The New York Times

Desde a queda de Roe versus Wade, votações para garantir o direito ao aborto foram aprovadas em todas as circunscrições em que foram propostas — mesmo em Estados profundamente republicanos como Kansas e Kentucky. Em Ohio, os cidadãos aniquilaram um banimento quase total ao aborto aprovando de lavada, por 56,6% contra 43,4%, a proteção do “direito ao aborto até a viabilidade fetal, que ocorre por volta da 24.ª semana. Esses referendos tendem a atrair às urnas em grandes números democratas e independentes defensores do direito à escolha.

Tem se assumido que a disputa entre o presidente Joe Biden e Trump será decidida entre os Estados comumente indecisos — Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Nevada, Arizona, Geórgia e Carolina do Norte. Mas também tem se assumido que Trump não terá um caminho plausível sem os valiosos 30 votos eleitorais da Flórida. Não há garantia de que o referendo sobre o aborto impulsionará o entusiasmo democrata e seu comparecimento às urnas o suficiente para colocar a Flórida em jogo. Mas se os eleitores de outros Estados republicanos servem como algum indicativo, nada garante que não.

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O que está garantido? Que a tentativa de Trump de se distanciar da questão do aborto não funcionará.

Como de costume, Trump está tentando ganhar duas vezes, assumindo o crédito por acabar com Roe versus Wade ao mesmo tempo que lava as mãos em relação às consequências. Isso pode funcionar em algumas questões, mas não a respeito do aborto. Para os ativistas que se opõem convictamente ao aborto porque acreditam que o ato é assassinato — cujo apoio é vital para candidatos republicanos, incluindo Trump — uma abordagem Estado a Estado não é suficiente. Um grupo proeminente, Susan B. Anthony Pro-Life America, classificou a nova posição de Trump como “profundamente” decepcionante.

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Trump terá de explicar para esses eleitores por que agora se opõe a qualquer tipo de banimento nacional. E poderá continuar a dizer a esses apoiadores o quanto se orgulha por ter retirado direitos reprodutivos das mulheres. Mas o restante de nós — e a maioria apoia os direitos ao aborto — estará escutando.

Trump pode simplesmente parar de falar a respeito do aborto. Seu problema é que Biden não vai parar. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

O mais recente posicionamento de Donald Trump em relação ao aborto é, basicamente, “tanto faz”. Se ativistas antiaborto pensavam que ele estava genuinamente de seu lado, deveriam ter prestado mais atenção.

Anteriormente este ano, Trump gabava-se frequentemente por ter indicado três ministros antiaborto à Suprema Corte, que alteraram o equilíbrio ideológico do tribunal e reverteram Roe versus Wade, que estabelecia uma jurisprudência que vigorou como lei por quase meio século. “Eu fiz isso e estou orgulhoso de ter feito isso”, afirmou Trump em janeiro em um evento com eleitores organizado pela Fox News.

Mas agora ele tem se mostrado incomumente reservado em relação ao assunto. Trump quer convencer eleitores de que não representa mais nenhuma ameaça a direitos ao aborto — esperando que ignorem o fato de que esses direitos foram apagados em grande parte do país graças ao ex-presidente. Os democratas não devem deixá-lo sair-se bem com esse estratagema cínico, que ele reconheceu ser projetado para “ganhar as eleições”.

Em um vídeo postado em redes sociais na segunda-feira, Trump disse que cabe aos Estados decidir se restringem ou como restringem o aborto. Ele repete parte da retórica do movimento antiaborto a respeito da preciosidade da vida e profere uma mentira ultrajante a respeito de ativistas pró-escolha apoiarem o infanticídio, mas sua conclusão é que cada Estado deveria decidir por si só.

Donald Trump discursa em evento de campanha em Michigan, 2 de abril de 2024. Foto: Paul Sancya/Associeted Press

Grupos pró-vida estavam insistindo para Trump apoiar uma lei federal, e nos meses recentes parecia que o ex-presidente viria a público defender um banimento nacional ao aborto após 15 semanas de gestação. O que ocasionou a mudança para o posicionamento “deixem por conta dos Estados”? Aposto que tem muito a ver com o que está acontecendo em um Estado em particular — o Estado onde Trump atende seus vassalos em sua lúgubre propriedade em Mar-a-Lago.

