O primeiro-ministro de Portugal, António Costa, pediu nesta terça-feira, 7, sua demissão do cargo ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em meio a um escândalo de corrupção que levou a uma batida policial à sua residência oficial e detenção de funcionários de seu gabinete. Presidente já aceitou a renúncia.
“A dignidade das funções de primeiro-ministro não é compatível com qualquer suspeição sobre a sua integridade”, disse o então premiê durante um anúncio televisionado. “Esta é uma etapa que se encerra”. Ele justificou a sua saída alegando ter sido surpreendido por um inquérito criminal aberto contra ele no Supremo Tribunal de Justiça do país.
Marcelo Rebelo de Sousa emitiu uma nota logo em seguida confirmando ter aceitado o pedido de demissão do primeiro-ministro e convocou os partidos com assento no Parlamento para uma reunião na quarta-feira e do Conselho de Estado - um tipo de órgão de consulta do presidente - para quinta-feira. Só então ele falará ao país.
Costa, de 62 anos, líder socialista de Portugal desde 2015, defendeu a sua inocência e chorou ao agradecer à sua família pelo apoio ao longo dos anos. “Confio totalmente no sistema de Justiça”, disse ele. “Quero dizer olho no olho aos portugueses, que a minha consciência está limpa de qualquer ato ilícito.”
Mais tarde, ele também informou que não pretende se recandidatar ao cargo em meio a especulações sobre o seu futuro.
De acordo com os jornais portugueses, Costa se tornou alvo de uma investigação em um inquérito instaurado na corte suprema do país para investigar negócios ilícitos envolvendo lítio e hidrogênio verde.
A Justiça investiga alegações de prevaricações, corrupção de governantes eleitos e tráfico de influência relacionados com concessões de minas de lítio perto da fronteira norte de Portugal com a Espanha, e planos para uma central de hidrogênio verde e um centro de dados em Sines, na costa sul.
Foram feitas buscas na residência oficial do primeiro-ministro e nos Ministérios do Ambiente e Infraestruturas, com a prisão de funcionários de seu gabinete. Logo após as operações, Costa comunicou que faria uma reunião com o presidente, tendo durado apenas 15 minutos antes de comunicar a renúncia, informa o Diário de Notícias.
De acordo com o Ministério Público, o Supremo Tribunal de Justiça investiga a “utilização do nome do primeiro-ministro e o seu envolvimento com os suspeitos para desvendar” as práticas que estão sendo investigadas.
Um juiz emitiu mandados de detenção contra Vítor Escária, chefe de gabinete de Costa, presidente da Câmara de Sines e outras três pessoas por representarem risco de fuga e para proteção de provas, informou o Ministério Público em comunicado. O ministro das Infraestruturas, João Galamba, e o chefe do órgão ambiental do país também estão entre os suspeitos.
As minas de lítio e os projetos de hidrogênio verde de Portugal fazem parte da iniciativa verde do continente impulsionada pela União Europeia. Costa disse não ter tudo qualquer indicação prévia de que estava sendo investigado pelas autoridades./AP e AFP