Mahed Ali Ibrahim al-Jaffer, ministro da Cultura do Iraque, que está de passagem pelo Brasil, disse ontem ao Estado que os iraquianos "não confiam" nos EUA. Para Jaffer, apesar de o povo iraquiano ter recebido com alegria a eleição do presidente Barack Obama, os americanos "não são bem-vindos" no Iraque. "Eles só seriam bem-vindos se trocassem a estratégia das armas por uma estratégia cultural, refazendo a infraestrutura do país e reconstruindo teatros, bibliotecas, museus e tudo o que destruíram", disse Jaffer, que está no cargo desde julho. Antes, ele foi reitor da Universidade de Anbar e, durante o regime de Saddam Hussein, professor de literatura árabe da Universidade de Bagdá. "Os americanos venderam a ideia de que entraram no Iraque para libertar o povo. Mas liberdade não é queimar universidades, prédios públicos, bibliotecas ou matar inocentes", afirmou Jaffer, que participou da 2ª Reunião de Ministros de Cultura da América do Sul e Países Árabes, realizada no Rio. Sobre a deposição de Saddam, o ministro defende que havia várias formas de colocar um fim no regime. "O povo concordava que era preciso se livrar dele." O ministro, porém, qualifica a invasão liderada pelos EUA como uma "desgraça". "Destruíram nosso acervo cultural." Segundo Jaffer, a ocupação americana é a maior responsável pela destruição de seu patrimônio. Jaffer defendeu também a candidatura do ministro da Cultura do Egito, Farouk Hosny, para a direção da Unesco. "A acusação de antissemitismo é uma mentira inventada por Israel, que se sentiu ameaçado. Ele não tem nada contra a cultura hebraica. Ele é, sim, contra a tortura, a ocupação e as guerras", disse. "Tem muita gente lutando contra essa candidatura por achar que ela fortalece os árabes."