Protestos no Irã se espalham com greves no setor de petróleo e adesão de mulheres mais velhas


Profissionais liberais como médicos e advogados têm criticado o regime dos aiatolás; mais de 200 pessoas já morreram

Por Redação
Atualização:

Os protestos no Irã contra a morte da jovem curda Mahsa Amini, de 22 anos, morta pela polícia da moral após se negar a usar o hijab, o véu islâmico, em setembro, ganharam força nos últimos dias com a adesão de setores importantes da sociedade iraniana. Trabalhadores do setor de petróleo e energia estão em greve há dois dias e profissionais liberais, como médicos e advogados, têm criticado o regime dos aiatolás.

A violência com que o governo tem reprimido os protestos, com o auxílio da temida milícia Basij, tem feito as manifestações ganharem cidades e províncias além do Curdistão iraniano, chegando à capital Teerã. Mulheres mais velhas, mais conservadoras em geral que as jovens que iniciaram os protestos contra a morte de Mahsa, também têm se levantado contra o regime, chocadas com a violência.

Na segunda-feira, trabalhadores das refinarias de petróleo Abadan e Kangan e do Projeto Petroquímico Bushehr em Asaluyeh entraram em greve, e um vídeo mostrou os trabalhadores em Asaluyeh bloqueando uma estrada e gritando “Morte ao ditador!”

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Ao menos 11 trabalhadores foram presos na terça-feira, mas as paralisações continuaram, e mais eram esperados nesta quarta-feira, 12. Sindicatos que representam os comerciantes do bazar também convocaram greves. Esses dois setores econômicos têm muito peso na história do Irã. Durante a revolução islâmica de 1979, as greves nesses setores foram uma ferramenta poderosa que acelerou o colapso do xá Rezha Pahlavi.

Segundo a ONG Irã Direitos Humanos, com sede em Oslo, ao menos 201 pessoas morreram no Irã por conta da violência policial durante os protestos iniciados há três semanas, informou nesta terça-feira, 11, Entre as vítimas, 23 têm menos de 18 anos, ainda que nem todos tenham sido identificados por meio de documentação, afirma a organização. Segundo a ONG, 18 províncias registraram mortos até agora. Ativistas pediram mais greves e protestos para os próximos dias.

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Protestos mais amplos e mais longos

O Irã já foi abalado por protestos nos últimos anos, principalmente pelos resultados eleitorais contestados em 2009 e pela economia em 2017 e 2019, contra os quais o governo também reagiu com rapidez e violência.

Mas existem dois pontos cruciais que fazem o levante atual se diferenciar dos anteriores. O primeiro é que, desta vez, as ruas têm resistido a semanas de tentativas de repressão, com uma adesão de diferentes setores sociais cada vez maior aos atos. Além disso, os protestos assumiram um tom que ameaça direta à liderança teocrática do país, com mulheres queimando seus hijabs, campi universitários explodindo em protesto e manifestantes cantando “Morte ao ditador!” e “Não queremos uma república islâmica!”

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Mulher anda sem véu em Teerã em 11 de outubro: protesto silencioso contra o regime tem se tornado comum  Foto: - / AFP

Apesar dos esforços das forças de segurança do Irã para reprimir os protestos, eles só aumentaram. Algumas se transformaram em caóticas batalhas de rua, com as forças de segurança abrindo fogo e os manifestantes revidando e se recusando a ceder.

A repressão violenta do governo foi intensa em muitas cidades do país e nas últimas semanas aumentou na região curda onde Amini morava e os protestos começaram. Mas cenas como as deste mês na Universidade de Tecnologia Sharif em Teerã – a instituição acadêmica de elite do Irã, onde as autoridades dispararam balas de borracha contra multidões de jovens e espancaram e prenderam dezenas, segundo testemunhas – repercutiram, indignando até mesmo alguns iranianos que já havia apoiado o governo.

