Charles III foi proclamado no sábado, 10, rei dos britânicos em uma cerimônia com origens na Idade Média e prestigiada por líderes políticos, religiosos e da aristocracia britânica. Conforme o Reino Unido se despede da imagem austera e neutra de Elizabeth II, os súditos do novo monarca esperam um rei atento às causas ambientais, defendidas por ele com ênfase enquanto foi Príncipe de Gales.
Até agora, Charles se caracterizou por abordar temas políticos e religiosos, algo que sua antecessora evitou com disciplina. Ele defendeu a tolerância religiosa contra a islamofobia, o que ajudou a calar uma possível reação contra muçulmanos após a série de ataques terroristas em Londres, em 2005.
Em visita ao Parlamento alemão, em 2020, declarou que “nenhum país é uma ilha” e pediu que a Alemanha continuasse a colaborar com o Reino Unido, o muitos interpretaram como um certo apreço pela União Europeia. Mas, de longe, a causa em que o monarca e mais ativo é a ambiental, como mostra o papel que desempenhado por ele na COP26 em Glasgow, na Escócia, no ano passado.
Charles lutou para forjar uma identidade como príncipe de Gales, um papel que ele exerceu por mais tempo do que qualquer outro, mas que não possui uma função definida. Ele fundou instituições de caridade, como a Prince’s Trust, que ajudou aproximadamente um milhão de jovens desfavorecidos, e defendeu causas como planejamento urbano sustentável e proteção ambiental muito antes delas entrarem na moda. A agricultura orgânica é outra paixão do rei.
Ainda que Charles tivesse muitos posicionamentos enquanto Príncipe de Gales, e portanto, sem os limites constitucionais impostos à Coroa, o monarca difere da abordagem de sua mãe – de quem especialistas tentavam decifrar nas roupas da rainha algum sinal de posicionamento.
Observadores da monarquia britânica acreditam que ele deve imprimir um tom mais político ao seu reinado, ainda que o rei seja ciente dos limites constitucionais como chefe de Estado.
“O estilo será diferente”, afirmou Vernon Bogdanor, professor do King’s College London. “Ele será um rei ativo e se valerá de suas prerrogativas até o limite, mas não se excederá para além delas.”
Por vezes, as opiniões fortes de Charles o colocaram em maus lençóis. Em 1984, ele ridicularizou uma proposta de ampliação da National Gallery qualificando o projeto como “um abcesso monstruoso na fachada de uma amiga tão amada”. O plano foi abandonado, mas, anos depois, arquitetos proeminentes reclamaram que seu lobby nos bastidores contra projetos que não admirava era um abuso de sua função constitucional.
Em 2006, Charles se eriçou quando o tabloide britânico The Mail on Sunday publicou trechos de um diário que ele redigiu enquanto representou a rainha durante a entrega formal de Hong Kong para a China, em 1997. Ele descreveu as autoridades chinesas em próprio punho como “aterradores bonecos de cera” e afirmou, depois de um “discurso propagandístico” do então presidente chinês, Jiang Zemin: “Fomos obrigados a assistir aos soldados chineses marchar sobre o palco, baixar a bandeira britânica e levantar sua bandeira definitiva”.
Nas ruas de Londres na manhã de sábado, em meio ao clima de otimismo com a proclamação, muitos britânicos também esperavam do novo monarca um comprometimento seu histórico.
“Ele desempenhou muito bem a função como príncipe de Gales, defendendo a causa do meio ambiente durante a maior parte da sua vida. Espero que possamos ver o seu dinamismo e que possa contribuir ainda mais para a Grã- Bretanha. Esta é uma nova página da história, um novo capítulo e um novo começo”, afirmou o professor de história Jeremy Manning.
Após o evento, a multidão seguiu para o Palácio de Buckingham para homenagear a rainha e celebrar o novo rei.
Ainda na tarde de sábado, Charles III teve sua primeira reunião com o gabinete de ministros da premiê Liz Truss. Ele também se encontrou com o líder trabalhista, Keir Stamer, e representantes da Igreja Anglicana. Mais cedo, todos os seis ex-primeiros-ministros ainda vivos do país participaram da proclamação do novo monarca: John Major, Tony Blair, Gordon Brown, David Cameron, Theresa May e Boris Johnson, que deixou o cargo na segunda-feira.