A história começa com o governador da Flórida, Ron DeSantis (republicano) — “Ron, o Santinho”, segundo Trump — que, por ter desejado virar presidente, pressionou a legislatura estadual sob controle republicano a aprovar o banimento do aborto após 15 semanas de gestação. Então, após Roe versus Wade ser derrubado, DeSantis — que desejava muito, muito mesmo virar presidente — fez a legislatura aprovar um banimento ainda mais draconiano, para abortos após a sexta semana de gestação.

Nenhuma medida passou a vigorar imediatamente, carecendo de revisão da Justiça. Mas na semana passada a Suprema Corte da Flórida — cuja maioria dos membros foi nomeada por DeSantis — decidiu favoravelmente às novas restrições. O banimento ao aborto após 15 semanas de gestação vigora atualmente na Flórida, mas só até 1.º de maio, quando o banimento após seis semanas o substituirá. No terceiro Estado americano mais populoso, o direito à escolha passará a ser de fato coisa do passado.

Mas também talvez coisa do futuro: em um caso separado, a Justiça da Flórida aprovou um referendo durante as eleições de novembro que poderia reinstituir os direitos ao aborto incluindo-os na Constituição do Estado. Do ponto de vista de Trump: ops.

Ativistas contrários ao aborto celebram decisão que derrubou Roe versus Wade em frente à Suprema Corte, Washington, 24 de junho de 2022.  Foto: Shuran Huang/The New York Times

Desde a queda de Roe versus Wade, votações para garantir o direito ao aborto foram aprovadas em todas as circunscrições em que foram propostas — mesmo em Estados profundamente republicanos como Kansas e Kentucky. Em Ohio, os cidadãos aniquilaram um banimento quase total ao aborto aprovando de lavada, por 56,6% contra 43,4%, a proteção do “direito ao aborto até a viabilidade fetal, que ocorre por volta da 24.ª semana. Esses referendos tendem a atrair às urnas em grandes números democratas e independentes defensores do direito à escolha.

Tem se assumido que a disputa entre o presidente Joe Biden e Trump será decidida entre os Estados comumente indecisos — Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Nevada, Arizona, Geórgia e Carolina do Norte. Mas também tem se assumido que Trump não terá um caminho plausível sem os valiosos 30 votos eleitorais da Flórida. Não há garantia de que o referendo sobre o aborto impulsionará o entusiasmo democrata e seu comparecimento às urnas o suficiente para colocar a Flórida em jogo. Mas se os eleitores de outros Estados republicanos servem como algum indicativo, nada garante que não.

O que está garantido? Que a tentativa de Trump de se distanciar da questão do aborto não funcionará.

Como de costume, Trump está tentando ganhar duas vezes, assumindo o crédito por acabar com Roe versus Wade ao mesmo tempo que lava as mãos em relação às consequências. Isso pode funcionar em algumas questões, mas não a respeito do aborto. Para os ativistas que se opõem convictamente ao aborto porque acreditam que o ato é assassinato — cujo apoio é vital para candidatos republicanos, incluindo Trump — uma abordagem Estado a Estado não é suficiente. Um grupo proeminente, Susan B. Anthony Pro-Life America, classificou a nova posição de Trump como “profundamente” decepcionante.

Trump terá de explicar para esses eleitores por que agora se opõe a qualquer tipo de banimento nacional. E poderá continuar a dizer a esses apoiadores o quanto se orgulha por ter retirado direitos reprodutivos das mulheres. Mas o restante de nós — e a maioria apoia os direitos ao aborto — estará escutando.

Trump pode simplesmente parar de falar a respeito do aborto. Seu problema é que Biden não vai parar. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

O mais recente posicionamento de Donald Trump em relação ao aborto é, basicamente, “tanto faz”. Se ativistas antiaborto pensavam que ele estava genuinamente de seu lado, deveriam ter prestado mais atenção.

Anteriormente este ano, Trump gabava-se frequentemente por ter indicado três ministros antiaborto à Suprema Corte, que alteraram o equilíbrio ideológico do tribunal e reverteram Roe versus Wade, que estabelecia uma jurisprudência que vigorou como lei por quase meio século. “Eu fiz isso e estou orgulhoso de ter feito isso”, afirmou Trump em janeiro em um evento com eleitores organizado pela Fox News.

