NOVA DÉLHI - Pelo menos 28 pessoas morreram e 250 ficaram feridas no norte da Índia durante violentos protestos nesta sexta-feira, 25, depois de um tribunal declarar o controverso guru Gurmeet Ram Rahim Singh culpado por um crime de estupro, informaram fontes da polícia. A sentença para o caso, no entanto, só será conhecida na segunda-feira, segundo a imprensa indiana.
A polícia usou gás lacrimogêneo e canhões d'água para tentar conter a multidão, que vandalizava pontos de ônibus e veículos do governo em Panchkula. Segundo testemunhas, alguns agentes dispararam tiros de aviso para o ar. "A situação está tensa", disse o ministro de Interior da Índia, Rajiv Mehrishi.
De acordo com B.S. Sandhu, funcionário sênior da polícia de Haryana, ao menos 1.000 manifestantes foram detidos sob acusação de incendiar e destruir propriedades públicas. Estimativas preliminares apontam que até 100 mil pessoas teriam saído às ruas de Panchkula para protestar contra a condenação.
O guru percorreu nesta sexta-feira, sob um forte esquema de segurança, os 250 quilômetros que separam Sirsa, onde fica o quartel-general da sua organização espiritual, até Panchkula, localidade satélite de Chandigarh, capital compartilhada dos Estados de Punjab e Haryana.
Na noite de quinta foi decretado toque de recolher em Sirsa, enquanto a Polícia mobilizou 50 mil agentes tanto nessa cidade como em Panchkula, para onde se deslocaram por estrada dezenas de milhares de seguidores do guru, depois que o governo local cancelou vários comboios para evitar mais aglomerações.
Acusação
O caso contra Singh remonta a 2002, quando uma das suas supostas seguidoras enviou uma carta anônima ao então primeiro-ministro da Índia, Atal Bihari Vajpayee, acusando o guru de ter estuprado tanto ela como outras de suas devotas.
O Birô Central de Investigações da Índia apresentou então uma denúncia contra o guru, mas o julgamento só começou em 2008, depois que duas seguidoras de Singh aceitaram testemunhar contra ele.
Em um país onde os gurus são contados às centenas e gozam de grande popularidade, influência política e em algumas ocasiões muito dinheiro, Singh é o último líder espiritual a enfrentar a lei. E não é a primeira vez. Antes, também foi acusado de estupro, assassinato ou de ter castrado 400 homens sob a promessa de "chegarem a Deus".
À frente da organização espiritual Dera Sacha Sauda (DSS, que signigica Lugar da Verdade Real em hindi) o guru afirma contar com 50 milhões de seguidores na Índia, reunindo-os em quase 50 ashrams ou templos em todo o país.
Segundo sua biografia, Singh "desceu do céu" em 1967 em um povoado do Estado do Rajastão e ainda menino entrou em contato com a DSS através do seu pai, até que aos 23 anos foi nomeado líder da organização espiritual.
O multifacetado guru é além disso roqueiro que, em 2014, vendeu três milhões de cópias em três dias do seu disco "Highway Love Charger", e ator protagonista de um filme psicodélico inspirado na sua vida, que encheu as salas de cinema indianas há dois anos. / REUTERS, AFP e EFE