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Com isso, as manifestações estão chegando à marca de um mês e só crescem em tamanho. É comum também os atos dos mais jovens serem acompanhados por demonstrações menores, à noite, com gritos das janelas e dos terraços contra o aiatolá Ali Khamenei. Atos de desobediência comum, como mulheres andando na rua sem véu e lojas fechadas voluntariamente, também têm ganhado força.

Reprodução de vídeo extraída da plataforma ESN mostra mulheres iraninas gritando 'Morte ao ditador' no Irã Foto: - / AFP

Adesão de diversos setores

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Em paralelo aos protestos e às greves, profissionais liberais também tem criticado o regime. Saeed Dehghan, um influente advogado no país, disse que um grupo de juristas planejava realizar um protesto do lado de fora do prédio do Judiciário em Teerã na quarta-feira para denunciar “o Estado violando os direitos do povo”.

A principal associação médica do país emitiu na terça-feira um comunicado assinado por 800 médicos condenando a violência e afirmando que consideram “o povo como o verdadeiro dono do país e apoiamos suas justas demandas”.

Diante da violência contra os jovens, mulheres mais velhas também tem se juntado aos protestos, embora o medo da repressão ainda seja grande.

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“Nós queremos que eles desapareçam. Peço a Deus todos os dias para demolir de alguma forma esse regime”, disse uma mulher de 53 anos ao Washington Post, que não se identificou por temer represálias. ” Quando vi meu filho com dor com sangue no corpo, me senti destruída.”

Seu filho de 30 anos juntou-se aos protestos, mas naquele dia ele era um espectador. Ele estava correndo com um amigo quando ouviram homens gritando, disse ele. Ao se aproximarem, viram a polícia atacando uma multidão de manifestantes que se reuniram debaixo de uma ponte.

”Tivemos sorte de sermos corredores, então conseguimos fugir mais rápido do que outras pessoas, mas isso não me impediu de ser baleado no nádega”, disse ele.

Protesto contra a morte de Mahsa Amini na cidade de Teerã, em setembro  Foto: AP / AP

Gritos na noite

Ao longo do mês passado, os dias em Teerã assumiram um padrão estranho, mas familiar, disse o homem, que trabalha como personal trainer. “Você não sente tanto a raiva revolucionária de manhã porque as pessoas precisam trabalhar para alimentar suas famílias”, disse ele.

Mas à tarde, os motoristas começam a buzinar em solidariedade aos manifestantes. À medida que a noite cai, disse o homem, as pessoas vão às ruas, sabendo que será mais difícil para as forças de segurança reconhecê-las na escuridão. E então, antes do amanhecer, ele e outros acordam cedo para gritar “morte a Khamenei”

Sua mãe disse que entra em pânico toda vez que ele sai de casa, sabendo que ele pode ser morto ou ferido. “Mas eu não quero impedi-lo. Que tipo de futuro essas crianças vão ter?“É como se não tivéssemos mais nada a perder.”

Segundo o professor de história iraniana da Universidade de St. Andrews, na Escócia, Ali Ansari, professor de história iraniana da Universidade de St. Andrews, na Escócia, a raiva e a frustração que impulsionam os protestos não são novas, por isso outros setores sociais além dos jovens tem se juntado às manifestações. “Os jovens estão de muitas maneiras na vanguarda, mas há muitos grupos diferentes se unindo.” disse.

Manifestantes se reúnem para protestar contra o governo iraniano em Sulaimaniyah  Foto: Hawre Khalid, Metrography, File/ AP

Fissões no regime

Na semana passada, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, quebrou semanas de silêncio sobre os protestos, acusando os Estados Unidos e Israel de ajudar os manifestantes e expressando apoio às ações das forças de segurança. O presidente Ebrahim Raisi no sábado comparou manifestantes a moscas e os rotulou de inimigos durante um discurso em um campus universitário.