Mas agora ele tem se mostrado incomumente reservado em relação ao assunto. Trump quer convencer eleitores de que não representa mais nenhuma ameaça a direitos ao aborto — esperando que ignorem o fato de que esses direitos foram apagados em grande parte do país graças ao ex-presidente. Os democratas não devem deixá-lo sair-se bem com esse estratagema cínico, que ele reconheceu ser projetado para “ganhar as eleições”.

Em um vídeo postado em redes sociais na segunda-feira, Trump disse que cabe aos Estados decidir se restringem ou como restringem o aborto. Ele repete parte da retórica do movimento antiaborto a respeito da preciosidade da vida e profere uma mentira ultrajante a respeito de ativistas pró-escolha apoiarem o infanticídio, mas sua conclusão é que cada Estado deveria decidir por si só.

Donald Trump discursa em evento de campanha em Michigan, 2 de abril de 2024. Foto: Paul Sancya/Associeted Press

Grupos pró-vida estavam insistindo para Trump apoiar uma lei federal, e nos meses recentes parecia que o ex-presidente viria a público defender um banimento nacional ao aborto após 15 semanas de gestação. O que ocasionou a mudança para o posicionamento “deixem por conta dos Estados”? Aposto que tem muito a ver com o que está acontecendo em um Estado em particular — o Estado onde Trump atende seus vassalos em sua lúgubre propriedade em Mar-a-Lago.

A história começa com o governador da Flórida, Ron DeSantis (republicano) — “Ron, o Santinho”, segundo Trump — que, por ter desejado virar presidente, pressionou a legislatura estadual sob controle republicano a aprovar o banimento do aborto após 15 semanas de gestação. Então, após Roe versus Wade ser derrubado, DeSantis — que desejava muito, muito mesmo virar presidente — fez a legislatura aprovar um banimento ainda mais draconiano, para abortos após a sexta semana de gestação.

Nenhuma medida passou a vigorar imediatamente, carecendo de revisão da Justiça. Mas na semana passada a Suprema Corte da Flórida — cuja maioria dos membros foi nomeada por DeSantis — decidiu favoravelmente às novas restrições. O banimento ao aborto após 15 semanas de gestação vigora atualmente na Flórida, mas só até 1.º de maio, quando o banimento após seis semanas o substituirá. No terceiro Estado americano mais populoso, o direito à escolha passará a ser de fato coisa do passado.

Mas também talvez coisa do futuro: em um caso separado, a Justiça da Flórida aprovou um referendo durante as eleições de novembro que poderia reinstituir os direitos ao aborto incluindo-os na Constituição do Estado. Do ponto de vista de Trump: ops.

Ativistas contrários ao aborto celebram decisão que derrubou Roe versus Wade em frente à Suprema Corte, Washington, 24 de junho de 2022.  Foto: Shuran Huang/The New York Times

Desde a queda de Roe versus Wade, votações para garantir o direito ao aborto foram aprovadas em todas as circunscrições em que foram propostas — mesmo em Estados profundamente republicanos como Kansas e Kentucky. Em Ohio, os cidadãos aniquilaram um banimento quase total ao aborto aprovando de lavada, por 56,6% contra 43,4%, a proteção do “direito ao aborto até a viabilidade fetal, que ocorre por volta da 24.ª semana. Esses referendos tendem a atrair às urnas em grandes números democratas e independentes defensores do direito à escolha.

Tem se assumido que a disputa entre o presidente Joe Biden e Trump será decidida entre os Estados comumente indecisos — Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Nevada, Arizona, Geórgia e Carolina do Norte. Mas também tem se assumido que Trump não terá um caminho plausível sem os valiosos 30 votos eleitorais da Flórida. Não há garantia de que o referendo sobre o aborto impulsionará o entusiasmo democrata e seu comparecimento às urnas o suficiente para colocar a Flórida em jogo. Mas se os eleitores de outros Estados republicanos servem como algum indicativo, nada garante que não.

O que está garantido? Que a tentativa de Trump de se distanciar da questão do aborto não funcionará.

