‘Protestos contra Milei não surpreendem e Argentina tem pouco espaço para sofrimento’, diz analista


Diretor de América Latina do centro de estudos Wilson Center, Benjamin Gedan afirma que protestos contra megapacote de Javier Milei não surpreendem, e que novo governo terá desafio de equilibrar liberdade de manifestação e garantia da ordem

Por Beatriz Bulla
Foto: Divulgação
Entrevista comBenjamin GedanDiretor de América Latina do Wilson Center

Diretor de América Latina do centro de estudos Wilson Center, em Washington, e especialista em assuntos sobre a Argentina, Benjamin Gedan afirma que há pouco espaço para impor aos argentinos mais sofrimento econômico, por isso os protestos no país contra o megapacote econômico anunciado pelo presidente Javier Milei não surpreendem.

“Ele fez campanha carregando uma motosserra para simbolizar a sua promessa de reduzir drasticamente os gastos. Isso não significa que os argentinos tenham que gostar, inclusive aqueles que votaram em Milei”, afirma Gedan, que já foi diretor para América do Sul no Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos e também já foi responsável pelo setor de Argentina do Departamento de Estado americano.

Milei já anunciou dois grandes pacotes econômicos em duas semanas, com 40 medidas, e promete mais. No mais recente, foi assinado o Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), com mudanças em 300 leis para desregulamentar a economia, 30 delas detalhadas pelo libertário em pronunciamento. Uma das alterações foi a revogação da lei do aluguel, permitindo negociações diretas entre proprietários e inquilinos, que podem definir até mesmo em qual moeda o aluguel será pago. O outro pacote foi anunciado no dia 12, com 10 medidas principais, para tentar cortar gastos. Entre as mudanças, estão redução de subsídios e repasses nacionais às províncias, forte desvalorização da moeda e manutenção de auxílios sociais.

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Sobre as restrições impostas pelo governo aos protestos, Gedan diz que o novo governo terá o desafio de equilibrar liberdade de manifestação e garantia da ordem; e que parcela da população está exausta das frequentes manifestações em Buenos Aires.

Leia abaixo trechos da entrevista:

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Benjamin Gedan, diretor de América Latina do Wilson Center. Foto: Divulgação Foto: Divulgação

ex-diretor para América do Sul no Conselho de Segurança Nacional dos EUA e atual integrante do programa de América Latina do Wilson Center

Deveremos esperar uma maior turbulência política e social em resposta às medidas econômicas de Javier Milei?

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O programa de estabilização de Milei não deveria surpreender ninguém. Afinal, ele fez campanha carregando uma motosserra para simbolizar a sua promessa de reduzir drasticamente os gastos. Como economista que fazia campanha com uma plataforma antiestablishment, ele praticamente gritou aos quatro ventos sobre a necessidade urgente de reestruturar dramaticamente a gestão econômica da Argentina. No seu discurso inaugural, prometeu terapia de choque, depois de apresentar um diagnóstico sombrio sobre o estado das finanças públicas da Argentina: “No hay plata”.

Isso não significa que os argentinos tenham que gostar, inclusive aqueles que votaram em Milei.

Afinal de contas, os argentinos têm sido atingidos por uma economia em crise e por uma inflação brutalmente elevada durante muitos anos e há pouca inclinação para mais sofrimento à medida que os preços dos alimentos, dos medicamentos, dos transportes e de outros serviços públicos sobem. Ao mesmo tempo, uma porcentagem grande da população depende fortemente de empregos públicos e de programas de assistência social que também podem estar em risco.

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É por isso que não foi surpresa ver grandes protestos contra o governo poucos dias após a tomada de posse de um presidente que venceu facilmente as eleições.

O plano de Milei de anunciar este megapacote agora pode funcionar?

O programa econômico de Milei é razoável e, em muitos casos, existe uma vantagem tática para um novo líder abordar rapidamente os gastos insustentáveis, a política monetária imprudente e outras pautas-bomba econômicas semelhantes.

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Qual o futuro deste “megapacote”? Acredita que o Judiciário ou o Congresso Argentino irão bloqueá-lo?

Não está claro se estas políticas sobreviverão o tempo suficiente para demonstrar os seus benefícios, à medida que os protestos públicos e a oposição política se intensificam, os rivais procuram medidas judiciais para restringir a autoridade do novo presidente.

Alguns grupos afirmam que as medidas estabelecidas pelo governo com a justificativa de manter a ordem pública criminalizam o direito de protestar. Há uma ameaça à democracia na Argentina? Existe apoio, por parte da sociedade argentina, às restrições em vigor?

