Se a decisão de manter em quarentena milhões de europeus é um desafio sem precedentes, a maneira de retomar a vida econômica e social também parecem ser uma operação complexa. Países pioneiros na tentativa de retomar alguma normalidade após o período de confinamento por causa do novo coronavírus enfrentam agora um desafio desconhecido, sem precedentes.
"Não há referência internacional sobre o assunto", declarou o chanceler austríaco, Sebastian Kurz, cujo país foi o primeiro da União Europeia a detalhar um cronograma para o fim gradual das restrições. Em regime de semicontenção, Dinamarca e Noruega também comunicaram datas para a retomada. Portugal e Grécia estimam voltar à normalidade em maio.
Em todos os casos, a retomada ocorrerá em etapas, com a manutenção de algumas medidas de precaução. A circulação global do vírus é um fator adicional de incerteza.
Na Áustria, onde mais de 12.500 casos positivos de covid-19 foram diagnosticados, o governo anunciou seu plano de "desconfinamento", observando o declínio acentuado dos novos casos. A taxa diária está em 2% há vários dias, em comparação com 40% em meados de março.
A Noruega considerou que a epidemia, com 5.883 casos identificados, está sob controle em seu território. Segundo as estatísticas mais recentes, uma pessoa doente na Noruega agora infecta apenas uma média de 0,7 pessoa em comparação com 2,5 antes da imposição das restrições.
O número de mortes nesses países foi contido, e as estruturas hospitalares não foram sobrecarregadas. A doença deixou 243 mortos na Áustria, 187 na Dinamarca e 69 na Noruega até o momento.
Relaxamento gradual
Para todos esses países, está fora de questão suspender todas as restrições da noite para o dia. Na Áustria, onde apenas supermercados e farmácias permanecem abertos, o governo quer reabrir pequenos comércios no dia 14 de abril e, depois, no início de maio, todos os demais. Hotéis e restaurantes também deverão retomar suas atividades em meados do mês que vem.
Os austríacos terão de continuar limitando seus deslocamentos ao estritamente necessário e trabalhar de casa até pelo menos o final de abril. As escolas não reabrirão antes de 15 de maio e os estudantes austríacos não voltarão à universidade e terminarão o ano com aulas online.
Quanto à retomada das aulas, Dinamarca e Noruega também já definiram cronogramas. A volta às aulas dos dinamarqueses será no dia 15 de abril, enquanto, na Noruega, as creches reabrirão em 20 de abril e instituições de ensino médio e superior terão o início do ano letivo em 27 do mesmo mês.
Na fase atual, os três países continuam proibindo a realização de grandes encontros e de eventos esportivos e culturais.
Prudência e disciplina
Apesar da abertura gradual, nenhum dos países manifestou qualquer tipo de 'triunfalismo'. Pelo contrário, os Estados têm alertando repetidamente para o risco de uma retomada da epidemia.
"Vamos viver com muitas restrições por muitos meses", alertou a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, pedindo o engajamento cívico da população. "Um pequeno desvio individual pode ter um grande impacto na sociedade", disse.
Já a primeira-ministra norueguesa, Erna Solberg, alertou que o relaxamento das restrições não significa que alguém possa se tornar mais imprudente. Nos dois países, assim como na Áustria, enfatiza-se que as restrições voltarão no caso de segunda onda epidêmica. Sebastian Kurz alertou que o governo poderá pisar no freio novamente, se necessário.
Lavagem regular das mãos, respeito da distância de pelo menos um metro e lojas limitando o número de clientes: "gestos de barreira" são mais relevantes do que nunca.
Refletindo a utilidade da máscara, a Áustria tornou seu uso obrigatório em supermercados e transportes públicos, enquanto o objeto não é alvo de nenhuma recomendação na Noruega e na Dinamarca.
Viagens e testes: as incertezas
Com os Estados-membros da UE em diferentes estágios da pandemia, as estratégias nacionais implicam uma limitação duradoura do movimento internacional. As fronteiras da Dinamarca, por exemplo, permanecem fechadas.
"Enquanto não houver vacinação, ou remédio eficaz, esta doença nos acompanhará e não haverá liberdade de viajar", alertou Kurz.
Os países que relançam suas atividades terão problemas, alertam os cientistas, porque a "imunidade de grupo", que daria proteção suficiente a toda população, ainda é fraca.
"Assim que as restrições forem relaxadas, o número de infecções voltará a aumentar um pouco", alerta a virologista Elisabeth Puchhammer-Stöckl, da Universidade Médica de Viena. "O objetivo é que ocorra de maneira controlada, com um sistema hospitalar capaz de testar e tratar casos sérios", apontou./ AFP