Como de costume, Trump está tentando ganhar duas vezes, assumindo o crédito por acabar com Roe versus Wade ao mesmo tempo que lava as mãos em relação às consequências. Isso pode funcionar em algumas questões, mas não a respeito do aborto. Para os ativistas que se opõem convictamente ao aborto porque acreditam que o ato é assassinato — cujo apoio é vital para candidatos republicanos, incluindo Trump — uma abordagem Estado a Estado não é suficiente. Um grupo proeminente, Susan B. Anthony Pro-Life America, classificou a nova posição de Trump como “profundamente” decepcionante.

Trump terá de explicar para esses eleitores por que agora se opõe a qualquer tipo de banimento nacional. E poderá continuar a dizer a esses apoiadores o quanto se orgulha por ter retirado direitos reprodutivos das mulheres. Mas o restante de nós — e a maioria apoia os direitos ao aborto — estará escutando.

Trump pode simplesmente parar de falar a respeito do aborto. Seu problema é que Biden não vai parar. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

O mais recente posicionamento de Donald Trump em relação ao aborto é, basicamente, “tanto faz”. Se ativistas antiaborto pensavam que ele estava genuinamente de seu lado, deveriam ter prestado mais atenção.

Anteriormente este ano, Trump gabava-se frequentemente por ter indicado três ministros antiaborto à Suprema Corte, que alteraram o equilíbrio ideológico do tribunal e reverteram Roe versus Wade, que estabelecia uma jurisprudência que vigorou como lei por quase meio século. “Eu fiz isso e estou orgulhoso de ter feito isso”, afirmou Trump em janeiro em um evento com eleitores organizado pela Fox News.

Mas agora ele tem se mostrado incomumente reservado em relação ao assunto. Trump quer convencer eleitores de que não representa mais nenhuma ameaça a direitos ao aborto — esperando que ignorem o fato de que esses direitos foram apagados em grande parte do país graças ao ex-presidente. Os democratas não devem deixá-lo sair-se bem com esse estratagema cínico, que ele reconheceu ser projetado para “ganhar as eleições”.

Em um vídeo postado em redes sociais na segunda-feira, Trump disse que cabe aos Estados decidir se restringem ou como restringem o aborto. Ele repete parte da retórica do movimento antiaborto a respeito da preciosidade da vida e profere uma mentira ultrajante a respeito de ativistas pró-escolha apoiarem o infanticídio, mas sua conclusão é que cada Estado deveria decidir por si só.

Donald Trump discursa em evento de campanha em Michigan, 2 de abril de 2024. Foto: Paul Sancya/Associeted Press

Grupos pró-vida estavam insistindo para Trump apoiar uma lei federal, e nos meses recentes parecia que o ex-presidente viria a público defender um banimento nacional ao aborto após 15 semanas de gestação. O que ocasionou a mudança para o posicionamento “deixem por conta dos Estados”? Aposto que tem muito a ver com o que está acontecendo em um Estado em particular — o Estado onde Trump atende seus vassalos em sua lúgubre propriedade em Mar-a-Lago.

A história começa com o governador da Flórida, Ron DeSantis (republicano) — “Ron, o Santinho”, segundo Trump — que, por ter desejado virar presidente, pressionou a legislatura estadual sob controle republicano a aprovar o banimento do aborto após 15 semanas de gestação. Então, após Roe versus Wade ser derrubado, DeSantis — que desejava muito, muito mesmo virar presidente — fez a legislatura aprovar um banimento ainda mais draconiano, para abortos após a sexta semana de gestação.

Nenhuma medida passou a vigorar imediatamente, carecendo de revisão da Justiça. Mas na semana passada a Suprema Corte da Flórida — cuja maioria dos membros foi nomeada por DeSantis — decidiu favoravelmente às novas restrições. O banimento ao aborto após 15 semanas de gestação vigora atualmente na Flórida, mas só até 1.º de maio, quando o banimento após seis semanas o substituirá. No terceiro Estado americano mais populoso, o direito à escolha passará a ser de fato coisa do passado.

Mas também talvez coisa do futuro: em um caso separado, a Justiça da Flórida aprovou um referendo durante as eleições de novembro que poderia reinstituir os direitos ao aborto incluindo-os na Constituição do Estado. Do ponto de vista de Trump: ops.