Apesar do discurso oficial, há indícios de divergência dentro da cúpula do regime, incluindo alguns políticos conservadores. Mohammad Sadr, membro do poderoso Conselho de Expedição que assessora o líder supremo e supervisiona o governo, disse na terça-feira que a morte de Amini provocou “frustações reprimidas, demandas e raiva, especialmente entre a geração jovem”, e acrescentou que “você não pode governar pela força”./ NYT, W.POST e EFE

Os protestos no Irã contra a morte da jovem curda Mahsa Amini, de 22 anos, morta pela polícia da moral após se negar a usar o hijab, o véu islâmico, em setembro, ganharam força nos últimos dias com a adesão de setores importantes da sociedade iraniana. Trabalhadores do setor de petróleo e energia estão em greve há dois dias e profissionais liberais, como médicos e advogados, têm criticado o regime dos aiatolás.

A violência com que o governo tem reprimido os protestos, com o auxílio da temida milícia Basij, tem feito as manifestações ganharem cidades e províncias além do Curdistão iraniano, chegando à capital Teerã. Mulheres mais velhas, mais conservadoras em geral que as jovens que iniciaram os protestos contra a morte de Mahsa, também têm se levantado contra o regime, chocadas com a violência.

Na segunda-feira, trabalhadores das refinarias de petróleo Abadan e Kangan e do Projeto Petroquímico Bushehr em Asaluyeh entraram em greve, e um vídeo mostrou os trabalhadores em Asaluyeh bloqueando uma estrada e gritando “Morte ao ditador!”

Ao menos 11 trabalhadores foram presos na terça-feira, mas as paralisações continuaram, e mais eram esperados nesta quarta-feira, 12. Sindicatos que representam os comerciantes do bazar também convocaram greves. Esses dois setores econômicos têm muito peso na história do Irã. Durante a revolução islâmica de 1979, as greves nesses setores foram uma ferramenta poderosa que acelerou o colapso do xá Rezha Pahlavi.

Segundo a ONG Irã Direitos Humanos, com sede em Oslo, ao menos 201 pessoas morreram no Irã por conta da violência policial durante os protestos iniciados há três semanas, informou nesta terça-feira, 11, Entre as vítimas, 23 têm menos de 18 anos, ainda que nem todos tenham sido identificados por meio de documentação, afirma a organização. Segundo a ONG, 18 províncias registraram mortos até agora. Ativistas pediram mais greves e protestos para os próximos dias.

Protestos mais amplos e mais longos

O Irã já foi abalado por protestos nos últimos anos, principalmente pelos resultados eleitorais contestados em 2009 e pela economia em 2017 e 2019, contra os quais o governo também reagiu com rapidez e violência.

Mas existem dois pontos cruciais que fazem o levante atual se diferenciar dos anteriores. O primeiro é que, desta vez, as ruas têm resistido a semanas de tentativas de repressão, com uma adesão de diferentes setores sociais cada vez maior aos atos. Além disso, os protestos assumiram um tom que ameaça direta à liderança teocrática do país, com mulheres queimando seus hijabs, campi universitários explodindo em protesto e manifestantes cantando “Morte ao ditador!” e “Não queremos uma república islâmica!”

Mulher anda sem véu em Teerã em 11 de outubro: protesto silencioso contra o regime tem se tornado comum  Foto: - / AFP

Apesar dos esforços das forças de segurança do Irã para reprimir os protestos, eles só aumentaram. Algumas se transformaram em caóticas batalhas de rua, com as forças de segurança abrindo fogo e os manifestantes revidando e se recusando a ceder.

A repressão violenta do governo foi intensa em muitas cidades do país e nas últimas semanas aumentou na região curda onde Amini morava e os protestos começaram. Mas cenas como as deste mês na Universidade de Tecnologia Sharif em Teerã – a instituição acadêmica de elite do Irã, onde as autoridades dispararam balas de borracha contra multidões de jovens e espancaram e prenderam dezenas, segundo testemunhas – repercutiram, indignando até mesmo alguns iranianos que já havia apoiado o governo.

