Manifestações nas ruas, bloqueios de estradas, tomada de aeroportos e mortes. Esse foi o contexto que levou a presidente do Peru, Dina Boluarte, a decretar estado de emergência no país e pedir um acordo com o Congresso para antecipar as eleições gerais de 2026 para 2024. No entanto, não há garantias de que o anúncio diminua o clima de tensão já que o recado das ruas é: eleições já.
Boluarte propôs apresentar um projeto de lei ao Congresso antecipando as eleições em dois anos, mas nas ruas de várias cidades, os manifestantes continuam pedindo a troca do atual Congresso e novas eleições. Nesse contexto, apoiadores do agora ex-presidente Pedro Castillo pedem sua soltura.
Segundo analistas peruanos, um dos erros de Boluarte foi não se declarar como presidente de transição assim que assumiu o cargo, com a destituição e prisão de Castillo. Tal medida teria reduzido as tensões.
“Os protestos tiram vidas que devíamos preservar. A presidente Boluarte tem parte da solução nas mãos: anunciar propostas de reformas institucionais com a antecipação das eleições…Para analisar se (a data cogitada de) 2024 tem sentido não importa apenas o prazo eleitoral, mas as reformas prévias propostas pelo Executivo”, afirma a constitucionalista peruana Beatriz Ramírez.
Para o Congresso, aceitar o projeto de lei significa diminuir em dois anos o mandato dos congressistas. Pela lei peruana, para reduzir mandatos populares, como o presidencial e o legislativo, é preciso fazer isso em duas legislaturas consecutivas e tal processo pode durar até um ano.
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Beatriz Ramírez explica que trabalhar com as eleições para 2024 dá ainda mais poder ao Congresso, “que é parte do problema e causa de manifestações”.
Boluarte anunciou seu novo governo no sábado com um perfil independente e técnico. Mas a demanda por novas eleições está ligada diretamente à rejeição do Congresso. De acordo com as pesquisas de novembro, 86% dos peruanos desaprovam o atual quadro congressista.
Violência
Na manhã desta segunda-feira, 12, o governo cogitou enviar militares para desbloquear estradas, mas a ideia foi descartada. Segundo a polícia, 32 civis e 24 policiais foram feridos nos confrontos ao redor do país.
Desde domingo, os protestos vêm aumentando. Estradas estão bloqueadas no Norte e no Sul do país, impedindo o acesso a cidades como Arequipa, Trujillo e Cuzco.
Em Arequipa, segunda maior cidade peruana, cerca de 2 mil manifestantes ocuparam as pistas de voo do aeroporto e encheram o local de pedras para impedir pousos no domingo.
Com pedras, pedaços de pau e pneus em chamas, os manifestantes faziam as mesmas demandas de outros protestos: renúncia de Boluarte e eleições antecipadas. A iluminação da pista foi destruída, e o aeroporto, fechado.
Apenas na tarde desta segunda, soldados do Exército intervieram e liberaram o local.
Em Andahuaylas, duas pessoas morreram nos protestos e cinco ficaram feridas, entre elas um policial, após confrontos violentos em uma tentativa dos manifestantes de invadir o aeroporto da cidade.
Na capital Lima, os protestos continuam crescendo desde o fim de semana e não há previsão de que as convocações pró-Castillo diminuam.
No total, quatro pessoas já morreram nos protestos que unem, segundo peruanos ouvidos pela reportagem, reclamações legítimas contra o atual Congresso e aproveitadores que saqueiam lojas e causam mais violência, além dos partidários de Castillo que convocam greves e marchas pelo país.