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No momento em que a Argentina celebra 40 anos de democracia ininterrupta, é importante proteger o direito à manifestação pacífica. Dito isto, muitos argentinos estão exaustos com as frequentes interrupções causadas pelas manifestações na capital. Equilibrar a importância da ordem pública e da expressão política será um desafio para este governo.

Diretor de América Latina do centro de estudos Wilson Center, em Washington, e especialista em assuntos sobre a Argentina, Benjamin Gedan afirma que há pouco espaço para impor aos argentinos mais sofrimento econômico, por isso os protestos no país contra o megapacote econômico anunciado pelo presidente Javier Milei não surpreendem.

“Ele fez campanha carregando uma motosserra para simbolizar a sua promessa de reduzir drasticamente os gastos. Isso não significa que os argentinos tenham que gostar, inclusive aqueles que votaram em Milei”, afirma Gedan, que já foi diretor para América do Sul no Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos e também já foi responsável pelo setor de Argentina do Departamento de Estado americano.

Milei já anunciou dois grandes pacotes econômicos em duas semanas, com 40 medidas, e promete mais. No mais recente, foi assinado o Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), com mudanças em 300 leis para desregulamentar a economia, 30 delas detalhadas pelo libertário em pronunciamento. Uma das alterações foi a revogação da lei do aluguel, permitindo negociações diretas entre proprietários e inquilinos, que podem definir até mesmo em qual moeda o aluguel será pago. O outro pacote foi anunciado no dia 12, com 10 medidas principais, para tentar cortar gastos. Entre as mudanças, estão redução de subsídios e repasses nacionais às províncias, forte desvalorização da moeda e manutenção de auxílios sociais.

Sobre as restrições impostas pelo governo aos protestos, Gedan diz que o novo governo terá o desafio de equilibrar liberdade de manifestação e garantia da ordem; e que parcela da população está exausta das frequentes manifestações em Buenos Aires.

Leia abaixo trechos da entrevista:

Benjamin Gedan, diretor de América Latina do Wilson Center. Foto: Divulgação Foto: Divulgação

ex-diretor para América do Sul no Conselho de Segurança Nacional dos EUA e atual integrante do programa de América Latina do Wilson Center

Deveremos esperar uma maior turbulência política e social em resposta às medidas econômicas de Javier Milei?

O programa de estabilização de Milei não deveria surpreender ninguém. Afinal, ele fez campanha carregando uma motosserra para simbolizar a sua promessa de reduzir drasticamente os gastos. Como economista que fazia campanha com uma plataforma antiestablishment, ele praticamente gritou aos quatro ventos sobre a necessidade urgente de reestruturar dramaticamente a gestão econômica da Argentina. No seu discurso inaugural, prometeu terapia de choque, depois de apresentar um diagnóstico sombrio sobre o estado das finanças públicas da Argentina: “No hay plata”.

Isso não significa que os argentinos tenham que gostar, inclusive aqueles que votaram em Milei.

Afinal de contas, os argentinos têm sido atingidos por uma economia em crise e por uma inflação brutalmente elevada durante muitos anos e há pouca inclinação para mais sofrimento à medida que os preços dos alimentos, dos medicamentos, dos transportes e de outros serviços públicos sobem. Ao mesmo tempo, uma porcentagem grande da população depende fortemente de empregos públicos e de programas de assistência social que também podem estar em risco.

É por isso que não foi surpresa ver grandes protestos contra o governo poucos dias após a tomada de posse de um presidente que venceu facilmente as eleições.

O plano de Milei de anunciar este megapacote agora pode funcionar?

O programa econômico de Milei é razoável e, em muitos casos, existe uma vantagem tática para um novo líder abordar rapidamente os gastos insustentáveis, a política monetária imprudente e outras pautas-bomba econômicas semelhantes.

Qual o futuro deste “megapacote”? Acredita que o Judiciário ou o Congresso Argentino irão bloqueá-lo?

Não está claro se estas políticas sobreviverão o tempo suficiente para demonstrar os seus benefícios, à medida que os protestos públicos e a oposição política se intensificam, os rivais procuram medidas judiciais para restringir a autoridade do novo presidente.

Alguns grupos afirmam que as medidas estabelecidas pelo governo com a justificativa de manter a ordem pública criminalizam o direito de protestar. Há uma ameaça à democracia na Argentina? Existe apoio, por parte da sociedade argentina, às restrições em vigor?