Com isso, as manifestações estão chegando à marca de um mês e só crescem em tamanho. É comum também os atos dos mais jovens serem acompanhados por demonstrações menores, à noite, com gritos das janelas e dos terraços contra o aiatolá Ali Khamenei. Atos de desobediência comum, como mulheres andando na rua sem véu e lojas fechadas voluntariamente, também têm ganhado força.

Reprodução de vídeo extraída da plataforma ESN mostra mulheres iraninas gritando 'Morte ao ditador' no Irã Foto: - / AFP

Adesão de diversos setores

Em paralelo aos protestos e às greves, profissionais liberais também tem criticado o regime. Saeed Dehghan, um influente advogado no país, disse que um grupo de juristas planejava realizar um protesto do lado de fora do prédio do Judiciário em Teerã na quarta-feira para denunciar “o Estado violando os direitos do povo”.

A principal associação médica do país emitiu na terça-feira um comunicado assinado por 800 médicos condenando a violência e afirmando que consideram “o povo como o verdadeiro dono do país e apoiamos suas justas demandas”.

Diante da violência contra os jovens, mulheres mais velhas também tem se juntado aos protestos, embora o medo da repressão ainda seja grande.

“Nós queremos que eles desapareçam. Peço a Deus todos os dias para demolir de alguma forma esse regime”, disse uma mulher de 53 anos ao Washington Post, que não se identificou por temer represálias. ” Quando vi meu filho com dor com sangue no corpo, me senti destruída.”

Seu filho de 30 anos juntou-se aos protestos, mas naquele dia ele era um espectador. Ele estava correndo com um amigo quando ouviram homens gritando, disse ele. Ao se aproximarem, viram a polícia atacando uma multidão de manifestantes que se reuniram debaixo de uma ponte.

”Tivemos sorte de sermos corredores, então conseguimos fugir mais rápido do que outras pessoas, mas isso não me impediu de ser baleado no nádega”, disse ele.

Protesto contra a morte de Mahsa Amini na cidade de Teerã, em setembro  Foto: AP / AP

Gritos na noite

Ao longo do mês passado, os dias em Teerã assumiram um padrão estranho, mas familiar, disse o homem, que trabalha como personal trainer. “Você não sente tanto a raiva revolucionária de manhã porque as pessoas precisam trabalhar para alimentar suas famílias”, disse ele.

Mas à tarde, os motoristas começam a buzinar em solidariedade aos manifestantes. À medida que a noite cai, disse o homem, as pessoas vão às ruas, sabendo que será mais difícil para as forças de segurança reconhecê-las na escuridão. E então, antes do amanhecer, ele e outros acordam cedo para gritar “morte a Khamenei”

Sua mãe disse que entra em pânico toda vez que ele sai de casa, sabendo que ele pode ser morto ou ferido. “Mas eu não quero impedi-lo. Que tipo de futuro essas crianças vão ter?“É como se não tivéssemos mais nada a perder.”

Segundo o professor de história iraniana da Universidade de St. Andrews, na Escócia, Ali Ansari, professor de história iraniana da Universidade de St. Andrews, na Escócia, a raiva e a frustração que impulsionam os protestos não são novas, por isso outros setores sociais além dos jovens tem se juntado às manifestações. “Os jovens estão de muitas maneiras na vanguarda, mas há muitos grupos diferentes se unindo.” disse.

Manifestantes se reúnem para protestar contra o governo iraniano em Sulaimaniyah  Foto: Hawre Khalid, Metrography, File/ AP

Fissões no regime

Na semana passada, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, quebrou semanas de silêncio sobre os protestos, acusando os Estados Unidos e Israel de ajudar os manifestantes e expressando apoio às ações das forças de segurança. O presidente Ebrahim Raisi no sábado comparou manifestantes a moscas e os rotulou de inimigos durante um discurso em um campus universitário.