Ativistas contrários ao aborto celebram decisão que derrubou Roe versus Wade em frente à Suprema Corte, Washington, 24 de junho de 2022.  Foto: Shuran Huang/The New York Times

Desde a queda de Roe versus Wade, votações para garantir o direito ao aborto foram aprovadas em todas as circunscrições em que foram propostas — mesmo em Estados profundamente republicanos como Kansas e Kentucky. Em Ohio, os cidadãos aniquilaram um banimento quase total ao aborto aprovando de lavada, por 56,6% contra 43,4%, a proteção do “direito ao aborto até a viabilidade fetal, que ocorre por volta da 24.ª semana. Esses referendos tendem a atrair às urnas em grandes números democratas e independentes defensores do direito à escolha.

Tem se assumido que a disputa entre o presidente Joe Biden e Trump será decidida entre os Estados comumente indecisos — Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Nevada, Arizona, Geórgia e Carolina do Norte. Mas também tem se assumido que Trump não terá um caminho plausível sem os valiosos 30 votos eleitorais da Flórida. Não há garantia de que o referendo sobre o aborto impulsionará o entusiasmo democrata e seu comparecimento às urnas o suficiente para colocar a Flórida em jogo. Mas se os eleitores de outros Estados republicanos servem como algum indicativo, nada garante que não.

O que está garantido? Que a tentativa de Trump de se distanciar da questão do aborto não funcionará.

Como de costume, Trump está tentando ganhar duas vezes, assumindo o crédito por acabar com Roe versus Wade ao mesmo tempo que lava as mãos em relação às consequências. Isso pode funcionar em algumas questões, mas não a respeito do aborto. Para os ativistas que se opõem convictamente ao aborto porque acreditam que o ato é assassinato — cujo apoio é vital para candidatos republicanos, incluindo Trump — uma abordagem Estado a Estado não é suficiente. Um grupo proeminente, Susan B. Anthony Pro-Life America, classificou a nova posição de Trump como “profundamente” decepcionante.

Trump terá de explicar para esses eleitores por que agora se opõe a qualquer tipo de banimento nacional. E poderá continuar a dizer a esses apoiadores o quanto se orgulha por ter retirado direitos reprodutivos das mulheres. Mas o restante de nós — e a maioria apoia os direitos ao aborto — estará escutando.

Trump pode simplesmente parar de falar a respeito do aborto. Seu problema é que Biden não vai parar. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

O mais recente posicionamento de Donald Trump em relação ao aborto é, basicamente, “tanto faz”. Se ativistas antiaborto pensavam que ele estava genuinamente de seu lado, deveriam ter prestado mais atenção.

Anteriormente este ano, Trump gabava-se frequentemente por ter indicado três ministros antiaborto à Suprema Corte, que alteraram o equilíbrio ideológico do tribunal e reverteram Roe versus Wade, que estabelecia uma jurisprudência que vigorou como lei por quase meio século. “Eu fiz isso e estou orgulhoso de ter feito isso”, afirmou Trump em janeiro em um evento com eleitores organizado pela Fox News.

Mas agora ele tem se mostrado incomumente reservado em relação ao assunto. Trump quer convencer eleitores de que não representa mais nenhuma ameaça a direitos ao aborto — esperando que ignorem o fato de que esses direitos foram apagados em grande parte do país graças ao ex-presidente. Os democratas não devem deixá-lo sair-se bem com esse estratagema cínico, que ele reconheceu ser projetado para “ganhar as eleições”.

Em um vídeo postado em redes sociais na segunda-feira, Trump disse que cabe aos Estados decidir se restringem ou como restringem o aborto. Ele repete parte da retórica do movimento antiaborto a respeito da preciosidade da vida e profere uma mentira ultrajante a respeito de ativistas pró-escolha apoiarem o infanticídio, mas sua conclusão é que cada Estado deveria decidir por si só.

Donald Trump discursa em evento de campanha em Michigan, 2 de abril de 2024. Foto: Paul Sancya/Associeted Press

Grupos pró-vida estavam insistindo para Trump apoiar uma lei federal, e nos meses recentes parecia que o ex-presidente viria a público defender um banimento nacional ao aborto após 15 semanas de gestação. O que ocasionou a mudança para o posicionamento “deixem por conta dos Estados”? Aposto que tem muito a ver com o que está acontecendo em um Estado em particular — o Estado onde Trump atende seus vassalos em sua lúgubre propriedade em Mar-a-Lago.

