KIEV - Depois de passar dos bastidores para o centro da cena política desde a invasão russa, fazendo sua voz ser ouvida em favor do povo ucraniano, a primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, agora desperta críticas por ter posado em meio a cenários da guerra. As imagens ilustram uma entrevista concedida à revista.
O retrato principal, na capa da nova edição da Vogue, mostra a primeira-dama sentada em uma escada, vestida com um conjunto de calça preta e blusa branca. Ao longo da entrevista, outras imagens: uma posando com soldados do sexo feminino, outra ao lado do presidente Volodmir Zelenski,no escritório presidencial em Kiev.
As fotos, tiradas pela célebre fotógrafa americana Annie Leibovitz, complementam um perfil de Olena Zelenska que mistura conversas sobre seu estilo e sua experiência como primeira-dama durante a invasão russa de seu país. A entrevista foi recebida de diferentes maneiras, muitas em tom crítico, na Ucrânia e em outros países.
A matéria “Um retrato de coragem”, segundo a revista, foi resultado de uma entrevista presencial e aborda questões do casal presidencial, como “a vida em tempos de guerra, seu casamento e história compartilhada, e sonhos em relação ao futuro da Ucrânia”.
Nas fotos publicadas no Instagram da revista, internautas deixaram centenas de comentários e votaram naqueles com os quais mais concordam, incluindo as diversas críticas. “Essa coisa deles posando em uma zona de guerra não é do meu agrado...”, “Você não precisa romantizar a guerra, Vogue” ou “O país em guerra e a primeira-dama dando entrevista a uma revista de moda”.
Apoio
A entrevista também recebeu apoio, elogios ou mensagens como: “Obrigado por usar sua plataforma para apoiar a Ucrânia”, “Relevante, Vogue, mais mulheres assim!”.
Entre os que defendem a entrevista de Olena Zelenska estão os argumentos de que ela permanece na Ucrânia ao invés de fugir para um destino mais seguro, como poderia ter feito.
O presidente Zelenski era um dos atores mais conhecidos do país antes de sua eleição à presidência em 2019, mas, diferentemente, sua mulher de 44 anos não tinha a mesma disposição para ocupar cargos públicos.
Refúgios
Quando foi dormir no dia 23 de fevereiro, na véspera da invasão russa, Olena Zelenska não imaginou que não voltaria a dormir ao lado de seu marido pelos próximos meses. Embora Zelenski estivesse decidido a não fugir das forças russas, a mulher se escondeu com as crianças. A primeira-dama passou várias semanas escondida, mudando de um refúgio para outro enquanto as tropas de Moscou se aproximavam da capital Kiev.
Eles suspenderam as campanhas a favor da melhora das comidas escolares e a promoção da língua e cultura ucraniana no exterior. “Não vou entrar em pânico e chorar. Estou tranquila e tenho confiança”, assegurou a seus compatriotas em uma mensagem publicada no Facebook.
Nesta semana, ela surpreendeu o mundo quando se dirigiu ao Congresso dos Estados Unidos para pedir maior apoio Ocidental à Ucrânia.
“Ajudem-nos a pôr fim a este horror contra os ucranianos”, implorou, chorando, aos representantes americanos. Na ocasião, Olena Zelenska mostrou imagens de crianças aleijadas quatro meses após o discurso por videoconferência de seu marido. Ela é a primeira esposa de um líder estrangeiro a dirigir-se ao Congresso americano.
No entanto, a arte da diplomacia não é natural para Olena Zelenska. “Sempre fui uma personalidade não pública e não gosto da atenção extra que recebo”, comentou a roteirista para a revista francesa Elle um mês antes da ofensiva. “Em dois anos e meio como primeira-dama, muitas coisas mudaram para mim. Estou ciente de que o destino me dá uma oportunidade única de me comunicar com as pessoas”, acrescentou.
“Ela é uma pessoa de dever”, explica Anna Chapliguina, especialista em etiquetas, à agência France Press. “Não como Michelle Obama”, muito confortável no centro dos holofotes, mas como “Kate Middleton em seu início” na família real, compara. “Nunca sonhou nem aspirou virar primeira-dama. Acabou ali por acaso e em meio a uma crise planetária”, completa Chapliguina. / AFP e EFE