Apesar do discurso oficial, há indícios de divergência dentro da cúpula do regime, incluindo alguns políticos conservadores. Mohammad Sadr, membro do poderoso Conselho de Expedição que assessora o líder supremo e supervisiona o governo, disse na terça-feira que a morte de Amini provocou “frustações reprimidas, demandas e raiva, especialmente entre a geração jovem”, e acrescentou que “você não pode governar pela força”./ NYT, W.POST e EFE

Os protestos no Irã contra a morte da jovem curda Mahsa Amini, de 22 anos, morta pela polícia da moral após se negar a usar o hijab, o véu islâmico, em setembro, ganharam força nos últimos dias com a adesão de setores importantes da sociedade iraniana. Trabalhadores do setor de petróleo e energia estão em greve há dois dias e profissionais liberais, como médicos e advogados, têm criticado o regime dos aiatolás.

A violência com que o governo tem reprimido os protestos, com o auxílio da temida milícia Basij, tem feito as manifestações ganharem cidades e províncias além do Curdistão iraniano, chegando à capital Teerã. Mulheres mais velhas, mais conservadoras em geral que as jovens que iniciaram os protestos contra a morte de Mahsa, também têm se levantado contra o regime, chocadas com a violência.

Na segunda-feira, trabalhadores das refinarias de petróleo Abadan e Kangan e do Projeto Petroquímico Bushehr em Asaluyeh entraram em greve, e um vídeo mostrou os trabalhadores em Asaluyeh bloqueando uma estrada e gritando “Morte ao ditador!”

Ao menos 11 trabalhadores foram presos na terça-feira, mas as paralisações continuaram, e mais eram esperados nesta quarta-feira, 12. Sindicatos que representam os comerciantes do bazar também convocaram greves. Esses dois setores econômicos têm muito peso na história do Irã. Durante a revolução islâmica de 1979, as greves nesses setores foram uma ferramenta poderosa que acelerou o colapso do xá Rezha Pahlavi.

Segundo a ONG Irã Direitos Humanos, com sede em Oslo, ao menos 201 pessoas morreram no Irã por conta da violência policial durante os protestos iniciados há três semanas, informou nesta terça-feira, 11, Entre as vítimas, 23 têm menos de 18 anos, ainda que nem todos tenham sido identificados por meio de documentação, afirma a organização. Segundo a ONG, 18 províncias registraram mortos até agora. Ativistas pediram mais greves e protestos para os próximos dias.

Protestos mais amplos e mais longos

O Irã já foi abalado por protestos nos últimos anos, principalmente pelos resultados eleitorais contestados em 2009 e pela economia em 2017 e 2019, contra os quais o governo também reagiu com rapidez e violência.

Mas existem dois pontos cruciais que fazem o levante atual se diferenciar dos anteriores. O primeiro é que, desta vez, as ruas têm resistido a semanas de tentativas de repressão, com uma adesão de diferentes setores sociais cada vez maior aos atos. Além disso, os protestos assumiram um tom que ameaça direta à liderança teocrática do país, com mulheres queimando seus hijabs, campi universitários explodindo em protesto e manifestantes cantando “Morte ao ditador!” e “Não queremos uma república islâmica!”

Mulher anda sem véu em Teerã em 11 de outubro: protesto silencioso contra o regime tem se tornado comum  Foto: - / AFP

Apesar dos esforços das forças de segurança do Irã para reprimir os protestos, eles só aumentaram. Algumas se transformaram em caóticas batalhas de rua, com as forças de segurança abrindo fogo e os manifestantes revidando e se recusando a ceder.

A repressão violenta do governo foi intensa em muitas cidades do país e nas últimas semanas aumentou na região curda onde Amini morava e os protestos começaram. Mas cenas como as deste mês na Universidade de Tecnologia Sharif em Teerã – a instituição acadêmica de elite do Irã, onde as autoridades dispararam balas de borracha contra multidões de jovens e espancaram e prenderam dezenas, segundo testemunhas – repercutiram, indignando até mesmo alguns iranianos que já havia apoiado o governo.

Com isso, as manifestações estão chegando à marca de um mês e só crescem em tamanho. É comum também os atos dos mais jovens serem acompanhados por demonstrações menores, à noite, com gritos das janelas e dos terraços contra o aiatolá Ali Khamenei. Atos de desobediência comum, como mulheres andando na rua sem véu e lojas fechadas voluntariamente, também têm ganhado força.