No momento em que a Argentina celebra 40 anos de democracia ininterrupta, é importante proteger o direito à manifestação pacífica. Dito isto, muitos argentinos estão exaustos com as frequentes interrupções causadas pelas manifestações na capital. Equilibrar a importância da ordem pública e da expressão política será um desafio para este governo.

Diretor de América Latina do centro de estudos Wilson Center, em Washington, e especialista em assuntos sobre a Argentina, Benjamin Gedan afirma que há pouco espaço para impor aos argentinos mais sofrimento econômico, por isso os protestos no país contra o megapacote econômico anunciado pelo presidente Javier Milei não surpreendem.

“Ele fez campanha carregando uma motosserra para simbolizar a sua promessa de reduzir drasticamente os gastos. Isso não significa que os argentinos tenham que gostar, inclusive aqueles que votaram em Milei”, afirma Gedan, que já foi diretor para América do Sul no Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos e também já foi responsável pelo setor de Argentina do Departamento de Estado americano.

Milei já anunciou dois grandes pacotes econômicos em duas semanas, com 40 medidas, e promete mais. No mais recente, foi assinado o Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), com mudanças em 300 leis para desregulamentar a economia, 30 delas detalhadas pelo libertário em pronunciamento. Uma das alterações foi a revogação da lei do aluguel, permitindo negociações diretas entre proprietários e inquilinos, que podem definir até mesmo em qual moeda o aluguel será pago. O outro pacote foi anunciado no dia 12, com 10 medidas principais, para tentar cortar gastos. Entre as mudanças, estão redução de subsídios e repasses nacionais às províncias, forte desvalorização da moeda e manutenção de auxílios sociais.

Sobre as restrições impostas pelo governo aos protestos, Gedan diz que o novo governo terá o desafio de equilibrar liberdade de manifestação e garantia da ordem; e que parcela da população está exausta das frequentes manifestações em Buenos Aires.

Leia abaixo trechos da entrevista:

Benjamin Gedan, diretor de América Latina do Wilson Center. Foto: Divulgação Foto: Divulgação

ex-diretor para América do Sul no Conselho de Segurança Nacional dos EUA e atual integrante do programa de América Latina do Wilson Center

Deveremos esperar uma maior turbulência política e social em resposta às medidas econômicas de Javier Milei?

O programa de estabilização de Milei não deveria surpreender ninguém. Afinal, ele fez campanha carregando uma motosserra para simbolizar a sua promessa de reduzir drasticamente os gastos. Como economista que fazia campanha com uma plataforma antiestablishment, ele praticamente gritou aos quatro ventos sobre a necessidade urgente de reestruturar dramaticamente a gestão econômica da Argentina. No seu discurso inaugural, prometeu terapia de choque, depois de apresentar um diagnóstico sombrio sobre o estado das finanças públicas da Argentina: “No hay plata”.

Isso não significa que os argentinos tenham que gostar, inclusive aqueles que votaram em Milei.

Afinal de contas, os argentinos têm sido atingidos por uma economia em crise e por uma inflação brutalmente elevada durante muitos anos e há pouca inclinação para mais sofrimento à medida que os preços dos alimentos, dos medicamentos, dos transportes e de outros serviços públicos sobem. Ao mesmo tempo, uma porcentagem grande da população depende fortemente de empregos públicos e de programas de assistência social que também podem estar em risco.

É por isso que não foi surpresa ver grandes protestos contra o governo poucos dias após a tomada de posse de um presidente que venceu facilmente as eleições.

O plano de Milei de anunciar este megapacote agora pode funcionar?

O programa econômico de Milei é razoável e, em muitos casos, existe uma vantagem tática para um novo líder abordar rapidamente os gastos insustentáveis, a política monetária imprudente e outras pautas-bomba econômicas semelhantes.

Qual o futuro deste “megapacote”? Acredita que o Judiciário ou o Congresso Argentino irão bloqueá-lo?

Não está claro se estas políticas sobreviverão o tempo suficiente para demonstrar os seus benefícios, à medida que os protestos públicos e a oposição política se intensificam, os rivais procuram medidas judiciais para restringir a autoridade do novo presidente.

Alguns grupos afirmam que as medidas estabelecidas pelo governo com a justificativa de manter a ordem pública criminalizam o direito de protestar. Há uma ameaça à democracia na Argentina? Existe apoio, por parte da sociedade argentina, às restrições em vigor?

No momento em que a Argentina celebra 40 anos de democracia ininterrupta, é importante proteger o direito à manifestação pacífica. Dito isto, muitos argentinos estão exaustos com as frequentes interrupções causadas pelas manifestações na capital. Equilibrar a importância da ordem pública e da expressão política será um desafio para este governo.