A história começa com o governador da Flórida, Ron DeSantis (republicano) — “Ron, o Santinho”, segundo Trump — que, por ter desejado virar presidente, pressionou a legislatura estadual sob controle republicano a aprovar o banimento do aborto após 15 semanas de gestação. Então, após Roe versus Wade ser derrubado, DeSantis — que desejava muito, muito mesmo virar presidente — fez a legislatura aprovar um banimento ainda mais draconiano, para abortos após a sexta semana de gestação.

Nenhuma medida passou a vigorar imediatamente, carecendo de revisão da Justiça. Mas na semana passada a Suprema Corte da Flórida — cuja maioria dos membros foi nomeada por DeSantis — decidiu favoravelmente às novas restrições. O banimento ao aborto após 15 semanas de gestação vigora atualmente na Flórida, mas só até 1.º de maio, quando o banimento após seis semanas o substituirá. No terceiro Estado americano mais populoso, o direito à escolha passará a ser de fato coisa do passado.

Mas também talvez coisa do futuro: em um caso separado, a Justiça da Flórida aprovou um referendo durante as eleições de novembro que poderia reinstituir os direitos ao aborto incluindo-os na Constituição do Estado. Do ponto de vista de Trump: ops.

Ativistas contrários ao aborto celebram decisão que derrubou Roe versus Wade em frente à Suprema Corte, Washington, 24 de junho de 2022.  Foto: Shuran Huang/The New York Times

Desde a queda de Roe versus Wade, votações para garantir o direito ao aborto foram aprovadas em todas as circunscrições em que foram propostas — mesmo em Estados profundamente republicanos como Kansas e Kentucky. Em Ohio, os cidadãos aniquilaram um banimento quase total ao aborto aprovando de lavada, por 56,6% contra 43,4%, a proteção do “direito ao aborto até a viabilidade fetal, que ocorre por volta da 24.ª semana. Esses referendos tendem a atrair às urnas em grandes números democratas e independentes defensores do direito à escolha.

Tem se assumido que a disputa entre o presidente Joe Biden e Trump será decidida entre os Estados comumente indecisos — Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Nevada, Arizona, Geórgia e Carolina do Norte. Mas também tem se assumido que Trump não terá um caminho plausível sem os valiosos 30 votos eleitorais da Flórida. Não há garantia de que o referendo sobre o aborto impulsionará o entusiasmo democrata e seu comparecimento às urnas o suficiente para colocar a Flórida em jogo. Mas se os eleitores de outros Estados republicanos servem como algum indicativo, nada garante que não.

O que está garantido? Que a tentativa de Trump de se distanciar da questão do aborto não funcionará.

Como de costume, Trump está tentando ganhar duas vezes, assumindo o crédito por acabar com Roe versus Wade ao mesmo tempo que lava as mãos em relação às consequências. Isso pode funcionar em algumas questões, mas não a respeito do aborto. Para os ativistas que se opõem convictamente ao aborto porque acreditam que o ato é assassinato — cujo apoio é vital para candidatos republicanos, incluindo Trump — uma abordagem Estado a Estado não é suficiente. Um grupo proeminente, Susan B. Anthony Pro-Life America, classificou a nova posição de Trump como “profundamente” decepcionante.

Trump terá de explicar para esses eleitores por que agora se opõe a qualquer tipo de banimento nacional. E poderá continuar a dizer a esses apoiadores o quanto se orgulha por ter retirado direitos reprodutivos das mulheres. Mas o restante de nós — e a maioria apoia os direitos ao aborto — estará escutando.

Trump pode simplesmente parar de falar a respeito do aborto. Seu problema é que Biden não vai parar. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Opinião por Eugene Robinson

Eugene Robinson escreve uma coluna sobre política e cultura. Em suas três décadas de carreira no The Washington Post, foi repórter e editor de cidades, correspondente estrangeiro em Buenos Aires e Londres, editor de internacional e subeditor-executivo encarregado da seção Style do jornal

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