Reprodução de vídeo extraída da plataforma ESN mostra mulheres iraninas gritando 'Morte ao ditador' no Irã Foto: - / AFP

Adesão de diversos setores

Em paralelo aos protestos e às greves, profissionais liberais também tem criticado o regime. Saeed Dehghan, um influente advogado no país, disse que um grupo de juristas planejava realizar um protesto do lado de fora do prédio do Judiciário em Teerã na quarta-feira para denunciar “o Estado violando os direitos do povo”.

A principal associação médica do país emitiu na terça-feira um comunicado assinado por 800 médicos condenando a violência e afirmando que consideram “o povo como o verdadeiro dono do país e apoiamos suas justas demandas”.

Diante da violência contra os jovens, mulheres mais velhas também tem se juntado aos protestos, embora o medo da repressão ainda seja grande.

“Nós queremos que eles desapareçam. Peço a Deus todos os dias para demolir de alguma forma esse regime”, disse uma mulher de 53 anos ao Washington Post, que não se identificou por temer represálias. ” Quando vi meu filho com dor com sangue no corpo, me senti destruída.”

Seu filho de 30 anos juntou-se aos protestos, mas naquele dia ele era um espectador. Ele estava correndo com um amigo quando ouviram homens gritando, disse ele. Ao se aproximarem, viram a polícia atacando uma multidão de manifestantes que se reuniram debaixo de uma ponte.

”Tivemos sorte de sermos corredores, então conseguimos fugir mais rápido do que outras pessoas, mas isso não me impediu de ser baleado no nádega”, disse ele.

Protesto contra a morte de Mahsa Amini na cidade de Teerã, em setembro  Foto: AP / AP

Gritos na noite

Ao longo do mês passado, os dias em Teerã assumiram um padrão estranho, mas familiar, disse o homem, que trabalha como personal trainer. “Você não sente tanto a raiva revolucionária de manhã porque as pessoas precisam trabalhar para alimentar suas famílias”, disse ele.

Mas à tarde, os motoristas começam a buzinar em solidariedade aos manifestantes. À medida que a noite cai, disse o homem, as pessoas vão às ruas, sabendo que será mais difícil para as forças de segurança reconhecê-las na escuridão. E então, antes do amanhecer, ele e outros acordam cedo para gritar “morte a Khamenei”

Sua mãe disse que entra em pânico toda vez que ele sai de casa, sabendo que ele pode ser morto ou ferido. “Mas eu não quero impedi-lo. Que tipo de futuro essas crianças vão ter?“É como se não tivéssemos mais nada a perder.”

Segundo o professor de história iraniana da Universidade de St. Andrews, na Escócia, Ali Ansari, professor de história iraniana da Universidade de St. Andrews, na Escócia, a raiva e a frustração que impulsionam os protestos não são novas, por isso outros setores sociais além dos jovens tem se juntado às manifestações. “Os jovens estão de muitas maneiras na vanguarda, mas há muitos grupos diferentes se unindo.” disse.

Manifestantes se reúnem para protestar contra o governo iraniano em Sulaimaniyah  Foto: Hawre Khalid, Metrography, File/ AP

Fissões no regime

Na semana passada, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, quebrou semanas de silêncio sobre os protestos, acusando os Estados Unidos e Israel de ajudar os manifestantes e expressando apoio às ações das forças de segurança. O presidente Ebrahim Raisi no sábado comparou manifestantes a moscas e os rotulou de inimigos durante um discurso em um campus universitário.

