O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, afirmou que está preparado para negociar o fim da guerra com Vladimir Putin, mas descartou reconhecer a independência das repúblicas separatistas na região de Donbas e a soberania russa sobre a Crimeia.
Em entrevista à CNN, o presidente foi direto ao afirmar que não vai assumir “nenhum compromisso que afete a integridade territorial e a soberania” da Ucrânia.
“Temos que aproveitar todas as oportunidades para negociar e conversar com Putin. Se essas tentativas falharem, isso significará a terceira guerra mundial”, disse Zelenski.
O Kremlin estabeleceu como condição para encerrar sua invasão que Kiev renuncie à adesão à Otan, reconheça a independência das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Luhansk e o controle russo da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.
Quanto à eventual entrada na Otan, Zelenski assegurou que a própria Aliança descartou a admissão da Ucrânia, pelo que considerou que Kiev deveria procurar “outras alternativas de segurança” com os seus aliados.
“A Ucrânia não pode dizer que não vai se juntar à Otan. Foi a Otan que disse que não vai admitir a Ucrânia”, disse ele.
O presidente ucraniano, de origem judaica, revelou ainda que “uma das poucas vezes” que riu desde o início da invasão foi quando ouviu Putin dizer que o objetivo da operação militar é “desnazificar” a Ucrânia.
‘Crimes de guerra’
Mais cedo, em um pronunciamento à nação por vídeo, Zelenski comentou o cerco à cidade portuária de Mariupol, há semanas cercadas por tropas russas e alvo de constantes bombardeios. De acordo com o presidente, os acontecimentos recentes entrarão para a história por “crimes de guerra cometidos pelas tropas russas”.
“Fazer isso com uma cidade pacífica… o que os ocupantes fizeram é um terror que será lembrado por séculos”, disse em um pronunciamento em vídeo.
Zelenski também voltou a defender uma solução diplomática para o conflito, e afirmou que as negociações em andamento com a Rússia “não são simples ou agradáveis, mas são necessárias”.
Consequência da guerra
A atenção a Mariupol vem em um momento no qual a Rússia intensifica a pressão sobre a cidade, com uma campanha incessante de bombardeios e avanço de tropas, e autoridades ucranianas alertam para violações de direitos humanos contra a população civil.
Neste domingo, 20, o conselho municipal de Mariupol informou que uma escola que era usada como abrigo por 400 pessoas, incluindo mulheres, idosos e crianças, foi bombardeada pelas forças russas. As vítimas estariam presas nos escombros, mas ainda não haviam informações sobre mortos e feridos.
No sábado, autoridades da cidade também denunciaram que milhares de moradores estariam sendo levados à força para a Rússia. “Na semana passada, vários milhares de moradores de Mariupol foram deportados para o território russo”, disse o conselho da cidade em comunicado em seu canal Telegram na noite de sábado.
Agências de notícias russas noticiaram que centenas de pessoas foram transportadas em ônibus para o território russo - a quem Moscou chama de refugiados de Mariupol.
A queda de Mariupol, cenário de alguns dos piores sofrimentos da guerra, marcaria um avanço no campo de batalha para os russos, que estão em grande parte atolados fora das grandes cidades. A invasão já dura três semanas.
“Crianças e idosos estão morrendo. A cidade está destruída e será varrida da face da terra”, disse o policial de Mariupol Michail Vershnin, de uma rua repleta de escombros, em um vídeo endereçado a líderes ocidentais. /AP, REUTERS e EFE