MADRI - O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, cancelou os compromissos públicos que teria nos próximos dias e considera renunciar ao cargo depois que a sua esposa, Begoña Gómez, foi alvo de denúncias por tráfico de influência e corrupção. A decisão é esperada para segunda-feira, 29.
Em carta publicada no X (antigo Twitter), Sánchez, o líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), defendeu a inocência de Gómez e atribuiu as denúncias a uma campanha de intimidação da direita.
“A pergunta que me faço legitimamente é: vale a pena tudo isso? Sinceramente não sei. Esse ataque não tem precedentes, é tão grave que preciso parar e refletir”, escreveu o primeiro-ministro. Ele prometeu que continuará trabalhando nos próximos dias, mas sem agenda pública, e que falará à imprensa na segunda para anunciar a sua decisão.
A investigação de Begoña Gómez por tráfico de influência e corrupção se seguiu à denúncia da organização Mãos Limpas, cujo presidente Miguel Bernad tem vínculos com a extrema direita espanhola. E foi confirmada nesta quarta-feira, 24, pelo Tribunal Superior de Justiça de Madri, após ter sido revelada pelo portal El Confidencial.
A notícia afirmava que os investigadores estavam examinando os vínculos de Gómez com empresas que receberam recursos públicos ou fecharam contratos com o governo.
Ainda segundo o El Confidencial, o grupo Globalia, dono da Air Europa, teria fechado, em 2020, um acordo de patrocínio com a fundação IE Africa Center, que era dirigida por Begoña Gómez, no mesmo período em que negociava um socorro do governo para a companhia aérea, afetada pela pandemia.
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De fato, em novembro de 2020, o governo Sánchez ofereceu uma linha de ajuda de 475 milhões de euros (2,7 bilhões de reais na cotação da época) à Air Europa. A companhia foi a primeira a se beneficiar do fundo de 10 bilhões de euros destinado a apoiar empresas estratégicas em dificuldades durante a pandemia.
Horas depois da notícia ser publicada, o Tribunal Superior de Justiça de Madri confirmou que a investigação foi aberta em 16 de abril e corre em segredo de Justiça.
Pedro Sánchez, de 52 anos, governa a Espanha desde 2018. Ele foi reeleito para a presidência do Parlamento em novembro em acordo com os independentistas catalães, que abriu caminho para mais um governo de esquerda. Isso depois que o Partido Popular (PP), liderado por Alberto Núñez Feijóo, saiu na frente nas eleições, mas sem maioria e fracassou na tentativa de formar um governo./AFP e EFE