Diretor de América Latina do centro de estudos Wilson Center, em Washington, e especialista em assuntos sobre a Argentina, Benjamin Gedan afirma que há pouco espaço para impor aos argentinos mais sofrimento econômico, por isso os protestos no país contra o megapacote econômico anunciado pelo presidente Javier Milei não surpreendem.

“Ele fez campanha carregando uma motosserra para simbolizar a sua promessa de reduzir drasticamente os gastos. Isso não significa que os argentinos tenham que gostar, inclusive aqueles que votaram em Milei”, afirma Gedan, que já foi diretor para América do Sul no Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos e também já foi responsável pelo setor de Argentina do Departamento de Estado americano.

Milei já anunciou dois grandes pacotes econômicos em duas semanas, com 40 medidas, e promete mais. No mais recente, foi assinado o Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), com mudanças em 300 leis para desregulamentar a economia, 30 delas detalhadas pelo libertário em pronunciamento. Uma das alterações foi a revogação da lei do aluguel, permitindo negociações diretas entre proprietários e inquilinos, que podem definir até mesmo em qual moeda o aluguel será pago. O outro pacote foi anunciado no dia 12, com 10 medidas principais, para tentar cortar gastos. Entre as mudanças, estão redução de subsídios e repasses nacionais às províncias, forte desvalorização da moeda e manutenção de auxílios sociais.

Sobre as restrições impostas pelo governo aos protestos, Gedan diz que o novo governo terá o desafio de equilibrar liberdade de manifestação e garantia da ordem; e que parcela da população está exausta das frequentes manifestações em Buenos Aires.

Leia abaixo trechos da entrevista:

Benjamin Gedan, diretor de América Latina do Wilson Center. Foto: Divulgação Foto: Divulgação

ex-diretor para América do Sul no Conselho de Segurança Nacional dos EUA e atual integrante do programa de América Latina do Wilson Center

Deveremos esperar uma maior turbulência política e social em resposta às medidas econômicas de Javier Milei?

O programa de estabilização de Milei não deveria surpreender ninguém. Afinal, ele fez campanha carregando uma motosserra para simbolizar a sua promessa de reduzir drasticamente os gastos. Como economista que fazia campanha com uma plataforma antiestablishment, ele praticamente gritou aos quatro ventos sobre a necessidade urgente de reestruturar dramaticamente a gestão econômica da Argentina. No seu discurso inaugural, prometeu terapia de choque, depois de apresentar um diagnóstico sombrio sobre o estado das finanças públicas da Argentina: “No hay plata”.

Isso não significa que os argentinos tenham que gostar, inclusive aqueles que votaram em Milei.

Afinal de contas, os argentinos têm sido atingidos por uma economia em crise e por uma inflação brutalmente elevada durante muitos anos e há pouca inclinação para mais sofrimento à medida que os preços dos alimentos, dos medicamentos, dos transportes e de outros serviços públicos sobem. Ao mesmo tempo, uma porcentagem grande da população depende fortemente de empregos públicos e de programas de assistência social que também podem estar em risco.

É por isso que não foi surpresa ver grandes protestos contra o governo poucos dias após a tomada de posse de um presidente que venceu facilmente as eleições.

O plano de Milei de anunciar este megapacote agora pode funcionar?

O programa econômico de Milei é razoável e, em muitos casos, existe uma vantagem tática para um novo líder abordar rapidamente os gastos insustentáveis, a política monetária imprudente e outras pautas-bomba econômicas semelhantes.

Qual o futuro deste “megapacote”? Acredita que o Judiciário ou o Congresso Argentino irão bloqueá-lo?

Não está claro se estas políticas sobreviverão o tempo suficiente para demonstrar os seus benefícios, à medida que os protestos públicos e a oposição política se intensificam, os rivais procuram medidas judiciais para restringir a autoridade do novo presidente.

Alguns grupos afirmam que as medidas estabelecidas pelo governo com a justificativa de manter a ordem pública criminalizam o direito de protestar. Há uma ameaça à democracia na Argentina? Existe apoio, por parte da sociedade argentina, às restrições em vigor?

No momento em que a Argentina celebra 40 anos de democracia ininterrupta, é importante proteger o direito à manifestação pacífica. Dito isto, muitos argentinos estão exaustos com as frequentes interrupções causadas pelas manifestações na capital. Equilibrar a importância da ordem pública e da expressão política será um desafio para este governo.