Apesar do discurso oficial, há indícios de divergência dentro da cúpula do regime, incluindo alguns políticos conservadores. Mohammad Sadr, membro do poderoso Conselho de Expedição que assessora o líder supremo e supervisiona o governo, disse na terça-feira que a morte de Amini provocou “frustações reprimidas, demandas e raiva, especialmente entre a geração jovem”, e acrescentou que “você não pode governar pela força”./ NYT, W.POST e EFE

Os protestos no Irã contra a morte da jovem curda Mahsa Amini, de 22 anos, morta pela polícia da moral após se negar a usar o hijab, o véu islâmico, em setembro, ganharam força nos últimos dias com a adesão de setores importantes da sociedade iraniana. Trabalhadores do setor de petróleo e energia estão em greve há dois dias e profissionais liberais, como médicos e advogados, têm criticado o regime dos aiatolás.

A violência com que o governo tem reprimido os protestos, com o auxílio da temida milícia Basij, tem feito as manifestações ganharem cidades e províncias além do Curdistão iraniano, chegando à capital Teerã. Mulheres mais velhas, mais conservadoras em geral que as jovens que iniciaram os protestos contra a morte de Mahsa, também têm se levantado contra o regime, chocadas com a violência.

Na segunda-feira, trabalhadores das refinarias de petróleo Abadan e Kangan e do Projeto Petroquímico Bushehr em Asaluyeh entraram em greve, e um vídeo mostrou os trabalhadores em Asaluyeh bloqueando uma estrada e gritando “Morte ao ditador!”

Ao menos 11 trabalhadores foram presos na terça-feira, mas as paralisações continuaram, e mais eram esperados nesta quarta-feira, 12. Sindicatos que representam os comerciantes do bazar também convocaram greves. Esses dois setores econômicos têm muito peso na história do Irã. Durante a revolução islâmica de 1979, as greves nesses setores foram uma ferramenta poderosa que acelerou o colapso do xá Rezha Pahlavi.

Segundo a ONG Irã Direitos Humanos, com sede em Oslo, ao menos 201 pessoas morreram no Irã por conta da violência policial durante os protestos iniciados há três semanas, informou nesta terça-feira, 11, Entre as vítimas, 23 têm menos de 18 anos, ainda que nem todos tenham sido identificados por meio de documentação, afirma a organização. Segundo a ONG, 18 províncias registraram mortos até agora. Ativistas pediram mais greves e protestos para os próximos dias.

Protestos mais amplos e mais longos

O Irã já foi abalado por protestos nos últimos anos, principalmente pelos resultados eleitorais contestados em 2009 e pela economia em 2017 e 2019, contra os quais o governo também reagiu com rapidez e violência.

Mas existem dois pontos cruciais que fazem o levante atual se diferenciar dos anteriores. O primeiro é que, desta vez, as ruas têm resistido a semanas de tentativas de repressão, com uma adesão de diferentes setores sociais cada vez maior aos atos. Além disso, os protestos assumiram um tom que ameaça direta à liderança teocrática do país, com mulheres queimando seus hijabs, campi universitários explodindo em protesto e manifestantes cantando “Morte ao ditador!” e “Não queremos uma república islâmica!”

Mulher anda sem véu em Teerã em 11 de outubro: protesto silencioso contra o regime tem se tornado comum  Foto: - / AFP

Apesar dos esforços das forças de segurança do Irã para reprimir os protestos, eles só aumentaram. Algumas se transformaram em caóticas batalhas de rua, com as forças de segurança abrindo fogo e os manifestantes revidando e se recusando a ceder.

A repressão violenta do governo foi intensa em muitas cidades do país e nas últimas semanas aumentou na região curda onde Amini morava e os protestos começaram. Mas cenas como as deste mês na Universidade de Tecnologia Sharif em Teerã – a instituição acadêmica de elite do Irã, onde as autoridades dispararam balas de borracha contra multidões de jovens e espancaram e prenderam dezenas, segundo testemunhas – repercutiram, indignando até mesmo alguns iranianos que já havia apoiado o governo.

Com isso, as manifestações estão chegando à marca de um mês e só crescem em tamanho. É comum também os atos dos mais jovens serem acompanhados por demonstrações menores, à noite, com gritos das janelas e dos terraços contra o aiatolá Ali Khamenei. Atos de desobediência comum, como mulheres andando na rua sem véu e lojas fechadas voluntariamente, também têm ganhado força.

