QUITO - O presidente do Equador, Daniel Noboa, decretou “conflito armado interna” nesta terça-feira, 09, e designou uma série de gangues locais como “organizações terroristas” em resposta à onda de violência que atinge o país.
Noboa é um empresário liberal pouco experiente na política, eleito presidente no final do ano passado para o mandato tampão que vai até 2025. Na ocasião, ele derrotou a candidata de esquerda e aliada do ex-presidente exilado Rafael Correa, Luisa González.
Aos 35 anos, é o presidente mais jovem da história moderna do Equador. Ele ficou conhecido por ser filho do magnata Álvaro Noboa, um dos homens mais ricos do país, que fez fortuna vendendo bananas e tentou, sem sucesso, chegar à presidência.
Para entender
O herdeiro abriu uma empresa de organização de eventos quando tinha 18 anos e depois entrou para a Noboa Corp. de seu pai, onde ocupou cargos de gerência nos setores de transporte, logística e comercial.
Entrou para política em 2021, quando foi eleito para Assembleia Nacional e era visto quase como um outsider, na última eleição, quando despontou como a grande surpresa em um pleito marcado pelo assassinato do do candidato Fernando Villavicencio.
Ele chegou ao segundo turno como candidato da oposição ao “correísmo” - grupo liderado pelo ex-presidente exilado Rafael Correa (2007-2017). E foi eleito para um mandato de apenas 15 meses, até maio de 2025, que é o que resta do mandato de Guillermo Lasso. O ex-presidente abreviou seu mandato ao dissolver a Assembleia Nacional em maio, quando os legisladores instauraram um processo de impeachment contra ele por supostas impropriedades em um contrato de uma empresa estatal
No curso da campanha, ele se apresentou como um candidato de centro-esquerda, mas no cenário político ele é avaliado de outra forma. Analistas equatorianos posicionam o presidente eleito na centro-direita.
O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e cientista social Eduardo Grin corrobora com a análise e afirma que as origens políticas e as posições de Noboa o colocam à direita. “Ele (Noboa) se apresentou como centro-esquerda para cooptar votos do correísmo (de Ricardo Correa), mas é alinhado com a direita equatoriana.” Para o professor, dois elementos fortes para sinalizar essa classificação são a proximidade com Lasso e a forma como lida com a pauta de segurança pública.
Mayra Goulart, professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada (Lappcom) também destaca que, na segurança pública, “a solução que ele oferece é muito clássica da direita, que é o aumento do punitivismo”.
Outro ponto em que ele se distancia da esquerdam, afirma, é a economia. “Ele enfatiza a responsabilidade social das empresas, usando a lógica do princípio da subsidiaridade, que transfere a lógica do público para o privado. A principal proposta de ativação econômica de Noboa, que é a redução dos tributos, é muito tradicional no liberalismo econômico”.
Para a pesquisadora, o presidente do Equador só se separa da direita nas pautas de costumes, que não têm viés conservador na sua plataforma.