Diretor de América Latina do centro de estudos Wilson Center, em Washington, e especialista em assuntos sobre a Argentina, Benjamin Gedan afirma que há pouco espaço para impor aos argentinos mais sofrimento econômico, por isso os protestos no país contra o megapacote econômico anunciado pelo presidente Javier Milei não surpreendem.

“Ele fez campanha carregando uma motosserra para simbolizar a sua promessa de reduzir drasticamente os gastos. Isso não significa que os argentinos tenham que gostar, inclusive aqueles que votaram em Milei”, afirma Gedan, que já foi diretor para América do Sul no Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos e também já foi responsável pelo setor de Argentina do Departamento de Estado americano.

Milei já anunciou dois grandes pacotes econômicos em duas semanas, com 40 medidas, e promete mais. No mais recente, foi assinado o Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), com mudanças em 300 leis para desregulamentar a economia, 30 delas detalhadas pelo libertário em pronunciamento. Uma das alterações foi a revogação da lei do aluguel, permitindo negociações diretas entre proprietários e inquilinos, que podem definir até mesmo em qual moeda o aluguel será pago. O outro pacote foi anunciado no dia 12, com 10 medidas principais, para tentar cortar gastos. Entre as mudanças, estão redução de subsídios e repasses nacionais às províncias, forte desvalorização da moeda e manutenção de auxílios sociais.

Sobre as restrições impostas pelo governo aos protestos, Gedan diz que o novo governo terá o desafio de equilibrar liberdade de manifestação e garantia da ordem; e que parcela da população está exausta das frequentes manifestações em Buenos Aires.

Leia abaixo trechos da entrevista:

Benjamin Gedan, diretor de América Latina do Wilson Center. Foto: Divulgação Foto: Divulgação

ex-diretor para América do Sul no Conselho de Segurança Nacional dos EUA e atual integrante do programa de América Latina do Wilson Center

Deveremos esperar uma maior turbulência política e social em resposta às medidas econômicas de Javier Milei?

O programa de estabilização de Milei não deveria surpreender ninguém. Afinal, ele fez campanha carregando uma motosserra para simbolizar a sua promessa de reduzir drasticamente os gastos. Como economista que fazia campanha com uma plataforma antiestablishment, ele praticamente gritou aos quatro ventos sobre a necessidade urgente de reestruturar dramaticamente a gestão econômica da Argentina. No seu discurso inaugural, prometeu terapia de choque, depois de apresentar um diagnóstico sombrio sobre o estado das finanças públicas da Argentina: “No hay plata”.

Isso não significa que os argentinos tenham que gostar, inclusive aqueles que votaram em Milei.

Afinal de contas, os argentinos têm sido atingidos por uma economia em crise e por uma inflação brutalmente elevada durante muitos anos e há pouca inclinação para mais sofrimento à medida que os preços dos alimentos, dos medicamentos, dos transportes e de outros serviços públicos sobem. Ao mesmo tempo, uma porcentagem grande da população depende fortemente de empregos públicos e de programas de assistência social que também podem estar em risco.

É por isso que não foi surpresa ver grandes protestos contra o governo poucos dias após a tomada de posse de um presidente que venceu facilmente as eleições.

O plano de Milei de anunciar este megapacote agora pode funcionar?

O programa econômico de Milei é razoável e, em muitos casos, existe uma vantagem tática para um novo líder abordar rapidamente os gastos insustentáveis, a política monetária imprudente e outras pautas-bomba econômicas semelhantes.

Qual o futuro deste “megapacote”? Acredita que o Judiciário ou o Congresso Argentino irão bloqueá-lo?

Não está claro se estas políticas sobreviverão o tempo suficiente para demonstrar os seus benefícios, à medida que os protestos públicos e a oposição política se intensificam, os rivais procuram medidas judiciais para restringir a autoridade do novo presidente.

Alguns grupos afirmam que as medidas estabelecidas pelo governo com a justificativa de manter a ordem pública criminalizam o direito de protestar. Há uma ameaça à democracia na Argentina? Existe apoio, por parte da sociedade argentina, às restrições em vigor?

No momento em que a Argentina celebra 40 anos de democracia ininterrupta, é importante proteger o direito à manifestação pacífica. Dito isto, muitos argentinos estão exaustos com as frequentes interrupções causadas pelas manifestações na capital. Equilibrar a importância da ordem pública e da expressão política será um desafio para este governo.

Entrevista por Beatriz Bulla

Repórter que cobre o poder -- economia, política e internacional. Trabalha hoje em São Paulo. Já passou por Brasília e foi correspondente em Washington (EUA). Formada em jornalismo e em direito, foi também pesquisadora visitante na Universidade Columbia, em Nova York.

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