Reprodução de vídeo extraída da plataforma ESN mostra mulheres iraninas gritando 'Morte ao ditador' no Irã Foto: - / AFP

Adesão de diversos setores

Em paralelo aos protestos e às greves, profissionais liberais também tem criticado o regime. Saeed Dehghan, um influente advogado no país, disse que um grupo de juristas planejava realizar um protesto do lado de fora do prédio do Judiciário em Teerã na quarta-feira para denunciar “o Estado violando os direitos do povo”.

A principal associação médica do país emitiu na terça-feira um comunicado assinado por 800 médicos condenando a violência e afirmando que consideram “o povo como o verdadeiro dono do país e apoiamos suas justas demandas”.

Diante da violência contra os jovens, mulheres mais velhas também tem se juntado aos protestos, embora o medo da repressão ainda seja grande.

“Nós queremos que eles desapareçam. Peço a Deus todos os dias para demolir de alguma forma esse regime”, disse uma mulher de 53 anos ao Washington Post, que não se identificou por temer represálias. ” Quando vi meu filho com dor com sangue no corpo, me senti destruída.”

Seu filho de 30 anos juntou-se aos protestos, mas naquele dia ele era um espectador. Ele estava correndo com um amigo quando ouviram homens gritando, disse ele. Ao se aproximarem, viram a polícia atacando uma multidão de manifestantes que se reuniram debaixo de uma ponte.

”Tivemos sorte de sermos corredores, então conseguimos fugir mais rápido do que outras pessoas, mas isso não me impediu de ser baleado no nádega”, disse ele.

Protesto contra a morte de Mahsa Amini na cidade de Teerã, em setembro  Foto: AP / AP

Gritos na noite

Ao longo do mês passado, os dias em Teerã assumiram um padrão estranho, mas familiar, disse o homem, que trabalha como personal trainer. “Você não sente tanto a raiva revolucionária de manhã porque as pessoas precisam trabalhar para alimentar suas famílias”, disse ele.

Mas à tarde, os motoristas começam a buzinar em solidariedade aos manifestantes. À medida que a noite cai, disse o homem, as pessoas vão às ruas, sabendo que será mais difícil para as forças de segurança reconhecê-las na escuridão. E então, antes do amanhecer, ele e outros acordam cedo para gritar “morte a Khamenei”

Sua mãe disse que entra em pânico toda vez que ele sai de casa, sabendo que ele pode ser morto ou ferido. “Mas eu não quero impedi-lo. Que tipo de futuro essas crianças vão ter?“É como se não tivéssemos mais nada a perder.”

Segundo o professor de história iraniana da Universidade de St. Andrews, na Escócia, Ali Ansari, professor de história iraniana da Universidade de St. Andrews, na Escócia, a raiva e a frustração que impulsionam os protestos não são novas, por isso outros setores sociais além dos jovens tem se juntado às manifestações. “Os jovens estão de muitas maneiras na vanguarda, mas há muitos grupos diferentes se unindo.” disse.

Manifestantes se reúnem para protestar contra o governo iraniano em Sulaimaniyah  Foto: Hawre Khalid, Metrography, File/ AP

Fissões no regime

Na semana passada, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, quebrou semanas de silêncio sobre os protestos, acusando os Estados Unidos e Israel de ajudar os manifestantes e expressando apoio às ações das forças de segurança. O presidente Ebrahim Raisi no sábado comparou manifestantes a moscas e os rotulou de inimigos durante um discurso em um campus universitário.

Apesar do discurso oficial, há indícios de divergência dentro da cúpula do regime, incluindo alguns políticos conservadores. Mohammad Sadr, membro do poderoso Conselho de Expedição que assessora o líder supremo e supervisiona o governo, disse na terça-feira que a morte de Amini provocou “frustações reprimidas, demandas e raiva, especialmente entre a geração jovem”, e acrescentou que “você não pode governar pela força”./ NYT, W.POST e EFE

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